sexta-feira, 30 de março de 2012

VIRTUAL FUTURO


Habitarei palavras
Ao sabor
De cada instante
Que me consome
Em ansiedades
E pensamentos
De futuros
Que jamais se farão
Presentes.

Sei que viver é um ato
Virtual e provisório
Que nos transcende
No acontecer das coisas
Através da gente...

quinta-feira, 29 de março de 2012

PUER AETERNUS


Estamos  todos
Um pouco
Cada vez
 Mais velhos,
Cada vez mais outros
De nós mesmos.
Entretanto,
Se nos transforma o corpo,
Cada vez mais jovem
E inquieto
Me transforma o pensamento...

quarta-feira, 28 de março de 2012

PARA ALÉM DOS ANOS E DIAS DO CALENDÁRIO

Estamos todos
Exatamente agora
Compartilhando
Um mesmo horário
E dia de calendário...
Mas quão diversa é a experiência
Das horas pessoalmente vividas
Dentro de cada um de nós!

No mais domestico plano
Dos acontecimentos cotidianos
Cada um  vive seu próprio
E biográfico tempo
Contrariando o calendário
E a métrica dos anos.

O dia de hoje
Não foi ,
Em poucas palavras,
o mesmo
Para qualquer um de nós...

ALIENAÇÃO REDENTORA


Tudo que me acontece agora
Aqui dentro da sala
Pouco iluminada
Em janela fechada
É escutar o suave som da chuva
Caindo lá fora
Como se a noite simplesmente
Não existisse nos atos gratuitos
Das coisas
Em que o mais concreto e elementar da vida
Fere a realidade no radical da matéria
Vestindo de sonho
O mais elementar dos atos...

IMPESSOALIDADE

As pessoas seguem



Aleatoriamente


Em todas as direções


No fosco da multidão.






Cada um carrega em silêncio


Seu próprio destino


Na trama universal da condição humana,


Sua incomunicabilidade,


Seu mais intimo sentimento das coisas


E do caos


Sem perceber o quanto


Em sua máxima singularidade


Realiza apenas o mais elementar


E comum do humano...

quinta-feira, 22 de março de 2012

NOTA SOBRE MENTE, CORPO E CONDIÇÃO HUMANA

É bastante usual atribuir-se a mente a condição de "essência” da condição humana. Mas o que exatamente entendemos por mente é algo ainda bastante nebuloso.

De um modo geral, poder-se-ia definir a mente como o conjunto de funções superiores do cérebro humano, o que remete a nossa capacidade de reflexão e consciência das coisas. Mente torna-se, assim, quase um sinônimo para pensamento.

Faço questão de frisar que a superposição entre atividade mental e atividade cerebral, contrariando o antigo dualismo de inspiração religiosa que deduzia do conceito de mente a noção abstrata de “alma”, parece-me hoje uma premissa elementar para qualquer debate minimamente relevante sobre a natureza daquilo de nomeamos “mente”.

Deve-se também ser descartada certa exagerada valorização do “subjetivo” ou do papel da consciência do eu na definição dos processos mentais.

Afinal, mesmo que de modo ainda inconclusivo, as descobertas neuro cientificas apontam cada vez mais para a complexa e dinâmica arquitetura cerebral como o lugar da mente; lugar este cujo conhecimento ainda é, de modo muito desconcertante, parcial. O que não invalida o fato de que nada nos indica a possibilidade de buscar a mente em outro lugar (ou em algum descabido não lugar) que contrarie o “bom senso secular”.

O que aqui quero ressaltar, entretanto, são as implicações disso que, se me permitem cunhar a expressão, poderíamos chamar precariamente de uma fundamentação cada vez mais biológica da mente no modo como configuramos a condição humana.

Neste sentido, um processo pouco refletido em si mesmo, mas que bem caracteriza entre outros traços a cultura contemporânea, é a forma como cada vez mais uma consciência da dimensão física, do dinamismo de nossos corpos, influencia a definição de nossa auto imagem, auto consciência e hábitos cotidianos.

A difusão da prática de exercícios físicos e dietas são os sintomas mais superficiais desta tendência cultural que abarca de modo mais amplo um envolvimento maior com nosso corpo integrando-o concreta e simbolicamente a referência do EU de modo radical.



ESTRADA ABERTA

Sei paisagens



Passando por mim


Agora


Enquanto leio


A estrada aberta


Que a lugar algum


Me leva.



Estou em todas


As coisas


De passagem,


Sempre seguindo


Em frente,


Na urgência do sem nome


Do mais intenso sentimento


De vida e liberdade...

terça-feira, 20 de março de 2012

NOTA SOBRE NARRATIVA E INTELECTO

A construção de uma complexa cartografia da “alma” humana, um resgate da experiência em um tempo em que ela se perdeu, ainda é o objetivo de qualquer narrativa possível de mundo. Afinal, mesmo quando a arte de narrar, de articular a existência de um modo significativo, já não ultrapassa a profunda superficialidade do efêmero, a afirmação da Presença, da Imanência humana, pelo seu simples acontecer, ainda ocupa o primeiro plano do pensamento enquanto exercício de autorreflexão do intelecto.


NOTA SOBRE DEVIR E CONTEMPORÂNEIDADE

A contemporaneidade pressupõe uma busca radical da “presencialidade do mundo” através da aposta na intensidade máxima do imediatamente vivido.

Fragmentado e difuso o presente se torna assim o absoluto horizonte “ahistórico” em que agora nos movemos como indivíduos desarticulados na consciência saturada de imagens, em infrações simbólicas, que alimentam ansiedades e inquietações no explorar de todas as variações possíveis de prazer fugaz.

A meta de cada um já não é o outro ou qualquer projeto estável de realização pessoal, mas a mudança pura e simplesmente. Ser contemporâneo de si mesmo é não fixar-se em um “eu constante” de algum modo tendente à rigidez de uma persona social, mas estar aberto a busca aleatória condicionada a uma mudança constante sem ilusões teleológicas.

Em tempos de pós cultura as perguntas só funcionam quando as respostas ficam em silêncio...

segunda-feira, 19 de março de 2012

OS FUTUROS DOS MEUS PASSADOS

Quase todos os meus futuros



Já se tornaram passados,


Apagadas possibilidades


De nomeada


Descartadas pelo tempo


Dentro do qual sigo em silêncio


Sem guardar


Horizontes nas retinas,


Sem buscar caminhos


Ou destinos


Que de algum modo


Me transformem à vida.


Afinal que me importa


O conforto de realizações


Se aprendi a existência


Na didática dos ventos


E das tempestades?





domingo, 18 de março de 2012

SUPERFICIAL VIAGEM

Eu me espero agora

Do outro lado do infinito,
Na falsa certeza do dia seguinte
Em que me invento no tempo
Como ingênuo aprendiz
De mim mesmo
Na ilusão de momentos...
Tudo que me cabe é viver até o limite
O efêmero
Que por mim passa e escapa...

A SOLIDÃO DO QUADRO



O quadro parece cansado
Na encardida paisagem
Da parede branca,
Parece pesado de tempo e inércia
Entre silencio e imagem,
Parece farto de sua própria presença,
Indiferente ao passar
Dos dias e das noites
Ou ao eventual olhar anônimo
Que o contempla
Sem realmente vê-lo...