terça-feira, 31 de março de 2020

O ÚLTIMO DIA DA HISTÓRIA

Talvez chegue sem aviso,
Quarquer dia destes,
A hora do esgotamento definitivo.
Do  cansaço absoluto
De ser e saber o mundo.

Será o colapso de todos os discursos,
A confusão dos afetos,
E a vitória do silêncio.

Chegará, tenho certeza, 
O dia da grande descrença, 
Da bela desgraça 
Da saturação de todos os propósitos e significados.

Tudo vai sair do controle,
Nada vai fazer sentido.
Todos irão  parar sem motivo
Para contemplar perplexos
 O infinito vazio da consciência.







sexta-feira, 27 de março de 2020

CONTRA HISTORIA DA HUMANIDADE

Recuso os territórios das invariâncias do tempo presente.
Busco a substância do imanente
Que sempre impertinente
Me foge das mãos. 

Desapareço  na potência do Virtual,
Do impessoal que me faz póstumo,
Ilegível e banal no nada do nada
Deste longo instante de não  natureza
Que foi toda inútil  historia da humanidade. 

segunda-feira, 23 de março de 2020

PRODUZIR A SI MESMO

Recuso a individualização totalizante,
a subjetividade assujeitada,
Rasa,
Conformada aos atos de confissão
De qualquer identidade social.

Prefiro a individuação que nasce do encontro,
Que funda o plural, a diferença, 
Na invenção do inédito de qualquer revolução natural.

Viver é  movimento e invenção 
De novas formas de vida,
Rebelião, 
Que sempre supera o presente
Através do intempestivo
Que esclarece as urgências da imaginação. 






sexta-feira, 20 de março de 2020

MUDANÇA


O mundo muda sem se importar com opiniões.
Tudo esta sempre a um passo do fim,
E cada instante é tão breve
que não deixa a marca de qualquer lembrança.
A mudança é cega e selvagem.

Ela não pondera,
não negocia.
simplesmente,
de repente,
o que parecia eterno vira cinza.


A vida é a grande festa
de um fazer e desfazer permanente
das coisas todas.


quarta-feira, 18 de março de 2020

FILOSOFIA DO NÃO SER

A vida é  como um segredo intransmissível do corpo. E o que pode o corpo como parte da natureza?

 A vida não nos pertence,  ela acontece através  do corpo, esta composição  complexa de coisas diversas, que se articula em um plano imanente que é  a própria natureza/mundo.

O que somos nós? Como podemos ser algo diverso das coisas e não  as próprias coisas? Eis a contradição  da linguagem como artifício ontológico.

Há uma alma do mundo na ausência de nosso espírito, na mistura do orgânico e do inorgânico. A  consciência não  nos define na experiência das coisas. O mundo acontece no múltiplo e no diverso contra nosso ideal de existência,  contra a ilusão  do ser. Vida e não vida são grandezas equivalentes. 

terça-feira, 17 de março de 2020

VIDA QUE SEGUE

E a vida  coletiva segue,
Sempre a sombra de alguma tragédia,
Na expectativa de qualquer catástrofe,
De um merecido fim da humanidade.

O futuro, entretanto, nunca chega
E a gente, aos poucos,
Desaparece,
Enquanto a vida coletiva segue,
acumulando ruínas. 

segunda-feira, 16 de março de 2020

ARTE E TRANSCENDENCIA


A experiência artística pressupõe uma espécie de apagamento do eu, um estado de indistinção entre sujeito e objeto, onde a imaginação  transcende os sentidos e o pensar corrente. 

A arte realiza o assombro do extraordinário, a transfiguração  do instante e , como tal, nos oferece um vislumbre de morte, um estranhamento da vida.

Evadir-se, desdizer a própria existência através  da obra, é  o que persegue um artista na materialização do virtual, do que não  cabe na realidade.

Escapar ao eu e ao mundo através da experiência da criação abranda nossa insignificância, nos concilia com o não  ser.  O ato criativo permite uma privilegiada intuição do nada que nos faz rascunhar o ilegível de nossa ordinária existência.

A arte não busca o belo, o ideal, mas a intuição sublime  do caos.

quarta-feira, 11 de março de 2020

NOVA BABEL



Onde os ouvidos não falam diferentes línguas,
as palavras desconhecem diálogos 
e escutam apenas seu próprio eco.

Elas circulam mudas e surdas no cotidiano comércio das letras
Reinventando Babel 
entre os ditos e escritos que encantam os rebanhos e seus livros da lei. 

Assim,
como hoje e sempre, a moral contamina todos os enunciados
e cada qual em seu canto de fala 
Toma como verdade o ridículo do seu próprio ditado,
seu caricato enunciado de  poder,
seu intimo delírio de razão universal,
em meio a decadência dos fatos e do real. 

Mais do que nunca é preciso inventar uma nova língua
e um novo povo contra a terra antiga.

CIVILIZAÇÃO EM TRANSIÇÃO



É tempo de precariedade,
de vida danificada,
de perguntas sem respostas,
Sedentarismos e rebanhos.

Tempo raso de desertos
e transições,
de desenraizamentos e negações.

É tempo de sem tempo,
de metamorfoses e enigmas
na agonia das imaginações
que implodem fatos e tradições.


A ARTE DO PENSAMENTO



Pensar foi para mim
Não compreender,
Desdizer humanidades.
Ser na exterioridade das coisas,
Saber vertigens e angústias
Na intuição  do não  ser.

Pensar, afinal, é sempre  devir,
Indeterminação e ausência,
Na composição dos silêncios 
Que definem uma existência
Na angústia de ser.

segunda-feira, 9 de março de 2020

A ESCOLA CONTRA A VIDA


A escola nos rouba a imaginação, 
Envenena a vida com disciplinas,
Metas e saberes abstratos
De fria e estéril razão. 

A escola  nos impõe 
Qualquer ideal
De inteligência pós  artificial
Arranca-nos a alma,
No adestramento para o progresso,
Para o futuro da sociedade pós  industrial. 

A escola devora tudo que é humano,
Toda nossa angústia,
Nos impondo o dizer verdadeiro
De nosso silêncio produtivo e mecânico 
Reduzindo toda forma de expressão 
A qualquer estratégia de conformismo.



domingo, 8 de março de 2020

REDEFININDO A INFÂNCIA


A infância não  é  um tempo do corpo,
Mas um estado de consciência, 
Onde a fantasia inventa a vida
Na intensidade do afeto
Que encanta o mundo.

A infância é uma redescoberta constante
Do eu e das coisas 
Através  da imaginação. 
É a vida como liberdade,
Devir e criação,
Um permanente processo de mudança
e fabulação. 






quinta-feira, 5 de março de 2020

DIVERSIDADE E DEVIR


"Nada é permanente, salvo a mudança."
Heráclito

A composição e decomposição dos corpos define a inconstância do existente, sua indeterminação. A mudança aqui, entretanto, não intenta um outro, o novo, mas o movimento cego como premissa da própria condição do existente além da ilusão da identidade e da duração.

Mudança aqui não serve a qualquer propósito teleológico, mas a paradoxal identidade daquilo que não é, que se afirma pela negação e pela imprecisão, levando ao limite qualquer relação ou dialogo entre as coisas que se apresentam a como fixas e estáveis em uma espacialidade orgânica (cosmos).

A mudança, como inconstância e indeterminação, é aquilo que nos diz que nada é no sentido de nossa percepção. Aquilo que é difere de si mesmo e se realiza como criação de si mesmo através da diferença, não como negação, mas afirmação do diverso.

MEMÓRIA


Tempo não é memória,
mas perda e esquecimento.
Memória é corpo,
reconhecimento,
afeto,
que desafia o tempo.

Através da memória
nos reconhecemos
uns nos outros
na experiência do quase nada
de qualquer identidade temporária.



quarta-feira, 4 de março de 2020

SIMPLICIDADE


Não serei apêndice de qualquer discurso,
de nenhum dizer verdadeiro
com fome de realidade.
Escutarei os silêncios
que me invadem o corpo
nos gestos pequenos
de simples e cotidiana sobrevivência.

terça-feira, 3 de março de 2020

CAMINHO


O caminho me atravessa,
me transforma,
muito além da meta
de qualquer destino.

Minha própria existência
é o caminho
na inconstância de todas as coisas
em movimento,
Pois eu caminho onde não existe caminho....








domingo, 1 de março de 2020

SOBRE O MUNDO QUE É ATRAVÉS DE NÓS

Nascer é  um existir para o mundo, é tornar-se, mesmo que provisoriamente, parte da sua realidade. Cada um de nós é  uma versão  particular do mundo comum que se faz materialidade, corporeidade, através do nós do um. Assim, o mundo nos contém,  ele é  através  de nós. Mas nós não  somos o mundo, pois não  podemos em nossa singularidade conceber sua totalidade. Ele nos escapa e, dessa maneira, o arranjo provisório de nossa impessoal individualidade torna-se possível como uma espécie de alienação. O mundo nos antecede e supera. Cada um de nós é nada no criar-se de tudo.