segunda-feira, 29 de agosto de 2022

A VIRTUDE DA IGNORÂNCIA

Eu, que pensava  demais,
que sabia das coisas,
e explicava o mundo,
Não passava de um ninguém 
enterrado em palavras.
Qualquer coisa viva,
Inutilmente consciente,
Perdida na  geografia urbana,
entre a fome, o sono,
e o tempo.

Eu que pensava de tudo
não sabia a importância
da minha própria ignorância,
não conseguia escutar meus tantos silêncios.





quarta-feira, 24 de agosto de 2022

ATIVISMO NIILISTA

Inacabado e indeterminado,
Persisto no exercício de mim mesmo,
até a incerteza de ser outro,
ou estar desenganado ou morto
para os dias de hoje.

É certo que não tenho abrigo
ou lugar
em tempos de antagonismos
e racionalismo normativos.

Sou avesso ao fanatismo moral
dos meus inimigos.
Seja ele moderno ou tradicional.

Sei que sou nada,
mas reivindico minha impotência
como arma de guerra,
instrumento de sabotagem e protesto.

Percisto intempestivo contra o mundo,
a humanidade e os deuses,
apesar dos meus limites,
na espectativa de um fim absoluto.






terça-feira, 23 de agosto de 2022

DESEDUCAÇÃO

Nada do que me foi ensinado
guarda vestígio de algum amanhã.
É puro entulho, larva de esquecimentos,
Poluindo o tempo e a vida.

Desaprendo a existência todos os dias.
Quebro regras e paradigmas
para enterrar valores e convicções vazias.
Pouco me importa os pudores e limites
das civilizações.
Nada para mim é sagrado.

Aponto para os anos
nos quais estaremos todos mortos
e o inesperado há de cultivar
em terra incerta
outros modos de existência e vida.
Mas já não tenho mais nada
a aprender.






quarta-feira, 17 de agosto de 2022

IMAGINAÇÃO & PAISAGEM

Espírito é sonho,
matéria é espaço.
E o tempo é o incerto do corpo
entre a imaginação e a paisagem.

Sei que o mundo existe através de mim
mas eu não existo no mundo.
Sou na morte que se move em tudo
um ponto ilusório no campo de forças vivas
do quase infinito combate
 entre  as vontades e representações que inventam a realidade e suas dualidades.



sexta-feira, 12 de agosto de 2022

AS METAMORFOSES DO SILÊNCIO

Escrevo para transformar o silêncio.
Um silêncio que mesmo  imenso 
nunca para de crescer
e mudar nosso sentimento de mundo,
ou tudo aquilo
que ainda é possível escrever.

Este silêncio, misto de vida e de morte,
contém suspiros, gritos, rabiscos,
E, até mesmo, o ilegível de nossas angústias.

No fundo tudo que há para escrever
é o próprio silêncio em seu vir a ser.




terça-feira, 9 de agosto de 2022

INVENTAR A SI MESMO

Inventar-se é um ato cego,
Tanto quanto um processo,
que não carece de finalidade.

Inventar-se é emergir,
Cinfundir-se com a própria emergência.
Nada acontece além disso.
Tudo se inventa.

Não há profundidade,
fundamento ou razão,
onde todo acontecer é simulacro.

Não queira tirar disso
qualquer fundamento,
verdade ou conclusão.

Inventar-se é ocultar-se
no gratuito exercício de aparecer.
pois toda presença é incerteza
contra toda ilusão de ser.








segunda-feira, 1 de agosto de 2022

FUGA QUASE ABSOLUTA

Na soma de alguns tempos,
Lugares, músicas,
& Letras,
Inventei desvios e devaneios,
perigos e segredos,
Para fugir de tudo,
Renegar a vida
E o mundo,
Onde fui parido e esquecido
no  delito de qualquer delírio alternativo.



Criei o escândalo do meu erro mais certeiro,
Para sobreviver ao absurdo,
Cuspir nos doutos e eruditos,
e vomitar a  fábula de nossa perecível e duvidosa
Condição humana. 

O resto da minha história
é deserção e catástrofe
Numa linha reta para o ponto final
que desfaz toda ilusão de eternidade.