terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O CORPO: UMA FILOSOFIA

O corpo define o mundo,
a vida, a morte 
a consciência e a linguagem.

Ele é composto 
Por múltiplos eus
que nada sabem de mim.
Pois  o corpo é tanto um  eu 
quanto os outros.
É muitos de si
 na  banalidade de  cada indivíduo.

O corpo é dor, prazer,
e necessidade.
É o que nasce, 
o que muda, 
morre e desaparece
em movimento.
É o que dança.

Ele é o que nos ignora,
e nos conforma a uma morte solitária 
no devir da espécie que a todos abraça.

O corpo é sempre a pergunta
e a resposta,
a multidão que devora o indivíduo.
O nada, a forma
e o silêncio. 




















POR UMA OUTRA FORMA DE VIVER

Quero aprender a viver
sem medo,
sem esperança,
ou vaidade.

Quero desprezar a norma,
Toda verdade que me conforma,
e toda forma de autoridade.

Não serei humano,
mas múltipla e terrestre
composição viva de matéria
que as poucos se dissipa
em modos outros de ser
entre o dentro e o fora.

Viver é para mim
qualquer outra coisa
que não me ensinaram.
e o mundo pouco me importa
no caos que desenha o universo.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

O MUNDO NÃO EXISTE

O mundo não existe para mim,
ou para vocês.
Ele existe para ninguém.
Não possui se quer uma natureza.
É feito de incertezas e transições.
Pois tudo que existe ou já existiu
existirá em devir,
será sempre indeterminação.

O mundo não existe.
Todos os arranjos de energia e matéria
são instáveis e provisórios.
Toda linguagem é uma fantasia metafísica.

O mundo não existe.
e nada é digno de ser dito
enquanto o sol se põe em meus olhos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

BANALIDADE E SIMULAÇÃO

Sempre de novo e todos os dias
Seguimos nossas rotinas,
consumimos nossa dose cotidiana de tédio.
Reagimos a estimulos do ambiente,
cultivamos as mesmas fantasias de originalidade,
e reinventamos em nossas biografias a banalidade da excepcionalidade.

Sempre de novo e todos os dias,
sem nunca deixar de imaginar
um mundo diferente...

Até que ponto acreditamos
em tudo aquilo que acreditamos?
Até que ponto existimos
ou somos nós mesmos
todos os dias?


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CONFISSÃO NIILISTA

Confesso aqui minha impotência,
minha insignificância,
minha má vontade com 
o mundo,
minha inadequação radical
a realidade que nos é imposta,
toda minha absurda desesperança
e repúdio ao status quo que me define e suporta.

Não esperem de mim
qualquer bem ou mau querer,
nenhuma cumplicidade
com os modos de vida dominantes
que reduzem a existência a prisão de um rosto.

O ego faz do desejo sua ilusão mais contundente
e reduz o mundo a um jogo de sedução
onde nada é realmente possível.

Então, simulo aqui uma insólita confissão.
Afinal, todo ato de linguagem é surdo e absurdo
e deve ser reduzido a um ato de transgressão.






FILOSOFIA NIILISTA DA NATUREZA

Sobre nós
não há mais o peso de um céu.
Não nos intimida o infinito,
as estrelas, o vácuo 
e a imensidão sem nome
de nossa vasta imaginação.

Foi desfeita a ilusão do Cosmos
pela intuição do caos.
Não há deuses, nem razão.
Existe apenas o finito imanente
da matéria em guerra e transformação.

Tudo que é, acontece em conflito e composição.
A vida quase não existe
na inconstância das coisas em insensato devir
e  aniquilação.


sábado, 11 de fevereiro de 2023

MUNDO REAL

O mundo que existe
Não é 
O mesmo que vivemos
ou que pensamos.
 

 O mundo real
escapa a cada um 
na complexidade de todos .
Ele é o ilegível de nossas angústias,
o imponderável de todas as considerações,
o pesadelo da imaginação.

O mundo que realmente existe
transcende o admissível 
e a miséria de todas as interpretações.
Ele é o caos de todas as possibilidades.

Por isso cuidado com aqueles
que dizem saber muito
sobre o mundo que realmente existe
e que acreditam demais em qualquer realidade.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

MORTE NA ENCRUZILHADA

Hoje é tarde demais para sonhar futuros
e cedo demais para reinventar  passados.

Suspensos entre todos os tempos da existência,
nos surpreendemos póstumos.

Nada, afinal,  nos limita ou determina.
Somos livres para conspirar
contra a realidade,
desacreditar rotinas,
atentar contra a lei e a ordem,
e levar o corpo às últimas consequências
de nossas etéreas geografias humanas.

O momento é incerto
e nada está sob  controle.
Toquem o alerta de incêndio,
dancem ao redor do fogo!
Logo, estaremos todos mortos!