quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

INDIVIDUALIDADE E SIGNIFICAÇÃO DO MUNDO

Individuar-se é essencialmente opor-se a coletividade e considera-la de um ponto de vista singular na medida em que nos tornamos cada vez mais conscientes da vida social. Na pratica isto significa o desenvolvimento de uma capacidade de abstração frente o existir ordinário que tem por consequência uma estetização da vida.

A individualidade é a obra de arte da consciência diferenciada, um processo que não tem propriamente uma meta, pois se estabelece como devir. Viver como os outros não vivem só é possível na medida em que  recodificamos o mundo a partir de exigências que não são ditadas pela coletividade, mas profundamente construídas a partir de nossas tendências e aspirações mais subjetivas.

Artistas e pensadores tendem a individuar-se justamente  porque fazem da realidade a matéria prima de uma releitura do real que não seria possível a qualquer outro individuo e que os torna inaptos a viver como todo mundo. Pois eles tem algo de peculiar a dizer sobre sua condição humana  enquanto os demais são apenas capazes de personificar e viver de acordo com o ethos social de sua época e sociedade.

È quando nos sentimos subtraídos dos outros, incapazes de viver como todo mundo e desafiados por um profundo sentimento de vazio e insignificância que nos lançamos a construção daquilo que nos é intimamente decisivo em termos psicológicos e ontológicos.

Nos tornamos,m assim, nossa própria ficção, nossa intima matéria prima e de muitas maneiras buscamos dar voz aquelas fantasias mais profundas que nos sustentam a vida.
Poucos são capazes de tal façanha.





terça-feira, 29 de dezembro de 2015

DO IDEALISMO HEGELIANO AO FIM DE TODAS AS CERTEZAS: BREVE DEBOCHE PSEUDO FILOSÓFICO


O sistema idealista hegeliano assinala o fim da filosofia dos conceitos e da metas narrativas filosóficas. O titulo preliminar de sua Fenomenologia do Espírito era muito sugestivamente “ Ciência da experiência da consciência”, o  buscava descreve o caminho percorrido pela consciência coletiva  através da sucessão dialética de várias figuras da experiência que culminariam no Saber absoluto, na adequação do sujeito a verdade do objeto.
 Na Fenomenologia Hegel procura descrever, enquanto caminho e sistema o percurso da cultura ocidental de modo absurdamente otimista.
Atualmente, mais do que nunca, estamos distantes  da universalidade e do consenso racional sonhados por Hegel em sua apologia do sujeito histórico.  Schopenhauer, que o tinha por pessoal desafeto, não é por acaso hoje em dia mais popular e atual do que o velho e prestigiado professor de Iena.
Mas a questão aqui não é o Idealismo Hegeliano, mas a opacidade do mundo em que vivemos e que já não permite mais metanarrativas que lhes imponham  um sentido ou significado que abrande nossas incertezas de consciência. Anacronismos e reducionismos  a parte, depois da barbárie do século XX e da II Grande Guerra, Hegel só pode ser rotulado de comediante.
Todas as nossas melhores apostas no processo civilizatório e no futuro da humanidade só são sustentadas pelas mentes mais ingênuas que buscam ignorar a desconstrução de tudo aquilo que a uns duzentos anos nos parecia promissor, como o progresso material e otimistas codificações de uma  realidade inteligível e racional.
Hoje, tudo que sabemos, muito resumidamente, é que o mundo não faz sentido...


HABITAÇÃO

Caso necessário fosse
Partir agora,
Abandonar tudo
E  me perder no mundo
Por qualquer razão,
Levaria comigo
Apenas alguns livros
E o velho computador.
Do que mais eu preciso
Se dentro de mim habita
Toda a minha realidade?
Sei que nenhuma paisagem
Mudará quem eu sou
Nesta ignorância das coisas
Tolas que me surpreendem

A cada manhã.

domingo, 27 de dezembro de 2015

VONTADE DE INFÂNCIA

Gostaria de poder provar as ingênuas certezas de uma criança,
Me fechar em um mundo simples e seguro
Onde o encanto da vida seja mais forte
Do que o perene   desabrigo da existência.

Gostaria de provar a felicidade ingênua de um pequeno infante,
Mesmo se por um dia apenas.
Pois sei eu que o mundo é vasto
E que o tempo não me espera.

Preciso sonhar um pouco.
Me livrar de todas as filosofias e duvidas
Para  provisoriamente apagar os abismos
Que me sustentam os pés cansados.
Preciso de uma noite para sonhar intensamente
Abraçado a um céu estrelado.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

SOBRE O OFÍCIO DE PENSAR

“Quem pensar  um pouco mais profundamente, sabe muito bem que nunca terá razão, que age e julga como quer.”
F. NIETZSCHE in HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO

A premissa do pensamento é a vertigem do abismo, a incerteza diante do imediatamente dado e a desconfiança do  abstratamente concebido.

Aqueles que se dedicam a pensar estão condenados a uma duvida constante sobre as codificações da realidade e sobre o fundamento humano da existência.

Nenhuma certeza ou convicção parece satisfatória, sempre conduz a cenários mais complexos e a questionamentos mais profundos.


Serão sempre os insatisfeitos, os inadequados para a existência ordinária. Pois todo pensamento é necessariamente arbitrário...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ESTRANHAMENTO

Tenho sido um corpo estranho
dentro de mim mesmo.
Talvez isso defina minha consciência,
meu precário sentimento das coisas
ou, simplesmente, minha incômoda incerteza
quanto a realidade do mundo.

Não consumo os significados
que nutrem os outros,
Não busco o conforto de pequenas certezas,
 rotinas, rótulos e felicidades televisivas.
Se quer me conheço.

tenho sido um corpo estranho

dentro de mim mesmo...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NOTA SOBRE A VONTADE DE PODER by F. NIETZSCHE

VONTADE DE PODER é, certamente, a mais polêmica das publicações póstumas de Nietzsche. Mas é também aquela que nos lança mais próximo de sua grande obra jamais escrita sobre a “ TENTATIVA  DE  UMA TRANSVALORAÇAO DE TODOS OS VALORES E  TENTATIVA DE  UMA NOVA INTERPRETAÇÃO DE TODO ACONTECER. "

Elizabeth Frorster- Nietzsche ( adepta do nacional socialismo e que deturpou por um tempo as interpretações sobre o ousado projeto filosófico do irmão) e seu fiel amigo Peter Gast, nos permitiram alguma aproximação daquilo que este singular filosofo pretendia.

Bom, Nietzsche, muito simbolicamente morreu em 1900, ano da publicação de A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS DE FREUD. Os leitores mais argutos destes dois autores não deixarão de perceber certa simetria  entre  a ideia de inconsciente e de vontade já esboçada antes por Schopenhauer.

Nietzsche jamais teve a oportunidade de ler Freud, mas ouso especular a partir da leitura do acervo organizado dos manuscritos Nietzscheanos através de VONTADE DE PODER que estes dois mestres da modernidade estavam em uma rota de colisão que, infelizmente, não aconteceu....

sábado, 19 de dezembro de 2015

O SENTIDO DO CORPO


Embaralhei algumas palavras
Em uns versos trágicos
E a deriva.
Tentava expressar o incomunicável
Do meu corpo inerte em mil pensamentos.
Queria desdizer a realidade,
Rasgar verdades e respirar incertezas
Até me sufocar com o significado
Que obscurece o imediato das coisas.
Sabia apenas que nada fazia sentido,
Que tudo era opaco no acontecer vazio
De todos os discursos possíveis.

O corpo  era minha única verdade.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

E AGORA?

Rendido  ao passar do tempo,
Ou me quebrando em memórias,
Me esvaindo em passados
Que jamais foram ou serão
Tudo aquilo que sinto agora...
Assim me sinto neste momento.

Os futuros estão em cacos
Pelo chão.
Minha existência é o efêmero
De uma brisa de agora.

Nada mais...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

CHARLES BUKOWISKI: TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS


Charles Bukowiski: Textos Autobiográficos, uma antologia  editada por John Martin, editor e amigo do escritor maldito de Los Angeles, é tudo aquilo que promete: um registro magistral da relação profunda  entre literatura e vida.

Todo escritor cria-se através de sua obra a partir da matéria prima de seu mais elementar cotidiano.  Escrever é justamente isso: desfigurar o dia a dia. Bukowiski sabia fazê-lo como ninguém. A ferocidade, angustias, escárnios, fracassos e surpreendente e angustiado lirismo que nos espancam a consciência através de seus textos, os descaminhos do seu Henry Chinaski pelas paisagens degradadas da existência mais marginal e desumana, oferecem ao leitor desta ampla coletânea um retrato do século XX na genialmente pessimista visão de Bukowiski.

Não é um livro para pessoas bem adaptadas e resolvidas. Esta leitura é recomendada aos desajustados, aos loucos, que tem fome de vida e sensibilidade o suficiente para encarar as coisas como elas são.


Um pouco de bebedeira e musica erudita são recomendações que faço aos possíveis leitores desta indigesta coletânea.

A LITERATURA HOJE EM DIA

Os escritores de ontem martelavam em maquinas de escrever, acumulavam papeis e angustias.
Hoje temos computadores, e esculpimos palavras em uma folha abstrata.
Podemos publicar tudo na internet. Não dependemos mais do milagre de um livro.
Por outro lado, agora já não existem leitores para tanto escritores.
A literatura perdeu um pouco do encanto e a leitura já não  passa de um hábito. Ninguém lembra dos livros que lê. Já não há mais clássicos.
Escrevemos apenas por necessidade e delinquência.

Mas, enquanto um livro ainda é um livro, os escritores.... esses, por sua vez, já não são mais  os mesmos, já não sangram ao escrever.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SER E NÃO SER

Sempre serei aquilo que sou,
Não o que você vê.
Sou muitos dentro de mim.
Cada um sabe um pouco,
Jamais a soma das partes
Que nunca diz o todo.
Me faço no outro,
Sou devir e pluralidade
Na profunda arte  de não ser
Qualquer coisa que me defina
Além da embriaguez dos fatos,
Acasos e mortes

Que carrego dentro de mim.

LEITURA NIETSCHIANA DE WITTGENSTEIN


Para Wittgenstein o limite do conhecimento encontra-se na “inversão de todas as considerações”. O limite do sentido é determinada pelo emprego da gramática em nossa linguagem ordinária. Além dele, apenas existe o abismo do não sentido. Penso, entretanto, que ele não deve ser desconsiderado ou descartado. Já não se trata de pensar, mas de dês-pensar, de não entender o mundo, os fatos e as razões.

Trata-se aqui de curvar o sentido das coisas, as convenções da linguagem, e ir além do humano...

Todas as tradições, todas as certezas devem cair por terra na transfiguração dos valores,

Tudo deve ser revisto, tudo deve ser repensado e dês pensado.
Pois nenhum humanismo já nos sustenta sobre a terra e sobre duas pernas bambas e fracas.


Falo apenas aqueles indivíduos que ousam a plenitude de si mesmos, não aos fracos de espírito e de razões conformadas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A ARTE E A DIGITALIZAÇÃO DO MUNDO VIVIDO

Não consigo mais acompanhar o cinema e a literatura contemporânea. Publica-se em profusão e os filmes já nascem  banais e indignos da condição de clássicos. São do tipo eu veremos daqui a dez anos por simples distração ou nos esqueceremos inteiramente deles na medida em que outros são feitos e lançados. A arte se dobra a marca do efêmero e acho isso muito natural em tempos de digitalização da existência.

No mundo digital  tendemos a submergir em um fluxo interminável e frenético de informações e conteúdos que. Até então, não éramos capazes de codificar em nossa consciência das coisas. A diversidade e a pluralidade se faz neste nível elementar do estar diante das coisas.O mundo nos escapa. Já não temos em que nos agarrar. E, no entanto, estamos em pré na correnteza informacional. Só precisamos aprender a surfar...


A arte já não é privilégio de “gênios” ou grande escritores. È um ato técnico acessível a qualquer um. Já não podemos derivar da arte atual qualquer grande estética. Mas isso não é ruim. Só difícil de digerir.....

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TORNE-SE VOCÊ MESMO

Eu esperava ter sido capaz de muito mais de tudo aquilo que eu disse.
É difícil dizer meus limites, meus erros, meus defeitos e minhas ilusões.
Mas no fundo não há quem não se engane um pouco consigo mesmo.
Ou não esteja pronto o suficiente para realizar tudo aquilo que gostaria que fosse realidade.
Somos limitados. Transcender pessoalmente nossos limites não são uma meta de reconhecimento e aceitação social.
São uma forma de nos tornamos aquilo que vemos de melhor em nós mesmos,
Apesar de todas as limitações....
Tornar-se um indivíduo psicológico, em grande parte significa reconhecer seus próprios limites e ser criativo a partir deles.
Pessoalmente, não sei se estou preocupado com reconhecimento pessoal quando me debruço sobre mim  mesmo. Acho que é ,ais o contrario...


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

DESALENTO

Enquanto os sonhos me prendem ao sono
A vida passa mal feita pelos noticiários.
O mundo anda, como sempre,
De pernas para o ar.
Minha existência a beira da delinquência
De um quase impossível vir  a ser.
Ando na contramão dos fatos
Mendigando significados.
Nada é como deveria ser...


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

NÃO SER

Guardo dentro de mim
Muitos destinos perdidos,
Diversos sonhos abortados
E o grito de tudo aquilo
Que não pode ter sido.
Sou o resto de tudo aquilo
Que nunca me tornei.
A vida é apenas
Um modo estranho

De não ser.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

SOLIDÃO E DIVERSIDADE

A diversidade de sentimentos,
As várias faces das opiniões,
A pluralidade de rostos
E decisões...

Somos todos discordantes,
Intimamente distantes uns dos outros.
Nada nos une mais do que a pluralidade.

Aprender a viver apartados é uma arte difícil
Que acima de tudo inclui o dialogo e a solidão.
Cada um deve, ao seu próprio modo,
Aprender a ser sozinho entre os outros.

domingo, 29 de novembro de 2015

A ESCURIDÃO DA NOITE SEGUNDO EDWARD HARRISON

Faz parte de nosso processo  de adaptação a realidade converter tudo aquilo que é estranho e desconhecido a uma fórmula familiar. Assim o intelecto humano domestica os fenômenos. Por isso questões aparentemente bobas podem revelar uma profundidade surpreendente. É o caso da questão proposta pelo professor de Física e Astronomia  da Universidade de Massachusetts, Edward Harrison, em A Escuridão da Noite: Um Enigma do Universo. é peculiarmente interessante aos não especialistas como eu.

Afinal, não deve surpreender o fato de que, como afirma o autor, a interpretação que damos  “a escuridão por detrás das estrelas” depende da natureza do universo em que imaginamos viver. Alem disso, ele também nos chama atenção para o fato de que o enigma tem sua própria história, tendo sido objeto, ao longo de séculos, da reflexão de cientistas, filósofos e poetas. Dentre estes últimos vale registrar meu caro Edgar Allan Poe.

Mesmo com todo o avanço da astronomia, nós leigos, quando olhamos para o céu, tendemos a pensar irrefletidamente que  as estrelas estão arranjadas “divinamente” no espaço produzindo o céu noturno. Não levamos em conta a questão da velocidade da luz  e, consequentemente, o fato de que o universo que nos é visível  na verdade esconde um universo invisível ilimitado.

As estrelas que vemos são apenas uma imagem de um universo primitivo. Nas próprias palavras de Harrison,

“A ar livre, à noite, contemplamos o céu escuro. Por entre as estrelas, olhamos  para imensas  distâncias no espaço e para um tempo muito remoto, anterior a formação das galáxias e ao nascimento de suas primeiras estrelas. Nossa visão se estende  até o horizonte do universo visível, na fronteira do big bang. Em todas as direções, por toda parte, entre as estrelas, vemos a criação do universo recobrindo inteiramente o céu. Muito tempo atrás, quando o universo era jovem e repleto de energia, o céu primordial resplandecia com uma luz fulgurante.”

Edward Harrison. A escuridão da noite: um enigma do universo. RJ: Jorge Zahar Editores, 1995, p. 233


Evidentemente, não sou competente para questionar ou endossar a tese aqui exposta, mas até onde me parece ela faz todo sentido. Alem disso, nos leva ao questionamento de uma experiência cotidiana  naturalizada, a revelia de toda a sua complexidade.

sábado, 28 de novembro de 2015

A ETERNIDADE COMO EVASÃO

Eternidade não passa de um estranho estado de consciência no qual deixamos de estar no aqui e agora dos fatos e acontecimentos e mergulhamos em imagens prazerosas e atemporais que podem tanto serem  personificadas por lembranças infantis, quanto por imagens universais de lugares ou épocas que jamais vivenciamos.

A eternidade é apenas uma forma de devaneio, de fuga da brutalidade da consciência da realidade com a qual somos obrigados a lidar todos os dias.

Gostaria de pode abandonar este cotidiano que chamam de vida e me perder na irrealidade de um sonho profundo onde a existência se revele mais real afetivamente.


Tudo aquilo que hoje em dia nos parece possível revela-se muito pouco, demasiadamente estéril.

O GAROTO DO LIMBO

Vivia no limbo
A procura de outros meninos.
Tinha silêncios e magoas
Guardadas,
Esperanças quebradas,
E uma garrafa para embriagar-se
De sonhos.
Não se entendia com o mundo,
E  cada vez menos sabia de si mesmo
Com a morte pesando nas costas.
Mas só lhe importava escrever na existência
Um pouco de liberdade.
Apesar de todas as mazelas e tristezas
Uma musica estranha , vinda não se sabe de onde,

Acariciava seus ouvidos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

SOBRE A INVISIBILIDADE DE NOSSA COTIDIANA EXISTÊNCIA SINGULAR

A avassaladora maioria dos seres humanos que habitam a terra não passa de uma abstração para mim. Existem invisíveis em meus pensamentos mais vagos.

Me sinto ligado apenas  a uma ínfima parcela de seres humanos  com a qual afetiva e efetivamente compartilhei os dias e o mundo. 

Do mesmo modo o mundo não sabe de mim. Assim é a realidade: A condição do indivíduo frente a coletividade é sempre definida pela invisibilidade.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

SOBRE O MARXISMO DA MELANCOLIA DE LEANDRO KONDER

Relendo o Marxismo da Melancolia do Leandro Konder... Conheci W. Benjamim ainda adolescente nas páginas desta introdução singular ao autor que me lançou em uma rua de mão única contra os lugares comuns da realidade das massas e através dela... Descobri nesta pequena e sensível brochura que o fracasso pode ser uma virtude, uma forma de heroísmo....

a filosofia da História em Benjamim é mais a anatomia de uma fracasso do que um messiânico triunfo das utopias... Como percebeu Adorno.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

TOTAL REALISMO

Enquanto os sonhos apodrecem,
Tento reinventar a vida
Sem o crivo das ilusões.
Procuro descobrir caminhos
Sem seguir em qualquer direção.
Não pretendo nada,
Não faço planos.
Espero apenas pelo dia seguinte
Sem pensar em felicidades.
Surpreendo-me agora
Lúcido e maltrapilho.
Já não me importo com o mundo.

Meu horizonte é meu próprio rosto.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A VIRTUDE DAS DIFICULDADES

Seus piores momentos jamais serão dignos dos meus. Pois sei da sua vida melhor do que da minha.  Sobreviveria aos seus problemas  serenamente, e até os superaria. Assim como você, talvez, pense igualmente, que poderia superar os meus.

Os problemas pouco importam.  O que é aqui pertinente é que são eles que nos criam. Somos nossos problemas dançando ao raiar de cada dia, como um deboche a nossa infantil fantasia de que somos  virtuosos, justos e dignos da boa razão.


Os problemas são os preços de nossas certezas e de nossas melhores aptidões. 

PRESENTISMO

Em que pesem todos os meus limites, todas as minhas angustias e impasses, ainda busco recriar a vida em mim mesmo como um ato inédito, como um reaprendizado intimo do mundo, contra tudo aquilo que nos é destinado no ordinário dos fatos.

Acredito no absurdo de horizontes novos, de rotinas leves e objetivos novos que não cabem na pauta da sociedade.

Tenho compromisso com o futuro, com o inédito que se inaugura no tempo presente.


domingo, 22 de novembro de 2015

SUPERANDO A FORMA HOMEM


A dobra do tempo presente passa pelo esvaziamento da forma –Homem, segundo Foucault. Trata-se do pensar-outro do pensamento no vazio do homem desaparecido. Em outras palavras, se em Hegel ou em Marx a ultrapassagem do presente aponta para a realização do humano, . Trata-se aqui de, como Nietzsche, pensar a ultrapassagem do presente como um ultrapassar do humano como propósito e medida de todas as coisas.

O pensar não deve permanecer cativo a interioridade do sujeito que pensa, deve ser um pensar do pensamento, uma critica aos pressupostos da razão ocidental. Assim, o tempo presente é definido por um deixar de ser o que somos, por um movimento em direção ao que ainda não somos e , portanto, nos é estranho.
Este inteiramente outro de nós mesmos é o que me parece ser a meta do pensamento contemporâneo. Talvez, como alerta Baudrillard, a realidade tenha se esgotado enquanto sentido.
Como ele próprio nos diz em COOL MEMORIES III (FRAGMENTOS DE 1991-1995):

“A arte foi a transfiguração poética do real. A filosofia foi a transfiguração poética do conceito. O que é preciso transfigurar poeticamente daqui em diante é o desaparecimento disso tudo- do real, do conceito, da arte, da natureza e da própria filosofia.”


sábado, 21 de novembro de 2015

O GRAU ZERO DA INFORMAÇÃO


Seja no espaço fractal ou no espaço histórico, a boa consciência descobre agora seu vazio de ser.  Não há mais uma realidade, algo tangível na cultura humana digitalizada.  Somos desafiados a lidar com o jorro infindável de signos e significados. Somos intimidados positivamente a evitar o juízo fácil, as certezas previsíveis, e qualquer pretensão ao inteligível.
O mundo deixou de ser transparente. A verdade é a maior de todas as ilusões em suas infinitas possibilidades de dizer o real. Já não há mais o real. Apenas a apoteose da informação. Lembrando Baudrillard:

“ Infelizmente o que se passa no mundo está hoje globalizado, e o princípio da globalização vai de encontro ao princípio universal da solidariedade. Isso porque a informação se esgota nela mesma e absorve seu próprio fim. A única coisa que a televisão diz é: eu sou uma imagem. Tudo é imagem. A internet e o computador também não dizem outra coisa: eu sou informação. Tudo é informação. É o signo que faz signo, os mídias que fazem sua própria publicidade. Mensagem indiferente.: grau zero, forma pura da informação.”
Jean Baudrillard. O Paradoxista Indiferente. Entrevistas com Phillip Petit.  RJ:Puzuli. 1999.  P.90


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O PÓS HUMANO COMO HORIZONTE

O humano, enquanto conceito, é uma construção relativamente recente e, pode-se dizer,  perene. Considerando as novas possibilidades de codificação de mundo que começam a se esboçar através dos novos artifícios proporcionados pelas tecnologias digitais, é razoável  especular sobre as metamorfoses da espécie através do estranhamento do seu próprio sentido e do aleatória de suas produções.
Como observa Baudrillard,

“O humano só se definiu a dois ou três séculos, e se definiu muito intelectualmente, em termos de razão. Desde então, a relação com o mundo passa através de um órgão extremamente sutil que é o cérebro. Em outras  culturas a relação com o mundo é a do corpo inteiro, considerado no ciclo das metamorfoses e em harmonia com o mundo. A Nossa inteligência, moderna, racional, faz de nós, desde o inicio seres técnicos, à imagem de nossas ferramentas e de nosso conhecimento. Ora, parece que nossas técnicas e nossas ciências vão hoje além da intelecção humana. Quem sabe se elas não nos fazem avançar para uma nova regra do jogo fundada na incerteza radical?”
Jean Baudrillard. O Paradoxista Indiferente. Entrevista com Philippe Petit/tradução: Ana Sachetti. RJ: Editora Pazulin, p. 119


Avançamos em direção a implosão do real enquanto premissa do conhecimento e, talvez, para um novo tipo de ser no mundo onde as regras ultrapassem o humano como referencia.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

NOTA CONTRA O CONCEITO DE VERDADE


Não somos agentes de nossos discursos. Nós desaparecemos em nossas falas, nos revelamos  como artifícios de nossos pensamentos e consciências. Não se trata  aqui de uma codificação estruturalista do real. Mas a constatação simples e cotidiana de que  a subjetividade nunca esteve onde toda tradição filosófica e tradição ocidental achou que estava em sua metafísica vazia da pessoa humana.

O ultrapassar de si mesmo não passa pela produção coletiva do mundo, mas da eliminação individuada de que ele existe na correspondência das coisas e das palavras. Não existe verdade, não existe sentido. O próprio existir é um conceito vazio. Logo, não nos representamos em nossos discursos, são eles que nos representam enquanto curto circuito ontológico da instrumentalização de um “eu” que é a introjeção imperfeita de certas codificações coletivas de realidade. O telos é uma ilusão.


Mas ainda somos narcisos demais para nos convertemos em reais indivíduos sobre os escombros da ilusão de que vivemos em sociedade e não perdidos em redes abstratas de significados compartilhados.

NOTA SUBVERSIVA SOBRE A LINGUAGEM DAS REDES SOCIAIS


As redes sociais , como todo jogo, pressupõem regras. Ir além delas. Postar aquilo que não lhes cabe, que lhes é indiferente e inverossímil, mas não  questionável, é um ato de descodificação da persona que nos é socialmente imposta, na extraterritoriedade do virtual ou naquilo que ainda consideramos mundo real, é subverter o jogo, perverter as regras...

Depois das redes sociais, o nonsense se transmutou como linguagem e feriu de morte o que achavam que era “A REALIDADE”....


Finalmente é possível que, a reflexão e o pensar, se tornem novamente extremos contra a banalização do sentido da modernidade tardia.

NOTA SOBRE ALTERIDADE E PÓS CULTURA



Alteridade pressupõe que existimos através dos contrastes que nos definem, um  em relação aos  outros. Sua essência é o plural e o híbrido. Por isso podemos tomar a alteridade como o contrário de identidade, como um alterar constante de si mesmo através do jogo social. A alteridade realiza o paradoxo da Individualidade e da impessoalidade como um processo constante de deslocamentos, como um jogo onde  um eu e um outro se percebem como reflexo do artificialismo de nossas codificações de mundo. O outro só pode existir quando também se torna eu, quando as personas já não cabem no rosto..

domingo, 15 de novembro de 2015

UMA MADRUGADA QUALQUER DEPOIS DA TRAGÉDIA

Era um pouco tarde para ficar pensando sobre as coisas. O mundo já extrapolava qualquer possibilidade de entendimento naquela madrugada chuvosa onde toda a minha existência cabia no vazio daquele quarto de hotel.

Tentava fazer planos para o dia seguinte. Mas a rotina tinha seu próprio roteiro e sabia mais do que eu sobre a minha vida.  Não havia muito  que planejar.Eu não tinha nenhuma chance. Sabia apenas que o mundo andava de mal a pior e coletivamente banalizávamos o caos. Já não havia muita realidade nos nossos tantos  absurdos cotidianos  que justificasse otimismos ou mobilizações.

Estávamos todos vazios de mundo e tentando manter a aparência de normalidade. Não passávamos de caricaturas de nós mesmos soterrados sobre toneladas de informações inúteis que desciam sobre nós através da internet. As pessoas estavam cheias de opiniões e embriagadas por conclusões.

Mas tudo que precisávamos era admitir a perplexidade, a impotência e o espanto. O mundo estava se tornando um lugar cada vez mais inseguro, incerto. Isso era tudo que deveríamos admitir.

Era muito cedo para ter respostas e soluções. Mas a maioria não aceitava amargar um pouco de caos e confusão. Precisavam ter as coisas sobre controle, mesmo que unicamente dentro de suas cabeças.


Eu, ao contrário, estava apenas cansado, desanimado e sem esperança.  Não via como poderia ser de outra forma. Eram tempos difíceis...

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O FUTURO DO SUPOSTO NARCISISMO PÓS MODERNO

Se a autonomia do indivíduo nas relações societárias contemporâneas se confunde com algum tipo de narcisismo, ele pressupõe antes de tudo a busca por experiências emocionais marcantes, que garantam auto estima e respondam ao vazio ontológico que atualmente define nossa subjetividade.
A racionalização da vida interior nos nivelou ao consumo, a exteriorização e  teatralização da interioridade, em uma realidade social que agora se confunde com o fluxo de imagens e informações.

Já não somos senhores de nossas identidades, nem nossas identidades nos definem. Elas acontecem através de nós, nos deslocam de todo possível enraizamento cultural e afetivo. Narciso revela-se agora como o mais novo anti herói trágico, representando o novo ethos, o andarilho de um deserto cultural que ainda chamamos de mundo.

Não existe mais  desenvolvimento pessoal possível na medida em que perdemos a noção de continuidade histórica, que nos voltamos contra  ao pertencimento ao mundo definido pelo acumulo de ruínas de gerações e gerações.  Tudo que temos hoje é um agora onde todas as épocas são niveladas a superficialidade da citação não identidária. O passado nunca foi tão distante de nós.

Mas esta ruptura de toda tradição também pode transcender o narcisismo, pode nos conduzir a individuação, tornando a instabilidade da consciência diferenciada que nos faz indivíduos psicológicos, um ato  de criação e reinvenção constante de nossas intimas codificações do real.

Nunca fomos tão livres para nos inventar no mundo sem o peso das tradições e, no entanto,  só sabemos perambular atônicos em meio as ruínas de todas as tradições. Não sofremos o peso do futuro, mas não sabemos o que fazer com o presente e não precisamos mais do passado como antigamente....


IMPULSO

Antes que o dia envelheça,
que não haja mais nada a ser dito,
quero semear no vento
toda a minha  vontade de voar,
acontecer sobre o sol a pino
e renascer em palavras
que não cabem na boca.
Quero gritar o silêncio
e amanhecer  de repente

no silêncio dos abismos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

NÃO SEI SE VALHO UMA AUTOBIOGRAFIA

A ideia de fazer anotações biográficas sempre me pareceu patética. Não porque não tinha alguma coisa a dizer sobre o meu cotidiano. Mas porque tudo aquilo que poderia ser dito não passava de um lugar comum de merda.

Como fazer anotações biográficas quando a gente sente que falta um pouco  de realidade nos afazeres banais do dia a dia?
Escrever sobre minhas  angustia, meus desconfortos, medos e frustrações ?

Redizer, talvez, A NAUSEA do Sartre?
Sinceramente, não vale a pena. Não quero ser mais um palhaço no teatro das letras.


O real desafio é deixar a vida viver, conseguir acontecer profundamente no raso da realidade até  perder o juízo e ter algo absurdo para decorar o papel com um mínimo de dignindade.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

RETRATO DE UM ARTISTA SEM ROSTO

Você pode viver varias vidas em algumas décadas e achar que sempre foi apenas este seu ego sujo e sem grandes objetivos. As pessoas, de modo geral, se definem pela mediocridade dos  genéricos propósitos impostos pela pauta social. Seja bem sucedido, faça viagens, farte-se de boa comida e tenha verdades limpas e decentes. Seja apenas o que esperam de você e isso definirá a segurança infantil tão cara ao seu pequeno ego.

Mas a cultura e a civilização avançam apenas quando temos por ai um bando de desajustados e perturbados buscando alguma coisa nova que não cabe no ego ou nas massas. Mesmo em tempos como o de hoje em que toda a novidade é enfadonha e tediante existem aqueles que se perdem na busca de coisas que ainda não tem nome nem lugar na realidade  coletivamente inventada dia após dia.

Eu poderia ficar por horas a fio escrevendo sobre isso. Mas o que quero dizer é simples e pode ser resumido em apenas uma frase:

O MUNDO É UM LIVRO ALUCINADO QUE VAI MUDANDO O TEXTO NA MEDIDA EM VOCÊ O LÊ ENQUANTO VAI VIVENDO.

Talvez porque o leitor do primeiro capítulo não seja  o mesmo do décimo, ou, quem sabe, o livro se faça através dos seus olhos, já que o ato de olhar pressupõe mutação e movimento e o texto, de um modo muito estranho, está dentro de você.
O livro pode ser apenas um espelho...

O grande problema é que nunca sabemos direito que livro é este que estamos lendo...



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

MARCAS DE INFÂNCIA

As marcas indiscretas da minha infância
são visíveis sobre a pele, em cada gesto,
em cada riso e modo imperfeito ,
que ainda hoje define meu modo de saber o mundo.

Guardo dentro de mim os primeiros sentimentos,
os primeiros sonhos e imaginações,
os anos em que eu era menos  do que um garoto
e a vida acontecia leve como a visão de um céu estrelado.

Mesmo que o mundo siga agora quebrado,
que muitos já estejam mortos,
que eu não tenha lugar ou chão,

ainda sonho como um simples menino.

OS LIMITES DO PENSAMENTO

Não podemos reduzir a subjetividade ao ego psicológico. Somos complexos demais e o eu que pensa e se auto representa é apenas parte do nosso acontecer enquanto micro universo da condição humana.

A pergunta sobre o que significa uma individualidade psicológica não tem resposta fácil  e muito menos é um questionamento que possa ser feito sobre as bases mais lúcidas, considerando que o eu que pensa tende a reduzir a resposta a experiência de si mesmo.

O que aqui se coloca é a questão dos limites do próprio pensamento, o que é aquilo que podemos saber e não saber? Onde o pensamento se cala e a realidade deixa de ser inteligível  Quais as consequências disso?

Seria ingênuo tentar aqui responder a tais questões, pois, neste caso, aquilo que  não é dito é mais importante do que aquilo que foi escrito...

ENTRE OS NIILISTAS

Havia uma estranha distância entre o muito que eu queria e o pouco que esperava. Havia perdido o mau hábito de me levar por utopias e o bom senso de ser prudente com os fatos.

Reescrevia minhas ousadias e vontades em um silêncio explosivo que, de modo surpreendentemente discreto, desafiava todas as ordens e representações  do mundo.

Minha única arma era a aventura do pensamento e a descrença nos tantos lugares comuns e carcomidas certezas que ainda coletivamente nos sustentava qualquer ideal de vida.


Fui beber entre os niilistas que estavam serenamente sentados a beira do abismo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

PARA ALÉM DO HUMANISMO


A superação da forma-homem, a dissolução do “saber”, a superação do moderno cenário epistêmico, proposto por FOUCAULT, ainda é uma trama a ser resolvida em nossos contemporâneos tempos de meta realidade...

A superação do geral que nos  codifica  na ordem da infinitude é também é a consciência de que

“Antes do fim do século XVIII, o homem não existia. [...] É uma criatura muito recente, que a demiurgia do saber fabricou com suas mãos há menos de 200 anos”

As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002, 425

Assim sendo,

“Para despertar o pensamento de tal sono – tão profundo que ele o experimenta paradoxalmente como vigilância, de tal modo confunde a circularidade de um dogmatismo que se desdobra para encontrar em si mesmo seu próprio apoio com a agilidade e a inquietude de um pensamento radicalmente filosófico – para chamá-lo às suas mais matinais possibilidades, não há outro meio senão destruir, até seus fundamentos, o “quadrilátero” antropológico."

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002, P.472


PERSPECTIVAS INDIVIDUALISTAS

Espero Algum dia atingir, como indivíduo, uma espécie de estado de indiferença e relativa autonomia em relação ao mundo vivido. Falo da possibilidade de escapar das fantasias socialmente compartilhadas de realidade a partir de uma experiência estética de meus arranjos subjetivos e fantasias sobre a experiência dos meus dias.


É premissa de tal objetivo a constatação de que a vida, em estado bruto, é impermeável as significações e interpretações coletivas e nossas convenções de real. Atualmente, diante das transformações das sensibilidades e redefinições de nosso modo de estar no mundo através das tecnologias digitais, o indivíduo pode finalmente vislumbrar sua condição de singularidade como uma potencial extra territoriedade asocial, ou seja,  como um não lugar ontológico mediante a abstração da dimensão social da vida.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

FANTASIA

E tudo se foi com o instante
Para o lugar comum da angustia,
Dos pesadelos e das dúvidas
Que minha imaginação bem conhece.
Suspirei alguns infinitos,
Bebi eternidades
E depois me perdi
Nas incertezas do ego.
Tudo no fim deu em silêncio
No rosto dos outros

Diante das fronteiras do meu rosto.

domingo, 1 de novembro de 2015

O PASSADO COMO AGORA E SEMPRE

Um dos aspectos mais incômodos da cultura contemporânea  é a instabilidade de nossas referências de realidade. Os padrões de representação de mundo se modificam a curto prazo, graças as novas sensibilidades e linguagens engendradas pela digitalização da vida cotidiana.

Já não somos os construtores do real, do tempo presente, mas instrumentos de produção espontânea de um passado que não para de crescer.

A mudança  e a transformação, entretanto, não  conduz ao novo, mas a inovação do sempre igual como falsa meta da cultura e da própria vida. É como se o horizonte houvesse desaparecido do caminho.

A  vida individual como introjeção absoluta e reprodução vazia da vida social e coletiva se transformou em um pesadelo que reduziu a experiência do indivíduo a um apêndice da sociedade.  Torna-se cada vez mais difícil ser diferente em tempos de padronização comportamental como princípio da própria possibilidade de expressão.

Os que ousam o descaminho da contramão da sociedade, tendem ao isolamento, a invisibilidade privada, em tempos em que a própria privacidade se torna cada vez mais pública.


Tudo aquilo que somos e fazemos já nasce como passado, como algo despido de realidade e a margem de todo tempo presente. 

sábado, 31 de outubro de 2015

O DRAMA DA INDIVIDUAÇÃO

Tornar-se livre é individuar-se. Mas quanto mais nos fazemos conscientes da pluralidade de coisas que somos, menos nos interessamos por aquilo que para os outros goza de importância no acontecer coletivo da condição humana.

Conquistar a si mesmo e viver dilacerado pela própria consciência, perceber o não significado das coisas, a opacidade  e banalidade dos valores e tradições que inspiram o  rebanho humano, nos custa  a ilusão da felicidade vindoura. Diante de nós o desafio da vertigem, da avalanche e do abismo esclarecem o incerto caminho do indivíduo.


Pois, para o pleno indivíduo, o agir torna-se um fardo. Ele não é inspirado por nenhuma grande paixão ou convicção.  O horror diante dos olhos é sua única e insensata motivação. Isso o torna impróprio para ação, para o acontecer em um mundo que já perdeu todas as suas justificativas, toda razão de ser. Cabe-lhe a sina do herói trágico.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

DESENCANTAMENTO

A vida acontece no  avesso
Da cotidiana existência
Individualmente sonhada
Nos desvãos e devassidões  do acontecer coletivo.
Ela é a vertigem do pensamento cego
Que se perde no labirinto dos afetos,
Das pulsões,
Como irracional necessidade
De  escrever na carne  a marca do rosto,
A urgência dos objetos
No vazio do sujeito.
Fomos condenados a nós mesmos,
A avalanche  das paixões  transfiguradas
Em fantasias infantis de sociedade.

Nos tornamos mais pesados que o céu...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

NÃO SOU RESPONSÁVEL

Não sou responsável pelo mundo em que vivo.
Não sou responsável se quer pelo meu pensamento,
pois ele me acontece expontaneamente
tanto quanto o bater  do meu coração.
Por isso não vivo de erros ou de culpas.
Sou apenas o resultado de um complexo conjunto de fatos.
Não passo de um enigma sem solução.
Nada tenho a dizer de mim mesmo
que não seja o dizer de um outro no espelho.
Aprendi a viver sem rumo
desconstruindo mundos,
desdizendo a mim mesmo.
Não sou responsável  por nada.
os da morte


como senhora do tempo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

STAR TREK

A terra não tem quatro cantos,
é plena esfera
que  nos inventa
na alternância dos dias e noites.

É um grão de areia
perdido no universo.
Qualquer quase nada
onde nos cabe tudo.

A terra talvez
um dia
se faça nosso passado
no navegar o universo
na aventura das estrelas.

SOBRE A COINCIDÊNCIA DO PENSAMENTO COM O CORPO

Não é raro ficar dias tentando escrever sobre alguma coisa da exata maneira que acredito que ela deveria ser escrita. Entretanto, não faço a mínima ideia, nestas ocasiões do que isso exatamente significa.

É como se houvesse na palavra um limite para personificar certas ideias e experiências realçadas por tonalidades afetivas e emocionais. Por isso costumo dizer que as coisas mais importantes não cabem em palavras, estão condenadas ao silêncio e só podem ser percebidas no superficial dos gestos e expressões corporais.

Quando pensamos com o corpo, quando sentimos profundamente determinadas ideias como imagens, não conseguimos satisfatoriamente converte-las em palavras, pois elas se tornam concretas, físicas e irracionais.   



A CONDIÇÃO HUMANA DA REALIDADE

A realidade  existe apenas enquanto representação de nossa própria condição humana. Como não podemos perceber o mundo de fora de nossas possibilidades cognitivas, então a realidade, que é a dialética do eu e do mundo, é apenas aquilo que nos é sensualmente e intelectualmente  legível.

A realidade não está condicionada a nossa vontade, mas a nossa própria vontade é parte dela. Mesmo quando nossa engenhosa imaginação elabora imagens e fantasias irracionais e que parecem distantes da realidade, ela ainda é a matéria prima de tais fantasias.

A realidade não existe em si ou para si, mas através de nossa percepção. Ela só é na medida em que existimos e a tornamos  real. Desta forma, tudo aquilo que sabemos e potencialmente podemos saber já está prefigurado por nossas possibilidades cognitivas. Assim, o humano é, de certa forma, a medida de tudo aquilo que pode ser conhecido ou criado.

Não existe uma meta consciência fora da percepção humana capaz de eclipsar sua apreensão do mundo, um absoluto cognitivo que ofereça uma alternativa a percepção humana, da mesma forma as coisas não existem em si mesmas, não apresentam uma “natureza”.


Somos aquilo que concebemos e pensamos, e a realidade é um ato humano que acontece através da linguagem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

EXISTÊNCIA E DEVIR

Não sou mais o mesmo de antigamente.
Mesmo sem nunca  ter sido  quem eu era
nos atos e pensamentos  incertos
que me definem em cada  momento.

Sou indeterminado, uma abstração,
que se reinventa ao sabor dos fatos.

Não me prendam a identidades,
sentimentos ou escolhas.

Sou aquele que nunca se sabe
entre as náufragas certezas
da simples existência.


Não estou aberto a diálogos.