quarta-feira, 27 de julho de 2022

MISTÉRIOS TELÚRICOS

Nem tudo se degrada em palavra.
Há segredos na alma da matéria 
Que em silêncio e inconsciência
 reinventam a terra e o corpo
E duram além do instante incerto que os transcendem
Como precário e humano acontecimento.

Tais segredos acontecem além do espaço e do tempo,
Aquém do eu e dos outros,
Atravessando a vida em todas as formas inumanas e terrestres sem qualquer precisão.

Na infinita superfície das coisas mínimas
 os paradoxos coincidem os opostos
E transcendem a ordem que rege as palavras
E nos limitam a inteligência e a vontade ingênua de verdade,
Onde há apenas metáforas.

Tudo isso nos escapa,
Mas age dentro da gente
Na imanente presença de Gaia
Que tudo envolve no caos do seu ventre.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O NÃO SENTIDO DA POESIA

A poesia só faz sentido
Como intuição do sem nome da vida,
Como antecipação de um tempo absoluto,
Onde a realidade é um  sonho absurdo.

A poesia exige o corpo refeito em mundo
E o mundo desfeito em corpo.
Ela é a revelação inumana das coisas,
A superação do homem como medida da experiência.

A poesia é a quebra da representação,
A palavra incendiada e des- sacralizada.
Ela é o martelo que nos diz 
Que já é tempo de superar todos os rebanhos,
Enterrar tudo que é gregário,
E assumir de vez a insignificância de todo existir e presença.





quarta-feira, 20 de julho de 2022

O SEM NOME DA LIBERDADE

Liberdade não é uma palavra,
Mas a intuição de outro modo de vida,
De qualquer coisa que escapa ao nome,
A norma, a forma, e a lei.

Liberdade é aquilo que nos arde
Além da realidade,
Que foge ao tempo,
Ao espaço, identidades, poderes e mundos.

É a força de uma imaginação selvagem,
Que transcende os opostos,
Que cria na medida 
Que reduz tudo que existe
A incerteza de um sonho.

Liberdade é a arte,
Breve é a vida:
Solve et coagula.

terça-feira, 5 de julho de 2022

A VELHA ÁRVORE

Sou a velha árvore
Que me viu crescer,
Que soube a morte
Das coisas
Em seu próprio tronco
E cujas raízes
Buscaram o inferno
Para renascer.

O que fez nela o tempo
Que sonha nossas vidas?
A árvore não sabe dizer 
No invisível da memória
Que transcende a geografia.

O quintal vazio
Tem rosto de cemitério.

sábado, 2 de julho de 2022

A VIDA E O MUNDO

Afinal,
o que a vida se torna hoje
no além dos dias e das noites?
O que se faz mundo
enquanto o passado cresce
e algo em nós se insurge
contra o espírito da época?

Na criação do si mesmo
desaparecemos
no processo incerto
de um permanente nascer das coisas.

A arte nos reinventa no jogo de forças
do movimento de uma natureza múltipla
e tudo é transvalorado
na aventura de tornar-se,
ser em devir,
Imersos em um ético e estético exercício de consciência,
onde a vida é um ato contínuo de imaginação e indeterminação do mundo,
onde não cabe mais a ilusão do tempo presente,
nem a conveniência de qualquer segredo.