quinta-feira, 28 de abril de 2022

ADEUS A VERDADE



Através do jogo do verdadeiro e do falso perdemos a medida da ignorância, esta expressão da imaginação e da sabedoria, que sempre nos desafia a superar o inimaginável, a conceber o impossivel  contra os limites do pensável. 
Criar é reinventar sempre de novo o mundo além de qualquer noção de verdade, é avançar sem parar sobre o incerto e o desconhecido
na invenção negativa de si mesmo como um instante breve de realidade no positivo da liberdade.
O mundo é um caos de pespectivas.
Através do jogo do verdadeiro e do falso perdemos a medida da ignorância, esta expressão da imaginação e da sabedoria, que sempre nos desafia a superar o inimaginável, a conceber o impossivel  contra os limites do pensável. 
Criar é reinventar sempre de novo o mundo além de qualquer noção de verdade, é avançar sem parar sobre o incerto e o desconhecido
na invenção negativa de si mesmo como um instante breve de realidade no positivo da liberdade.
O mundo é um caos de pespectivas.

A VIDA QUE SEGUE

Minha vida segue,
como sempre,
provisória, inacabada,
e incerta.
Nada nela é verdadeiro ou seguro,
nem mesmo minha consciência 
que, através das coisas,
é outra no exercício do verbo.

Quanto mais tempo existo
 mais diverso me faço de mim mesmo
diluído em meu próprio corpo.

Qualquer ilusão me sustenta,
disperso, 
enquanto cresce dentro de mim
um mortal silêncio. 

quarta-feira, 27 de abril de 2022

ENTRE O DISCURSO E O SILÊNCIO

No tribunal, nas praças e palcos,
circulam discursos 
que produzem o mundo.
Signos e símbolos em movimento
atravessam os corpos
fabulando, criando,
produzindo sentido.
Mas nenhuma palavra
transcende o silêncio 
que nos habita
no desenho dos dias
onde o silêncio é mais intenso 
do que qualquer palavra.

AS ILUSÕES DAS URGÊNCIAS

Todas as minhas urgências são banais.
Não importa o que me encanta
entre a necessidade e o sonho.
A vida segue sem esperanças
no desastre do mundo comum.
E a realidade não cabe
em qualquer existência. 
O caos é tudo que nos inventa
na multiplicidade em movimento
das mutações do efêmero.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

A ESCURIDÃO DOS DIAS

Os dias já não passam como antigamente.
Também nunca foram tão efêmeros
e vazios de futuro.

Quase não se nota o sol,
o céu e o tempo,
em uma época coberta por tanta escuridão,
onde é quase impossível enxergar
além do momento.

Provavelmente não haverá memórias destes tristes dias
tão indiferentes a vida
sobre os quais é impossível calar.
Tudo será redusido a fatos e dados.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

UM MUNDO ALÉM DO SER

Busco um mundo sem substância,
além da essência
e da aparência.

 Um mundo
que me embriague
através da experiência
de não ser mundo,
 escapando as armadilhas
de uma boa consciência. 

Um mundo onde eu aprenda
a sonhar o oco das coisas
provando a vertigem dos anos
na casca quebrada de um instante desfeito em palavras. 

Um mundo sem explicações,
problemas e soluções
no jogo do eu e dos outros.

Um mundo feito de tantos mundos
que não possa ser chamado de mundo
no paradoxo de um finito infinito
além da verdade e da ilusão.

Um mundo que não seja simplesmente um lugar,
mas um modo da vida nos acontecer,
muda e profundamente,
no mais intenso da pele
e além do Ser.


 









quarta-feira, 6 de abril de 2022

ANONIMATO

O anonimato nos lança ao invisível,
ao incomunicável e ilegível 
do lado de dentro da vida.

Ele não define apenas o status de desconhecido
que exibimos na multidão,
ou o nomadismo
que nos torna intimos da solidão.

O anonimato é a inconsciência de si e dos outros,
é estar fora das identidades,
é aquilo que nos torna estranhos, inumanos,
e livres do próprio nome.

É ser muitos e ninguém 
em um profundo desraizamento de si;
É um embriagar-se de sensivel, 
de corpo,
no avesso do mundo possível.



A VIDA É RISCO

A VIDA É RISCO

É perigoso viver.
Não importa quantas verdades se leva no bolso,
Há sempre riscos e incertezas
espreitando no caminho de casa.

Nada é seguro
ou está sobre controle.

Estamos sempre em perigo
e a mercê do inesperado.
Por isso é preciso aprender o cultivo de alguma forma de coragem.

A CONDIÇÃO NIILISTA

A condição niilista é a libertação de qualquer confissão de verdade, de qualquer agenciamento que nos reduz a situação de uma maquina semiotica, é  a recusa de tudo aquilo que nos conforma a  capturas e assujeitamentos que pacificam consciências. 

O niilista é aquele que ri de si mesmo,
que desaprende o mundo,
que não se importa,
e segue indiferente,
ciente que tudo nos leva a nada.




terça-feira, 5 de abril de 2022

O FUTURO DO PASSADO

O futuro muda o passado
através das lembranças
que sonham o presente.

Nunca somos os mesmos,
pois a vida é sempre outra
enquanto esvaímos no tempo.

Nada nos obriga ao Ser.
Tudo é impermanência
e desaparecimento.
Tudo é devir e imanência
no futuro do passado
que funda a arte
como um exercício de morte.




domingo, 3 de abril de 2022

O ENÍGMA DO ROSTO

O rosto é uma fabulação inerente a sensibilidade moderna que inventa o indivíduo entre o biológico e o político. Nele se inscrevem valores, signos, poderes. 
Através dele, a alma se desenha claramente como prisão do corpo, pois a expressão facial  foi convertida em uma metafísica da interioridade e da identidade. Mas o que é esta interioridade e identidade além de simulacro, um silêncio que nos veste a pele e transveste a consciência através dos signos?
Neste sentido, longe de individualidade, o rosto expressa a multiplicidade, a diversidade do único, o ilegível da experiência humana, a banalidade e nulidade de sua própria expressão. 
 O rosto é o outro do olhar normativo que nega em nós o animal e impõe o impessoal da civilidade ao corpo. Corpo que deve ser sempre escondido ou representado pelo rosto, sempre previsível e sociável, ou, simplesmente, classificável.

Carlos Pereira Júnior 
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"A expressão é um elemento crucial no desenvolvimento do indivíduo ocidental. Está aí, toda importância do rosto, que constitui o traço sensível desse processo. O rosto é ao mesmo tempo o lugar mais intimo e mais exterior do sujeito, aquele que traduz mais diretamente e da maneira mais complexa a interioridade psicológica e também aquele sobre o qual recaem as mais pesadas restrições públicas. São os rostos que se perscruta antes de tudo, são os olhares que se procura captar para decifrar o individuo. Isso explica o paradoxo central que percorre este livro e que é constitutivo do indivíduo  moderno: esse processo, que é ao mesmo tempo, indissoluvelmente, o de uma individualização e de uma socialização pela expressão,  incita à expressão da interioridade, a manifestação dos sentimentos, ao mesmo tempo em que impõe ao rosto o silêncio,  relativo ou profundo, da inexpressividade."
Jean-Jacques Courtine, Claudine Haroche. História do rosto. Exprimir e calar as emoções ( do século 16 ao começo do século 19). Petrópolis: Vozes, 2016, p.244-245.