Se a autonomia do indivíduo nas
relações societárias contemporâneas se confunde com algum tipo de narcisismo,
ele pressupõe antes de tudo a busca por experiências emocionais marcantes, que
garantam auto estima e respondam ao vazio ontológico que atualmente define
nossa subjetividade.
A racionalização da vida interior
nos nivelou ao consumo, a exteriorização e
teatralização da interioridade, em uma realidade social que agora se
confunde com o fluxo de imagens e informações.
Já não somos senhores de nossas
identidades, nem nossas identidades nos definem. Elas acontecem através de nós,
nos deslocam de todo possível enraizamento cultural e afetivo. Narciso
revela-se agora como o mais novo anti herói trágico, representando o novo ethos,
o andarilho de um deserto cultural que ainda chamamos de mundo.
Não existe mais desenvolvimento pessoal possível na medida em
que perdemos a noção de continuidade histórica, que nos voltamos contra ao pertencimento ao mundo definido pelo
acumulo de ruínas de gerações e gerações. Tudo que temos hoje é um agora onde todas as
épocas são niveladas a superficialidade da citação não identidária. O passado
nunca foi tão distante de nós.
Mas esta ruptura de toda tradição
também pode transcender o narcisismo, pode nos conduzir a individuação,
tornando a instabilidade da consciência diferenciada que nos faz indivíduos psicológicos,
um ato de criação e reinvenção constante
de nossas intimas codificações do real.
Nunca fomos tão livres para nos
inventar no mundo sem o peso das tradições e, no entanto, só sabemos perambular atônicos em meio as ruínas
de todas as tradições. Não sofremos o
peso do futuro, mas não sabemos o que fazer com o presente e não precisamos
mais do passado como antigamente....
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