quarta-feira, 17 de abril de 2024

FINITUDE

Tudo que me importava, 
que me definia a realidade
 e me ligava afetivamente ao mundo,
 Já não existe mais. 

 grande parte de quem fui e sou
é agora vaga e inútil memória 
 de tempos que não voltam mais.
 
Sou apenas um resto de mundo desfeito,
um tico de banalidade e finitude 
que discretamente se desfaz
submerso no vento do tempo.

A SUBVERSÃO DO VERBO

Só é realmente dita
a palavra
que transcende a escrita,
que se faz carne e língua
no osso das letras.

Pois palavra é ação,
verbo que transcende
o jogo da representação 
e a ilusão do significação.

Dizer é subversão 
 não é norma,
nem convenção.
É corpo em movimento 
e em transformação.

terça-feira, 9 de abril de 2024

VIDA QUE SEGUE

Tenho tentado viver minha vida,
apesar dos ismos, religiões 
rebanhos e mercados.

Tenho buscado meu próprio caminho
sem  sucumbir aos outros,
a falsos juízos, convicções 
empregos e Estados.

Tenho me esforçado
para superar meus fardos,
evitado livros, encontros
e espetáculos.

Tenho fugido da companhia 
de todos os convictos.
Não importa se bem intencionados, ingênuos ou fanáticos.

Assim venho  reduzindo meus fracassos,  
evitando o grande baile dos condenados.

O fato é 
que a vida segue,
apesar de tudo.
A vida segue
sem grandes sustos.


RECOMENDAÇÕES NIILISTAS

Importa apenas
o que te faz livre.
Seja de si,
dos outros ou do mundo.

Inventa
seu próprio modo de existir
as margens de toda verdade,
hierarquias, 
rebanhos e leis.

Aconteça na contramão da realidade
que todos fingem que sabem
por demasiada vaidade.

Experimente, até  às últimas consequências,
a desimportância
de ser em insignificâncias,
no abrigo de alguns silêncios,
sem a ilusão de esperanças
ou a proteção de algum rei.














domingo, 7 de abril de 2024

FARDO NIILISTA

Ao niilista cabe o fardo de estar além de todas as certezas,
de viver desconfiado do encanto da consciência, da linguagem, das artes e das ciências.

É seu destino seguir soterrado em seus próprios silêncios, 
conformado a finitude
e indiferente ao sofrimento.

Existir, bem sabe ele,
é um esforço inútil 
e sem qualquer sentido.

Por isso, é próprio do niilista
nunca buscar respostas,
sempre abraçar o  nada,
evitando com a vida
qualquer compromisso .




sábado, 6 de abril de 2024

CONTRA HISTÓRIA


A história não é humana,
mas telúrica.
Ela é espaço em movimento,
conflito e transformação 
além da ilusão 
de qualquer propósito 
ou razão.

A história não existe
e pouco importa 
o advento da escrita.
Tudo é matéria em transformação.

Viver é devir e indeterminação,
natureza e conflito,
além dos limites do antropocentrismo,
da consciência e da linguagem .

Nossa humanidade é uma ilusão.
Crio está morta.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

A INCONSTÂNCIA DE SER

Nossa condição é a mudança,
a indeterminação e a incerteza,
que faz do ser devir
contra a inércia das identidades
impostas pela metafísica da verdade.

Recusamos a prisão das definições,
conceitos e rostos
que nos assujeitam.

Não existimos para a verdade,
para acontecer em enunciados,
rotinas e normas.

Não   acreditamos mais em modelos,
tipos ideais,
que conformam as coisas as palavras
e as palavras as coisas
na ilusão da representação e da linguagem.

Rejeitamos o simulacro da subjetividade,
a memória como biografia
e o beco sem saída dos egocentrismos e cientificismos.


Nossa condição é a mudança,
a morte, o nada e a precariedade
deste breve, intenso e incerto instante que nos consome
e se afirma como Vontade.

Somos como pequenos barcos
no corpo de um mar revolto
assoitado por uma tempestade.

Tudo em nós é finito, 
Inconstante, efêmero,
e, de muitos modos, irrelevante.





A EXISTÊNCIA COMO MIRAGEM

Desde sempre
dentro de mim
mora um silêncio.
Através dele
existo
entre a vontade e o delírio.

Estou sempre a beira de precipícios
contemplando o nada
que traça o ilegível da vida
que estraga a paz da matéria
Inventando o universo. 

Tudo em nós
é ilusão e silêncio.
Toda existência é miragem .

sábado, 30 de março de 2024

CORPO

Sou este corpo.
Nada além disso.

Assim sobrevivo 
sem ter  motivo
quase invisível
entre tantos outros
que, como eu,
são apenas corpo.

Todo mundo
é um corpo sozinho
no meio de algum caminho.

O passado é 
um corpo morto
e fora do jogo.

Já o presente
é apenas o corpo
que não morreu.

Como o futuro
é o  outro
que não nasceu.

Se há vida
há um corpo
que sente,
respira e que grita.
Que existe como carne,
sangue e osso.


ANARCO INDIVIDUALISTA

Nunca me rendi a identidades,
tradições, rebanhos e filiações.
Nunca fui de bandos, bandeiras
convenções ou convicções.

Sou nada,
 único e livre.
Não imponho limites
a minha imaginação
e todas as suas contradições.
Honro meu direito de ser outro
e me fazer ninguém.

Não tenho tabus,
nem religião.
Não cultivo coletivos e ilusões.

Entretanto, 
entre composições e alianças
vago multiplo entre muitos.
movido por um generoso egoismo
Que transcende todos os ismos.
Do mais infantil egocentrismo ao mais sombrio totalitarismo.

Que ninguém duvide:
em meu radical niilismo,
sou  franco inimigo
dos moralismos,
universalismos  e colonialismos.
O mais sincero amigo da liberdade
e adversário dos liberarismos.