Era um pouco tarde para ficar pensando
sobre as coisas. O mundo já extrapolava qualquer possibilidade de entendimento
naquela madrugada chuvosa onde toda a minha existência cabia no vazio daquele
quarto de hotel.
Tentava fazer planos para o dia
seguinte. Mas a rotina tinha seu próprio roteiro e sabia mais do que eu sobre a
minha vida. Não havia muito que planejar.Eu não tinha nenhuma chance.
Sabia apenas que o mundo andava de mal a pior e coletivamente banalizávamos o
caos. Já não havia muita realidade nos nossos tantos absurdos cotidianos que justificasse otimismos ou mobilizações.
Estávamos todos vazios de mundo e
tentando manter a aparência de normalidade. Não passávamos de caricaturas de
nós mesmos soterrados sobre toneladas de informações inúteis que desciam sobre
nós através da internet. As pessoas estavam cheias de opiniões e embriagadas
por conclusões.
Mas tudo que precisávamos era
admitir a perplexidade, a impotência e o espanto. O mundo estava se tornando um
lugar cada vez mais inseguro, incerto. Isso era tudo que deveríamos admitir.
Era muito cedo para ter respostas
e soluções. Mas a maioria não aceitava amargar um pouco de caos e confusão.
Precisavam ter as coisas sobre controle, mesmo que unicamente dentro de suas
cabeças.
Eu, ao contrário, estava apenas
cansado, desanimado e sem esperança. Não
via como poderia ser de outra forma. Eram tempos difíceis...
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