domingo, 15 de novembro de 2015

UMA MADRUGADA QUALQUER DEPOIS DA TRAGÉDIA

Era um pouco tarde para ficar pensando sobre as coisas. O mundo já extrapolava qualquer possibilidade de entendimento naquela madrugada chuvosa onde toda a minha existência cabia no vazio daquele quarto de hotel.

Tentava fazer planos para o dia seguinte. Mas a rotina tinha seu próprio roteiro e sabia mais do que eu sobre a minha vida.  Não havia muito  que planejar.Eu não tinha nenhuma chance. Sabia apenas que o mundo andava de mal a pior e coletivamente banalizávamos o caos. Já não havia muita realidade nos nossos tantos  absurdos cotidianos  que justificasse otimismos ou mobilizações.

Estávamos todos vazios de mundo e tentando manter a aparência de normalidade. Não passávamos de caricaturas de nós mesmos soterrados sobre toneladas de informações inúteis que desciam sobre nós através da internet. As pessoas estavam cheias de opiniões e embriagadas por conclusões.

Mas tudo que precisávamos era admitir a perplexidade, a impotência e o espanto. O mundo estava se tornando um lugar cada vez mais inseguro, incerto. Isso era tudo que deveríamos admitir.

Era muito cedo para ter respostas e soluções. Mas a maioria não aceitava amargar um pouco de caos e confusão. Precisavam ter as coisas sobre controle, mesmo que unicamente dentro de suas cabeças.


Eu, ao contrário, estava apenas cansado, desanimado e sem esperança.  Não via como poderia ser de outra forma. Eram tempos difíceis...

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