Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
domingo, 30 de dezembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XVII
Apreendemos o passar dos anos de modo muito diferente de como faziam nossos avós. Nos marcos cronológicos que interiorizamos já não codificamos ou vislumbramos uma sequência linear condicionada a realização de planos, metas e projetos biográficos. Hoje em dia, os anos são descartáveis e indignos de um lugar definido nos arquivos falhos da memória. Vivemos cada vez mais em um eterno presente no episódico permanecer no mundo. O fim de um ano se faz uma mecânica troca de calendário e o futuro nos interessa cada vez menos...
REVEILLON
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
NEMETON...
O sol aberto em azul
Parece vestir o vento
Que me cobre o corpo
E a alma.
Sou parte da paisagem
Viva em verde
Onde provisoriamente
Não existo
No sentimento vivo do
Vasto espaço
Onde me escapo.
Rendo-me
Ao silêncio
De uma metafísica natureza
E, por um segundo,
Quase acredito
Na realidade do mundo.
Parece vestir o vento
Que me cobre o corpo
E a alma.
Sou parte da paisagem
Viva em verde
Onde provisoriamente
Não existo
No sentimento vivo do
Vasto espaço
Onde me escapo.
Rendo-me
Ao silêncio
De uma metafísica natureza
E, por um segundo,
Quase acredito
Na realidade do mundo.
META VERDADE OU MUITO ALEM DO PRINCÍPIO DA REALIDADE
O saber científico, tal como o conhecemos, é um legado de fins da idade média. Pode-se dizer que, em primeira mão, ele se apresenta no ocidente através do nominalismo britânico de Duns Scot e Ockham que estabelece uma diferenciação entre ciência e teologia...
Apesar disso, entretanto, a desconstrução da referência de verdade é uma aventura pós-moderna, um esforço, ainda em movimento, de destruição das mais certas esperanças de um mundo ordenado e possível de explicação e sentido a luz do intelecto e da razão. Poder-se-ia dizer: uma recusa de qualquer fé, seja laica ou metafísica, na afirmação da incerteza como inspiração de nossas diversas imagens e linguagens possíveis de mundo e realidade, é ainda um desafio a ser respondido. Por enquanto, ele é apenas um método exótico para escapar as armadilhas do real...
Apesar disso, entretanto, a desconstrução da referência de verdade é uma aventura pós-moderna, um esforço, ainda em movimento, de destruição das mais certas esperanças de um mundo ordenado e possível de explicação e sentido a luz do intelecto e da razão. Poder-se-ia dizer: uma recusa de qualquer fé, seja laica ou metafísica, na afirmação da incerteza como inspiração de nossas diversas imagens e linguagens possíveis de mundo e realidade, é ainda um desafio a ser respondido. Por enquanto, ele é apenas um método exótico para escapar as armadilhas do real...
sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
JOHN LOCKE E OS LIMITES DA TOLERÂNCIA
Carta Sobre a Tolerância é um bom texto para um primeiro contato com o pensamento do célebre filósofo inglês John Locke ( 1632-1704), considerado o maior teórico do empirismo e do liberalismo, muito embora o conceito de liberal seja uma invenção do séc. XIX.
Tal obra foi originalmente escrita em latim, por volta dos anos de 1685 à 1689, durante o exílio do autor na Holanda. Foi editada no mesmo país anonimamente em 1689 recebendo, ainda em 1689, uma tradução para o inglês e uma edição na Inglaterra.
Cabe observar que, na época, o tema da tolerância encontrava-se no primeiro plano da pauta de discussões dos homens de letras na Holanda, muitos inclusive, tais como Locke, exilados. Tal peculiaridade encontra-se diretamente relacionada as traumáticas guerras religiosas que assolaram a Europa ao longo dos séc. XVI e XVII.
Basicamente, a tese central defendida na comentada epistola, é a distinção elementar entre o domínio do político e o domínio da fé. Mas essa laicização ou autonomia do político frente o religioso não implica necessariamente na irrestrita liberdade de consciência, coisa realmente impensável para o imaginário do séc. XVII. Para Locke, o princípio da tolerância, que é antes de tudo um principio legislativo, possui alguns limites. Ele não se aplica por exemplo aos católicos que em função dos laços políticos com o papa procuram influenciar o Estado e submetê-lo ao papismo. Também estão excluídos os ateus que, segundo ele, atentam contra os laços morais indispensáveis a uma comunidade política.
Seja como for, os limites estabelecidos por Locke em seu tempo para o principio da tolerância. É bom dizer, com o único objetivo de garantir a segurança da sociedade política, me faz naturalmente pensar a atualidade do tema em nossa complexa sociedade de inicio de milênio.
Em um mundo definido tanto pela cada vez mais dinâmica diversidade cultural, quanto pelo renascimento dos fundamentalismos e particularismos de toda espécie, é pertinente questionar os limites e o papel da tolerância que hoje em dia extrapola em muito a mera questão religiosa. Indo um pouco mais longe, adotando uma perspectiva pós-moderna, como estabelecer a tolerância quando a própria idéia de sociedade política e a fórmula estado-nação foram deslocadas ou ofuscadas por novas modalidades de vinculo social que, na falta de uma palavra melhor, chamaria de sociabilidades?
Talvez qualquer referência ao principio da tolerância pressuponha também o reconhecimento dos seus limites em um sentido diferente daquele percebido por Locke. Isso por que para nós o mais decisivo é a aceitação da divergência e do conflito como inerente a aceitação da pluralidade e que um consenso mínimo limita-se a mera definição das regras do jogo que, diga-se de passagem, são cada vez menos claras e evidentes.
Tal obra foi originalmente escrita em latim, por volta dos anos de 1685 à 1689, durante o exílio do autor na Holanda. Foi editada no mesmo país anonimamente em 1689 recebendo, ainda em 1689, uma tradução para o inglês e uma edição na Inglaterra.
Cabe observar que, na época, o tema da tolerância encontrava-se no primeiro plano da pauta de discussões dos homens de letras na Holanda, muitos inclusive, tais como Locke, exilados. Tal peculiaridade encontra-se diretamente relacionada as traumáticas guerras religiosas que assolaram a Europa ao longo dos séc. XVI e XVII.
Basicamente, a tese central defendida na comentada epistola, é a distinção elementar entre o domínio do político e o domínio da fé. Mas essa laicização ou autonomia do político frente o religioso não implica necessariamente na irrestrita liberdade de consciência, coisa realmente impensável para o imaginário do séc. XVII. Para Locke, o princípio da tolerância, que é antes de tudo um principio legislativo, possui alguns limites. Ele não se aplica por exemplo aos católicos que em função dos laços políticos com o papa procuram influenciar o Estado e submetê-lo ao papismo. Também estão excluídos os ateus que, segundo ele, atentam contra os laços morais indispensáveis a uma comunidade política.
Seja como for, os limites estabelecidos por Locke em seu tempo para o principio da tolerância. É bom dizer, com o único objetivo de garantir a segurança da sociedade política, me faz naturalmente pensar a atualidade do tema em nossa complexa sociedade de inicio de milênio.
Em um mundo definido tanto pela cada vez mais dinâmica diversidade cultural, quanto pelo renascimento dos fundamentalismos e particularismos de toda espécie, é pertinente questionar os limites e o papel da tolerância que hoje em dia extrapola em muito a mera questão religiosa. Indo um pouco mais longe, adotando uma perspectiva pós-moderna, como estabelecer a tolerância quando a própria idéia de sociedade política e a fórmula estado-nação foram deslocadas ou ofuscadas por novas modalidades de vinculo social que, na falta de uma palavra melhor, chamaria de sociabilidades?
Talvez qualquer referência ao principio da tolerância pressuponha também o reconhecimento dos seus limites em um sentido diferente daquele percebido por Locke. Isso por que para nós o mais decisivo é a aceitação da divergência e do conflito como inerente a aceitação da pluralidade e que um consenso mínimo limita-se a mera definição das regras do jogo que, diga-se de passagem, são cada vez menos claras e evidentes.
NÃO ROMANTISMO
Hoje não busco mais
Amores perfeitos
Para enganar
A imperfeição do mundo
E o trágico abraço
Da discreta loucura humana.
Procuro apenas
Os lábios e a alma
De uma mulher que saiba
O intenso caos sereno
De toda a vida,
Vislumbrando comigo
Horizontes passantes
No ato do fazer conjunto
De amanhães provisórios
Sem segredo de futuro
E acasos de passado.
Sonho qualquer ant sacramento
No mágico da natureza
Em pura afirmação da vida.
Amores perfeitos
Para enganar
A imperfeição do mundo
E o trágico abraço
Da discreta loucura humana.
Procuro apenas
Os lábios e a alma
De uma mulher que saiba
O intenso caos sereno
De toda a vida,
Vislumbrando comigo
Horizontes passantes
No ato do fazer conjunto
De amanhães provisórios
Sem segredo de futuro
E acasos de passado.
Sonho qualquer ant sacramento
No mágico da natureza
Em pura afirmação da vida.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XVI
O vagar dos anos e o conseqüente sentimento do tempo dentro de nós, quando tomado como objeto de devaneios e reflexões não ultrapassa a o constelar de uma consciência do devir como lugar e horizonte do acontecer da vida de um modo geral.
Tudo passa no transformar-se de todas as coisas, no acontecer impreciso e imprevisível de nossas precárias biografias imersas no caótico fazer-se do mundo.
Mas o que somos, qual sentido damos a nossas vidas, são questões que convenientemente aprendemos a descartar da pauta de nossas preocupações imediatas e cotidianas. Tais questões permanecem, entretanto, presentes como espectros a assombrar nossas mais íntimas e obscuras emoções e sentimentos de mundo imediatamente dado.
Mesmo que o “sentido da vida” tenha se tornado hoje um clichê inofensivo e banal, que no fundo já não tenhamos se quer um lugar preciso em nosso próprio mundo, ainda somos parcialmente existências em movimento tentando reter de si a própria essência no tempo onde nos escapamos em metamorfoses múltiplas de realidades, aparências e essências.
Tudo hoje em dia é uma questão de momento...
Tudo passa no transformar-se de todas as coisas, no acontecer impreciso e imprevisível de nossas precárias biografias imersas no caótico fazer-se do mundo.
Mas o que somos, qual sentido damos a nossas vidas, são questões que convenientemente aprendemos a descartar da pauta de nossas preocupações imediatas e cotidianas. Tais questões permanecem, entretanto, presentes como espectros a assombrar nossas mais íntimas e obscuras emoções e sentimentos de mundo imediatamente dado.
Mesmo que o “sentido da vida” tenha se tornado hoje um clichê inofensivo e banal, que no fundo já não tenhamos se quer um lugar preciso em nosso próprio mundo, ainda somos parcialmente existências em movimento tentando reter de si a própria essência no tempo onde nos escapamos em metamorfoses múltiplas de realidades, aparências e essências.
Tudo hoje em dia é uma questão de momento...
LITERATURA INGLESA XVII
Seamus Heaney ( 1939- ...) é o mais expressivo e consagrado poeta contemporâneo da Irlanda do Norte. Poder-se-ia ainda dizer que, ganhador do Nobel de literatura em 1995, caso não seja o mais notável, está certamente entre os maiores poetas vivos da Grã Bretanha e de língua Inglesa, o que naturalmente está longe de ser atestado por um mero Nobel.
A poesia de Heaney é definitivamente única e, servindo-me de uma citação da introdução preparada por José Antônio Arantes para a edição de seus versos em portugues, recorro indiretamente ao próprio poeta para definir sua busca da poesia:
“Há mais de três décadas Heaney persegue uma definição de poesia cada vez mais depurada, uma linguagem destilada, enunciada por uma voz singular. (...) referindo-se a essa busca no artigo “Belfast”, publicado em 1972 e incluído em Preocccupations Heaney observa que começou a ser poeta “ quando ouve um cruzamento de minhas raízes com minhas leituras. Penso nas lealdades pessoais e irlandesas como vogais, e na consciência literária alimentada com o inglês como consoantes. Minha esperança é que os poemas sejam vocabulários adequados a minha experiência como um todo.”; ou: “ suponho que, para mim, o elemento feminino implica a questão da Irlanda, e a tendência masculina deriva do envolvimento com a literatura inglesa. Falo e escrevo em inglês, mas de modo algum partilho das preocupações de um inglês.”
( Jose Antônio Arantes. Inntrodução in Seamus Heaney. Poemas: 1966-1987/ tradução de Jose Antônio Arantes. SP: Companhia das Letras, 1998, p.10)
Falando agora da minha própria leitura de seus versos, se há algo de profundamente pessoal, rural, Irlandês na poesia de Heaney, também existe uma sofisticação universalista e mágica que nos projeta a experiência do próprio fenômeno humano imerso no fazer-se em paisagens de natureza na gratuidade do imediato e agora de cada simples acontecimento de ser. O poema Digging, que abre a citada coletânea é certamente o mais indicado para apresentar sua poesia, essencialmente um ato de escavação de sua identidade e essência humana, experiência simultaneamente coletiva e individual.
Cabe ainda observar que a cuidadosa edição em português de seus poemas, realizada por José Antônio Arantes, reproduz a seleção feita pelo próprio autor entitulada New Selected Poems: 1966-1987, originalmente publicada pela Faber and Faber em 1990.
Seguem algumas pequenas e delicadas amostras de sua poesia:
A poesia de Heaney é definitivamente única e, servindo-me de uma citação da introdução preparada por José Antônio Arantes para a edição de seus versos em portugues, recorro indiretamente ao próprio poeta para definir sua busca da poesia:
“Há mais de três décadas Heaney persegue uma definição de poesia cada vez mais depurada, uma linguagem destilada, enunciada por uma voz singular. (...) referindo-se a essa busca no artigo “Belfast”, publicado em 1972 e incluído em Preocccupations Heaney observa que começou a ser poeta “ quando ouve um cruzamento de minhas raízes com minhas leituras. Penso nas lealdades pessoais e irlandesas como vogais, e na consciência literária alimentada com o inglês como consoantes. Minha esperança é que os poemas sejam vocabulários adequados a minha experiência como um todo.”; ou: “ suponho que, para mim, o elemento feminino implica a questão da Irlanda, e a tendência masculina deriva do envolvimento com a literatura inglesa. Falo e escrevo em inglês, mas de modo algum partilho das preocupações de um inglês.”
( Jose Antônio Arantes. Inntrodução in Seamus Heaney. Poemas: 1966-1987/ tradução de Jose Antônio Arantes. SP: Companhia das Letras, 1998, p.10)
Falando agora da minha própria leitura de seus versos, se há algo de profundamente pessoal, rural, Irlandês na poesia de Heaney, também existe uma sofisticação universalista e mágica que nos projeta a experiência do próprio fenômeno humano imerso no fazer-se em paisagens de natureza na gratuidade do imediato e agora de cada simples acontecimento de ser. O poema Digging, que abre a citada coletânea é certamente o mais indicado para apresentar sua poesia, essencialmente um ato de escavação de sua identidade e essência humana, experiência simultaneamente coletiva e individual.
Cabe ainda observar que a cuidadosa edição em português de seus poemas, realizada por José Antônio Arantes, reproduz a seleção feita pelo próprio autor entitulada New Selected Poems: 1966-1987, originalmente publicada pela Faber and Faber em 1990.
Seguem algumas pequenas e delicadas amostras de sua poesia:
CAVAR
Entre o dedo e o dedão a caneta
Parruda pousa; como arma pega.
Sob minha janela, um som raspante e claro
Quando a pá penetra a crosta de carvalho:
Meu pai, cavando. Olho para baixo.
Até seu dorso reteso entre os canteiros
Encurvar-se, brotarem vinte anos atrás
Dobrando-se em cadência nos batatais
Onde estava cavando.
A chanca aninhada no reboldo, o cabo
Alçado contra o joelho interno com firmeza.
Ele extirpava talos altos, fincava o fio luzidio
Para espalhar batatas novas que colhíamos
Adornando a fresca dureza nas mãos.
Por Deus, o velho sabia usar uma pá.
Tal qual o velho dele.
Meu avô cortou mais turfa num dia
Do que outro homem no pântano de Toner.
Uma vez levei leite numa garrafa
Mal rolhada com papel. Ele aprumou-se
Para bebê-lo, e em seguida pôs-se a
Talhar e fatiar com precisão, lançando
Torões nos ombros, indo mais embaixo atrás
Da turfa boa. Carvando.
O cheiro frio de barro de barata, o chape o trape
De turfa emparada, os curtos cortes de um fio
Nas raízes vivas despertam em minha cabeça.
Mas a pá não tenho para seguir homens como eles.
Entre o dedo e o dedão a caneta
Parruda pousa.
Vou cavar com ela.
Entre o dedo e o dedão a caneta
Parruda pousa; como arma pega.
Sob minha janela, um som raspante e claro
Quando a pá penetra a crosta de carvalho:
Meu pai, cavando. Olho para baixo.
Até seu dorso reteso entre os canteiros
Encurvar-se, brotarem vinte anos atrás
Dobrando-se em cadência nos batatais
Onde estava cavando.
A chanca aninhada no reboldo, o cabo
Alçado contra o joelho interno com firmeza.
Ele extirpava talos altos, fincava o fio luzidio
Para espalhar batatas novas que colhíamos
Adornando a fresca dureza nas mãos.
Por Deus, o velho sabia usar uma pá.
Tal qual o velho dele.
Meu avô cortou mais turfa num dia
Do que outro homem no pântano de Toner.
Uma vez levei leite numa garrafa
Mal rolhada com papel. Ele aprumou-se
Para bebê-lo, e em seguida pôs-se a
Talhar e fatiar com precisão, lançando
Torões nos ombros, indo mais embaixo atrás
Da turfa boa. Carvando.
O cheiro frio de barro de barata, o chape o trape
De turfa emparada, os curtos cortes de um fio
Nas raízes vivas despertam em minha cabeça.
Mas a pá não tenho para seguir homens como eles.
Entre o dedo e o dedão a caneta
Parruda pousa.
Vou cavar com ela.
A ILHA EVANESCENTE
Mal presumimos ter-nos encontrado para sempre
Entre as colinas azuis e essas praias sem areia
Onde passamos nossa noite esvairada em prece e vigília,
Mal colhemos madeira flutuante, fizemos lar
E penduramos nosso caldeirão qual firmamento,
A ilha quebrou-se debaixo de nós qual uma onda.
O solo a nos suster parecia manter-se firme
Somente quando o abraçamos in extremis.
Tudo o que creio lá ter ocorrido foi uma visão.
( Tradução de Jose Antônio Arantes)
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Today
On not concentrated
as he spoke
my life
perco a existência
no bau do passado,
no livre ocorrer
Do futuro
Em acontecer mágico
de alma inquieta,
em aventura pelos
Labirintos de presentes
escuros
até me alcançar na terceira pessoa.
as he spoke
my life
perco a existência
no bau do passado,
no livre ocorrer
Do futuro
Em acontecer mágico
de alma inquieta,
em aventura pelos
Labirintos de presentes
escuros
até me alcançar na terceira pessoa.
O MUNDO POR TRAZ DO MUNDO
O Mundo
Por traz do mundo
É apenas um sonho
De pensamento
Que escapa ao tempo
E inventa um espaço
Na imaginação
Da alma das coisas
Em matéria e ato.
O Mundo
Por traz do mundo
É o inefável sentimento vago
Do vazio de ser
Meu mínimo eu
Por traz do mundo
É apenas um sonho
De pensamento
Que escapa ao tempo
E inventa um espaço
Na imaginação
Da alma das coisas
Em matéria e ato.
O Mundo
Por traz do mundo
É o inefável sentimento vago
Do vazio de ser
Meu mínimo eu
MEMÓRIA E PÓS-MODERNIDADE
SEDUZIDOS PELA MEMÓRIA é o título de uma coletânea de ensaios escritos na última década do séc. XX por Andréa Huyssen, professor de literatura comparada e germânica da Universidade de Colúmbia, New York.
Em seu conjunto estes ensaios buscam dar conta da emergência de novas vivências e experiências mnemônicas típicas da sociedade pós-industrial,” como um dos fenômenos mais significativos da contemporaneidade. Pelo menos, dentre o conjunto de pontos abordados pelo autor este é o que considero aqui relevante.
O que me parece de fato decisivo para uma definição da consciência história contemporânea é o marco, delimitado por Huyssen do surgimento de uma nova sensibilidade mnemônica:
“ Discursos de memória de um novo tipo emergiram pela primeira vez no ocidente depois da década de 1960 no rastro da descolonização e dos novos movimentos sociais em sua busca por histórias alternativas e revisionistas. A procura por outras tradições e pela tradição dos “outros” foi acompanhada por múltiplas declarações de fim: o fim da história, a morte do sujeito, o fim da obra de arte, o fim das metas-narrativas. Tais declarações eram freqüentemente entendidas literalmente, mas, no seu impulso polêmico e na replicação do ethos do vanguardismo, elas apontavam diretamente para a presente recodificação do passado, que se iniciou depois do modernismo.”
Em seu conjunto estes ensaios buscam dar conta da emergência de novas vivências e experiências mnemônicas típicas da sociedade pós-industrial,” como um dos fenômenos mais significativos da contemporaneidade. Pelo menos, dentre o conjunto de pontos abordados pelo autor este é o que considero aqui relevante.
O que me parece de fato decisivo para uma definição da consciência história contemporânea é o marco, delimitado por Huyssen do surgimento de uma nova sensibilidade mnemônica:
“ Discursos de memória de um novo tipo emergiram pela primeira vez no ocidente depois da década de 1960 no rastro da descolonização e dos novos movimentos sociais em sua busca por histórias alternativas e revisionistas. A procura por outras tradições e pela tradição dos “outros” foi acompanhada por múltiplas declarações de fim: o fim da história, a morte do sujeito, o fim da obra de arte, o fim das metas-narrativas. Tais declarações eram freqüentemente entendidas literalmente, mas, no seu impulso polêmico e na replicação do ethos do vanguardismo, elas apontavam diretamente para a presente recodificação do passado, que se iniciou depois do modernismo.”
(André Huyssen. Seduzidos pela Memória: arquitetura, monumentos, mídia / tradução de Sergio Alcides. RJ: Aeroplano Editora, 2000, p. 10)
Essa recodificação do passado pressupõe uma nova imagem e experiência da temporalidade que se expressa em aspectos múltiplos, desde a musealização dos centros urbanos até uma obsessão ilimitada pelo passado como contrapartida de um medo irracional do esquecimento, um verdadeiro “presentismo” que nivela todas as épocas e imagens históricas.
Huysen, assim diagnóstica a situação:
“... Mas quais são os efeitos desta musealização e como podemos ler essa obsessão pelos vários passados rememorados , esse desejo de articular a memória na pedra ou em qualquer outro material permanente? Hoje, tanto a memória pessoal quanto a cultural são afetadas pela emergência de uma nova estrutura de temporalidade gerada pelo ritmo cada vez mais veloz da vida material, por um lado, e pela aceleração das imagens e das informações da mídia, por outro. A velocidade destrói o espaço e apaga a distância temporal. Em ambos os casos, o mecanismo da percepção psicológica se altera. Quanto mais memória armazenamos em bancos de dados, mas o passado é sugado para órbita do presente, pronto para ser acessado na tela. Um sentido de continuidade histórica ou, no caso, de descontinuidade, ambos dependentes de um antes e um depois, cede lugar a simultaneidade de todos os tempos e espaços prontamente acessíveis pelo presente. A percepção da distância espacial e temporal está se apagando. Mas é evidente que essa simultaneidade, essa presentidade surgida pelo imediatismo das imagens, é em, larga medida imaginária, e cria suas próprias fantasias de onipotência: a troca incessante de canais vista como a estratégia contemporânea de desrealização narcísica. À medida que essa simultaneidade vai abolindo a alteridade entre passado e presente, aqui e ali, ela tende a perder a sua ancoragem na refencialidade, no rea, e o presente sucumbe ao seu poder mágico de simulação e projeção de imagens. Não se pode mais perceber a diferença real, a alteridade real no tempo histórico ou na distância geográfica. No caso mais extremo, os limites entre fato e ficção, realidade e percepção se confundem a ponto de nos deixar apenas com a simulação, e o sujeito pós moderno se dissolve no mundo imaginário da tela. Os perigos resultantes do relativismo e do cinismo têm sido muito debatidos nos últimos anos, mas a fim de ultrapassar tais perigos devemos reconhecer que eles são inerentes aos nossos modos de processar o conhecimento, em vez de simplesmente denunciá-los como se estivéssemos num jogo de intelectuais niilistas. O toque de corneta da verdade objetiva simplesmente não vai dar certo.”
( idem, p. 74)
As ciências Históricas vivem hoje o desafio de assimilar essa nova realidade do imaginário histórico onde realidade e ficção se confundem, onde a própria história ganha um novo sentido na pluralidade de possibilidades e simultaneidades de imagens e experiências justapostas. Em poucas palavras, o que atualmente se esboça é uma nova noção de temporalidade e de fato.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
READY
As mãos imperfeitas
Se perdem
No labor de futuros,
Escrevem
Na matéria bruta
Uma imagem,
Uma miragem
Ou paisagem de mundo.
Aguardo o acontecer
Sem brilho
Do meu quase presente
Onde tudo de repente
Se faz
To give a step further…
Se perdem
No labor de futuros,
Escrevem
Na matéria bruta
Uma imagem,
Uma miragem
Ou paisagem de mundo.
Aguardo o acontecer
Sem brilho
Do meu quase presente
Onde tudo de repente
Se faz
To give a step further…
ANTI UTOPIA
Busco fugazes belezas
De mero cotidiano
E brandas respostas
Para o
Exercício da vida.
Busco a fórmula mágica
De viver imerso
Em todas as coisas
No paradoxo da manhã aberta.
Busco tudo aquilo que se perde
Na inconstância e fluir da existência.
De mero cotidiano
E brandas respostas
Para o
Exercício da vida.
Busco a fórmula mágica
De viver imerso
Em todas as coisas
No paradoxo da manhã aberta.
Busco tudo aquilo que se perde
Na inconstância e fluir da existência.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XV
A fala e o corpo da chuva lá fora me comunicam a serenidade máxima de todas as coisas. Por alguns imprecisos momentos tudo se faz o encontro da terra e do céu no fluir gratuito da natureza, na serenidade de não pensar em nada rendido a inércia da existência. Preguiças metafísicas roubam-me os atos no vazio de projetos, sonhos e sombras. A própria vida não vai além do cândido silêncio das horas cinzas e chuvosas. Absolutamente nada mais importa, nada possui realidade ou valor. Viver é a única meta possível no involuntário exercício de ser em meio ao deserto fenomenológico das apreensões do mundo.
SAMUEL JOHNSON: PREFÁCIO A SHAKESPEARE
Publicado em 1765, o Prefácio a Shakespeare do crítico e dramaturgo Samuel Johnson ( 1709-1784), apesar de polêmico, permanece sendo uma referência para uma leitura e avaliação do universo literário Shakespeariano.
Com o declarado propósito de examinar sob a perspectiva do tempo as virtudes e os defeitos da obra do grande bardo, Johnson recusa o convencional caminho da apologia e afirmação fácil do inegável talento de Shakeapeare. Sua preocupação maior é com a afirmação de uma universalidade ética através da arte, com a qualidade moral de uma obra, coisa que ele deixa bem claro ao considerar as deficiências e limites do autor, que atribui em parte a rudeza do tempo e da sociedade para a qual escrevia e, em parte a displicência de sua escrita.
Independentemente de concordarmos com Johnson, sua critica ainda nos dias de hoje é incontornável. Seguem dois significativos fragmentos da comentada obra:
"A Inglaterra, à época de Shakespeare, ainda estava lutando para sair da barbárie. A filologia tinha sido transplantada para cá no reinado de Henrique VIII e as línguas eruditas haviam sido cultivadas com êxito por Lilly, Linacer e More; por Pole, Cheke e Gardiner e depois por Smith, Clerk, Haddon e Ascham. O grego era agora ensinado aos meninos nas principais escolas, e quem aliviava o requinte à instrução lia com grande empenho os poetas italianos e espanhóis. Mas a literatura ainda estava restrita aos eruditos notórios ou a homens e mulheres de alta posição. O povo era rude e ignorante, e saber ler e escrever era uma qualidade ainda valorizada Por sua escassez.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p.54)
“ Shakespeare, tanto quanto qualidades, possui defeitos, e defeitos suficientes para obscurecer e superar qualquer outro mérito. Eu os explorei conforme me vinha a mente, sem malícia invejosa ou veneração cega. Nenhum assunto pode ser discutido de maneira mais inofensiva do que as aspirações de um poeta morto à celebridade, e não merece atenção o fanatismo que eleva a inventividade acima da verdade.
Seu primeiro defeito é aquele a qual pode ser imputado a maioria dos males nos livros e nos homens. Ele sacrifica a virtude à conveniência, e sua preocupação em agradar é tão maior do que em instruir que ele parece escrever sem nenhum objetivo moral. De suas obras, sem dúvida, pode-se compor uma ordem de deveres sociais, pois quem raciocina com sensatez necessariamente pensa segundo princípios morais; mas seus preconceitos e axiomas brotam casualmente; ele não distribui com justiça o bem e o mal nem cuida de mostrar no virtuoso a censura ao perverso; conduz seus personagens sem nenhum outro cuidado, deixando seus exemplos agirem ao acaso. Esse defeito a barbárie da sua época não pode justificar, pois o dever de um escritor é sempre tornar o mundo melhor, e a justiça é uma virtude independente do tempo e do lugar.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p. 45)
Com o declarado propósito de examinar sob a perspectiva do tempo as virtudes e os defeitos da obra do grande bardo, Johnson recusa o convencional caminho da apologia e afirmação fácil do inegável talento de Shakeapeare. Sua preocupação maior é com a afirmação de uma universalidade ética através da arte, com a qualidade moral de uma obra, coisa que ele deixa bem claro ao considerar as deficiências e limites do autor, que atribui em parte a rudeza do tempo e da sociedade para a qual escrevia e, em parte a displicência de sua escrita.
Independentemente de concordarmos com Johnson, sua critica ainda nos dias de hoje é incontornável. Seguem dois significativos fragmentos da comentada obra:
"A Inglaterra, à época de Shakespeare, ainda estava lutando para sair da barbárie. A filologia tinha sido transplantada para cá no reinado de Henrique VIII e as línguas eruditas haviam sido cultivadas com êxito por Lilly, Linacer e More; por Pole, Cheke e Gardiner e depois por Smith, Clerk, Haddon e Ascham. O grego era agora ensinado aos meninos nas principais escolas, e quem aliviava o requinte à instrução lia com grande empenho os poetas italianos e espanhóis. Mas a literatura ainda estava restrita aos eruditos notórios ou a homens e mulheres de alta posição. O povo era rude e ignorante, e saber ler e escrever era uma qualidade ainda valorizada Por sua escassez.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p.54)
“ Shakespeare, tanto quanto qualidades, possui defeitos, e defeitos suficientes para obscurecer e superar qualquer outro mérito. Eu os explorei conforme me vinha a mente, sem malícia invejosa ou veneração cega. Nenhum assunto pode ser discutido de maneira mais inofensiva do que as aspirações de um poeta morto à celebridade, e não merece atenção o fanatismo que eleva a inventividade acima da verdade.
Seu primeiro defeito é aquele a qual pode ser imputado a maioria dos males nos livros e nos homens. Ele sacrifica a virtude à conveniência, e sua preocupação em agradar é tão maior do que em instruir que ele parece escrever sem nenhum objetivo moral. De suas obras, sem dúvida, pode-se compor uma ordem de deveres sociais, pois quem raciocina com sensatez necessariamente pensa segundo princípios morais; mas seus preconceitos e axiomas brotam casualmente; ele não distribui com justiça o bem e o mal nem cuida de mostrar no virtuoso a censura ao perverso; conduz seus personagens sem nenhum outro cuidado, deixando seus exemplos agirem ao acaso. Esse defeito a barbárie da sua época não pode justificar, pois o dever de um escritor é sempre tornar o mundo melhor, e a justiça é uma virtude independente do tempo e do lugar.”
( Samuel Johnson. Prefácio a Shakespeare/ tradução, estudo e notas de Enid Abreu Dobránszky, SP: Iluminuras LTDA, s/d, p. 45)
DESTINY
Em algum ponto
Do caminho
Perdi o sonho
De qualquer amanhã.
Calei-me na certeza única
Do existir presente
Vestindo da noite
O manto.
Do you need help?
Pergunta o vento do norte
Enquanto as Nornas
Escrevem-me destinos.
Do caminho
Perdi o sonho
De qualquer amanhã.
Calei-me na certeza única
Do existir presente
Vestindo da noite
O manto.
Do you need help?
Pergunta o vento do norte
Enquanto as Nornas
Escrevem-me destinos.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
POEMA INCREDULO
Nunca fui
Estúpido e crédulo
Devoto
Das tolas certezas
Do céu e do mundo.
Sou filho impróprio
Do absurdo
A escrever paradoxos
Nas horas contínuas
E infinitas
Que aos poucos
Me desfazem e apagam
da infinitude do humano.
Estúpido e crédulo
Devoto
Das tolas certezas
Do céu e do mundo.
Sou filho impróprio
Do absurdo
A escrever paradoxos
Nas horas contínuas
E infinitas
Que aos poucos
Me desfazem e apagam
da infinitude do humano.
WILLIAM SHAKESPEARE: SONETOS
Muito pouco se pode falar com segurança sobre a difusão do soneto na Inglaterra elisabetana, quando começou ou quanto tempo durou, pode-se apenas atestar o quanto ele contribuiu para enriquecer a lírica inglesa tendo, aliais, surgido antes mesmo da dinastia Tudor e sob o reinado de Henrique VIII através da pena de um certo Wyatt.
Não é menor a obscuridade que envolvem os sonetos escritos por Shakespeare que, aliais, foram publicados originalmente em 1609 por Thomas Thorpe a revelia do próprio autor.
O que, entretanto, realmente importa aqui é sabor mágico e atemporal destes versos que apenas reafirmam a originalidade e brilho do velho bardo mesmo que na “pseudo-tradução” competente de Ivo Barroso:
“Quando observo que tudo quanto cresce
Desfruta a perfeição de um só momento,
Que neste palco imenso se obedece
A secreta influição do firmamento;
Quando percebo que ao homem, como à planta,
Esmaga o mesmo céu que lhe deu glória,
Que se ergue em seiva e, no ápice, aquebranta
E um dia enfim se apaga da memória:
Esse conceito da inconstante sina
Mais jovem faz-se ao meu olhar agora,
Quando o Tempo se alia com a Ruína
Para tornar em noite a tua aurora.
E crua guerra contra o Tempo enfrento,
Pois tudo que te toma eu te acrescento.”
“Tempo voraz, ao leão cegas as garras
E à terra fazes devorar seus genes;
Ao tigre as presas hórridas desgarras
E ardes no próprio sangue a eterna fênix.
Pelo caminho vão teus pés ligeiros
Alegres, tristes estações deixando;
Impões-te ao mundo e aos gozos passageiros,
Mas proíbo-te um crime mais nefando:
De meu amor não vinques o semblante
Nem nele imprimas o teu traço duro.
Oh! Permite que intacto siga avante
Como padrão do belo no futuro.
Ou antes, velho Tempo, sê perverso:
Pois jovem sempre há-de o manter meu verso.”
(William Shakespeare: 24 Sonetos./ Tradução de Ivo Barroso. RJ: Nova fronteira, s/d. )
Não é menor a obscuridade que envolvem os sonetos escritos por Shakespeare que, aliais, foram publicados originalmente em 1609 por Thomas Thorpe a revelia do próprio autor.
O que, entretanto, realmente importa aqui é sabor mágico e atemporal destes versos que apenas reafirmam a originalidade e brilho do velho bardo mesmo que na “pseudo-tradução” competente de Ivo Barroso:
“Quando observo que tudo quanto cresce
Desfruta a perfeição de um só momento,
Que neste palco imenso se obedece
A secreta influição do firmamento;
Quando percebo que ao homem, como à planta,
Esmaga o mesmo céu que lhe deu glória,
Que se ergue em seiva e, no ápice, aquebranta
E um dia enfim se apaga da memória:
Esse conceito da inconstante sina
Mais jovem faz-se ao meu olhar agora,
Quando o Tempo se alia com a Ruína
Para tornar em noite a tua aurora.
E crua guerra contra o Tempo enfrento,
Pois tudo que te toma eu te acrescento.”
“Tempo voraz, ao leão cegas as garras
E à terra fazes devorar seus genes;
Ao tigre as presas hórridas desgarras
E ardes no próprio sangue a eterna fênix.
Pelo caminho vão teus pés ligeiros
Alegres, tristes estações deixando;
Impões-te ao mundo e aos gozos passageiros,
Mas proíbo-te um crime mais nefando:
De meu amor não vinques o semblante
Nem nele imprimas o teu traço duro.
Oh! Permite que intacto siga avante
Como padrão do belo no futuro.
Ou antes, velho Tempo, sê perverso:
Pois jovem sempre há-de o manter meu verso.”
(William Shakespeare: 24 Sonetos./ Tradução de Ivo Barroso. RJ: Nova fronteira, s/d. )
DELÍRIO
Percorro a vasta
Iimaginação
De um pós pensamento
Na quase palavra
Das emoções grávidas
De abismos.
Afogueado e febril
Invento mundos
Dentro do mundo
Contemplando a ígnea alma
De múltiplas irrealidades.
Sinto o frio do absurdo
Em perene consciência
De tudo que explode
Além de todo absoluto.
Iimaginação
De um pós pensamento
Na quase palavra
Das emoções grávidas
De abismos.
Afogueado e febril
Invento mundos
Dentro do mundo
Contemplando a ígnea alma
De múltiplas irrealidades.
Sinto o frio do absurdo
Em perene consciência
De tudo que explode
Além de todo absoluto.
A CONSCIÊNCIA E O CAOS-MUNDO
O que chamamos de ego ou complexo de eu é a sincronização de processos e conteúdos diversos, uma multiplicidade que forma uma frágil unidade através do fenômeno da consciência. Alem dele existe a vastidão da psique coletiva que podemos provisoriamente definir como algo informe onde todos os conteúdos e imagens se fundem, onde não existe qualquer contradição interna e tudo é a serenidade pertubadora de um indefinível vazio.
Através do confronto entre a consciência e este inconcebível inconsciente no jogo mágico interior/exterior que define a psique individual que, mediante o intelecto, introduz-se como imagem e realidade psíquica a natureza inconciliável dos opostos como essência de toda percepção e experiência de vida e existência. Noções como “ordem” ou “cosmos”, não passa de uma imagem da psique na qual quase não existimos na paradoxal totalidade dos múltiplos rostos que nos compõe.
Toda consciência das coisas dentro e fora de nós é o fluir de uma ilusão verdadeira em direção a si mesma.
Através do confronto entre a consciência e este inconcebível inconsciente no jogo mágico interior/exterior que define a psique individual que, mediante o intelecto, introduz-se como imagem e realidade psíquica a natureza inconciliável dos opostos como essência de toda percepção e experiência de vida e existência. Noções como “ordem” ou “cosmos”, não passa de uma imagem da psique na qual quase não existimos na paradoxal totalidade dos múltiplos rostos que nos compõe.
Toda consciência das coisas dentro e fora de nós é o fluir de uma ilusão verdadeira em direção a si mesma.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
REVELAÇÃO
Procuro a alegria
De uma morna manhã
De outono
Que anuncie
A realidade de um novo dia,
De uma festa de vida,
Na realização possível
De mim mesmo,
Onde eu reencontre
O menino que fui
E aprenda a beleza simples
De mil antiguidades
Até o cair
Da definitiva noite
Do meu rosto.
De uma morna manhã
De outono
Que anuncie
A realidade de um novo dia,
De uma festa de vida,
Na realização possível
De mim mesmo,
Onde eu reencontre
O menino que fui
E aprenda a beleza simples
De mil antiguidades
Até o cair
Da definitiva noite
Do meu rosto.
C.G. JUNG E O PARADOXO DA CONSCIÊNCIA
O nome de Carl Gustav Jung, quando lembrado fora dos círculos da psicologia analítica, não raramente é vinculado a suas formulações em torno do inconsciente coletivon e seus interesse pelas imagens e simbolos religiosos. Justamente por isso, é pertinente ressaltar que que sua psicologia tem por centro uma outra questão: o processo de individuação e, consequentemente, a fenomenologia da consciência e sua estreita relação com o inconsciente.
Segundo Jung, existe um estado de profunda inter dependência entre a consciência e o inconsciênte cujo carater é compensatório. Longe dos ingênuos sonhos do racionalismo moderno, a consciência nasce do inconsciente e se expande na medida em que integra seus conteúdos no longo aprendizado de sua matriz irracional.
Não é, portanto, qualquer opção racional ou moral de vida ou imagem de mundo que nos define como seres humanos no curto tempo e espaço de nossas existências; mas o confronto criativo com nossas fantasias e emoções mais intensas, que nos permite apreender e aprender o que somos na paisagem mágica do estar-presente nos dias.
O inconsciente ( psique objetiva) nos pensa na medida em que o pensamos afirmando-se como fonte de toda genuina cultura, de toda experiência possível do humano e do trans-humano.
Segundo Jung, existe um estado de profunda inter dependência entre a consciência e o inconsciênte cujo carater é compensatório. Longe dos ingênuos sonhos do racionalismo moderno, a consciência nasce do inconsciente e se expande na medida em que integra seus conteúdos no longo aprendizado de sua matriz irracional.
Não é, portanto, qualquer opção racional ou moral de vida ou imagem de mundo que nos define como seres humanos no curto tempo e espaço de nossas existências; mas o confronto criativo com nossas fantasias e emoções mais intensas, que nos permite apreender e aprender o que somos na paisagem mágica do estar-presente nos dias.
O inconsciente ( psique objetiva) nos pensa na medida em que o pensamos afirmando-se como fonte de toda genuina cultura, de toda experiência possível do humano e do trans-humano.
MUSICA D' ALMA
A vida acontece
Sem revelar propósitos,
É como uma música
A correr na gente
Buscando-se perfeita
Na aventura de um ritmo
Improvisado e intenso,
Melodias dizem
Apenas o momento
Dissonante e gratuito
Em tudo que nos colhe
Na dança do olhar
A quase absurda
Festa do mundo.
Sem revelar propósitos,
É como uma música
A correr na gente
Buscando-se perfeita
Na aventura de um ritmo
Improvisado e intenso,
Melodias dizem
Apenas o momento
Dissonante e gratuito
Em tudo que nos colhe
Na dança do olhar
A quase absurda
Festa do mundo.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
LITERATURA INGLESA XVI
Através do romance Jane Eyre, Charlote Brontë (1816-1855) assegurou uma destacada posição na literatura inglesa, pois construiu uma das mais atraentes e encantadoras personagens vitoranas.
Em sua monótona rotina em Lowood, Jane Eyre sonha com a liberdade, vislumbra o desejo, a paixão e a independência que lhe são negadas.
Pode-se dizer que ela resgata a imagem do feminino em seu vínculo com a natureza e o desejo na mais humana e radical essência, contrariando os clichês misóginos e machistas vitorianos.
Jane Eyne é mais do que uma heroína ou uma imagem literária, é o próprio feminino em movimento no fazer-se e desfazer-se de si mesma.
Na avaliação de Maria Conceição Monteiro,
“ Charlote Brontë tenta uma conciliação entre as mensagens de auto renuncia pelas mulheres e gratificação existencial e sexual, que requer rompimento real com as condições de supressão ou opressão da diferença. A autora de Jane Eyre, então, reinventa a linguagem do desejo, a linguagem da paixão, transformando-a em modo de ser e estar no universo, apontando assim para a possibilidade de a mulher agir com paixão e desejo na vida privada. Com isso, o próprio espaço publico acabaria por alterar o seu status: de instância inapta ao reconhecimento da mulher como sujeito, este se converteria em correlato político exterior da libertação interior propiciada, no nível privado, pelo ímpeto de desejo e paixão. Enfim, Charlote Brontë emoldura o vazio da mulher que anseia por significado e definição num quadro em que se vai esboçando um novo conceito de sexualidade feminina. Ao trabalhar nesse processo, dá a entender que tanto o homem quanto a mulher são sujeitos aptos à expressão, afirmando o caráter positivo e fecundo da diferença sexual. Assim, fica patente que reprimir o desejo sexual da mulher é rouba-la de sua existência e autonomia.”
Em sua monótona rotina em Lowood, Jane Eyre sonha com a liberdade, vislumbra o desejo, a paixão e a independência que lhe são negadas.
Pode-se dizer que ela resgata a imagem do feminino em seu vínculo com a natureza e o desejo na mais humana e radical essência, contrariando os clichês misóginos e machistas vitorianos.
Jane Eyne é mais do que uma heroína ou uma imagem literária, é o próprio feminino em movimento no fazer-se e desfazer-se de si mesma.
Na avaliação de Maria Conceição Monteiro,
“ Charlote Brontë tenta uma conciliação entre as mensagens de auto renuncia pelas mulheres e gratificação existencial e sexual, que requer rompimento real com as condições de supressão ou opressão da diferença. A autora de Jane Eyre, então, reinventa a linguagem do desejo, a linguagem da paixão, transformando-a em modo de ser e estar no universo, apontando assim para a possibilidade de a mulher agir com paixão e desejo na vida privada. Com isso, o próprio espaço publico acabaria por alterar o seu status: de instância inapta ao reconhecimento da mulher como sujeito, este se converteria em correlato político exterior da libertação interior propiciada, no nível privado, pelo ímpeto de desejo e paixão. Enfim, Charlote Brontë emoldura o vazio da mulher que anseia por significado e definição num quadro em que se vai esboçando um novo conceito de sexualidade feminina. Ao trabalhar nesse processo, dá a entender que tanto o homem quanto a mulher são sujeitos aptos à expressão, afirmando o caráter positivo e fecundo da diferença sexual. Assim, fica patente que reprimir o desejo sexual da mulher é rouba-la de sua existência e autonomia.”
(Maria Conceição Monteiro. Sombra Errante: A preceptora na literatura inglesa do séc. XIX. Niterói: EdUFF, 2000; p.139.)
A PRECEPTORA NA LITERATURA INGLESA
A imagem da preceptora como personagem literária me foi apresentada pelo ensaio de Maria Conceição Monteiro intitulado Sombra Errante: A preceptora na narrativa inglesa do séc. XIX. Parafraseando a autora no prólogo da obra, talvez, um dos atores sociais mais recorrentemente representados na literatura inglesa do séc. XIX, tenha sido a prepecptora. Podemos encontrá-la no da narrativa de alguns dos principais escritores do período, desde Charllote Brontë a Thackeray.
Se por um lado lhe são atribuídas como principais estereótipos a passividade e o isolamento, por outro, no contexto da sociedade e cultura vitorianas, sua presença é fonte de conflitos entre as dimensões sexual e moral femininas.
Em outras palavras, se sua função é perpetuar os valores vitorianos ela, ao mesmo tempo, a começar por sua posição social indefinida, sua contraditória inserção no espaço privado e familiar, constituiem uma ameaça aos mesmos.
Segundo Conceição Monteiro,.
“ As obras que fazem um exame da preceptora personagem procuram expor e problematizar as conseqüências do embaraçamento de fronteiras entre o domínio público e privado, bem como o refletir sobre o que isto poderia acarretar quanto à desestruturação da família, suposto núcleo a ser preservado pela sociedade vitoriana. Sem dúvida, a preceptora personagem se desviaria dos padrões sociais vitorianos, já que ela poderia manifestar desejos. E é isto que a faz perigosa e ao mesmo tempo um ser sombrio e transgressor.”
Se por um lado lhe são atribuídas como principais estereótipos a passividade e o isolamento, por outro, no contexto da sociedade e cultura vitorianas, sua presença é fonte de conflitos entre as dimensões sexual e moral femininas.
Em outras palavras, se sua função é perpetuar os valores vitorianos ela, ao mesmo tempo, a começar por sua posição social indefinida, sua contraditória inserção no espaço privado e familiar, constituiem uma ameaça aos mesmos.
Segundo Conceição Monteiro,.
“ As obras que fazem um exame da preceptora personagem procuram expor e problematizar as conseqüências do embaraçamento de fronteiras entre o domínio público e privado, bem como o refletir sobre o que isto poderia acarretar quanto à desestruturação da família, suposto núcleo a ser preservado pela sociedade vitoriana. Sem dúvida, a preceptora personagem se desviaria dos padrões sociais vitorianos, já que ela poderia manifestar desejos. E é isto que a faz perigosa e ao mesmo tempo um ser sombrio e transgressor.”
(Maria Conceição Monteiro. Sombra Errante: A preceptora na literatura inglesa do séc. XIX. Niterói: EdUFF, 2000; p.14.)
Empregada como governess, a função da prepeptora é comandar ou disciplinar o pequeno espaço de um universo doméstico, o que só é possível na medida em que ela aprende a governar a si mesma, a calar e sufocar sua própria identidade como indivíduo e mulher.
Em outros termos, a preceptora personifica os dilemas da mulher oitocentista que, objeto de repressão social, torna-se ao mesmo tempo imagem de alteridade e ameaça em uma sociedade que se nega como profundamente inquieta, plural e em vertiginoso movimento.
domingo, 9 de dezembro de 2007
PÓS IDENTIDADE
Existo
Apesar e através de mim
Somando os futuros
Do meu passado.
Vivo a um passo atras
De meus desejos,
Brincando e brindando
A vida;
Tentando embriagar o tempo
E me perder
No além do meu próprio rosto
Perdido no mundo.
Apesar e através de mim
Somando os futuros
Do meu passado.
Vivo a um passo atras
De meus desejos,
Brincando e brindando
A vida;
Tentando embriagar o tempo
E me perder
No além do meu próprio rosto
Perdido no mundo.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
NIETZSCHE E A LÓGICA DO REBANHO
“Instinto de rebanho.- Onde quer que nos deparemos com uma moral, encontramos uma avaliação e hierarquização dos impulsos e atos humanos...”
F. Nietzsche.
Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um dos mais radicais críticos da sociedade de massas e da democracia moderna. Sua filosofia é esencialmente uma defesa da individualidade e singularidade humana. Pois, tornar-se o que se é, constitui para ele o grande desafio do homem que transcende o sentimento de pertencimento a mediocridade do rebanho. Es a essência de seu “super homem”...
Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um dos mais radicais críticos da sociedade de massas e da democracia moderna. Sua filosofia é esencialmente uma defesa da individualidade e singularidade humana. Pois, tornar-se o que se é, constitui para ele o grande desafio do homem que transcende o sentimento de pertencimento a mediocridade do rebanho. Es a essência de seu “super homem”...
Valho-me aqui de um fragmento de sua GAIA CIÊNCIA para ilustrar esta faceta de seu pensamento:
Remorso de rebanho- Nos tempos mais longos e mais remotos da humanidade, o remorso era inteiramente diverso do que é hoje. Hoje em dia alguém se sente responsável tão só por aquilo que quer e faz, e tem orgulho de si mesmo: todos os nossos mestres do direito partem desse amor-próprio e prazer consigo de cada indivíduo como se desde sempre se originasse daí a fonte do direito. Durante o mais longo período da humanidade, no entanto, não havia nada mais aterrador do que sentir-se particular. Estar só, sentir particularmente, não obedecer nem mandar, ter significado como indivíduo- naquele tempo isso não era um prazer, mas um castigo; a pessoa era condenada a ‘ser indivíduo’. A liberdade de pensamento era o mal estar em si. Enquanto nos sentimos a lei e a integração como coerção e perda, sentia-se o egoísmo como algo doloroso, como verdadeira desgraça. Ser si próprio, estimar-se conforme uma medida e um peso próprios- era algo que ofendia o gosto. Um pendor para isso era tido por loucura; pois à solidão estavam associados toda a miséria e todo o medo. Naquele tempo, o ‘livre arbítrio’ era vizinho imediato da má consciência: e quanto mais se agia de forma não livre, quanto mais transparecia no ato o instinto de rebanho, em vez do senso pessoal, tanto mais moral a pessoa se avaliava. Tudo o que prejudicava o rebanho, seja que o indivíduo o tivesse desejado ou não, dava remorsos ao indivíduo- e também a seu vizinho, e mesmo ao rebanho todo!- Foi nisso, mas do que tudo, que nos mudamos.”
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
PREGUIÇA
Preguiças em festa
Inventam uma paz gratuita
De vazio pensar e inércias,
Adivinham sonos
No fundo claro da tarde,
Procuram
Os pequenos torpores
Dos cansaços anônimos
De dias inacabados.
Busco
Sem querer
Pura e simplesmente
A própria melancolia
Do azul do céu...
Inventam uma paz gratuita
De vazio pensar e inércias,
Adivinham sonos
No fundo claro da tarde,
Procuram
Os pequenos torpores
Dos cansaços anônimos
De dias inacabados.
Busco
Sem querer
Pura e simplesmente
A própria melancolia
Do azul do céu...
FORTUNA
Na fumaça de um cigarro
Imagino a vida
Como um lance de dados
Sobre a superfície do tempo.
Os deuses
Em sua distante eternidade
Sussurram levemente:
Game on
E brindam ao suspense
Da sorte
De uma existência
Finita em desertos de mundo.
Imagino a vida
Como um lance de dados
Sobre a superfície do tempo.
Os deuses
Em sua distante eternidade
Sussurram levemente:
Game on
E brindam ao suspense
Da sorte
De uma existência
Finita em desertos de mundo.
NOTURNO
Luzes sonolentas
Iluminam calçadas
Tristes de chuva
Diante da indiferença
De carcumidas
E melancólicas fachadas;
Quase rostos de prédios perdidos...
No corpo de portas fechadas
Brilha tatuado um OPEN fosforecente
Convidando ao mais que profundo
Da trama noturna
Enquanto reviro
Em um canto de acaso
Os restos do dia
E as sobras dos atos
Buscando um pedaço sujo de futuro.
Iluminam calçadas
Tristes de chuva
Diante da indiferença
De carcumidas
E melancólicas fachadas;
Quase rostos de prédios perdidos...
No corpo de portas fechadas
Brilha tatuado um OPEN fosforecente
Convidando ao mais que profundo
Da trama noturna
Enquanto reviro
Em um canto de acaso
Os restos do dia
E as sobras dos atos
Buscando um pedaço sujo de futuro.
ON LIBERTY: Stuart Mill e a defesa da Liberdade
John Stuart Mill ( 1806-1873) é, sem dúvida, o mais expressivo expoente do liberalismo inglês durante a era vitoriana dada a repercussão de suas CONSIDERAÇÕES SOBRE O GOVERNO REPRESENTATIVO ( 1861). Mas é em sua obra anterior o ENSAIO SOBRE A LIBERDADE ( 1859) que encontramos a matriz de sua maturidade intelectual e, segundo penso, onde a contemporaneidade de seu pensamento se faz mais evidente para um leitor de inicio de milênio.
On Liberty é acima de tudo uma defesa da liberdade do indivíduo e de sua autonomia frente a potencialmente tirana “ditadura da maioria” personificada pelo Estado, o conformismo moral e religioso.
Cabe esclarecer que Mill foi um crítico da democracia de massas. Ao contrário da tendência a uniformidade da vontade comum, valorizou a diferença, a pluralidade e o conflito no jogo social, dado que a unidade de opinião, se não utópica, não é desejável ou dá conta da complexidade de nossa experiência de vida.
A diversidade é a essência da liberdade e a autonomia do indivíduo constitui uma esfera de não interferência para o Estado e a Sociedade. Esta premissa filosófica constitui uma verdadeira trincheira contra os perigos representados por todas as formas de tirania e totalitarismo e fundamentalismos que obscureceram a cultura e a política do século XX e ainda não parecem até o momento fora do incerto horizonte do século XXI.
“... À parte dos dogmas peculiares de pensadores individuais, há também no mundo como um todo uma crescente inclinação a exagerar indevidamente os poderes da sociedade sobre o indivíduo, tanto pela força de opinião quanto até mesmo pela força da legislação; e como a tendência de todas as mudanças acontecendo no mundo é de reforçar a sociedade e diminuir o indivíduo, esta invasão não é um dos males que tendem a desaparecer espontaneamente, mas, ao contrário, crescer cada vez mais terrível. A disposição da humanidade seja como governantes ou cidadãos, de impor suas próprias opiniões aos outros, é tão energicamente apoiada por alguns dos melhores e por alguns dos piores sentimentos inerentes à natureza humana, que quase nunca tal disposição é mantida sob controle por qualquer coisa que não seja desejo de poder; e como o poder não está diminuindo, mas crescendo, a menos que uma forte barreira de convicção moral possa surgir contra a desordem, devemos esperar, nas atuais circunstâncias do mundo, vê-lo aumentar.”
On Liberty é acima de tudo uma defesa da liberdade do indivíduo e de sua autonomia frente a potencialmente tirana “ditadura da maioria” personificada pelo Estado, o conformismo moral e religioso.
Cabe esclarecer que Mill foi um crítico da democracia de massas. Ao contrário da tendência a uniformidade da vontade comum, valorizou a diferença, a pluralidade e o conflito no jogo social, dado que a unidade de opinião, se não utópica, não é desejável ou dá conta da complexidade de nossa experiência de vida.
A diversidade é a essência da liberdade e a autonomia do indivíduo constitui uma esfera de não interferência para o Estado e a Sociedade. Esta premissa filosófica constitui uma verdadeira trincheira contra os perigos representados por todas as formas de tirania e totalitarismo e fundamentalismos que obscureceram a cultura e a política do século XX e ainda não parecem até o momento fora do incerto horizonte do século XXI.
“... À parte dos dogmas peculiares de pensadores individuais, há também no mundo como um todo uma crescente inclinação a exagerar indevidamente os poderes da sociedade sobre o indivíduo, tanto pela força de opinião quanto até mesmo pela força da legislação; e como a tendência de todas as mudanças acontecendo no mundo é de reforçar a sociedade e diminuir o indivíduo, esta invasão não é um dos males que tendem a desaparecer espontaneamente, mas, ao contrário, crescer cada vez mais terrível. A disposição da humanidade seja como governantes ou cidadãos, de impor suas próprias opiniões aos outros, é tão energicamente apoiada por alguns dos melhores e por alguns dos piores sentimentos inerentes à natureza humana, que quase nunca tal disposição é mantida sob controle por qualquer coisa que não seja desejo de poder; e como o poder não está diminuindo, mas crescendo, a menos que uma forte barreira de convicção moral possa surgir contra a desordem, devemos esperar, nas atuais circunstâncias do mundo, vê-lo aumentar.”
John Stuart Mill. Ensaio sobre a Liberdade./ tradução: Rita de Cássia Gondim Neiva.SP: Editora Escala, s.d, p. 32 et seq.)
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
literatura inglesa xv
No cenário da poesia de língua inglesa, o nome do norte americano William Carlos Willians ( 1883-1963) ocupa um lugar de considerável destaque. Podemos considerá-lo o mais moderno de todos os poetas, pois ele foi inequivocamente o poeta do imediato e das sensações; da intimidade do real, traduzindo em poesia as inquietações e buscas que marcaram tão radicalmente a primeira metade do séc XX e seu microcosmos cotidiano.
Williams inventa uma nova fala em incomparável engenhosidade pragmática, uma fala que expressa profundamente a própria linguagem da América, a palavra em sua imediaticidade imanente .
Nas palavras do critico literário John Malcolm Brinnin
“Há aspectos característicos da fala americana em muitos níveis-regional, social, ocupacional, cultural; a ênfase fonética que os americanos dão a milhares de frases usadas em suas permutas diárias; expressões taquigráficas que significam um estado de espírito ou uma atitude- e que são nitidamente deferentes tanto das usadas pelos britânicos quanto das empregadas geralmente em literatura ou jornalismo. O poeta que pode ouvir essas expressões fuseladas, que pode captar a relação entre um pensamento e a mímica das palavras que o transmitem, deveria encontrar uma forma de usá-las. Quando Williams não tenta fazer de um método espontâneo uma fórmula limitadora, sua explicação da maneira pela qual trabalha é sucinta e esclarecedora: ‘... em alguns dos meus trabalhos tudo quanto tenho a fazer é transcrever a linguagem, quando ainda quente, falada com sentimento. Porque quando ela vem saturada de emoção, tende a ser rítmica, autêntica, inerente ao lugar em que está sendo usada. A batida ritma da linguagem saturada.’”
( John Malcolm Brinnin. William Carlos Williams/ tradução de Nair Lacerda. SP: Livraria Martins ( Coleção Escritores Norte Americanos); s/d.; p.62)
Mas qualquer coisa dita sobre a peculiaridade de sua poesia não esta a altura da experiência direta da singularidade de seus versos:
O GRANDE NÚMERO
Entre a chuva
E as luzes
Vi o número 5
Em ouro
Sobre um carro de incêndio
Vermelho
Correndo
Tenso
Desatento
Aos sinos de alarma
Aos uivos das sereias
Às rodas retumbantes
Através da cidade escura.
Williams inventa uma nova fala em incomparável engenhosidade pragmática, uma fala que expressa profundamente a própria linguagem da América, a palavra em sua imediaticidade imanente .
Nas palavras do critico literário John Malcolm Brinnin
“Há aspectos característicos da fala americana em muitos níveis-regional, social, ocupacional, cultural; a ênfase fonética que os americanos dão a milhares de frases usadas em suas permutas diárias; expressões taquigráficas que significam um estado de espírito ou uma atitude- e que são nitidamente deferentes tanto das usadas pelos britânicos quanto das empregadas geralmente em literatura ou jornalismo. O poeta que pode ouvir essas expressões fuseladas, que pode captar a relação entre um pensamento e a mímica das palavras que o transmitem, deveria encontrar uma forma de usá-las. Quando Williams não tenta fazer de um método espontâneo uma fórmula limitadora, sua explicação da maneira pela qual trabalha é sucinta e esclarecedora: ‘... em alguns dos meus trabalhos tudo quanto tenho a fazer é transcrever a linguagem, quando ainda quente, falada com sentimento. Porque quando ela vem saturada de emoção, tende a ser rítmica, autêntica, inerente ao lugar em que está sendo usada. A batida ritma da linguagem saturada.’”
( John Malcolm Brinnin. William Carlos Williams/ tradução de Nair Lacerda. SP: Livraria Martins ( Coleção Escritores Norte Americanos); s/d.; p.62)
Mas qualquer coisa dita sobre a peculiaridade de sua poesia não esta a altura da experiência direta da singularidade de seus versos:
O GRANDE NÚMERO
Entre a chuva
E as luzes
Vi o número 5
Em ouro
Sobre um carro de incêndio
Vermelho
Correndo
Tenso
Desatento
Aos sinos de alarma
Aos uivos das sereias
Às rodas retumbantes
Através da cidade escura.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
O IMAGINÁRIO CONTEMPORÂNEO E O REAL COMO DESAFIO
O roteiro teórico que define o imaginário contemporâneo é, em certa medida, o da peregrinação pelos subsolos de um querer absoluto e sem objetos que nos encanta a percepção na ausência de um quadro completo ou inteligível da realidade. A confusão daquilo que nos faz pensar, o imbróglio do acontecer de tudo, já não nos permite grandes sínteses conceituais.
Uma consciência unitária, uma totalidade sistêmica ou um mundo meramente ordenado e explicável, tornou-se hoje em dia, mais do que nunca, um mero vislumbre delirante de um estado de coisas utopicamente ingênuo frente a complexidade vertiginosa de um real que se esfumaça e se faz cada vez mais construção e fantasia coletiva.
Uma consciência unitária, uma totalidade sistêmica ou um mundo meramente ordenado e explicável, tornou-se hoje em dia, mais do que nunca, um mero vislumbre delirante de um estado de coisas utopicamente ingênuo frente a complexidade vertiginosa de um real que se esfumaça e se faz cada vez mais construção e fantasia coletiva.
cultura pós moderna e contemporaneidade
Publicado originalmente na Inglaterra em 1989, CULTURA POS MODERNA: INTRODUÇÃO AS TEORIAS DO CONTEMPORÂNEO de Steven Connor, permanece ainda hoje como uma referência significativa para os debates em torno do tempo presente inaugurados pelas formulações e polêmicas envolvendo a pauta de discussões aglutinadas em torno da Pós Modernidade.
O autor realiza um exaustivo balanço da condição pós moderna em variados campos: filosofia, literatura, cinema, TV, política cultural, cultura popular, vida acadêmica, etc. em um esforço para a compreensão dos desafios e possibilidades representados pela cultura contemporânea. Realiza ainda um balanço critico dos principais autores que entre os anos 70 e 90 envolveram-se no debate sobre a Pos Modernidade.
Cannor nos convida a uma avaliação crítica da cultura pós moderna em seu conjunto, de suas diversas linguagens, vislumbrando a possibilidade de uma ética político cultural que, indo além do pós moderno, seja capaz de dar conta da pluralidade global que cada vez mais define o tempo presente. Para o autor o que está em jogo é a necessidade, diante do abandono das meta narrativas universalistas e totalitárias, de estabelecer um quadro comum de concordâncias. Pessoalmente não sei até que ponto este consenso mínimo seria possível em um mundo cada vez mais definido pela afirmação ilimitada da diversidade, pela fragmentação cultural, mesmo que como seu contra ponto ganhem força os fundamentalismos e particularimos identidários.
Mas deixando o autor falar:
“ O esvaziamento do horizonte do valor universal leva no final quer a um acolhimento irracionalista da agnóstica da oposição- em termos mais simples, à adoção por falta de alternativas do princípio universal de que a força é o direito-; quer à complacência ingênua do pragmatismo, em que se supõe que jamais podemos fundamentar as nossas atividades em princípios éticos que tenham mais força do que simplesmente dizer “ este é o tipo de coisas que fazemos, porque é adequado para n´s” ( No final, na verdade, a opção pragmática sempre vai se transformar na agnóstica , por que só vai funcionar satisfatoriamente até que alguém se recuse a concordar com você ou a permitir que você discorde dele.) A análise e a política culturais pós modernas por certo marcam um estágio importante e, com efeito, provavelmente epocal, no desenvolvimento da consciência ética, no reconhecimento da irredutível diversidade de vozes e interesses. No entanto, como esse estudo tem tentado mostrar, essa análise cultural sempre corre o risco de se tornar cúmplice das formas cada vez mais globalizadas que buscam submeter, explorar e administrar- e, portanto, restringir violentamente- essa diversidade. A tarefa de uma pós modernidade teórica do futuro tem de ser ( sem dissipar suas energias em fantasias de marginalidade potentemente derrotada, nem estreitar-se num profissionalismo autopromotor e nem agir como legitimação cultural dos efeitos alienantes da “sociedade da informação” do capitalismo avançado) forjar formas novas e mais inclusivas de coletividade ética. Haverá quem veja isso como apenas mais uma recaída desfibrada no universalismo, mas não se trata disso: trata-se de um chamado para a criação de um quadro comum de concordância, único fator capaz de garantir a continuidade de uma diversidade global de vozes.”
(Steven Connor. Cultura Pós Moderna: Introdução as Teorias do Contemporâneo/ Tradução: Adali Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. SP: Edições Loyola, 4º ed., 2000; p. 198)
O autor realiza um exaustivo balanço da condição pós moderna em variados campos: filosofia, literatura, cinema, TV, política cultural, cultura popular, vida acadêmica, etc. em um esforço para a compreensão dos desafios e possibilidades representados pela cultura contemporânea. Realiza ainda um balanço critico dos principais autores que entre os anos 70 e 90 envolveram-se no debate sobre a Pos Modernidade.
Cannor nos convida a uma avaliação crítica da cultura pós moderna em seu conjunto, de suas diversas linguagens, vislumbrando a possibilidade de uma ética político cultural que, indo além do pós moderno, seja capaz de dar conta da pluralidade global que cada vez mais define o tempo presente. Para o autor o que está em jogo é a necessidade, diante do abandono das meta narrativas universalistas e totalitárias, de estabelecer um quadro comum de concordâncias. Pessoalmente não sei até que ponto este consenso mínimo seria possível em um mundo cada vez mais definido pela afirmação ilimitada da diversidade, pela fragmentação cultural, mesmo que como seu contra ponto ganhem força os fundamentalismos e particularimos identidários.
Mas deixando o autor falar:
“ O esvaziamento do horizonte do valor universal leva no final quer a um acolhimento irracionalista da agnóstica da oposição- em termos mais simples, à adoção por falta de alternativas do princípio universal de que a força é o direito-; quer à complacência ingênua do pragmatismo, em que se supõe que jamais podemos fundamentar as nossas atividades em princípios éticos que tenham mais força do que simplesmente dizer “ este é o tipo de coisas que fazemos, porque é adequado para n´s” ( No final, na verdade, a opção pragmática sempre vai se transformar na agnóstica , por que só vai funcionar satisfatoriamente até que alguém se recuse a concordar com você ou a permitir que você discorde dele.) A análise e a política culturais pós modernas por certo marcam um estágio importante e, com efeito, provavelmente epocal, no desenvolvimento da consciência ética, no reconhecimento da irredutível diversidade de vozes e interesses. No entanto, como esse estudo tem tentado mostrar, essa análise cultural sempre corre o risco de se tornar cúmplice das formas cada vez mais globalizadas que buscam submeter, explorar e administrar- e, portanto, restringir violentamente- essa diversidade. A tarefa de uma pós modernidade teórica do futuro tem de ser ( sem dissipar suas energias em fantasias de marginalidade potentemente derrotada, nem estreitar-se num profissionalismo autopromotor e nem agir como legitimação cultural dos efeitos alienantes da “sociedade da informação” do capitalismo avançado) forjar formas novas e mais inclusivas de coletividade ética. Haverá quem veja isso como apenas mais uma recaída desfibrada no universalismo, mas não se trata disso: trata-se de um chamado para a criação de um quadro comum de concordância, único fator capaz de garantir a continuidade de uma diversidade global de vozes.”
(Steven Connor. Cultura Pós Moderna: Introdução as Teorias do Contemporâneo/ Tradução: Adali Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. SP: Edições Loyola, 4º ed., 2000; p. 198)
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
INTERPRETAÇÃO POETICA ONIRICA
Sonho a paisagem
De um quadro
Onde em um plano
Sobre outro
As cores devoram formas
Desafiando estéticas
No império das sensações
Que explodem
No mágico desregramento
Da percepção.
O que de fato sei nisso?
Abstração lírica
Ou delírio?
De um quadro
Onde em um plano
Sobre outro
As cores devoram formas
Desafiando estéticas
No império das sensações
Que explodem
No mágico desregramento
Da percepção.
O que de fato sei nisso?
Abstração lírica
Ou delírio?
terça-feira, 27 de novembro de 2007
ARTE E CONHECIMENTO
O imaginário estabelecido pelos mitos religiosos e seculares que definem o imaginário ocidental nos proporcionam a cândida ilusão de que há sentido em tudo, de que tudo é passível de interpretação e significado, quando na verdade o mundo é apenas a consciência que temos dele.
Nosso tempo presente define-se sob o signo do não sentido, por uma incômoda imagem de um mundo que se torna cada vez menor, menos cogniscível, pela aventura da palavra e a magia de qualquer definição de verdade.O negativo, o virtual e o silêncio formam a trindade paradigmática de uma nova modalidade irracional de percepção do real onde aprendemos ou re aprendemos o conhecimento como o mais desafiador exercício artístico.
Nosso tempo presente define-se sob o signo do não sentido, por uma incômoda imagem de um mundo que se torna cada vez menor, menos cogniscível, pela aventura da palavra e a magia de qualquer definição de verdade.O negativo, o virtual e o silêncio formam a trindade paradigmática de uma nova modalidade irracional de percepção do real onde aprendemos ou re aprendemos o conhecimento como o mais desafiador exercício artístico.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO XIV
Raramente nos damos conta do passar dos anos em nossas vidas, refletimos sobre as transformações e marcos biográficos que nos organizam as fases e ritmos da existência. Viver é um espontâneo e aleatório movimento de coisas, um fluir de mim mesmo no tempo e no espaço que molda o corpo e a alma no acumulo de pessoas e fatos...
Confesso que às vezes minha própria existência afigura-se como um gigantesco acontecimento sobre o qual não possuo qualquer domínio e impera o caprichoso acaso como arquiteto dos meus incertos caminhos. Reconheço-me mais nas pessoas que freqüentaram-me ao longo dos anos do que propriamente em meu próprio rosto.
Confesso que às vezes minha própria existência afigura-se como um gigantesco acontecimento sobre o qual não possuo qualquer domínio e impera o caprichoso acaso como arquiteto dos meus incertos caminhos. Reconheço-me mais nas pessoas que freqüentaram-me ao longo dos anos do que propriamente em meu próprio rosto.
LITERATURA INGLESA XIV
Sir Arthur Conam Doyle ( 1859-1930 ), nasceu na Irlanda em uma família modesta. Apesar disso, formou-se em medicina e conquistou fama e prestígio ao escrever As aventuras de Sherlock Holmes, personagem que se converteria em um dos maiores mitos da era vitoriana.
Escreveu ainda romances históricos centrados na carismática personagem do brigadeiro Gerard, herói das guerras napoliônicas. Cabe ainda citar o “Mundo Perdido”, curiosa novela sobre uma expedição científica liderada pelo paleontologista George Challenger, a lugares remotos da selva amazônica com o intuito de provar a existência contemporânea dos dinossauros. Esta última obra originou uma adaptação para o cinema em 1925 pela First National Picture que alcançou significativo êxito devido aos seus efeitos especiais considerados inovadores na época. O que não impediu sua obscuridade com o surgimento do cinema falado nos anos seguintes.
Não é nada fácil comentar em poucas palavras a prodigiosa imaginação literária de Conam Doyle onde a ciência, de braços dados com a aventura, afirma-se como expressão viva da singularidade humana. Tanto no caso de Holmes quanto no de Challenger nos deparamos, de formas diversas, com homens obcecados pelo conhecimento e comprometidos com uma racionalidade heterodoxa, desafiadora do cânone do saber científico.
No caso especialmente de Holmes é clássica a passagem do “Símbolo dos Quatro” em que assim justifica o uso de cocaína:
Escreveu ainda romances históricos centrados na carismática personagem do brigadeiro Gerard, herói das guerras napoliônicas. Cabe ainda citar o “Mundo Perdido”, curiosa novela sobre uma expedição científica liderada pelo paleontologista George Challenger, a lugares remotos da selva amazônica com o intuito de provar a existência contemporânea dos dinossauros. Esta última obra originou uma adaptação para o cinema em 1925 pela First National Picture que alcançou significativo êxito devido aos seus efeitos especiais considerados inovadores na época. O que não impediu sua obscuridade com o surgimento do cinema falado nos anos seguintes.
Não é nada fácil comentar em poucas palavras a prodigiosa imaginação literária de Conam Doyle onde a ciência, de braços dados com a aventura, afirma-se como expressão viva da singularidade humana. Tanto no caso de Holmes quanto no de Challenger nos deparamos, de formas diversas, com homens obcecados pelo conhecimento e comprometidos com uma racionalidade heterodoxa, desafiadora do cânone do saber científico.
No caso especialmente de Holmes é clássica a passagem do “Símbolo dos Quatro” em que assim justifica o uso de cocaína:
“Minha mente rebela-se contra a estagnação. Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o mais abstruso criptograma ou a mais intrincada análise, e estou no meu elemento. Posso então dispensar estimulantes artificiais. Mas detesto a rotina monótona da existência."
domingo, 25 de novembro de 2007
FAREWELL
A sonolenta luz
De um sol triste
Espalha silêncios
Sobre as coisas.
A vida veste-se de calma
Escrevendo no corpo
A paz das despedidas.
Despido de tudo
Recebo a noite
Como uma promessa
No esvaziar-se sereno
De mais um dia
Dentro de mim
Surpreendo o acordar
De mudos acasos
Que me dizem nas núvens
Em crepúsculo
O segredo máximo da natureza:
Farewell...
De um sol triste
Espalha silêncios
Sobre as coisas.
A vida veste-se de calma
Escrevendo no corpo
A paz das despedidas.
Despido de tudo
Recebo a noite
Como uma promessa
No esvaziar-se sereno
De mais um dia
Dentro de mim
Surpreendo o acordar
De mudos acasos
Que me dizem nas núvens
Em crepúsculo
O segredo máximo da natureza:
Farewell...
CONTRAMÃO
Espero passivo
Um dia
De não pensamento,
De silencio de idéias
Na bucólica paisagem
De um sítio de sonho.
Enquanto meu tempo
Corre
Na contramão
Dos fatos.
Um dia
De não pensamento,
De silencio de idéias
Na bucólica paisagem
De um sítio de sonho.
Enquanto meu tempo
Corre
Na contramão
Dos fatos.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
ODES DE ANACREONTE
As chamadas Odes Anacreônicas foram originalmente difundidas na Grécia hlênica. Ou seja, naquele momento em que a civilização grega, após as conquistas e morte de Alexandre, se universalizava e transformava a partir dos intercâmbios culturais com o Oriente Trata-se, na verdade, de um período de transição entre o classicismo grego e a majestosa Roma imperial. A autoria destas Odes é controversa e o exato período de sua composição imprecisa.
Mas o que, entretanto, aqui realmente importa, é a sintonia possível entre o leitor contemporâneo e esses versos antigos que consagram, a partir das referências de sua própria época, o sensualismo, o prazer, a vida e o desregramento; onde indiretamente nos falam o velho deus Dionísio, Afrodite e Eros.
Seguem alguns pequenos exemplos:
CANTO BÁQUICO
Mas o que, entretanto, aqui realmente importa, é a sintonia possível entre o leitor contemporâneo e esses versos antigos que consagram, a partir das referências de sua própria época, o sensualismo, o prazer, a vida e o desregramento; onde indiretamente nos falam o velho deus Dionísio, Afrodite e Eros.
Seguem alguns pequenos exemplos:
CANTO BÁQUICO
Sempre que bebo o alegre vinho,
Logo, de coração contente,
Eu vou as Musas celebrar.
Sempre que bebo o alegre vinho,
Lanço os cuidados e o prudente
Conselho inquieto, dos que o entoam,
Ao léu dos ventos que ressoam
Como os barulhos lá do mar...
Sempre que bebo o alegre vinho,
Baco ( do mal quem livra a vida),
Em vernal brisa reflorida,
Como me eleva e agita no ar...
Sempre que bebo o alegre vinho,
Flórea coroa- que se teça
Aos deuses- ponho na cabeça
E canto a vida sã, feliz!
Sempre que bebo o alegre vinho,
E aromas suaves em mim chovem,
Celebro a Cípria- que assim quis...
Sempre que bebo o alegre vinho,
Bem a meu gosto, em taça grande,
Simples, minha alma, enfim se expande
Nos coros jovens, com prazer.
Sempre que bebo o alegre vinho,
Tenho o meu ganho na partida:
Tudo o que levo desta vida
-Pois todos temos de morrer!
PRAZERES VENAIS
Que belo diverti-me à toa
Onde estão prados luxuriantes,
Quando agradável, tênue, voa
A aura dos Zéfiros errantes!
De Baco os cachos, novos ainda,
Ver sob as folhas e poder
Nos braços tenra jovem, linda,
Que exala a própria Cípria, erguer!
ODES de Anacreonte/ tradução de Almeida Cousin. RJ: Editora tecnoprint ( coleção Sabedoria e Pensamento, s/d.)
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
ICARO
TEMPO PESSOAL
Meu tempo corre
Na contramão dos fatos.
É quase uma ilusão verdadeira,
Onde espero passivo
Um dia
De não pensamento,
De silêncio de idéias
Em bucólicas paisagens
De sítios de sonhos.
Meu tempo é a espera
Do primeiro dia
Do resto de toda a vida
Possível.
Na contramão dos fatos.
É quase uma ilusão verdadeira,
Onde espero passivo
Um dia
De não pensamento,
De silêncio de idéias
Em bucólicas paisagens
De sítios de sonhos.
Meu tempo é a espera
Do primeiro dia
Do resto de toda a vida
Possível.
domingo, 18 de novembro de 2007
GEORGE STEINER E A PÒS CULTURA
Em fins dos anos 60, quando eram esboçadas as primeiras tentativas de conceituação de uma ficção pós moderna, o crítico literário George Steiner, inspirado pelas “Notas para Redefinição de Cultura” de Eliot ( 1948), formulava o conceito de Pós cultura, buscando dar conta de um conjunto de fenômenos que apontavam para uma profunda transformação no imaginário ocidental.
Parafraseando o autor, o constructo clássico do discurso e a centralidade da palavra, inspiradores de um sistema hierárquico de valores que definiam a própria essência da sociedade ocidental, viu-se abalado ao longo do séc. XX, não apenas pelas vanguardas dos anos 20, mas também pela “contra-cultura” dos beatnik, Graffiti, Stoned ( chapados), etc. que delimitavam uma nova linguagem e padrão de experiência que não mais tinham como centro a palavra.
Como esclarece o próprio autor:
“Essas mudanças, de uma cultura dominante a uma pós ou subcultura, expressa-se em um “afastamento da palavra” generalizado. Vista a partir de alguma futura perspectiva histórica, a civilização ocidental, desde suas origens greco-hebraicas até mais ou menos o presente, pode assemelhar-se a uma fase de “verbalismo” concentrado. O que nos parecem ser distinções relevantes podem dar a impressão de ter sido parte de uma era geral em que o discurso falado, evocado e escrito era a coluna vertebral da consciência. Um lugar-comum da atual sociologia e do “estudo da mídia” diz que essa primazia da “lógica”- daquilo que organiza as articulações de tempo e de significado em torno ao logos- está chegando ao final. Cada vez mais a palavra é uma legenda para a imagem. Crescentes áreas da realidade e da sensibilidade , de modo especial nas ciências exatas e nas artes não- figurativas, estão fora do alcance do relato verbal e da paráfrase. As notações da lógica simbólica, a linguagem da matemática e da computação deixaram de ser metadialetos, submetidos e reduzíveis à percepção verbal. Elas são modos comunicacionais autônomos, que reivindicam e expressam por si mesmos crescente área de buscas ativas e contemplativas. As palavras estão corroídas pelas falsas esperanças e pelas mentiras que elas, as palavras, veiculam. O alfabeto eletrônico da comunicação e da “proximidade” [ “togetherness”] imediatas e globais não é o antigo e cismático legado de Babel, mas a imagem em ação.”
( Georg Steiner. No Castelo do Barba Azul: Algumas notas para a redefinição da cultura./ Tradução : Tomas Rosa Bueno; SP: Companhia das Letras, 1991, p. 122 )
Parafraseando o autor, o constructo clássico do discurso e a centralidade da palavra, inspiradores de um sistema hierárquico de valores que definiam a própria essência da sociedade ocidental, viu-se abalado ao longo do séc. XX, não apenas pelas vanguardas dos anos 20, mas também pela “contra-cultura” dos beatnik, Graffiti, Stoned ( chapados), etc. que delimitavam uma nova linguagem e padrão de experiência que não mais tinham como centro a palavra.
Como esclarece o próprio autor:
“Essas mudanças, de uma cultura dominante a uma pós ou subcultura, expressa-se em um “afastamento da palavra” generalizado. Vista a partir de alguma futura perspectiva histórica, a civilização ocidental, desde suas origens greco-hebraicas até mais ou menos o presente, pode assemelhar-se a uma fase de “verbalismo” concentrado. O que nos parecem ser distinções relevantes podem dar a impressão de ter sido parte de uma era geral em que o discurso falado, evocado e escrito era a coluna vertebral da consciência. Um lugar-comum da atual sociologia e do “estudo da mídia” diz que essa primazia da “lógica”- daquilo que organiza as articulações de tempo e de significado em torno ao logos- está chegando ao final. Cada vez mais a palavra é uma legenda para a imagem. Crescentes áreas da realidade e da sensibilidade , de modo especial nas ciências exatas e nas artes não- figurativas, estão fora do alcance do relato verbal e da paráfrase. As notações da lógica simbólica, a linguagem da matemática e da computação deixaram de ser metadialetos, submetidos e reduzíveis à percepção verbal. Elas são modos comunicacionais autônomos, que reivindicam e expressam por si mesmos crescente área de buscas ativas e contemplativas. As palavras estão corroídas pelas falsas esperanças e pelas mentiras que elas, as palavras, veiculam. O alfabeto eletrônico da comunicação e da “proximidade” [ “togetherness”] imediatas e globais não é o antigo e cismático legado de Babel, mas a imagem em ação.”
( Georg Steiner. No Castelo do Barba Azul: Algumas notas para a redefinição da cultura./ Tradução : Tomas Rosa Bueno; SP: Companhia das Letras, 1991, p. 122 )
DELIRIO CRONOLÓGICO
O futuro do meu presente
É o passado imperfeito
De um sonho ingênuo.
Pois escrevo-me no tempo
nas sombras dos fatos
que me arrastam
as margens das horas e rumos
de onde contemplo
as infinitas águas
do finito da vida
entre o agora e o outrora
que me observam distantes
pela porta
da alma dos fundos.
É o passado imperfeito
De um sonho ingênuo.
Pois escrevo-me no tempo
nas sombras dos fatos
que me arrastam
as margens das horas e rumos
de onde contemplo
as infinitas águas
do finito da vida
entre o agora e o outrora
que me observam distantes
pela porta
da alma dos fundos.
PERDIDO PENSAMENTO
Entre as vielas e vozes
Da tarde aberta
Caiu um pensamento
Que sustentava
Um céu quase certo.
Perdeu-se ali com ele
Alguma descartável
Certeza de vida,
Alguma presunçosa verdade
Que de tão profunda
Abandonou-se ao vento
E abraçou
O gratuito esquecimento
Em um segundo
De intensa e irrefletida vida.
Da tarde aberta
Caiu um pensamento
Que sustentava
Um céu quase certo.
Perdeu-se ali com ele
Alguma descartável
Certeza de vida,
Alguma presunçosa verdade
Que de tão profunda
Abandonou-se ao vento
E abraçou
O gratuito esquecimento
Em um segundo
De intensa e irrefletida vida.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
SENTIR-SE
Indiferentes
Ao assédio do sol
Meus eus dispersos
Em vastos desertos internos
Encontram o sono da vida
E o sonho de espelho
Na face da lua,
Vislumbram
A irrealidade do mundo
Diante do sentimento
De mim mesmo
Perdido em palavras
E deitado no vento
De vontades urgentes
Ao assédio do sol
Meus eus dispersos
Em vastos desertos internos
Encontram o sono da vida
E o sonho de espelho
Na face da lua,
Vislumbram
A irrealidade do mundo
Diante do sentimento
De mim mesmo
Perdido em palavras
E deitado no vento
De vontades urgentes
SHAKESPEARE E O RENASCIMENTO INGLÊS
O renascimento inglês, se comparado ao caso italiano, pode ser considerado um fenômeno tardio. Os dois condicionantes, por assim dizer, de sua ocorrência seriam a ascensão ao poder da Dinastia Tudor, com Henrique VII em 1485, e a difusão do calvinismo ou as conseqüentes tensões e disputas religiosas que marcariam especialmente o séc.XVI. Cabe ainda ressaltar que no caso inglês a “cultura renascentista” circunscreveu-se a expressão musical e literária, atingindo sua mais representativa realidade através do chamado Teatro Elisabetano. Assim sendo, não deve causar estranheza a afirmação de que Shakespeare ( 1564-1618) foi definitivamente um dos mais significativos e expressivos artistas renascentistas de toda a Europa. Talvez aquele que, mais do que qualquer outro, ao dizer os dilemas, angustias e imaginações do seu tempo, foi capaz de dizer, para alem de sua própria época, os labirintos da condição humana.
Através de seus sonetos, comédias e tragédias, Shakespeare construiu uma obra ambivalente e paradoxal; a um só tempo popular e erudita, medieval e moderna, mas acima de tudo vertiginosamente humana...
Evidentemente esta é apenas a primeira referência ao velho bardo neste blog, algo abaixo de uma introdução e um pouco acima de um comentário.
Através de seus sonetos, comédias e tragédias, Shakespeare construiu uma obra ambivalente e paradoxal; a um só tempo popular e erudita, medieval e moderna, mas acima de tudo vertiginosamente humana...
Evidentemente esta é apenas a primeira referência ao velho bardo neste blog, algo abaixo de uma introdução e um pouco acima de um comentário.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
NOTURNO
Lembro-me
Do novo de coisas antigas
Que provei em
Noites distantes.
Momento em que
Um vento se fazia
Vivência de algo ausente,
Um vazio a povoar
E percorrer memórias,
A decorar a casa e o corpo
Na embriagues do infinito
Em movimento.
Do novo de coisas antigas
Que provei em
Noites distantes.
Momento em que
Um vento se fazia
Vivência de algo ausente,
Um vazio a povoar
E percorrer memórias,
A decorar a casa e o corpo
Na embriagues do infinito
Em movimento.
BEATLES E A MAGIA DE Sgt. PEPPER'S
Ruber Soul e Revolver demarcam um momento de transição na musicalidade dos Beatles. Se até então eles poderiam ser considerados um fenômeno musical adolescente, dentre outros, encontravam-se então, convertidos em banda de estúdio, prestes a transmutarem-se no fabulous four que mudariam para sempre o cenário musical do rock mundial.
Cabe observar que músicais como Taxman, Tomorrow never Knows e Yellow Submarine, já introduziam, mesmo que ainda discretamente, uma nova poética e musicalidade que seria levada as últimas conseqüências em 1967 com o lançamento do explosivo Sgt. Pepper’s Lonery Hearts Club Band.
Difícil para mim aqui enumerar todas as inovações então apresentadas pelos Beatles nesse ousado trabalho. Sgt. Pepper’s é na verdade um grande teatro alegórico onde o virtual espetáculo de uma banda imaginária dá o tom de uma viagem musical psicodélica em treze faixas quase encadeadas em um só fôlego, dada a ausência de intervalo entre elas, que reúnem uma diversidade sem paralelos de estilos, desde música indiana, erudita, folk, vaudeville, efeitos especiais, etc.
A própria capa do álbum já é suficiente para causar perplexidade com os Beatles fantasiados com uniformes coloridos, cercados de personalidades famosas e enigmáticas, além das referências cifradas a morte de Paul McCartney.
O mais curioso é que a audição de faixas como Lucy in the sky with diamonds ou With a little help from my friends nos dias de hoje não provoca o estranhamento de estarmos diante de um monumento sonoro do passado, mas a surpresa de uma música, ainda nos dias de hoje, contemporânea, capaz de criar uma espécie de “não lugar”, ou comunicar com toda força a metalinguagem musical que define as mais universais criações artísticas de todos os tempos.
Cabe observar que músicais como Taxman, Tomorrow never Knows e Yellow Submarine, já introduziam, mesmo que ainda discretamente, uma nova poética e musicalidade que seria levada as últimas conseqüências em 1967 com o lançamento do explosivo Sgt. Pepper’s Lonery Hearts Club Band.
Difícil para mim aqui enumerar todas as inovações então apresentadas pelos Beatles nesse ousado trabalho. Sgt. Pepper’s é na verdade um grande teatro alegórico onde o virtual espetáculo de uma banda imaginária dá o tom de uma viagem musical psicodélica em treze faixas quase encadeadas em um só fôlego, dada a ausência de intervalo entre elas, que reúnem uma diversidade sem paralelos de estilos, desde música indiana, erudita, folk, vaudeville, efeitos especiais, etc.
A própria capa do álbum já é suficiente para causar perplexidade com os Beatles fantasiados com uniformes coloridos, cercados de personalidades famosas e enigmáticas, além das referências cifradas a morte de Paul McCartney.
O mais curioso é que a audição de faixas como Lucy in the sky with diamonds ou With a little help from my friends nos dias de hoje não provoca o estranhamento de estarmos diante de um monumento sonoro do passado, mas a surpresa de uma música, ainda nos dias de hoje, contemporânea, capaz de criar uma espécie de “não lugar”, ou comunicar com toda força a metalinguagem musical que define as mais universais criações artísticas de todos os tempos.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
ROCK E CULTURA MUSICAL
Pode-se-ia escrever a História do Séc. XX exclusivamente através de sua música. Para muitos foi um século inconvenientemente barulhento, onde a urbanização crescente somada ao avanço tecnológico povoou o cotidiano humano de uma ilimitada e caótica quantidade de sons e ruídos a ponto de transformar ou “transtornar” a sensibilidade coletiva de modo realmente sem procedentes.
Abordando um ponto especifico da cacofonia moderna, diria que a reprodutividade técnica ilimitada de execuções musicais desmistificou e desritualizou a experiência musical ao tornar possível, em qualquer lugar e hora do dia, preencher nossas vidas e momentos com música. Sem isso seria impossível pensá-la como como um elemento produtor de sociabilidade, de exercício de vida interior em êxtase participatório ou comunitário que em alguma medida realiza o não verbal da vida e de nossa condição humana.
Foi através da difusão do radio e depois do long play que a sonoridade converteu-se em suporte de uma cultura, em um habito social identificado principalmente com os jovens e seus acervos musicais cultivados com tanto gosto e carinho como antes se mantinha uma biblioteca. Mas foi nos Estados Unidos e na Europa do pós guerra que essa nova cultura consolidou-se definitivamente com o advento do Rock in Roll iniciando um dos fenômenos mais curiosos do século.
Abordando um ponto especifico da cacofonia moderna, diria que a reprodutividade técnica ilimitada de execuções musicais desmistificou e desritualizou a experiência musical ao tornar possível, em qualquer lugar e hora do dia, preencher nossas vidas e momentos com música. Sem isso seria impossível pensá-la como como um elemento produtor de sociabilidade, de exercício de vida interior em êxtase participatório ou comunitário que em alguma medida realiza o não verbal da vida e de nossa condição humana.
Foi através da difusão do radio e depois do long play que a sonoridade converteu-se em suporte de uma cultura, em um habito social identificado principalmente com os jovens e seus acervos musicais cultivados com tanto gosto e carinho como antes se mantinha uma biblioteca. Mas foi nos Estados Unidos e na Europa do pós guerra que essa nova cultura consolidou-se definitivamente com o advento do Rock in Roll iniciando um dos fenômenos mais curiosos do século.
CRÔNICA RELÂMPAGO XIII
Tudo na vida depende de tempo. Algumas coisas exigem mais tempo do que gostaríamos para desembocarem em realidades vividas e, não raramente, o fazem de modo diverso daquele que imaginávamos ou pretendíamos. A vida é como um jogo de xadrez onde nunca conseguimos antecipar satisfatoriamente os movimentos do adversário que é o nosso próprio destino, algo que surpreendentemente encontra-se dentro de nós mesmos e não na infinidade de questões e situações que nos povoam no palco do tempo humano.
Tudo na vida depende de tempo... porque só sabemos de nossas ansiedades e imediatas necessidades anímicas no cultivo de idealizados rostos e auto imaginações refletidas na face dos dias. Ignoramos imprudentemente as astúcias e segredos saturnais....
Tudo na vida depende de tempo... porque só sabemos de nossas ansiedades e imediatas necessidades anímicas no cultivo de idealizados rostos e auto imaginações refletidas na face dos dias. Ignoramos imprudentemente as astúcias e segredos saturnais....
LITERATURA INGLESA XIII
“ A gente sabe que acertou quando aquilo que se escreve possui uma verdade e uma realidade dez vezes mais poderosa que a realidade original”
Hemingway
A literatura de Ernest Hemingway ( 1899-1961) é como um delicado artesanato cuja matéria é a própria vida imediata. Amante do Box, guerras, caçadas e touradas, este romancista e ensaísta norte americano dedicou-se como ninguém a voluptuosa e sensual experiência de viver, convertendo-a no próprio sentido da arte de escrever. De certa forma, pode-se dizer que tamanho mergulho na matéria da vida justifica seu suicídio como única opção trágica frente a franca decadência física e mental impostas pela doença.
Dentre seus contos conheço apenas “O Lutador”. Limitei-me até o presente ao sabor de dois de seus romances mais conhecidos: “O velho e o Mar” e “O sol também se levanta”. O suficiente para ter uma nítida idéia do homem por traz da cuidadosa prosa.
Hemingway foi antes de tudo um aventureiro, um homem profundamente mergulhado em seu tempo. Como jornalista, participou da cobertura das duas grandes guerras mundiais e freqüentou ao longo de sua vida lugares como África, Espanha, Itália e Cuba. Jamais foi, entretanto, um escritor engajado como muitos de sua época, apesar de declarar-se partidário da Revolução Cubana. Na verdade Hemingway foi um grande solitário profundamente mergulhado no imediato de sua própria vida...
Hemingway
A literatura de Ernest Hemingway ( 1899-1961) é como um delicado artesanato cuja matéria é a própria vida imediata. Amante do Box, guerras, caçadas e touradas, este romancista e ensaísta norte americano dedicou-se como ninguém a voluptuosa e sensual experiência de viver, convertendo-a no próprio sentido da arte de escrever. De certa forma, pode-se dizer que tamanho mergulho na matéria da vida justifica seu suicídio como única opção trágica frente a franca decadência física e mental impostas pela doença.
Dentre seus contos conheço apenas “O Lutador”. Limitei-me até o presente ao sabor de dois de seus romances mais conhecidos: “O velho e o Mar” e “O sol também se levanta”. O suficiente para ter uma nítida idéia do homem por traz da cuidadosa prosa.
Hemingway foi antes de tudo um aventureiro, um homem profundamente mergulhado em seu tempo. Como jornalista, participou da cobertura das duas grandes guerras mundiais e freqüentou ao longo de sua vida lugares como África, Espanha, Itália e Cuba. Jamais foi, entretanto, um escritor engajado como muitos de sua época, apesar de declarar-se partidário da Revolução Cubana. Na verdade Hemingway foi um grande solitário profundamente mergulhado no imediato de sua própria vida...
AS DEUSAS E A MULHER: NOVA PSICOLOGIA DAS MULHERES
Nas últimas décadas assistimos ao desenvolvimento, principalmente nos Estados Unidos, de uma ampla releitura da mulher e do feminino enquanto realidade e imagem psíquica ou simbólica. A hoje chamada “nova psicologia das mulheres”, inspirada pela psicologia analítica inaugurada por C G Jung, é um dos mais fecundos produtos deste revisionismo cultural.
Um interessante exemplo é o trabalho da psiquiatra norte americana Jean Shinodra Bolen: As Deusas e a Mulher: Nova Psicologia das Mulheres. Neste, a partir da imagem de sete deusas gregas: Demeter, Perséfone, Hera, Hestia, Atena, Ártemis e Afrodite, a autora procura apreender através de padrões comportamentais e traços de personalidade elementares os múltiplos imperativos psíquicos que definem o movimento diverso de coisas que é cada mulher.
Como ressalta a autora, a condição feminina é condicionada não apenas a estereótipos culturais em seu relacionamento com o mundo, mas também a grandezas arquetipícas peculiares em sua relação consigo mesma.
A compreensão destas grandezas psíquicas interessa tanto as próprias mulheres quanto aos homens, pois nos conduz a uma consciência e a uma experiência mais complexa da própria condição humana. O mito da Grande Deusa e das deusas enquanto imagem da psique coletiva mostra-se pertinente em tal empreendimento na medida em que:
“Quando um mito é interpretado intelectual ou intuitivamente, isso pode resultar em alcance novo de compreensão. Um mito é como um sonho do qual nos lembramos, até mesmo quando não é compreendido, porque ele é simbolicamente importante. De acordo com o mitologista Joseph Campbell, ‘ Sonho é mito personalizado; mito é sonho despersonalizado’. Não é de admirar que os mitos invariavelmente pareçam algo algo vagamente familiar”
( Jean Schinoda Bolen. As Deusas e a Mulher: Nova Psicologia das Mulheres/ tradução de Maria Lydia Remédio; revisão de Ivo Storniolo. SP: Paulus,1990 ( Coleção Amor e Psique), p. 2)
Um interessante exemplo é o trabalho da psiquiatra norte americana Jean Shinodra Bolen: As Deusas e a Mulher: Nova Psicologia das Mulheres. Neste, a partir da imagem de sete deusas gregas: Demeter, Perséfone, Hera, Hestia, Atena, Ártemis e Afrodite, a autora procura apreender através de padrões comportamentais e traços de personalidade elementares os múltiplos imperativos psíquicos que definem o movimento diverso de coisas que é cada mulher.
Como ressalta a autora, a condição feminina é condicionada não apenas a estereótipos culturais em seu relacionamento com o mundo, mas também a grandezas arquetipícas peculiares em sua relação consigo mesma.
A compreensão destas grandezas psíquicas interessa tanto as próprias mulheres quanto aos homens, pois nos conduz a uma consciência e a uma experiência mais complexa da própria condição humana. O mito da Grande Deusa e das deusas enquanto imagem da psique coletiva mostra-se pertinente em tal empreendimento na medida em que:
“Quando um mito é interpretado intelectual ou intuitivamente, isso pode resultar em alcance novo de compreensão. Um mito é como um sonho do qual nos lembramos, até mesmo quando não é compreendido, porque ele é simbolicamente importante. De acordo com o mitologista Joseph Campbell, ‘ Sonho é mito personalizado; mito é sonho despersonalizado’. Não é de admirar que os mitos invariavelmente pareçam algo algo vagamente familiar”
( Jean Schinoda Bolen. As Deusas e a Mulher: Nova Psicologia das Mulheres/ tradução de Maria Lydia Remédio; revisão de Ivo Storniolo. SP: Paulus,1990 ( Coleção Amor e Psique), p. 2)
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
O SONHO DO HUMANO
Surpreendi-me ontem
conversando com o ar
em algum intervalo de ceu
aberto em meu pensamento.
Bebi as horas
e devorei a noite
até perceber
o quanto não passo
de um sonho estranho
da mãe natureza.
O AMANHÃ
Não sou destes
que vivem
em função dos dias futuros.
Sei que eles não existem,
que jamais existirão,
e o passado
me observa distraido
em algum ponto estático
do meu futuro.
Surpreendi-me ontem
conversando com o ar
em algum intervalo de ceu
aberto em meu pensamento.
Bebi as horas
e devorei a noite
até perceber
o quanto não passo
de um sonho estranho
da mãe natureza.
O AMANHÃ
Não sou destes
que vivem
em função dos dias futuros.
Sei que eles não existem,
que jamais existirão,
e o passado
me observa distraido
em algum ponto estático
do meu futuro.
O TEMPO QUE PASSA
O fluir do momento
me inquieta
no incerto rumo
de mim mesmo
no passar das coisas.
Nada é definido,
Tudo é a ventura.
Em cada segundo
uma esfinge me ensina
que no fundo de cada fato
há um segredo de obscuro acaso.
me inquieta
no incerto rumo
de mim mesmo
no passar das coisas.
Nada é definido,
Tudo é a ventura.
Em cada segundo
uma esfinge me ensina
que no fundo de cada fato
há um segredo de obscuro acaso.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
O SIGNIFICADO DO HELOWEEN
As origens do hoje chamado “Dia das Bruxas” remetem as tradições estabelecidas e difundidas entre as diversas tribos celtas que em torno de 600 a.C. e 800 d.C. habitaram a Gália e as Ilhas Britânicas.
Na tradição celta, entre o por do sol do dia 31 de outubro e o dia 1º de novembro, ocorria a noite sagrada ( Hallow evening) que simbolizava o fim do verão e o inicio do novo ano. Comemorava-se neste contexto, por volta de 1º de novembro, o festival do Samhain, cujo o nome significa literalmente “fim do verão”.
Neste período, os celtas acreditavam que ocorria um enfraquecimento das fronteiras entre os mundos dos mortos ( ancestrais) , dos deuses e dos homens.
O Helloween moderno, celebrado hoje em dia em paises como os Estados Unidos, Irlanda Inglaterra e até mesmo Brasil ( no hemisfério sul a data seria 30 de abril), possui basicamente duas linhas distintas de vivência simbolica: a carnavalesca, associada ao folclore do “dia das bruxas” ou do trick or treat , e a neo pagã, mais diretamente inspirada na tradição celta. Neste segundo caso, é comum acender-se velas em uma das janelas de casa em homenagem aos mortos ou reunir-se em torno de fogueiras para comer, beber e apresentar oferendas aos deuses e aos ancestrais.
Na tradição celta, entre o por do sol do dia 31 de outubro e o dia 1º de novembro, ocorria a noite sagrada ( Hallow evening) que simbolizava o fim do verão e o inicio do novo ano. Comemorava-se neste contexto, por volta de 1º de novembro, o festival do Samhain, cujo o nome significa literalmente “fim do verão”.
Neste período, os celtas acreditavam que ocorria um enfraquecimento das fronteiras entre os mundos dos mortos ( ancestrais) , dos deuses e dos homens.
O Helloween moderno, celebrado hoje em dia em paises como os Estados Unidos, Irlanda Inglaterra e até mesmo Brasil ( no hemisfério sul a data seria 30 de abril), possui basicamente duas linhas distintas de vivência simbolica: a carnavalesca, associada ao folclore do “dia das bruxas” ou do trick or treat , e a neo pagã, mais diretamente inspirada na tradição celta. Neste segundo caso, é comum acender-se velas em uma das janelas de casa em homenagem aos mortos ou reunir-se em torno de fogueiras para comer, beber e apresentar oferendas aos deuses e aos ancestrais.
LITERATURA INGLESA XII
Frankenstein ou O Prometeu acorrentado de Mary Shelley ( 1797-1851) é um livro que dispensa apresentações dado que por muitos caminhos, principalmente o cinematográfico, penetrou em nossas imaginações ao ponto de converter-se em um mito contemporâneo. Escrita no séc XIX a obra dialoga de certa maneira com o sec. XVIII, seja pela forma epistolar ou pela associação equivocada ao romance gótico tão popular na Inglaterra setecentista.
Em linhas gerais podemos interpretá-la, como convencionalmente se faz, como uma crítica ao cienficismo, mas pessoalmente a considero uma crítica a própria natureza humana, aos seus sonhos de grandeza e otimistas ilusões de progresso. Afinal, é a bizarra criatura do Dr. Frankenstein que personifica em seu infortúnio, destino e vingança o mais autentico e humano sentimento do mundo.
A referência ao mito de Prometeu no subtítulo deste fascinante escrito sugere uma saborosa ambigüidade: Afinal, a quem ele se refere? Ao cientista que desafia e domina a natureza ou a sua criatura que se volta contra o seu próprio criador?
Um detalhe importante é que a autora deste magnífico texto foi uma menina de 19 anos...
“....A medida em que ia lendo, porém, aplicava muita coisa a meus próprios sentimentos e condição. Achava-me parecido, e ao mesmo tempo estranhamente diferente dos seres sobre os quais lia e cuja conversa escutava. Solidarizava-me com eles, compreendia-os parcialmente, mas não tinha sua formação mental. Eu não dependia de ninguém nem era aparentado com quem quer que fosse. Também para mim era:
Em linhas gerais podemos interpretá-la, como convencionalmente se faz, como uma crítica ao cienficismo, mas pessoalmente a considero uma crítica a própria natureza humana, aos seus sonhos de grandeza e otimistas ilusões de progresso. Afinal, é a bizarra criatura do Dr. Frankenstein que personifica em seu infortúnio, destino e vingança o mais autentico e humano sentimento do mundo.
A referência ao mito de Prometeu no subtítulo deste fascinante escrito sugere uma saborosa ambigüidade: Afinal, a quem ele se refere? Ao cientista que desafia e domina a natureza ou a sua criatura que se volta contra o seu próprio criador?
Um detalhe importante é que a autora deste magnífico texto foi uma menina de 19 anos...
“....A medida em que ia lendo, porém, aplicava muita coisa a meus próprios sentimentos e condição. Achava-me parecido, e ao mesmo tempo estranhamente diferente dos seres sobre os quais lia e cuja conversa escutava. Solidarizava-me com eles, compreendia-os parcialmente, mas não tinha sua formação mental. Eu não dependia de ninguém nem era aparentado com quem quer que fosse. Também para mim era:
Vario o caminho, mas para a alegria e a tristeza
Sempre franco.
E não havia ninguém para lembrar-me. Minha figura era hedionda e minha estatura formidável. Que significava isto? De onde viera eu? Qual o meu destino? Tais perguntas ocorriam-me com freqüência e permaneciam como um enigma indecifrável.”
(Mary Shelley. Frankenstein. Tradução de Evertin Ralph. RJ: Ed. Tecnoprint AS, s.d., p.69)
DUVIDAS
Vivo inúmeras questões.
Algumas nunca terão respostas.
São como portas fechadas
ou muros
a protegerem os domínios da desrazão.
Diante deles descubro
a magia de ocasionalmente
não pensar,
de viver as surpresas do acaso
neste pequeno sonho
que chamamos vida.
PERSPECTIVA
Guardo esperanças
no fundo do bolso esquerdo
para as noites de duvidar,
de querer respostas urgentes
e exigir destinos,
inventar caminhos
na alma rasgada
em fome de mundo e de céu aberto.
Guardo esperanças no bolso
para os dias de ir
alem de mim
em um grito de infinito,
de saber todas as coisas
mais que mim mesmo.
Vivo inúmeras questões.
Algumas nunca terão respostas.
São como portas fechadas
ou muros
a protegerem os domínios da desrazão.
Diante deles descubro
a magia de ocasionalmente
não pensar,
de viver as surpresas do acaso
neste pequeno sonho
que chamamos vida.
PERSPECTIVA
Guardo esperanças
no fundo do bolso esquerdo
para as noites de duvidar,
de querer respostas urgentes
e exigir destinos,
inventar caminhos
na alma rasgada
em fome de mundo e de céu aberto.
Guardo esperanças no bolso
para os dias de ir
alem de mim
em um grito de infinito,
de saber todas as coisas
mais que mim mesmo.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
INQUIETAÇÃO
As vezes
As palavras corrompem
O silêncio
tentando dizer
o impossível
de um sentimento
vago e impreciso.
Alguma coisa inerte
de vermelho d'alma
e azul de corpo
que nos inquieta
em vontades de querer
ser um outro de nós mesmos.
Momento em que a vida
parece explodir
dentro da gente,
em que tudo se faz um grito
do próprio silêncio
no intuir profundo
de uma máxima existência
na banalidade de respirar.
As palavras corrompem
O silêncio
tentando dizer
o impossível
de um sentimento
vago e impreciso.
Alguma coisa inerte
de vermelho d'alma
e azul de corpo
que nos inquieta
em vontades de querer
ser um outro de nós mesmos.
Momento em que a vida
parece explodir
dentro da gente,
em que tudo se faz um grito
do próprio silêncio
no intuir profundo
de uma máxima existência
na banalidade de respirar.
CRÔNICA RELÂMPAGO XII
Estamos acostumados a associar erro a engano. Nada mais humano que enganar-se... Mas, por outro lado, também associamos erro a limitação, a um não saber ou opção equivoca. Desta forma todo erro nos surge vinculado ao conceito de verdade e esclarecimento. Como se conhecimento não fosse também uma forma de limitada e provisória opção de qualquer coisa, uma construção e uma escolha, em lugar de inequívoco acerto ou apropriação mais profunda de um suposto real. Talvez, o maior de todos os erros seja justamente nosso sentimento de certezas na infinita e caótica pluralidade de possibilidades que define a vida no além do bem e do mal ....
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
LA MORT LE ROI ARTU
Nada fácil falar brevemente sobre La mort le roi Artu, romance anônimo da primeira metade do séc XIII escrito em francês arcaico, obra profundamente dramática, recheada de ricas imagens e que narra o crepúsculo da Távola Redonda.
Heitor Magale, na introdução que faz para sua primorosa tradução em português, assim a apresenta a obra, situando-a dentro do ciclo arthuriano:
“A morte do rei Artur é um romance do seculo XIII atribuído, em seu próprio manuscrito, a Gautier Map e constitui-se no último livro da primeira prosificação ou Vulgata do conhecido Ciclo Arturiano. Antes dessa prosificação, a matéria havia sido tratada em romances em verso e em textos latinos em prosa. No século XII, quando Chrétien de Troyes estava compondo seus romances em verso, a prosa era praticamente reservada para traduções do latim, comentários ou paráfrases de textos sagrados, particularmente sermões. No século XIII, a prosa tornou-se veículo das crônicas em vernáculo. Quando aconteceu de autores principiarem a transformar em prosa os romances arturianos em verso, por volta de 1210, os textos acabaram por revelar-se mais históricos e religiosos. O foco mudou da cavalaria cortês para a busca do Graal e a matéria organizou-se num ciclo de obras que passou a ter como objetivo recontar toda a estória do Graal, desde as origens na paixão de Cristo até a completa realização da busca do Santo Vaso pelo cavaleiro eleito. “
( Heitor Magale; Introdução in A Morte do Rei Artur/ Anônimo; tradução Heitor Magale/ SP: Martins Fontes: 1992 ( coleção Gandhãra); p. 10.
Um resumo satisfatório de tão rico texto seria inútil, o que me faz apenas destacar alguns pontos e questões que nem de longe o esgotam mas que particularmente me interessam. Assim sendo, cabe dizer que, embora produto de uma cristianização mais sistemática da matéria da Bretanha, ainda é possível perceber nesta narrativa alguma tensão entre o imaginário pagão e cristão. Basta invocar por exemplo o confuso destino do Rei Arthur. Em seus últimos momentos Artur aparece em companhia do cavaleiro Gilfrede que, a seu pedido, devolve, mesmo que relutante, Excalibur a Dama do lago. No momento seguinte o mesmo cavaleiro, vale ressaltar, após a “maravilha” de uma forte e repentina chuva, testemunha o rei ser levado pelas fadas lideradas por Morgana em uma nau. Em um segundo momento, entretanto, o mesmo Gilfrete localiza uma capela negra onde encontra surpreendentemente o túmulo do rei. Justapõem-se, assim dois destinos na narrativa oriundos certamente de diferentes fontes e versões utilizadas na composição do texto. O fato é que tal contradição ganha uma dimensão significativa na medida em que um desfecho “pagão” aparece contraposto a intencionalidade “cristianizadora” representada pelo enterro cristão do rei.
Entretanto, a mais rica e significativa referência pagã na obra é certamente a aparição da deusa Fortuna as vésperas da trágica batalha:
“ ...O rei deitou-se em sua tenda acompanhado apenas de seus camareiros. Depois que dormiu, pareceu-lhe que uma dama vinha à sua presença, a mais bela, como nunca tinha visto no mundo, que o levantou da terra e o levou a mais alta montanha que nunca vistes, lá assentou-o sobre uma roda. Naquela roda havia assentos, dos quais uns subiam e outros desciam, o rei observava em que lugar da roda estava sentado e via que seu assento era o mais alto. A dama lhe perguntava:
-Artur, onde estás?
-Senhora, disse ele, estou numa roda alta, mas não sei qual é.
-è , disse ela, a roda da Fortuna.
Então perguntou-lhe:
-Artur, o que vês?
-Senhora, parece-me que vejo todo o mundo.
-É verdade, disse ela, tu o vês; não há muita coisa de que não tenhas sido senhor agora; e de todo circulo que vês foste o mais poderoso rei que já existiu. Mas tal é o orgulho terreno, que não há ninguém, por mais alto que esteja, a quem não convenha cair do poder do mundo.
Então o pegava e o estrebuchava a terra tão vilmente, que ao cair, parecia ao rei Artur que estava todo quebrado e que perdia toda a força do corpo e dos membros.”
(A Morte do Rei Artur/ Anônimo; tradução Heitor Magale/ SP: Martins Fontes: 1992 ( coleção Gandhãra); p. 204 et seq.)
Heitor Magale, na introdução que faz para sua primorosa tradução em português, assim a apresenta a obra, situando-a dentro do ciclo arthuriano:
“A morte do rei Artur é um romance do seculo XIII atribuído, em seu próprio manuscrito, a Gautier Map e constitui-se no último livro da primeira prosificação ou Vulgata do conhecido Ciclo Arturiano. Antes dessa prosificação, a matéria havia sido tratada em romances em verso e em textos latinos em prosa. No século XII, quando Chrétien de Troyes estava compondo seus romances em verso, a prosa era praticamente reservada para traduções do latim, comentários ou paráfrases de textos sagrados, particularmente sermões. No século XIII, a prosa tornou-se veículo das crônicas em vernáculo. Quando aconteceu de autores principiarem a transformar em prosa os romances arturianos em verso, por volta de 1210, os textos acabaram por revelar-se mais históricos e religiosos. O foco mudou da cavalaria cortês para a busca do Graal e a matéria organizou-se num ciclo de obras que passou a ter como objetivo recontar toda a estória do Graal, desde as origens na paixão de Cristo até a completa realização da busca do Santo Vaso pelo cavaleiro eleito. “
( Heitor Magale; Introdução in A Morte do Rei Artur/ Anônimo; tradução Heitor Magale/ SP: Martins Fontes: 1992 ( coleção Gandhãra); p. 10.
Um resumo satisfatório de tão rico texto seria inútil, o que me faz apenas destacar alguns pontos e questões que nem de longe o esgotam mas que particularmente me interessam. Assim sendo, cabe dizer que, embora produto de uma cristianização mais sistemática da matéria da Bretanha, ainda é possível perceber nesta narrativa alguma tensão entre o imaginário pagão e cristão. Basta invocar por exemplo o confuso destino do Rei Arthur. Em seus últimos momentos Artur aparece em companhia do cavaleiro Gilfrede que, a seu pedido, devolve, mesmo que relutante, Excalibur a Dama do lago. No momento seguinte o mesmo cavaleiro, vale ressaltar, após a “maravilha” de uma forte e repentina chuva, testemunha o rei ser levado pelas fadas lideradas por Morgana em uma nau. Em um segundo momento, entretanto, o mesmo Gilfrete localiza uma capela negra onde encontra surpreendentemente o túmulo do rei. Justapõem-se, assim dois destinos na narrativa oriundos certamente de diferentes fontes e versões utilizadas na composição do texto. O fato é que tal contradição ganha uma dimensão significativa na medida em que um desfecho “pagão” aparece contraposto a intencionalidade “cristianizadora” representada pelo enterro cristão do rei.
Entretanto, a mais rica e significativa referência pagã na obra é certamente a aparição da deusa Fortuna as vésperas da trágica batalha:
“ ...O rei deitou-se em sua tenda acompanhado apenas de seus camareiros. Depois que dormiu, pareceu-lhe que uma dama vinha à sua presença, a mais bela, como nunca tinha visto no mundo, que o levantou da terra e o levou a mais alta montanha que nunca vistes, lá assentou-o sobre uma roda. Naquela roda havia assentos, dos quais uns subiam e outros desciam, o rei observava em que lugar da roda estava sentado e via que seu assento era o mais alto. A dama lhe perguntava:
-Artur, onde estás?
-Senhora, disse ele, estou numa roda alta, mas não sei qual é.
-è , disse ela, a roda da Fortuna.
Então perguntou-lhe:
-Artur, o que vês?
-Senhora, parece-me que vejo todo o mundo.
-É verdade, disse ela, tu o vês; não há muita coisa de que não tenhas sido senhor agora; e de todo circulo que vês foste o mais poderoso rei que já existiu. Mas tal é o orgulho terreno, que não há ninguém, por mais alto que esteja, a quem não convenha cair do poder do mundo.
Então o pegava e o estrebuchava a terra tão vilmente, que ao cair, parecia ao rei Artur que estava todo quebrado e que perdia toda a força do corpo e dos membros.”
(A Morte do Rei Artur/ Anônimo; tradução Heitor Magale/ SP: Martins Fontes: 1992 ( coleção Gandhãra); p. 204 et seq.)
PUER AETERNUS/PERSPECTIVA
PUER AETERNUS
Todo o meu presente
é o passar do momento
em vazio devir de acasos.
Onde sonho a própria realidade
construindo verdades
com a mágica argila de fantasias.
Sei carrancudas infâncias
no saber do dia
buscando uma fatia de luz
em cada oco acontecimento
de vida
até o ofuscar dos fatos
no revelar-se dos atos.
PERSPECTIVA
Um enervado amanhã
faz-se leve e superficial
banalidade
no fato do dia seguinte.
Um amanhã novamente adiado
a deixar o vagar da vida
em ritmo de espera e espectativa.
Tudo é o presente
de uma rotina
que me faz ser
no inexistir do meu rosto.
Nega-me a face o destino
em labirinto de signos urbanos
enquanto uma frase decora
o céu azul de um sonho:
Tomorrow is the first day
of the rest of your life.
Todo o meu presente
é o passar do momento
em vazio devir de acasos.
Onde sonho a própria realidade
construindo verdades
com a mágica argila de fantasias.
Sei carrancudas infâncias
no saber do dia
buscando uma fatia de luz
em cada oco acontecimento
de vida
até o ofuscar dos fatos
no revelar-se dos atos.
PERSPECTIVA
Um enervado amanhã
faz-se leve e superficial
banalidade
no fato do dia seguinte.
Um amanhã novamente adiado
a deixar o vagar da vida
em ritmo de espera e espectativa.
Tudo é o presente
de uma rotina
que me faz ser
no inexistir do meu rosto.
Nega-me a face o destino
em labirinto de signos urbanos
enquanto uma frase decora
o céu azul de um sonho:
Tomorrow is the first day
of the rest of your life.
Walt Whitman :A POETICA DA LIBERDADE
Ao lado de Emily Dickinson, Walt Whitman (1819-1892) é um dos fundadores da poesia norte americana. Protagonista e autor privilegiado da invenção da America e do radical ideal de liberdade personificado pela utopia do novo mundo. Inegavelmente, sua poesia é um verdadeiro canto de liberdade, seja por meio das imagens, que tão bem traduzem seu individualismo radical, sua paixão pelas coisas, as pessoas, a vida e o mundo, seja através do apoteótico exercício do verso livre na absoluta ruptura com a tradição ocidental.
A singular vitalidade, simplicidade da poética de Wihtman, o conduziu a um lugar único na poesia de língua inglesa e também do novo continente, convertendo-o em uma espécie de profeta ou peregrino da liberdad por vir.. Sobre isso, é pertinente certa consideração de Paulo Leminski:
“Ouve-se , por trás das tempestades verbais de Whitman, alguns raios e relâmpagos dos sermões de igreja, vociferados por furibundos pastores apocalípticos de pequenas comunidades religiosas dos Estados Unidos, todas heréticas em relação a algum credo tradicional ( presbiterianismo, calvinismo, puritanismo, luterarismo), tudo dentro da melhor tradição do fragmentarismo localista das igrejas protestantes. A mãe de Whitman era “quaker”. E transmitiu-lhe a fé, tipicamente “quaker”, na luz interior.
Sem entender a fé “quaker”, não se entende Walt Whitman.
A seita fundada pelo inglês George Fox ( 1624-1691) caracterizou-se pela recusa radical a toda liturgia religiosa e sacerdócio, confiando apenas na presença do Espirito Santo na consciência individual. Na inspiração. Além ou contra as autoridades.”
(Paulo Leminski. Introdução in Walt Whitman. Folhas das Folhas de relva ( Leaves of Grass). Seleção e tradução de Geir Campos. SP: Brasiliense, 2º ed, s/d; p.8 et seq.)
Seguem alguns versos de Whitman como um revigorante drinque de liberdade para aqueles que celebram e vivem intensamente todas as possibilidades do porvir.
A SOMBRA IMAGEM MINHA
A sombra imagem minha
que para cá e para lá
vai procurando um jeito de viver
através da conversa, da barganha
-quantas vezes eu dou por mim parado
a ver por onde ela passa,
quantas vezes indago e ponho em dúvida
que aquilo seja realmente eu;
mas entre os meus amantes
e no cantarolar destas canções,
ah, eu não duvido jamais
que aquilo seja realmente eu.
VIDA
Sempre a indesencorajada alma do homem
resoluta indo a luta.
( Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes
e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas e recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras, palmas
de boas vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje e sempre,
batalhando como sempre.
(Walt Whitman. Folhas das Folhas de relva ( Leaves of Grass). Seleção e tradução de Geir Campos. SP: Brasiliense, 2º ed, s/d)
MERLIM
Uma das mais fecundas reinterpretações contemporâneas da matéria da bretanha que conheço é a peça teatral Merlim oder Das Wüste Land (Merlim ou a Terra Deserta) de Tankred Dorst elaborada em colaboração com Ursula Ehler. Este contemporâneo “Merlim” , de modo sarcástico procura dizer nosso próprio tempo, ou mais precisamente, o fracasso de suas utopias polÍticas e os limites dos ideais de boa sociedade. Talvez, justamente por isso, ele nos remeta também as íntimas florestas, aos nossos sonhos mais inocentes e gratuitos de mera e serena existência em um mundo de incertezas...
“Quero ser como o Mago Merlim
passear no bosque e escutar as cantigas
do vento, voar como as aves
ser o lobo que espreita a caça
oculto nas pedras na noite calada
quero falar com o espirito das fontes
ver tombarem as árvores antigas
ser jovem e ter toda a idade que passa
e ser rei da floresta encantada”
( Merlim ou a Terra Deserta/ Tankred Dorst com a colaboração de Ursula Ehler; tradução de Lya Luft. RJ: Paz e Terra, 1984
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
LITERATURA INGLESA XI
.K. Chesterton ( 1874-1936) foi um ensaísta e romancista inglês da primeira metade do sec.XX do qual me confesso de muitas formas distante. De sua obra, é verdade, conheço apenas O Homem que Era Quinta Feira ( 1904), ignorando involuntariamente outras escritos mais expressivas como A Esfera e A Cruz, O Clube de Ofícios Estranhos e ainda seus ensaios sobre literatura e trabalhos jornalísticos. Impossível, portanto, fazer a partir de uma única obra uma avaliação conclusiva deste autor. Mas tenho razões para crer que essa leitura de uma única obra pode revelar algumas impressões em certa medida pertinentes para apresentar o literato em questão.
O Homem que era Quinta Feira constrói-se a partir do confronto/diálogo entre dois poetas: Gregory, o anarquista de cabelos ruivos, e Syme, menos idealista e, além de poeta, policial. Ambos acabam se envolvendo em uma curiosa organização anarquista encabeçada por um conselho central composto por sete membros. Cada um deles tem por codinome um dos dias da semana. Na ocasião do envolvimento dos dois poetas, a citada organização encontrava-se na iminência de eleger um novo quinta feira, dado o falecimento do ocupante do cargo em um recente atentado. Embora Gregory se candidate para o cargo é inesperadamente Syme quem vence a exótica eleição... Trata-se de uma história insólita sobre policiais e anarquistas, recheada de humor, reflexões religiosas e pacifistas.
Para um leitor de inicio do sec. XXI, este interessante livro possui um sabor de cândida ingenuidade, um certo otimismo humanitário que o faz mais próximo das ilusões do seculo XIX do que propriamente das contradições, conflitos, dramas e incertezas do séc. XX, para não falar do tempo presente. Não por acaso, em 1922 seu autor seria um dos co-fundadores de um movimento intelectual de inspiração humanitária e cristã cognominado Distributismo revelando-se assim, ao lado de sua vertente humorística uma inconveniente tendência utópica.
O Homem que era Quinta Feira constrói-se a partir do confronto/diálogo entre dois poetas: Gregory, o anarquista de cabelos ruivos, e Syme, menos idealista e, além de poeta, policial. Ambos acabam se envolvendo em uma curiosa organização anarquista encabeçada por um conselho central composto por sete membros. Cada um deles tem por codinome um dos dias da semana. Na ocasião do envolvimento dos dois poetas, a citada organização encontrava-se na iminência de eleger um novo quinta feira, dado o falecimento do ocupante do cargo em um recente atentado. Embora Gregory se candidate para o cargo é inesperadamente Syme quem vence a exótica eleição... Trata-se de uma história insólita sobre policiais e anarquistas, recheada de humor, reflexões religiosas e pacifistas.
Para um leitor de inicio do sec. XXI, este interessante livro possui um sabor de cândida ingenuidade, um certo otimismo humanitário que o faz mais próximo das ilusões do seculo XIX do que propriamente das contradições, conflitos, dramas e incertezas do séc. XX, para não falar do tempo presente. Não por acaso, em 1922 seu autor seria um dos co-fundadores de um movimento intelectual de inspiração humanitária e cristã cognominado Distributismo revelando-se assim, ao lado de sua vertente humorística uma inconveniente tendência utópica.
"... Querem que lhes diga o segredo de todo o mundo? É que somente conhecemos as costas do mundo. Vemos tudo por trás, e tudo nos parece brutal. Não é uma árvore, mas o posterior de uma árvore. Não é uma nuvem, mas o posterior de uma nuvem. Não vêem que tudo está se curvando e escondendo a face? Se eu pudesse rodeá-lo e passar para a frente..."
(G.K. Chesterton. O Homem que era Quinta Feira. RJ: Editora Tecnoprint, 1987, s/d, p.152)
DELÍRIO
Sei que meu lugar
é o mero finito,
sem Deuses
e além de todo sagrado
no acaso de provisória lucides
Mas flores existem e dançam
Em vendavais de desejos.
Um futuro brilha cego e tranqüilo
No céu que cai
Além e sobre mim.
O sol e o sal da terra
esclarecem a noite
Que em segredo corre
na novidade da manhã.
Enquanto isso,
Nas águas que comem os tempos,
sombras sussurram
a imensidão.
Pois bem,
Me desfaço no infinito
apenas porque me sinto
no acontecer disso tudo.
.
é o mero finito,
sem Deuses
e além de todo sagrado
no acaso de provisória lucides
Mas flores existem e dançam
Em vendavais de desejos.
Um futuro brilha cego e tranqüilo
No céu que cai
Além e sobre mim.
O sol e o sal da terra
esclarecem a noite
Que em segredo corre
na novidade da manhã.
Enquanto isso,
Nas águas que comem os tempos,
sombras sussurram
a imensidão.
Pois bem,
Me desfaço no infinito
apenas porque me sinto
no acontecer disso tudo.
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CRÔNICA RELÂMPAGO XI
Uma perfeita alegoria para a vida cotidiana é o ato imaginário e vivo de contemplar horizontes. Viver seria alegoricamente, nesse caso, vivenciar a imagem de um "horizonte aparente" em permanente transição para um "horizonte profundo".
Seriamos assim precários e temporários hóspedes de alguma definição de horizonte em constante movimento ou mutação. Indo um pouco mais longe, o horizonte seria a única realidade que realmente existe na medida em que por definição é inatingível, como o próprio sumo da vida...
Seriamos assim precários e temporários hóspedes de alguma definição de horizonte em constante movimento ou mutação. Indo um pouco mais longe, o horizonte seria a única realidade que realmente existe na medida em que por definição é inatingível, como o próprio sumo da vida...
ROTINA E DEVANEIO
A rotina
é um deserto de insignificâncias,
um sonho em busca de realidade
ou da liberdade de freeways
rasgadas na alma.
Toda rotina
é um lugar de passagem,
de evasão e sombra,
para nossas imagens
de felicidade e lúdico.
Um quase acontecer
de nós mesmos...
é um deserto de insignificâncias,
um sonho em busca de realidade
ou da liberdade de freeways
rasgadas na alma.
Toda rotina
é um lugar de passagem,
de evasão e sombra,
para nossas imagens
de felicidade e lúdico.
Um quase acontecer
de nós mesmos...
CG JUNG: PSIQUE, HISTÓRIA E FANTASIA CRIATIVA
"De onde procedem então essas fantasias mitológicas, se não têm qualquer origem no Inconsciente pessoal e por conseguinte nas experiências da vida pessoal? Sem dúvida provêm do cérebro- precisamente do cérebro e não de vestígios de recordações pessoais, mas da estrutura hereditária do cérebro. Tais fantasias sempre têm um caráter original, "criativo" : assemelham-se a novas criações. Evidentemente derivam de uma atividade criativa do cérebro e não simplesmente de uma atividade reprodutiva. Sabe-se que juntamente com o nosso corpo recebemos um cérebro altamente desenvolvido que traz consigo toda a sua história e que, ao atuar criativamente, vai haurir a inspiração fora de sua própria história. Fora da história da humanidade. É bem verdade que por " história" entendemos a história que nos fazemos e que chamamos "história objetiva". A fantasia criativa nada tem a ver com esta história, mas somente com aquela história remotíssima e natural que vem sendo transmitida de modo vivo desde tempos imemoriais, isto é, a história da estrutura do cérebro. E esta estrutura conta sua história que é a história da humanidade: o mito indeterminável da morte e do renascimento e da multiplicidade de figuras que estão envolvidas neste mistério."
( JUNG, CARL GUSTAV, "Sobre o Inconsciente", in Civilização em Transição, Obras Completas , Vol.X/3, p.15)
ANIVERSÁRIO
Aniversário
é um dia qualquer,
igual a todos os outros,
mas que dentro de mim
acorda
um sentimento impreciso
de alma no tempo.
Sofro a adivinhação dos destinos
que se perderam no passar de tudo,
o sentimento confuso
da soma de rostos e roupas
que me vestiram
na imprecisão de tantas fases, faces
e momentos,
até não saber, afinal,
entre todas as coisas acumuladas
da vida
o que definitivamente me define
em meio ao caos dos anos.
O que sei
É o quanto é impossível ter o conforto
de sinopses de existência,
vestir o passado
com fantasias de dever cumprido
e metas atingidas
ou, simplesmente,
idealizar futuros no delírio
de abstratos e pretendidos destinos.
Somos o que somos
no estar das coisas,
somos um não ser permanente,
esquecimento e descoberta
do acaso da própria individualidade
na mágica aventura da vida
que nos conduz relutantes
a um mágico e hipotético
infinito.
é um dia qualquer,
igual a todos os outros,
mas que dentro de mim
acorda
um sentimento impreciso
de alma no tempo.
Sofro a adivinhação dos destinos
que se perderam no passar de tudo,
o sentimento confuso
da soma de rostos e roupas
que me vestiram
na imprecisão de tantas fases, faces
e momentos,
até não saber, afinal,
entre todas as coisas acumuladas
da vida
o que definitivamente me define
em meio ao caos dos anos.
O que sei
É o quanto é impossível ter o conforto
de sinopses de existência,
vestir o passado
com fantasias de dever cumprido
e metas atingidas
ou, simplesmente,
idealizar futuros no delírio
de abstratos e pretendidos destinos.
Somos o que somos
no estar das coisas,
somos um não ser permanente,
esquecimento e descoberta
do acaso da própria individualidade
na mágica aventura da vida
que nos conduz relutantes
a um mágico e hipotético
infinito.
CRÔNICA RELÂMPAGO X
Ao contemplarmos a fotografia de uma paisagem que experimentamos cotidianamente, não raramente temos uma impressão diferente dela. Talvez porque sua representação em duas dimensões estabeleça obrigatoriamente um distanciamento, uma objetivação unilateral do observado, que nos induz a um ocupar-se mais cuidadoso, embora indireto, de suas peculiaridades. Muito diferente acontece quando temos a paisagem como pano de fundo para o teatro de nossas ações.
Cotidianamente as paisagens mundanas nos escapam no exercício automático de nossos atos, no acontecer irrefletido do imediato de nossas vidas. Só lhe damos alguma atenção quando a confrontamos em um quadro ou em uma fotografia. Perdemos constantemente a pequena magia do gosto e alma dos lugares onde constantemente e sem perceber esquecemos qualquer coisa de nós mesmos...
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
LITERATURA INGLESA X
Impossível falar sobre a literatura de lingua inglesa sem celebrar a poesia de Robert Burns ( 1759-1796), o poeta nacional da Escócia e pelo qual nutro um profundo carinho. Burns foi autor das letras de canções populares até hoje cantadas em todo o mundo. Um bom exemplo é sua Auld Lang Syne ( Aos velhos tempos passados) que, em português ficou conhecida, sabe-se lá porque, como “Adeus amor, eu vou partir”. A letra original é, ao meu ver mais cativante e expressiva do que a pobre versão em português nada digna da original do autor.
Creio que basta um passeio pelos versos desta cândida melodia para provar a lírica bárdica e cômica que caracteriza esse belo poeta. Ainda hoje, os escorceses se reunem no dia 25 de janeiro, data de seu nascimento, para celebra-lo nos alegres e divertidos Burns Suppers ( Jantares de Burns).
AOS VELHOS TEMPOS PASSADOS
Coro
Pelos velhos tempos passados, meu amigo,
Pelos bons tempos passados,
Beberemos mais um copo em lembrança
Pelos velhos tempos passados.
I
Deveríamos esquecer os velhos amigos,
E nunca mais os relembrar?
Deveríamos esquecer os velhos amigos
De muitos tempos passados!
II
Certamente pagarás tua rodada de cerveja
E eu pagarei a minha,
E ainda beberemos à saúde dos amigos
Pelos velhos tempos passados!
III
Nós dois correremos pelos morros
E colheremos belas margaridas ,
Mas depois andaremos muitas milhas
Desde os velhos tempos passados.
IV
Nos dois atravessaremos riachos
De manhã cedo até a noitinha,
Mas entre nós se ergueram mares bravios
Desde os velhos tempos passados.
V
E aqui está minha mão, fiel amigo,
E da-me também a tua,
E tomaremos um belo trago
Pelos velhos tempos passados.
Coro
Pelos velhos tempos passados, meu amigo
Pelos bons tempos passados,
Beberemos mais um copo em lembrança
Pelos velhos tempos passados.
(Robert Burns. 50 Poemas.Tradução, introdução e notas de Luiza Lobo, colaboração e seleção de Ross Roy. RJ: Relume Dumará, 1994, p. 120 et seq.)
Creio que basta um passeio pelos versos desta cândida melodia para provar a lírica bárdica e cômica que caracteriza esse belo poeta. Ainda hoje, os escorceses se reunem no dia 25 de janeiro, data de seu nascimento, para celebra-lo nos alegres e divertidos Burns Suppers ( Jantares de Burns).
AOS VELHOS TEMPOS PASSADOS
Coro
Pelos velhos tempos passados, meu amigo,
Pelos bons tempos passados,
Beberemos mais um copo em lembrança
Pelos velhos tempos passados.
I
Deveríamos esquecer os velhos amigos,
E nunca mais os relembrar?
Deveríamos esquecer os velhos amigos
De muitos tempos passados!
II
Certamente pagarás tua rodada de cerveja
E eu pagarei a minha,
E ainda beberemos à saúde dos amigos
Pelos velhos tempos passados!
III
Nós dois correremos pelos morros
E colheremos belas margaridas ,
Mas depois andaremos muitas milhas
Desde os velhos tempos passados.
IV
Nos dois atravessaremos riachos
De manhã cedo até a noitinha,
Mas entre nós se ergueram mares bravios
Desde os velhos tempos passados.
V
E aqui está minha mão, fiel amigo,
E da-me também a tua,
E tomaremos um belo trago
Pelos velhos tempos passados.
Coro
Pelos velhos tempos passados, meu amigo
Pelos bons tempos passados,
Beberemos mais um copo em lembrança
Pelos velhos tempos passados.
(Robert Burns. 50 Poemas.Tradução, introdução e notas de Luiza Lobo, colaboração e seleção de Ross Roy. RJ: Relume Dumará, 1994, p. 120 et seq.)
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