Uma manhã de outono
guarda o gosto de dia novo,
da vida livre
de rotinas e cansaços.
Não lhe turvam os pesos
De muito ontens.
Vislumbro em suas horas
Um amanhã provisório
E possibilidades
De mim mesmo
No feerico cenário aberto
Do tempo que passa.
Talvez algum futuro
Se faça
No meu provisório
Viver dos fatos.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 31 de março de 2008
quinta-feira, 27 de março de 2008
REVOLUÇÂO INGLESA E LITERATURA INGLESA
Em seu clássico sobre a revolução inglesa, O Mundo de Ponta Cabeça: Idéias Radicais durante a Revolução Inglesa de 1640, o celebre historiador britânico Christopher Hill ( 1912-2003) nos oferece uma chave de leitura interessante para a produção literária do período e, pode-se dizer, também para o seu próprio livro. Limitar-me-ei aqui a reproduzi-la:
“ Se tem algum valor a analise que esbocei neste livro, ela poderá sugerir novas abordagens de outros aspectos da literatura de finais do Seiscentos. Tanto Milton quanto Bunyan criam para os seus personagens o que chamei de uma “situação `a Robinson Crusoé”, isto é, o isolamento do herói ou heroína face aos elos sociais, como no estado de natureza hobbesiano. A dama de Comus esta perdida no bosque, Adão e Eva tomam “a sua via solitária” do Paraíso para o mundo, Cristo se defronta com Satã sozinho no deserto, Sansão nunca sentiu maior solidão do que quando se ergueu, cercado por seus inimigos, no templo de Dagon. O peregrino de Bunyan abandona mulher e filhos buscando a salvação; Robinson Crusoé tem como precursor The Isle of Pines ( A ilha dos pinheiros), de Henry Neville. A razão, consciente ou não, para se construir essa situação literária, era a vontade de libertar o indivíduo das tradições, leis e costumes herdados, e de torná-lo apto a encontrar a salvação solitário, à vista apenas de Deus. A luz dessa analise talvez possamos articular essa tendência a libertar o indivíduo das normas sociais com a recusa ranter da moralidade convencional e, ainda, com a tabula rasa de Locke. Podemos entendê-la, mesmo, como a aplicação literária da doutrina da luz interior, quintessência do individualismo radical.”
(Christopher Hill. O Mundo de Ponta Cabeça: Idéias Radicais durante a Revolução Inglesa de 1640/ tradução de Renato Janine Ribeiro. SP: Companhia das Letras, 2º reimpressão, 1987, p. 390)
“ Se tem algum valor a analise que esbocei neste livro, ela poderá sugerir novas abordagens de outros aspectos da literatura de finais do Seiscentos. Tanto Milton quanto Bunyan criam para os seus personagens o que chamei de uma “situação `a Robinson Crusoé”, isto é, o isolamento do herói ou heroína face aos elos sociais, como no estado de natureza hobbesiano. A dama de Comus esta perdida no bosque, Adão e Eva tomam “a sua via solitária” do Paraíso para o mundo, Cristo se defronta com Satã sozinho no deserto, Sansão nunca sentiu maior solidão do que quando se ergueu, cercado por seus inimigos, no templo de Dagon. O peregrino de Bunyan abandona mulher e filhos buscando a salvação; Robinson Crusoé tem como precursor The Isle of Pines ( A ilha dos pinheiros), de Henry Neville. A razão, consciente ou não, para se construir essa situação literária, era a vontade de libertar o indivíduo das tradições, leis e costumes herdados, e de torná-lo apto a encontrar a salvação solitário, à vista apenas de Deus. A luz dessa analise talvez possamos articular essa tendência a libertar o indivíduo das normas sociais com a recusa ranter da moralidade convencional e, ainda, com a tabula rasa de Locke. Podemos entendê-la, mesmo, como a aplicação literária da doutrina da luz interior, quintessência do individualismo radical.”
(Christopher Hill. O Mundo de Ponta Cabeça: Idéias Radicais durante a Revolução Inglesa de 1640/ tradução de Renato Janine Ribeiro. SP: Companhia das Letras, 2º reimpressão, 1987, p. 390)
MELANCOLIA
Deixo a chuva
Cair sobre mim
Como uma melancólica mensagem
De dia seguinte,
Um dizer de amanhã ausente
Que se deita na face do tempo
E prova a preguiça de todas
As eras.
Passados me abraçam
Em gritos
No distanciar-se de futuros.
Penso no vento dizendo
Blowin’ in the Wind
No movimento vivo
Que em qualquer parte
nos faz rolling Stones.
Cair sobre mim
Como uma melancólica mensagem
De dia seguinte,
Um dizer de amanhã ausente
Que se deita na face do tempo
E prova a preguiça de todas
As eras.
Passados me abraçam
Em gritos
No distanciar-se de futuros.
Penso no vento dizendo
Blowin’ in the Wind
No movimento vivo
Que em qualquer parte
nos faz rolling Stones.
quarta-feira, 26 de março de 2008
MARILYN MANSON: THE GOLDEN AGE OF GROTESQUE
A alegoria obcena ultilizada por Merilyn Manson nas performaces de seus shows, em especial os correspondentes a turnê de seu álbum The Golden Age of Grotesque, são alegorias carnavalescas que expressam a um mesmo tempo uma corrosiva critica a industria do interterimento, a moral tradicional e ao “principio de prazer”. Por outro lado, na performance de Manson há uma desconstrução sarcástica e corrosiva da inibição configurada pela tradição judaico cristã com relação a experiência da matéria e do corpo. Suas fantasias parecem simplesmente nos dizer o quanto a consciência não coincide com qualquer código moral, mas o transcende na medida em que pressupõe a experiência das polaridades, da coincidentia oppositorum como princípio.
SOBRE PSICOLOGIA ARQUETIPICA
Creio que um dos méritos da proposta de uma psicologia arquetipica, tal como formulada por James Hilman, encontra-se no fato de não reduzir arquetipico a psique caindo assim nos elementares “psicologismos” inerentes a linguagem e imagem de mundo dos psicólogos e terapeutas de um modo geral.
Psique, terapia, psicologia, cura, etc... não passam de imagens arquetipicas e tal afirmação apenas nos conduz a questão elementar da relação complexa existente entre consciência e imaginação.
Toda forma de representação ou reflexão em torno disto já é um exercício de fantasia e, talvez, algo mais do que isso. O que interessa aqui é o paradoxo deste fenômeno. Não quero afirmar, pura e simplesmente, que tudo é fantasia, mas que movimentar-nos unilateralmente a partir de nossos referenciais egoicos de consciência e realidade é um modo de ignorar algo importante sobre nossa irracional e imaterial consciência de mundo, construindo uma unidade falsa entre as palavras e as coisas através de alguma ilusão pueril de verdade.
Psique, terapia, psicologia, cura, etc... não passam de imagens arquetipicas e tal afirmação apenas nos conduz a questão elementar da relação complexa existente entre consciência e imaginação.
Toda forma de representação ou reflexão em torno disto já é um exercício de fantasia e, talvez, algo mais do que isso. O que interessa aqui é o paradoxo deste fenômeno. Não quero afirmar, pura e simplesmente, que tudo é fantasia, mas que movimentar-nos unilateralmente a partir de nossos referenciais egoicos de consciência e realidade é um modo de ignorar algo importante sobre nossa irracional e imaterial consciência de mundo, construindo uma unidade falsa entre as palavras e as coisas através de alguma ilusão pueril de verdade.
JAMES HILMAN: PSICOLOGIA ARQUETIPICA E JUNG
Estudos de Psicologia Arquetipica de James Hilman reúne alguns de seus ensaios escritos em diferentes contextos durante os anos sessenta e setenta. Nestes podemos perceber a originalidade da proposta do autor dentro do vasto campo da psicologia analítica, seu esforço sistemático para “atualização” do campo de força constituído pela “imaginário junguiano” e a construção de uma leitura heterodoxa ou que simplesmente conduza a um novo momento de desenvolvimento a matriz cultural inspirada pela obra de Jung.
É nesse sentido que ele nos propõe a designação de psicologia arquetipica para definir o fazer-se contemporâneo da psicologia inspirada por C G Jung.
Em seus próprios termos:
“As expressões: junguiana, analítica e complexa nunca foram escolhas felizes nem adequadas à Psicologia que tentavam designar. Parece necessário adotar uma palavra que reflita a abordagem característica de Jung, tanto em relação à teoria e ao que de fato tem lugar na prática, como em relação à vida em geral. Chamar essa psicologia hoje de “arquetipica” é uma decorrência de seu desenvolvimento histórico. De certo modo os termos iniciais foram superados pelo conceito de arquetipico, que Jung ainda não tinha elaborado ao tempo em que deu nome à sua psicologia. O arquetipico é o mais ontologicamente fundamental dos conceitos psicológicos de Jung, com a vantagem da maior precisão, alem de ser, por definição, sempre parcialmente indefinível e aberto. Os arquetipicos são os órgãos em que se situa a vida psíquica, agentes operativos da idéia que Jung tinha terapia. O próprio Self inclui-se, conceitualmente, entre os arquetipicos. Essa designação reflete um aprofundamento teórico na parte final da obra de Jung, uma tentativa de solucionar problemas em um nivel alem dos modelos científicos e da terapia no sentido usual, pois os problemas da alma já não são problemas no sentido usual. Em vez diso, vão-se buscar as fantasias arquetipicas existentes no interior dos “modelos”, da “objetividade”, dos “problemas”. Já em 1912 Jung dispôs a analise num esquema arquetipico, libertando com isso o arquétipo do confinamento ao analítico. A analise pode ser um instrumento para a compreensão dos arquetipicos, mas não pode dar conta deles. É dando prioridade ao arquetipico sobre o analítico que propiciamos a psique uma oportunidade de sair para fora dos consultórios. O próprio consultório com isso ganha uma perspectiva arquetipica. Afinal, também a analise é uma dramatização de uma fantasia arquetipica.”
(James Hilman. Por que “Psicologia analítica” in Estudos de Psicologia Arquetipica. RJ: Achiamé, 1981, p.1981, p. 165.)
É nesse sentido que ele nos propõe a designação de psicologia arquetipica para definir o fazer-se contemporâneo da psicologia inspirada por C G Jung.
Em seus próprios termos:
“As expressões: junguiana, analítica e complexa nunca foram escolhas felizes nem adequadas à Psicologia que tentavam designar. Parece necessário adotar uma palavra que reflita a abordagem característica de Jung, tanto em relação à teoria e ao que de fato tem lugar na prática, como em relação à vida em geral. Chamar essa psicologia hoje de “arquetipica” é uma decorrência de seu desenvolvimento histórico. De certo modo os termos iniciais foram superados pelo conceito de arquetipico, que Jung ainda não tinha elaborado ao tempo em que deu nome à sua psicologia. O arquetipico é o mais ontologicamente fundamental dos conceitos psicológicos de Jung, com a vantagem da maior precisão, alem de ser, por definição, sempre parcialmente indefinível e aberto. Os arquetipicos são os órgãos em que se situa a vida psíquica, agentes operativos da idéia que Jung tinha terapia. O próprio Self inclui-se, conceitualmente, entre os arquetipicos. Essa designação reflete um aprofundamento teórico na parte final da obra de Jung, uma tentativa de solucionar problemas em um nivel alem dos modelos científicos e da terapia no sentido usual, pois os problemas da alma já não são problemas no sentido usual. Em vez diso, vão-se buscar as fantasias arquetipicas existentes no interior dos “modelos”, da “objetividade”, dos “problemas”. Já em 1912 Jung dispôs a analise num esquema arquetipico, libertando com isso o arquétipo do confinamento ao analítico. A analise pode ser um instrumento para a compreensão dos arquetipicos, mas não pode dar conta deles. É dando prioridade ao arquetipico sobre o analítico que propiciamos a psique uma oportunidade de sair para fora dos consultórios. O próprio consultório com isso ganha uma perspectiva arquetipica. Afinal, também a analise é uma dramatização de uma fantasia arquetipica.”
(James Hilman. Por que “Psicologia analítica” in Estudos de Psicologia Arquetipica. RJ: Achiamé, 1981, p.1981, p. 165.)
terça-feira, 25 de março de 2008
LITERATURA INGLESA XXIII
Único romance da poetisa e escritora britânica Emily Jane Brönte ( 1818- 1848), O Morro dos Ventos Uivantes, originalmente publicado em 1847, é certamente uma das mais fascinantes e intensas histórias de amor de todos os tempos.
O desregramento das paixões que ultrapassam todos os limites, estruturam uma narrativa trágica que nos faz pensar sobre os dilemas e ambições que motivam a experiência de uma vida humana. A opção de Catherine por um “casamento de interesse” e sua morte prematura, o regresso e vingança de Heathcliff , sua derradeira e redentora loucura, destinos que mesmo na morte permanecem entrelaçados, compõem um jogo de simetrias e contrastes, que articulando o enredo, nos conduzem a experiência viva do abismo que muitas vezes define a complexa relação entre nossas realizações sociais e ambições pessoais, em um paradoxal desencontro. Desencontro este, estabelecido, seja pela aleatoriedade do destino ou por nossas opções subjetivas ou, ainda, simplesmente, pelo mero suceder de circunstâncias que em um só tempo determinamos e nos determinam.
O desregramento das paixões que ultrapassam todos os limites, estruturam uma narrativa trágica que nos faz pensar sobre os dilemas e ambições que motivam a experiência de uma vida humana. A opção de Catherine por um “casamento de interesse” e sua morte prematura, o regresso e vingança de Heathcliff , sua derradeira e redentora loucura, destinos que mesmo na morte permanecem entrelaçados, compõem um jogo de simetrias e contrastes, que articulando o enredo, nos conduzem a experiência viva do abismo que muitas vezes define a complexa relação entre nossas realizações sociais e ambições pessoais, em um paradoxal desencontro. Desencontro este, estabelecido, seja pela aleatoriedade do destino ou por nossas opções subjetivas ou, ainda, simplesmente, pelo mero suceder de circunstâncias que em um só tempo determinamos e nos determinam.
aleatoria existência
Procuro na vida
Um só principio
Que explique
O acontecer das coisas,
Como se houvesse realidade possível
No improvável de cada pensamento
Que não fosse o mágico susto
De surpreender-me vivo,
De acordar a cada manhã
Sem pensar no fim
Ou no inicio de mim mesmo.
Um só principio
Que explique
O acontecer das coisas,
Como se houvesse realidade possível
No improvável de cada pensamento
Que não fosse o mágico susto
De surpreender-me vivo,
De acordar a cada manhã
Sem pensar no fim
Ou no inicio de mim mesmo.
segunda-feira, 24 de março de 2008
CRÔNICA RELÂMPAGO XXII
Não sei precisamente que dia é hoje no impreciso acontecer da vida, qual significado o dirá no alem da superfície dos fatos na irrealidade de um imediato amanhã. O que terei a dizer sobre ele? Talvez nada disso seja importante.
Aprendi a esperar muito pouco ou quase nada do destino esperando demasiadamente de mim mesmo. Sei que tudo é uma questão de acaso, que a vida é uma experiência em ultima instância ilegível em seu aleatório e caótico acontecer.
Contraditoriamente nosso agir no mundo pressupõe exatamente acreditar no oposto, pois alguma fantasia de sentido e significado precisa prevalecer, no fazer-se da vida e no enfrentamento dos desafios de cada novo dia. É certo que tal sentido não prevalece sempre e, na maioria das situações, mais o buscamos do que o sabemos.
Aprendi a esperar muito pouco ou quase nada do destino esperando demasiadamente de mim mesmo. Sei que tudo é uma questão de acaso, que a vida é uma experiência em ultima instância ilegível em seu aleatório e caótico acontecer.
Contraditoriamente nosso agir no mundo pressupõe exatamente acreditar no oposto, pois alguma fantasia de sentido e significado precisa prevalecer, no fazer-se da vida e no enfrentamento dos desafios de cada novo dia. É certo que tal sentido não prevalece sempre e, na maioria das situações, mais o buscamos do que o sabemos.
DESTINO
Estou a caminho de algum lugar...
Talvez nada mais pretenda
Que retornar a algum sonho arcaico
Que me diga a plena existência,
Abandonar-me ao acaso
E re-aprender a vida
De outro ângulo
Em mítico nuance.
Estou a caminho de algum lugar...
do qual me sinto cada vez mais distante
no aventurar-se de cada passo.
Talvez nada mais pretenda
Que retornar a algum sonho arcaico
Que me diga a plena existência,
Abandonar-me ao acaso
E re-aprender a vida
De outro ângulo
Em mítico nuance.
Estou a caminho de algum lugar...
do qual me sinto cada vez mais distante
no aventurar-se de cada passo.
sábado, 22 de março de 2008
METALLICA: SOME KIND OF MONSTER
Todo relacionamento humano é como uma espécie de Frankesnstein, um "monstro" no qual cada pessoa envolvida constitui uma parte, ou várias partes, unidas por um vinculo ou sintonia tão objetiva e concreta quanto irracional e i8ndeterminada. Essa idéia de relacionar-se como " viver um monstro" me foi inspirada pelo original e profundo documentário " Metallica: Some Kind of Monster". Talvez o mais interessante registro já feito sobre o cotidiano de uma banda de rock.
O filme compreende o conturbado processo de gravação do album St. Anger lançado em 2003; as brigas, guerra de egos e não egos, angustias e dilemas pessoais, desencontros e encontros da banda, assistida por um terapeuta naquele momento, deste icone do rock, este monstro sagrado que é o Metallica. Independente disso, acaba nos dizendo muito sobre relacionamento humano... sobre nossa condição humana.
Cabe observar que a imagem do monstro para dizer a experiência de relacionar-se em qualquer dimensão da vida tem um caráter "positivo" ou pelo menos ambíguo . A imagem, do monstro pressupõe tanto complexidade quando dificuldade. Isso faz parte do relacionar-se...
Através de Some Kind of Monster compreendemos melhor a mensagem de St. Anger. Agressividade e raiva, em alguns momentos de qualquer relacionamento se fazem presentes. Podemos lidar com isso de modo destrutivo e negativo o8u simplesmente aceitar que nada é perfeito nesse mundo e a raiva pode nos impulsionar para uma dinâmica mais completa, mais "verdadeira"(!) , em nossos relacionamentos com a gente mesmo e com os outros.
A raiva realmente pode ser santa quando bem direcionada por uma opção pela vida inteira que somos...
sexta-feira, 21 de março de 2008
O AMOR DA LUA
Uma janela aberta
No colo da noite
Me ensina
O dedilhar de sombras,
O carinho da lua
E o abraço do vento
No delicado do orvalho.
Em tudo sou finitude
Na felicidade
Da matéria mãe
E da essência de carne
Em que invento mundos.
No colo da noite
Me ensina
O dedilhar de sombras,
O carinho da lua
E o abraço do vento
No delicado do orvalho.
Em tudo sou finitude
Na felicidade
Da matéria mãe
E da essência de carne
Em que invento mundos.
GOSTO DE NOITE
Gosto do gosto
Dos meus silêncios,
Dos meus gritos ocultos
No gasto tempo passado.
Um gato percorre
Uma janela noturna
Miando noites escondidas
Dentro de mim.
Em limites e ilusões
De um fechado céu
De vida e morte
Me aguardo em desencontro
E encanto de pós-verdades.
Dos meus silêncios,
Dos meus gritos ocultos
No gasto tempo passado.
Um gato percorre
Uma janela noturna
Miando noites escondidas
Dentro de mim.
Em limites e ilusões
De um fechado céu
De vida e morte
Me aguardo em desencontro
E encanto de pós-verdades.
IMAGENS DE INFÂNCIA OU ALEM DO FREUDISMO
Quando me recordo dos dias distantes e perdidos da infância, ao lado da memória de pessoas, coisas e lugares, guardo viva a experiência da ocorrência até aproximadamente os dez anos de mágicos pesadelos sem qualquer referência com a vida real e concreta, cheios de paisagens e criaturas fantásticas. Revelações, me parece hoje, de um universo irracional do qual hoje restam apenas fragmentos, mas que , de algum modo, codificaram o sabor vivo do mundo do meu ser criança.
Há uma dimensão do acontecer da infância que nada possui de pessoal, que é puro encantamento e sonho diurno. Todo aprendizado de mundo e formação ou construção egóica torna-se alienação de si mesmo quando a pensamos como uma dimensão inalienável da experiência humana. A vida instintiva e simbólica pressupõe afinal uma parcela inalienável da condição humana. Como a vivenciamos faz muita diferença...
quarta-feira, 19 de março de 2008
LITERATURA INGLESA XXII
Mesmo sem ter lido uma única página de qualquer um de seus quase cem livros não sou indiferente a obra do recém falecido escritor e inventor britânico Arthur C Clake. (1917-2008). Como muitas pessoas meu primeiro contato com seu pensamento foi a adaptação de uma de suas principais obras de ficção para o cinema: 2001: Uma Odisséia no Espaço dirigido por Stanley Kubrick (1968) e 2010: O ano em que faremos contato, dirigido por Peter Hyams.
Mas, mesmo apenas de modo indireto, a imagem viva de seu imaginário, onde ciência e ficção se misturam em uma rica leitura das possibilidades humanas, não deixa de fascinar enquanto possiblidade otimista de leitura do destino humano.
Stanley Kubrick parece ter conseguido “traduzir” com louvavel competência a obra de Clake que, diga-se de passagem, participou ativamente da construção da versão cinematográfica. Mas prefiro não ir mais longe nesta pequena homenagem aquele que foi no século XX o maior mestre da ficção cientifica .
Stanley Kubrick parece ter conseguido “traduzir” com louvavel competência a obra de Clake que, diga-se de passagem, participou ativamente da construção da versão cinematográfica. Mas prefiro não ir mais longe nesta pequena homenagem aquele que foi no século XX o maior mestre da ficção cientifica .
CONTEMPORANEIDADE: INVESTIGAÇÕES PROVISÓRIAS DE UM SENTIMENTO DE MUNDO
A noção de contemporaneidade ou de tempo do agora, tal como eu entendo não é um mero sinônimo para o tempo presente. Ela não se destina a definir, rotular ou, de alguma maneira, racionalmente ordenar ou explicar o aqui e agora do mundo em que vivemos. Com tal expressão pretendo apenas traduzir o sentimento de estranheza, de desenraizamento, que nos define desde as crises da representação e metamorfoses da linguagem ocorridas nas primeiras décadas do séc XX, seja através das vanguardas artísticas ou dos revolucionários estudos sobre lingüística que aos poucos abalaram nossa ingênua premissa de um harmonioso relacionamento entre discurso, realidade e verdade.
Ser contemporâneo, portanto, é de muitas maneiras sentir-se hospede em sua realidade individual e coletivamente vivida, é estar aberto a todos os ventos, as múltiplas presenças que nos invadem a consciência e imagem das coisas, seja através da tela do computador, da televisão ou simplesmente no cotidiano percorrer de ruas e prédios cada vez menos reais ou dotados de clara significação.
A contemporaneidade é, por tudo isso, uma instabilidade ontológica, um niilismo discreto, onde qualquer racionalidade possível pressupõe um vislumbre de dês-razão nas peripécias da representação e significação de um real que já admitimos como uma mera convenção de nossas imaginações.
A contemporaneidade é, em uma única frase, o aleatório e provisório movimento da própria existência em uma finitude despida de eternidade e coberta de indefinido.
Ser contemporâneo, portanto, é de muitas maneiras sentir-se hospede em sua realidade individual e coletivamente vivida, é estar aberto a todos os ventos, as múltiplas presenças que nos invadem a consciência e imagem das coisas, seja através da tela do computador, da televisão ou simplesmente no cotidiano percorrer de ruas e prédios cada vez menos reais ou dotados de clara significação.
A contemporaneidade é, por tudo isso, uma instabilidade ontológica, um niilismo discreto, onde qualquer racionalidade possível pressupõe um vislumbre de dês-razão nas peripécias da representação e significação de um real que já admitimos como uma mera convenção de nossas imaginações.
A contemporaneidade é, em uma única frase, o aleatório e provisório movimento da própria existência em uma finitude despida de eternidade e coberta de indefinido.
terça-feira, 18 de março de 2008
CORPO E IDENTIDADE CULTURAL
A experiência do corpo é, de muitas maneiras, compartimentada pela nosso padrão de percepção ego/consciência. Em outras palavras,as representações e vivências de nosso corpo, seja como auto imagem de nós mesmos ou realidade fisiológica e orgânica é quase uma abstração ou imprecisa vivência sobre a qual pouco pensamos ou percebemos no dia a dia.
Evidentemente isso esta relacionado as representações parciais e limitadas que fazemos do mundo natural devido a nossa inserção em um universo simbólico/cultural que nos faz a parte da natureza.
Este abismo existente entre o homem natural que somos e o homem cultural que representamos é demasiadamente complexa e estabelece paradoxos. Paradoxos estes que nos confrontam com o arcaísmo de nossa própria condição humana na experiência do irracional e do inconsciente. A busca de uma imagem mais precisa e aberta sobre o que somos e o que fazemos pressupõe a integração de nossas faces ocultas, de nossos eus e não eus profundos.
Evidentemente isso esta relacionado as representações parciais e limitadas que fazemos do mundo natural devido a nossa inserção em um universo simbólico/cultural que nos faz a parte da natureza.
Este abismo existente entre o homem natural que somos e o homem cultural que representamos é demasiadamente complexa e estabelece paradoxos. Paradoxos estes que nos confrontam com o arcaísmo de nossa própria condição humana na experiência do irracional e do inconsciente. A busca de uma imagem mais precisa e aberta sobre o que somos e o que fazemos pressupõe a integração de nossas faces ocultas, de nossos eus e não eus profundos.
O BINARIO EGO CONSCIÊNCIA
O ponto de vista da psicologia analítica em torno do binário ego/consciência a diferencia radicalmente de outras tendências e vertentes do vasto campo da chamada psicologia profunda. Pode-se dizer que o ego, segundo Jung, seria um filho dileto do inconsciente que, permanecendo em permanente dialogo com ele, diferencia-se, estabelece sua própria realidade simbólica.É neste sentido que o mito do herói é normalmente tomado como um modelo para o desenvolvimento egóico em sua “busca de luz” ou de consciência. Podemos considerar seu tortuoso caminho como uma negação ou conflito direto com o aspecto sombrio do arquétipo da Grande Mãe. Mas caberia questionar: esse é o único caminho para o desenvolvimento egoico e, conseqüentemente, para afirmação da cultura e da civilização ?
Na medida em que vivemos em uma cultura unilateralmente orientada para o princípio masculino (logos), é saudável resgatar e buscar o aspecto materno, integra-lo compensatoriamente enquanto referência e principio simbólico/ontológico, relativizando assim nosso padrão masculino de ego/consciência. Se a tradição ocidental, inspirada pelo tradição judaico cristã, alicerçou-se sobre a repressão do feminino e primado do masculino, ela também pressupõe uma fixação inconsciente por este mesmo feminino, uma dependência materna proporcional ao esforço do herói civilizador para libertar-se em sua luta contra o dragão.
Inevitavelmente em nossa cultura ficamos a um meio caminho entre a experiência da própria individualidade e as vivencias dos padrões de comportamento condicionados ao inconsciente coletivo. Precisamos aprender a viver a vida a partir de um setting e experiências emocionais que rearticulem o envolvimento egoico com o universo do irracional e de fantasia delimitado pela experiência primal do universo materno do inconsciente. Trata-se de uma redescoberta do principio feminino (Eros) que nos conduza a uma espécie de reencantamento do mundo e da consciência.
Na medida em que vivemos em uma cultura unilateralmente orientada para o princípio masculino (logos), é saudável resgatar e buscar o aspecto materno, integra-lo compensatoriamente enquanto referência e principio simbólico/ontológico, relativizando assim nosso padrão masculino de ego/consciência. Se a tradição ocidental, inspirada pelo tradição judaico cristã, alicerçou-se sobre a repressão do feminino e primado do masculino, ela também pressupõe uma fixação inconsciente por este mesmo feminino, uma dependência materna proporcional ao esforço do herói civilizador para libertar-se em sua luta contra o dragão.
Inevitavelmente em nossa cultura ficamos a um meio caminho entre a experiência da própria individualidade e as vivencias dos padrões de comportamento condicionados ao inconsciente coletivo. Precisamos aprender a viver a vida a partir de um setting e experiências emocionais que rearticulem o envolvimento egoico com o universo do irracional e de fantasia delimitado pela experiência primal do universo materno do inconsciente. Trata-se de uma redescoberta do principio feminino (Eros) que nos conduza a uma espécie de reencantamento do mundo e da consciência.
VAZIOS E IDENTIDADES
Vislumbro atos
E anti atos
Nas inércias da minha vida.
Antes e depois
De acasos
Razões me surpreendem
No quase viver
De coisas perdidas.
Meu rosto é composto
De não acontecimentos,
De sentimentos e desejos
Marcados pela fantasia
De hojes
Quase perfeitos.
Sou em grande parte
Muito do que nunca fui
No vai e vem da vida
No hiato entre o que pretendo
E pretendia ser.
E anti atos
Nas inércias da minha vida.
Antes e depois
De acasos
Razões me surpreendem
No quase viver
De coisas perdidas.
Meu rosto é composto
De não acontecimentos,
De sentimentos e desejos
Marcados pela fantasia
De hojes
Quase perfeitos.
Sou em grande parte
Muito do que nunca fui
No vai e vem da vida
No hiato entre o que pretendo
E pretendia ser.
segunda-feira, 17 de março de 2008
HELLO SUNSHINE
Não sei o que esperar
Do dia seguinte,
Do amontoado de horas
E pequenos fatos
Acumulados em minha vida.
Não sei o que esperar
De mim mesmo
Nos muitos caminhos
E destinos
Que se fazem
Na ontologia dos gestos
Gentes e jeitos
Que revelam a existência.
Tudo que vivo
É muito
E bem pouco no impreciso acontecer
Dos meus sentimentos de mundo.
Mas amanhãs me descobrem
No segredo de um dia possível
Quase indeterminado,
De uma inédita manhã.
Hello Sunshine...
Do dia seguinte,
Do amontoado de horas
E pequenos fatos
Acumulados em minha vida.
Não sei o que esperar
De mim mesmo
Nos muitos caminhos
E destinos
Que se fazem
Na ontologia dos gestos
Gentes e jeitos
Que revelam a existência.
Tudo que vivo
É muito
E bem pouco no impreciso acontecer
Dos meus sentimentos de mundo.
Mas amanhãs me descobrem
No segredo de um dia possível
Quase indeterminado,
De uma inédita manhã.
Hello Sunshine...
sexta-feira, 14 de março de 2008
EXISTIR PROVISÓRIO
Existo provisório
Em um segundo de esperança
As margens
Do caos do mundo.
Sonho o tempo
E os encantos
De antigos futuros,
Vislumbrando
O quase acontecer
De mim mesmo
Em presentes perdidos.
Em um segundo de esperança
As margens
Do caos do mundo.
Sonho o tempo
E os encantos
De antigos futuros,
Vislumbrando
O quase acontecer
De mim mesmo
Em presentes perdidos.
I am stuck...
I am stuck...
Entre o crescimento
e a queda
no viver do tempo.
I am stuck...
Entre certezas de realidade
E incertezas de mim mesmo.
I am stuck...
Diante do rosto dos outros
Que quase não sabem
O fundo escuro
De si mesmos.
I am stuck…
Encarando o acaso
Em delírios
De futuros
Quase perfeitos.
I am stuck…
No impasse desses versos
Que não me levam
Alem da equivoca palavra
Que me apresenta o mundo.
Entre o crescimento
e a queda
no viver do tempo.
I am stuck...
Entre certezas de realidade
E incertezas de mim mesmo.
I am stuck...
Diante do rosto dos outros
Que quase não sabem
O fundo escuro
De si mesmos.
I am stuck…
Encarando o acaso
Em delírios
De futuros
Quase perfeitos.
I am stuck…
No impasse desses versos
Que não me levam
Alem da equivoca palavra
Que me apresenta o mundo.
O BEM E O MAL NA PSICOLOGIA ANALITICA
O bem e o mal na Psicologia Analítica é o titulo de um pequeno ensaio publicado no décimo volume das obras completas de C G Jung. Originalmente ele foi apresentado em um encontro de fim de semana do grupo de trabalho “ Arzt und Seelsorges” de Stuttgart no outono de 1958.
Como alerta o próprio autor, sua posição sobre o assunto não se enquadra em qualquer especulação moral apriorística ou teórica. Seu ponto de vista é essencialmente empírico e ancora-se em sua experiência como psico-terapeuta. Nesta perspectiva, a problemática do bem e do mal nos conduz a cisão e conflito entre opostos que configuram a milênios a consciência e cultura ocidental. Em termos de psicologia analítica, dentre outras coisas, trata-se do delicado problema de conscientização e assimilação da sombra, imagem arquétipo que corresponde à experiência psicológica de nosso intimo outro, daquelas faces de nós mesmos que por uma série de razões normalmente ignoramos. Cabe ainda considerar a os limites de todo código comportamental inspirado pela moral tradicional.
Segue um fragmento deste instigante texto:
“... Também na questão do bem e do mal nós, terapeutas, só podemos confiar estarmos vendo as coisas de modo certo, mas não se pode ter certeza absoluta. Enquanto terapeuta, não posso abordar, em casos concretos, o problema do bem e do mal de modo teológico ou filosófico, mas apenas de modo empírico. Sendo minha atitude empírica, isto não quer dizer que relativizo em si o bem e o mal. Sei muito bem: isto é mau, mas o paradoxo é que nesta pessoa, nesta situação concreta, neste determinado grau de seu amadurecimento isto pode ser bom. Por outro lado, também vale: o bom no momento errado e no lugar impróprio se torna o pior. Se assim não fosse, tudo seria muito simples demais. Se não fizer um juízo a priori mas escutar os fatos concretos, não sei de antemão o que é bom ou mau para o paciente. Muitas coisas se nos apresentam mas não conseguimos desvendar seu significado.”
“...A realidade do bem e do mal consiste em coisas, situações que acontecem, que ultrapassam nosso pensamento, em que a gente está, por assim dizer, diante da vida e da morte. O que me sobrevém nesta força e intensidade eu experimento como algo numinoso, não importa se o designo como divino, demoníaco ou causado pelo destino. Esta atuando algo mais forte, insuperável com o qual me confronto. A dificuldade esta em que estamos acostumados a pensar estes problemas a ponto ficarem claros “como dois mais dois são quatro” . Mas na prática isto não funciona; não chegamos a uma solução, em principio, de como devemos proceder. Querer isto é errado. È como nas leis da natureza que a gente acha que são validas em toda parte. A moral tradicional é exatamente como a física clássica: uma verdade e sabedoria estatísticas. O físico de hoje sabe que a causalidade é uma verdade estatística. Mas no caso prático sempre procurará saber qual a lei aplicável a este caso. O mesmo se da no campo da moralidade. Não podemos supor que tenhamos dito algo de validade absoluta quando opinamos num caso concreto: isto é bom, isto é mau. É certo que muitas vezes devemos pronunciar um julgamento, não da para fugir. E pode acontecer que digamos inclusive a verdade, que acertemos na mosca. Mas considerar nosso julgamento simplesmente como valido seria disparate, seria querer ser como Deus. Mesmo que na prática uma ação moral nem sempre estuda sua qualidade moral mais profunda, a soma dos motivos conscientes e inconscientes que a fundamentam. E muito menos quem julga a ação de outro, que só a percebe de fora, em sua aparência e não em seu ser mais profundo. Kant diz com razão que o indivíduo e a sociedade deveriam passar de uma “ética da ação” para uma “ética da convicção”. Mas só Deus pode perscrutar a última e mais profunda convicção que está por trás da ação. Por isso, nosso julgamento sobre o que é bom ou mau concretamente deve ser muito prudente e hipotético. Jamais apodítico como se pudéssemos ver claramente todos os fundamentos últimos. As concepções morais são muitas vezes tão divergentes quanto diverge nosso paladar do dos esquimós no tocante a guloseimas.”
( C G Jung. O Bem e o Mal na Psicologia Analítica, in Obras Completas. Vol. X/3. Civilização em Transição. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 185 et seq.)
Como alerta o próprio autor, sua posição sobre o assunto não se enquadra em qualquer especulação moral apriorística ou teórica. Seu ponto de vista é essencialmente empírico e ancora-se em sua experiência como psico-terapeuta. Nesta perspectiva, a problemática do bem e do mal nos conduz a cisão e conflito entre opostos que configuram a milênios a consciência e cultura ocidental. Em termos de psicologia analítica, dentre outras coisas, trata-se do delicado problema de conscientização e assimilação da sombra, imagem arquétipo que corresponde à experiência psicológica de nosso intimo outro, daquelas faces de nós mesmos que por uma série de razões normalmente ignoramos. Cabe ainda considerar a os limites de todo código comportamental inspirado pela moral tradicional.
Segue um fragmento deste instigante texto:
“... Também na questão do bem e do mal nós, terapeutas, só podemos confiar estarmos vendo as coisas de modo certo, mas não se pode ter certeza absoluta. Enquanto terapeuta, não posso abordar, em casos concretos, o problema do bem e do mal de modo teológico ou filosófico, mas apenas de modo empírico. Sendo minha atitude empírica, isto não quer dizer que relativizo em si o bem e o mal. Sei muito bem: isto é mau, mas o paradoxo é que nesta pessoa, nesta situação concreta, neste determinado grau de seu amadurecimento isto pode ser bom. Por outro lado, também vale: o bom no momento errado e no lugar impróprio se torna o pior. Se assim não fosse, tudo seria muito simples demais. Se não fizer um juízo a priori mas escutar os fatos concretos, não sei de antemão o que é bom ou mau para o paciente. Muitas coisas se nos apresentam mas não conseguimos desvendar seu significado.”
“...A realidade do bem e do mal consiste em coisas, situações que acontecem, que ultrapassam nosso pensamento, em que a gente está, por assim dizer, diante da vida e da morte. O que me sobrevém nesta força e intensidade eu experimento como algo numinoso, não importa se o designo como divino, demoníaco ou causado pelo destino. Esta atuando algo mais forte, insuperável com o qual me confronto. A dificuldade esta em que estamos acostumados a pensar estes problemas a ponto ficarem claros “como dois mais dois são quatro” . Mas na prática isto não funciona; não chegamos a uma solução, em principio, de como devemos proceder. Querer isto é errado. È como nas leis da natureza que a gente acha que são validas em toda parte. A moral tradicional é exatamente como a física clássica: uma verdade e sabedoria estatísticas. O físico de hoje sabe que a causalidade é uma verdade estatística. Mas no caso prático sempre procurará saber qual a lei aplicável a este caso. O mesmo se da no campo da moralidade. Não podemos supor que tenhamos dito algo de validade absoluta quando opinamos num caso concreto: isto é bom, isto é mau. É certo que muitas vezes devemos pronunciar um julgamento, não da para fugir. E pode acontecer que digamos inclusive a verdade, que acertemos na mosca. Mas considerar nosso julgamento simplesmente como valido seria disparate, seria querer ser como Deus. Mesmo que na prática uma ação moral nem sempre estuda sua qualidade moral mais profunda, a soma dos motivos conscientes e inconscientes que a fundamentam. E muito menos quem julga a ação de outro, que só a percebe de fora, em sua aparência e não em seu ser mais profundo. Kant diz com razão que o indivíduo e a sociedade deveriam passar de uma “ética da ação” para uma “ética da convicção”. Mas só Deus pode perscrutar a última e mais profunda convicção que está por trás da ação. Por isso, nosso julgamento sobre o que é bom ou mau concretamente deve ser muito prudente e hipotético. Jamais apodítico como se pudéssemos ver claramente todos os fundamentos últimos. As concepções morais são muitas vezes tão divergentes quanto diverge nosso paladar do dos esquimós no tocante a guloseimas.”
( C G Jung. O Bem e o Mal na Psicologia Analítica, in Obras Completas. Vol. X/3. Civilização em Transição. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 185 et seq.)
quarta-feira, 12 de março de 2008
ROMEU E JULIETA
É controvertido o titulo de primeira tragédia escrita por Shakespeare. Tito Andronico ou Romeu e Julieta? Sem entrar nesta polêmica ocupar-me-ei aqui exclusivamente desta última.
Para inicio de conversa, poucas histórias gozam da mesma popularidade do que a de Romeu e Julieta. Ela povoa o imaginário ocidental de um modo tão profundo que desafia o limite entre ficção e realidade.
Difícil precisar a data em que a tragédia foi escrita. O fato é que sua primeira publicação ocorreu em 1597.
As fontes imediatas utilizadas por Shakspeare para a composição desta obra foram muito provavelmente um poema de Arthur Booke e uma versão da história contida no livro Palace of Pleasure de Paynter. O tema, entretanto, tem suas origens em novelas italianas o que torna compreensível sua ambientação em Verona. Mas foi definitivamente a versão shakespeareana que imortalizou a trágica história de amor entre dois adolescentes pertencentes a famílias rivais.
Romeu e Julieta personifica o ideal do amor romântico encarnado pelos amantes que, transcendendo preconceitos e dificuldades diversas, afirmam a força do seu laço. Apesar do fatal desencontro que lhe sela como tragédia, a historia figura entre as mais sublimes e líricas apologias do amor já concebidas pelo imaginário ocidental. Amor que, contrariando códicos e convenções sociais afirma-se como vivência da subjetividade e da individualidade como referências primais do agir humano.
« uas casas, iguais em dignidade – na formosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento. »
(Coro, Prólogo)
Para inicio de conversa, poucas histórias gozam da mesma popularidade do que a de Romeu e Julieta. Ela povoa o imaginário ocidental de um modo tão profundo que desafia o limite entre ficção e realidade.
Difícil precisar a data em que a tragédia foi escrita. O fato é que sua primeira publicação ocorreu em 1597.
As fontes imediatas utilizadas por Shakspeare para a composição desta obra foram muito provavelmente um poema de Arthur Booke e uma versão da história contida no livro Palace of Pleasure de Paynter. O tema, entretanto, tem suas origens em novelas italianas o que torna compreensível sua ambientação em Verona. Mas foi definitivamente a versão shakespeareana que imortalizou a trágica história de amor entre dois adolescentes pertencentes a famílias rivais.
Romeu e Julieta personifica o ideal do amor romântico encarnado pelos amantes que, transcendendo preconceitos e dificuldades diversas, afirmam a força do seu laço. Apesar do fatal desencontro que lhe sela como tragédia, a historia figura entre as mais sublimes e líricas apologias do amor já concebidas pelo imaginário ocidental. Amor que, contrariando códicos e convenções sociais afirma-se como vivência da subjetividade e da individualidade como referências primais do agir humano.
« uas casas, iguais em dignidade – na formosa Verona vos dirão – reativaram antiga inimizade, manchando mãos fraternas sangue irmão. Do fatal seio desses dois rivais um par nasceu de amantes desditosos, que em sua sepultura o ódio dos pais depuseram, na morte venturosos. Os lances desse amor fadado à morte e a obstinação dos pais sempre exaltados que teve fim naquela triste sorte em duas horas vereis representados. Se emprestardes a tudo ouvido atento, supriremos as faltas a contento. »
(Coro, Prólogo)
terça-feira, 11 de março de 2008
CRÔNICA RELÂMPAGO XXI
Não raramente a vida se apresenta como uma constelação de incertezas e duvidas das mais diversas naturezas e contextos. Nada me parece nessas ocasiões definitivo, satisfatório ou, muito menos, determinado.
A imagem da fumaça de um cigarro que a dissipar-se aleatoriamente no vazio surge como a alegoria perfeita para a definição de todas as coisas que compõe a vida...
Um pouco ausente de tudo tento construir-me como continuidade, como certeza, sem realmente acreditar em qualquer coisa....
A imagem da fumaça de um cigarro que a dissipar-se aleatoriamente no vazio surge como a alegoria perfeita para a definição de todas as coisas que compõe a vida...
Um pouco ausente de tudo tento construir-me como continuidade, como certeza, sem realmente acreditar em qualquer coisa....
LITERATURA INGLESA XXI
“Alguém disse que sou o último americano a viver a tragédia européia”
E. Pound
Quando li pela primeira vez Os Cantos do grande poeta norte americano Ezra Pound ( 1885-1972) fui tomado por certa perplexidade e surpresa. Sua poética não se comparava a qualquer outra que até então eu conhecia. ´De fato, mesmo para um leitor contemporâneo, habituado com inovações lingüísticas, a técnica de composição fundada em colagens de fragmentos que incorporam até mesmo ideogramas chineses e citações em grego afigura-se como surpreendentemente original. Isso para não falar da densidade de seus versos e da experiência ontológica que procuram traduzir.
Na breve introdução que faz para sua tradução da obra aqui comentada, Jose Lino Grünewald assim apresenta esse poeta singular:
“Ezra Pound é- com todas as honras- o maior poeta pagão neste mundo “cristão e ocidental”. Mas não se trata apenas disso. Ele é também o maior poeta “participante” dentro deste mesmo mundo “cristão e ocidental”- o maior poeta anti capitalista. E, nisso, durante diversas parte de Os Cantos, sabe contrapor a naturalidade do comportamento, do estar pagão, à hipocrisia da civilização cristã. Dizia que seria legitimo substituir o Velho Testamento, como texto sagrado, pelas Metamorfoses, de Ovídio. Enfim, em matéria de criar, do fazer, constitui a sua obra um dos lances mais elevados da poesia do século atual.”
(José Lino Grünewald. Introdução in Ezra Pound. Os Cantos. RJ: Nova Fronteira, 1986, p. 12)
Pound inaugurou o modernismo na poesia de língua inglesa tendo participado de dois movimentos vanguardistas: O Imagismo e o Vorticismo. Influenciou autores como James Joyce, T.S. Eliot, Virginia Wolf e William Carlos Williams. Alem de poeta foi musico, ensaísta, teórico e um grande escritor de epistolas. Deixo aqui , na tradução de José Lino Grünewald um de seus Cantos, como exemplo de sua poética singular e, ainda nos dias de hoje, “revolucionária” :
E. Pound
Quando li pela primeira vez Os Cantos do grande poeta norte americano Ezra Pound ( 1885-1972) fui tomado por certa perplexidade e surpresa. Sua poética não se comparava a qualquer outra que até então eu conhecia. ´De fato, mesmo para um leitor contemporâneo, habituado com inovações lingüísticas, a técnica de composição fundada em colagens de fragmentos que incorporam até mesmo ideogramas chineses e citações em grego afigura-se como surpreendentemente original. Isso para não falar da densidade de seus versos e da experiência ontológica que procuram traduzir.
Na breve introdução que faz para sua tradução da obra aqui comentada, Jose Lino Grünewald assim apresenta esse poeta singular:
“Ezra Pound é- com todas as honras- o maior poeta pagão neste mundo “cristão e ocidental”. Mas não se trata apenas disso. Ele é também o maior poeta “participante” dentro deste mesmo mundo “cristão e ocidental”- o maior poeta anti capitalista. E, nisso, durante diversas parte de Os Cantos, sabe contrapor a naturalidade do comportamento, do estar pagão, à hipocrisia da civilização cristã. Dizia que seria legitimo substituir o Velho Testamento, como texto sagrado, pelas Metamorfoses, de Ovídio. Enfim, em matéria de criar, do fazer, constitui a sua obra um dos lances mais elevados da poesia do século atual.”
(José Lino Grünewald. Introdução in Ezra Pound. Os Cantos. RJ: Nova Fronteira, 1986, p. 12)
Pound inaugurou o modernismo na poesia de língua inglesa tendo participado de dois movimentos vanguardistas: O Imagismo e o Vorticismo. Influenciou autores como James Joyce, T.S. Eliot, Virginia Wolf e William Carlos Williams. Alem de poeta foi musico, ensaísta, teórico e um grande escritor de epistolas. Deixo aqui , na tradução de José Lino Grünewald um de seus Cantos, como exemplo de sua poética singular e, ainda nos dias de hoje, “revolucionária” :
CANTO 1
E pois com a nau no mar,
E pois com a nau no mar,
Assestamos a quilha contra as vagas
E frente ao mar divino içamos vela
No mastro sobre aquela nave escura,
Levamos as ovelhas a bordo e
Nossos corpos também no pranto aflito,
E ventos vindos pela popa nos
Impeliam adiante, velas cheias,
Por artifício de Circe,
A deusa benecomata.
Assim no barco assentados
Cana do leme sacudida em vento
Então com vela tensa, pelo mar
Fomos até o término do dia.
Sol indo ao sono, sombras sobre o oceano
Chegamos aos confins das águas mais profundas.
Até o território cimeriano,
E cidades povoadas envolvidas
Por um denso nevoeiro, inacessível
Ao cintilar dos raios do sol, nem a
O luzir das estrelas estendido,
Nem quando torna o olhar do firmamento
Noite, a mais negra sobre os homens fúnebres.
Refluindo o mar, chegamos ao local
Premeditado por Circe.
Aqui os ritos de Perímedes e Euríloco e
“De espada a cova cubital escavo
Vazamos libações a cada morto,
Primeiro o hidromel, depois o doce
Vinho mais água com farinha branca
E orei pela cabeça dos finados;
Em Ítaca, os melhores touros estéreis
Para imolar, cercada a pira de oferendas,
Um carneiro somente de Tirésias,
Carneiro negro e com guizos.
Sangue escuro escoou dentro do fosso,
Almas vindas do Erebus, mortos cadavéricos,
De noivas, jovens, velhos, que muito penaram;
Úmidas almas de recentes lágrimas,
Meigas moças, muitos homens
Esfolados por lanças cor de bronze,
Desperdício de guerra, e com armas em sangue
Eles em turba em torno de mim, a gritar,
Pálido, reclamei-lhes por mais bestas;
Massacraram os rebanhos, ovelhas sob lanças;
Entornei bálsamos, clamei aos deuses,
Plutão, o forte, e celebrei Prosérpina;
Desembainhada a diminuta espada,
Fiquei para afastar a fúria dos defuntos,
Até que ouvisse Tirésias.
Mas primeiro veio Elpenor, o amigo Elpenor,
Insepulto, jogado em terra extensa.
Membros que abandonamos em casa de Circe,
Sem agasalho ou choro no sepulcro,
Já porque outras labutas nos urgiam.
Triste espírito. E eu gritei em fala rápida:
‘‘Elpenor, como veio a esta praia escura ?
Veio a pé, mais veloz que os marinheiros?”
E ele, taciturno:
Azar e muito vinho. Adormeci
Na morada de Circe ao pé do fogo.
Descendo a escadaria distraído
Desabei sobre a pilastra,
Com o nervo da nuca estraçalhado,
O espírito procurou o Avernus.
Mas, ó Rei, me lembre, eu peço,
E sem agasalho ou choro,
Empilhe minhas armas numa tumba
A beira—mar com esta gravação:
Um homem sem fortuna e com um nome a vir.
E finque o remo que eu rodava entre os amigos
lá, ereto, sobre a tumba.”
Veio Anticléia, a quem eu, repelia,
E então Tirésias tebano,
Levando o seu bastão de ouro, viu —me
E falou primeiro:
“Uma segunda vez? Por quê? homem de maus fados,
Face aos mortos sem sol e este lugar sem gáudio?
Além do fosso! eu vou sorver o sangue
Para a profecia.”
E eu retrocedi,
E ele, vigor sangüíneo: “Odysseus
Deverás retornar por negros mares
Através dos rancores de Netuno,
Todos teus companheiros perderás.
Depois veio Anticléia.
Divus, repouse em paz, digo, Andreas Divus,
In ofiicina Wecheli, 1538, vindo de Homero.
E ele velejou entre Sereias ao
largo e além até Circe.
Venerandam,
Na frase em Creta, e áurea coroa, Afrodite,
Cypri munimenta sortita est, alegre, orichalchi, com dourados
Cintos, faixas nos seios, tu, com pálpebras de ébano
Levando o ramo de ouro de Argicida. Assim:
segunda-feira, 10 de março de 2008
MEDO...
Tenho medo
Do dia seguinte,
Da noite seguinte,
Das dúvidas seguintes,
Dos atos seguintes...
No incerto acaso
Que me faz matéria concreta
No existir do mundo.
Viver, é uma aposta,
Um vício,
Ou descaso de verdades
Que em solavancos e equivocos
Traduzem a presença do mundo
E do medo
Em magico movimnento
Do dia seguinte,
Da noite seguinte,
Das dúvidas seguintes,
Dos atos seguintes...
No incerto acaso
Que me faz matéria concreta
No existir do mundo.
Viver, é uma aposta,
Um vício,
Ou descaso de verdades
Que em solavancos e equivocos
Traduzem a presença do mundo
E do medo
Em magico movimnento
alegria e felicidade
O momento da alegria
E a certeza da felicidade
Brigam dentro do dia
No incerto do azul
Que conduz a noite.
Não há palavra
Que me diga
O inequívoco do mundo.
Tudo é duvida,
É ontem e hoje
Em um amanhã que se transforma.
Tudo é provisório estado
De mim mesmo
Em multiplas variações de eu
E liberdade de infinito.
E a certeza da felicidade
Brigam dentro do dia
No incerto do azul
Que conduz a noite.
Não há palavra
Que me diga
O inequívoco do mundo.
Tudo é duvida,
É ontem e hoje
Em um amanhã que se transforma.
Tudo é provisório estado
De mim mesmo
Em multiplas variações de eu
E liberdade de infinito.
sábado, 8 de março de 2008
O FEMININO E O MISTÉRIO DA CRIAÇÃO
A imagem que mais aproxima da experiência da mulher e do feminino, enquanto configuração simbólica e realidade cultural, da vivência da mulher concreta que nos povoa o dia a dia, é sem duvida a do "milagre" da criação enquanto um atributo essencialmente feminino. È em seu corpo que acontece o segredo da vida e da morte, em que a aventura de cada um de nós pelo mundo tem inicio. Este simples fato é suficiente para justificar a aura de sacralidade e impreciso respeito que paira em torno de sua condição humana.
A mulher encontra-se de muitas formas mais próxima da vivência e ritmos da natureza fisica e psíquica m seu se fazer no mundo. Mesmo que constatemos que não existe qualquer "tipo ideal" de mulher e que o feminino, em sua esência é multiplo e mutável no devir de ciclos e renascimentos.
A ontologia da mulher é, em poucas palavras, um acontecer de fertilidade e criatividade na meta razão da mais profunda experiência e consciência do ser da própria existência.
sexta-feira, 7 de março de 2008
FEMINILIDADE E VIDA
O tecer-se
De cada mulher
Guarda telúricos mistérios
No fazer-se e refazer-se
Plural do feminino.
Nos ciclos e movimentos
Da deusa lua
A vida surge
Como espiral
Reinventando o tempo
No perfume
De um abstrato Eros.
Costuram-se
Coisas, pessoas
E tempos
No mágico exercício
Do ser da feminilidade
Em corpo e alma,
Da fertilidade em carne
E ato.
De cada mulher
Guarda telúricos mistérios
No fazer-se e refazer-se
Plural do feminino.
Nos ciclos e movimentos
Da deusa lua
A vida surge
Como espiral
Reinventando o tempo
No perfume
De um abstrato Eros.
Costuram-se
Coisas, pessoas
E tempos
No mágico exercício
Do ser da feminilidade
Em corpo e alma,
Da fertilidade em carne
E ato.
TERRA MATER
É universalmente difundido o mitologema da Terra Mater ou Tellus Mater, que origina todos os seres vivos e inanimados. Enquanto Genetrix universal , a terra seria uma entidade viva e fecunda e tudo por ela produzido seria a um só tempo orgânico e anímico. Tudo o que encerra em suas entranhas seria comparável a embriões, a seres vivos em vias de “amadurecer”, de crescer e desenvolver-se. Imagem que influência profundamente, por exemplo a simbólica da alquimia ocidental.
Na coletânea de ensaios MITOS, SONHOS E MISTÉRIOS do consagrado historiador das religiões Mircea Eliade podemos encontrar um interessantíssimo ensaio sobre o tema cujo uma passagem gostaria de reproduzir aqui:
“Que os humanos tenham sido gerados pela terra é uma crença universalmente difundida: Só precisamos de folhear alguns livros escritos sobre este assunto, por exemplo “Mutter Erde” de Dietrich, ou “ Kind und Erdre” de Nyberg. Em numerosas línguas, o homem é chamado: “nascido da terra” (Canções russas, mitos dos Lapões e dos Estónios, etc.- Dietrich, pág. 14). Acredita-se que as crianças “vêem” do fundo da Terra, das cavernas, das grutas, das fendas, mas também dos mares, das nascentes, dos ribeiros. Sob a forma de lenda, de superstição ou simplesmente de metáfora, crenças similares sobreviveram ainda na Europa. Cada região e quase cada cidade e aldeia conhece um rochedo ou uma nascente que “traz” as crianças: são Kinderbrunnen, Kinderteiche, Bubenquelen ( Diretrich op cit, págs 19 e segs., 126 e segs)
Evitemos crer que estas superstições e estas metáforas são só explicações para crianças. A realidade é mais complexa. Até entre os Europeus dos nossos dias sobrevive o sentimento obscuro de uma solidariedade mística com a Terra natal. Não se trata de um sentimento profano de amor pela pátria ou pela província natal; não é a admiração pela paisagem familiar ou a veneração dos antepassados, enterrados desde há gerações à volta das igrejas das aldeias. Existe um aspecto diferente: a experiência mística da autoctonia, o sentimento profundo de que se emergiu do solo, que se foi gerado pela Terra da mesma forma que ela fez nascer, com uma fecundidade inesgotável, rochedos, ribeiros, árvores, flores. É neste sentido que se deve compreender a autoctonia: sentimo-nos pertencer à gente da terra, e ai está um sentimento de estrutura cósmica que ultrapassa em muito a solidariedade familiar e ancestral. Sabe-se que em numerosas culturas o pai desempenha um papel apagado: limita-se a legitimar a criança, reconhecê-la. Mater semper certa, pater incertus.
(Mircea Eliade. Mitos Sonhos e Mistérios.Portugal: Edições 70, s/d, p. 140)
Na coletânea de ensaios MITOS, SONHOS E MISTÉRIOS do consagrado historiador das religiões Mircea Eliade podemos encontrar um interessantíssimo ensaio sobre o tema cujo uma passagem gostaria de reproduzir aqui:
“Que os humanos tenham sido gerados pela terra é uma crença universalmente difundida: Só precisamos de folhear alguns livros escritos sobre este assunto, por exemplo “Mutter Erde” de Dietrich, ou “ Kind und Erdre” de Nyberg. Em numerosas línguas, o homem é chamado: “nascido da terra” (Canções russas, mitos dos Lapões e dos Estónios, etc.- Dietrich, pág. 14). Acredita-se que as crianças “vêem” do fundo da Terra, das cavernas, das grutas, das fendas, mas também dos mares, das nascentes, dos ribeiros. Sob a forma de lenda, de superstição ou simplesmente de metáfora, crenças similares sobreviveram ainda na Europa. Cada região e quase cada cidade e aldeia conhece um rochedo ou uma nascente que “traz” as crianças: são Kinderbrunnen, Kinderteiche, Bubenquelen ( Diretrich op cit, págs 19 e segs., 126 e segs)
Evitemos crer que estas superstições e estas metáforas são só explicações para crianças. A realidade é mais complexa. Até entre os Europeus dos nossos dias sobrevive o sentimento obscuro de uma solidariedade mística com a Terra natal. Não se trata de um sentimento profano de amor pela pátria ou pela província natal; não é a admiração pela paisagem familiar ou a veneração dos antepassados, enterrados desde há gerações à volta das igrejas das aldeias. Existe um aspecto diferente: a experiência mística da autoctonia, o sentimento profundo de que se emergiu do solo, que se foi gerado pela Terra da mesma forma que ela fez nascer, com uma fecundidade inesgotável, rochedos, ribeiros, árvores, flores. É neste sentido que se deve compreender a autoctonia: sentimo-nos pertencer à gente da terra, e ai está um sentimento de estrutura cósmica que ultrapassa em muito a solidariedade familiar e ancestral. Sabe-se que em numerosas culturas o pai desempenha um papel apagado: limita-se a legitimar a criança, reconhecê-la. Mater semper certa, pater incertus.
(Mircea Eliade. Mitos Sonhos e Mistérios.Portugal: Edições 70, s/d, p. 140)
quinta-feira, 6 de março de 2008
O PERDIDO DE UM SONHO
Embrulhei um sonho
Com o azul do céu.
Deixei-o ali
Esquecido crescer
No intimo infinito
Dos desejos perdidos.
Procurei saber suas noites,
Sua alma
E a abstrata realidade
De seu encanto.
Abandonei-me
No pensar esse sonho
Até esquecer de mim mesmo
E abandonar rotinas
Em lixeiras de dia.
Com o azul do céu.
Deixei-o ali
Esquecido crescer
No intimo infinito
Dos desejos perdidos.
Procurei saber suas noites,
Sua alma
E a abstrata realidade
De seu encanto.
Abandonei-me
No pensar esse sonho
Até esquecer de mim mesmo
E abandonar rotinas
Em lixeiras de dia.
AS MULHERES NA VIDA DE JUNG
Originalmente publicado na Grã Bretanha em 1990, The Valkyries: The Womem around Jung, aqui traduzido como “As mulheres na vida de Jung” de Maggy Anthony, é um dos livros que, embora escrito por uma não “especialista” fornece uma contribuição interessante a este polêmico e delicado tema. Demasiadamente romanceada em alguns momentos, a narrativa prima pela lucidez e guarda um certo brilho que a torna interessante a quem se interessa pelo universo da psicologia analítica, além da biografia e a obra de seu fundador.
Não é novidade que o arquétipo de Anima e da Grande Mãe, assim como o resgate do feminino, constituem imagens e questões nodais dentro do vasto campo de pesquisa da psicologia analítica. Também não é novidade o papel desempenhado pelas mulheres na institucionalização e difusão das idéias de Jung, bem como em seus relacionamentos íntimos e afetos.
Como ressalta a autora:
Não é novidade que o arquétipo de Anima e da Grande Mãe, assim como o resgate do feminino, constituem imagens e questões nodais dentro do vasto campo de pesquisa da psicologia analítica. Também não é novidade o papel desempenhado pelas mulheres na institucionalização e difusão das idéias de Jung, bem como em seus relacionamentos íntimos e afetos.
Como ressalta a autora:
“ Uma coisa ficou clara na preparação deste livro: a necessidade de Jung pelas mulheres era recíproca em relação à delas por ele. Mostrei como a relação com a mãe, Emilie Preiswerk Jung, constituiu a base para o relacionamento com as mulheres em geral e aquelas de seu circulo particular: o relacionamento terminou por criar nele uma necessidade vitalícia pela companhia intelectual e criativa das mulheres, que parece ser de tamanho proporcional a seus talentos, e não se tratava apenas do simples desejo da maioria dos homens, de serem admirados pelas mulheres, embora com certeza isso também estivesse presente.
Mesmo em sua experiência de quase-morte, a conexão com as mulheres teve estreita ligação com a sua sobrevivência. No meio da experiência, o médico que o tratava surgiu-lhe flutuando numa visão. O médico fantasma explicou a Jung que não lhe seria permitido morrer porque pelo menos trinta mulheres se achavam abaladas demais com a idéia de que as pudesse deixar, bem como ao seu trabalho.
Jung tinha uma profunda necessidade psíquica, da qual dependiam sua criatividade e a integridade de sua psique. Não foi por acidente que escolheu uma mulher para acompanha-lo em sua jornada às profundezas do próprio inconsciente, e que desse modo tornou-se analista de Carl Jung: Toni Wolff. As mulheres e o inconsciente, para ele, eram sinônimos. Havia dito que os homens opunham uma resistência infantil às mulheres, estavam resistindo ao seu próprio lado inconsciente.”
( Maggy Anthony. As Mulheres na Vida de Jung. Tradução de Constantino Kouzmin Korovaeff, RJ: Record: Rosa dos Ventos, 1998, p 164.)
Do ponto de vista das tantas Valquirias que se uniram criativamente a Jung e viveram suas idéias podemos dizer que :
“... Em cada um dos casos, o relacionamento com Jung possibilitou que conduzissem o desenvolvimento de suas vidas num nível mais profundo, e seus sonhos e visões sustentaram-nas além da morte do homem que as levou a sério pela primeira vez.”
( idem p.184)
quarta-feira, 5 de março de 2008
DIA INTERNACIONAL DA MULHER: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
Entre muitas coisas o século XX foi um momento de redefinição do papel e significados da mulher e do feminino na cultura ocidental. O movimento feminista dos anos 60 e 70 não só contribuíram para transformar o status social da mulher como também propiciou a gestação de uma nova cultura feminina que pôs em xeque os valores partriacais inspirados pela tradição judaico cristã.
Se nem todas as mulheres identificam-se com a causa feminista, respiram hoje seus efeitos na simples possibilidade de cotidianamente construírem livremente seus próprios caminhos e viver os próprios sonhos.
Uma das tendências deste limiar de século, no que diz respeito ao resgate do feminino, é a profunda transformação da cultura masculina que, libertando-se das tradições e preconceitos partriacais vem sinalizando claramente para a gestação de uma nova “cultura dos sexos” e integração maior do feminino enquanto realidade e configuração simbólica e cultural.
Os valores feministas hoje já não se restringem aos movimentos feministas mas funcionam como referencial a pratica cotidiana de homens e mulheres no dialogo de corpos e almas do se fazer da vida.
Neste dia internacional da mulher mais uma vez celebramos a mulher e o feminino como matriz máxima da cultura humana.
Se nem todas as mulheres identificam-se com a causa feminista, respiram hoje seus efeitos na simples possibilidade de cotidianamente construírem livremente seus próprios caminhos e viver os próprios sonhos.
Uma das tendências deste limiar de século, no que diz respeito ao resgate do feminino, é a profunda transformação da cultura masculina que, libertando-se das tradições e preconceitos partriacais vem sinalizando claramente para a gestação de uma nova “cultura dos sexos” e integração maior do feminino enquanto realidade e configuração simbólica e cultural.
Os valores feministas hoje já não se restringem aos movimentos feministas mas funcionam como referencial a pratica cotidiana de homens e mulheres no dialogo de corpos e almas do se fazer da vida.
Neste dia internacional da mulher mais uma vez celebramos a mulher e o feminino como matriz máxima da cultura humana.
terça-feira, 4 de março de 2008
MEMÓRIAS, SONHOS E REFLEXÕES
Em sua auto biografia Memórias, Sonhos Reflexões, Jung faz mais do que narrar seu sentimento pessoal de mundo e colecionar recortes biográficos. Na verdade o que parece decisivo nesse singular relato é o balanço de suas vivências psicológicas e a descrição de seu próprio confronto criativo com o inconsciente.
Neste livro, Jung procura apresentar sua mensagem de modo diferente daquele condicionado por seus textos científicos, nos oferecendo uma chave de leitura para sua obra que, transcendendo a mera apreensão intelectual, pois pressupõe a participação de nossos sentimentos, fantasias e intuições ou, simplesmente, nosso envolvimento subjetivo com aquela dimensão mais profunda e obscura de nós mesmos que prefigura a própria condição humana.
Não por acaso não encontramos em suas memórias um julgamento definitivo de sua própria vida e obra. Ele não nos oferece um legado cristalizado e dogmático, mas um testemunho da experiência viva da psique. Toda a sua obra pode ser sumariamente definida como a delimitação de um campo, de um mapa ou caminho que só pode ser percorrido pessoalmente ou individualmente por cada pessoa. Não há um trajeto pré fixado pela rigidez teórica ou sistêmica. Tudo o que realmente importa é que aprendamos a escutar nosso daimon....
“ Conheci todas as dificuldades possíveis para me afirmar, sustentando meus pensamentos. Havia em mim um daimon que, em última instância, era sempre o que decidia. Ele me dominava, me ultrapassava e quando tomava conta de mim, eu desprezava as atitudes convencionais. Jamais podia deter-me no que obtinha. Precisava continuar, na tentativa de atingir minha visão. Como, naturalmente, meus contemporâneos não a viam, só podiam constatar que eu prosseguia sem me deter.
Ofendi muitas pessoas; assim que lhes percebia a incompreensão, elas me desinteressavam. Precisava continuar. À exceção dos meus doentes, não tinha paciência com os homens. Precisava seguir uma lei interior que me era imposta, sem liberdade de escolha. Naturalmente, nem sempre obedecia a ela. Como poderíamos viver sem cometermos incoerências?
Em relação a alguns seres, era sempre próximo e presente na medida em que mantínhamos um diálogo interior; mas podia ocorrer que, bruscamente, eu me afastasse, por sentir que nada mais havia que me ligasse a eles. Tinha que aceitar, penosamente, o fato de que continuassem lá, mesmo quando nada mais tinham a me dizer. Muitos despertaram em mim um sentimento de humanidade viva, mas só quando esta era visível no circulo mágico da psicologia; no instante seguinte, o projetor poderia afastar deles seus raios e nada mais restaria. Poderia interessar-me intensamente por alguns seres, mas, desde que se tornavam translúcidos para mim, o encanto se quebrava. Fiz, assim, muitos inimigos. Mas, como toda personalidade criadora, não era livre, mas tomada e impelida pelo demônio interior.
(...)
Poderia talvez dizer: necessito das pessoas mais do que os outros, e, ao mesmo tempo, bem menos. Quando o daimon está em ação, sentimo-nos muito perto e muito longe. Só quando ele se cala é que podemos guardar uma medida intermediária.
(...)
Sinto-me contente de que minha vida tenha sido aquilo que foi: rica e frutífera. Como poderia esperar mais? Ocorreram muitas coisas, impossíveis de serem canceladas. Algumas poderiam ter sido diferentes, se eu mesmo tivesse sido diferente. Assim, pois, as coisas foram o que tinham de ser; pois foram o que foram porque eu sou como sou. Muitas coisas, muitas circunstâncias foram provocadas intencionalmente, mas nem sempre representaram uma vantagem para mim. Em sua maioria dependem do destino. Lamento muitas tolices resultantes de minha teimosia, mas se não fossem elas não teria chegado a minha meta. Assim, pois, eu me sinto ao mesmo tempo satisfeito e decepcionado. Decepcionado com os homens, e comigo mesmo. Em contacto com os homens vivi ocasiões maravilhosas e trabalhei mais do que eu mesmo esperava de mim. Desisto de chegar a um julgamento definitivo, pois o fenômeno vida e o fenômeno homem são demasiadamente grandes. À medida em que envelhecia, menos me compreendia e me reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo.”
( C G Jung. Memória, Sonhos, Reflexões. Tradução de Dora Ferreira da Silva. RJ: Nova Fronteira, 20º ed, p. 308 et seq. )
Neste livro, Jung procura apresentar sua mensagem de modo diferente daquele condicionado por seus textos científicos, nos oferecendo uma chave de leitura para sua obra que, transcendendo a mera apreensão intelectual, pois pressupõe a participação de nossos sentimentos, fantasias e intuições ou, simplesmente, nosso envolvimento subjetivo com aquela dimensão mais profunda e obscura de nós mesmos que prefigura a própria condição humana.
Não por acaso não encontramos em suas memórias um julgamento definitivo de sua própria vida e obra. Ele não nos oferece um legado cristalizado e dogmático, mas um testemunho da experiência viva da psique. Toda a sua obra pode ser sumariamente definida como a delimitação de um campo, de um mapa ou caminho que só pode ser percorrido pessoalmente ou individualmente por cada pessoa. Não há um trajeto pré fixado pela rigidez teórica ou sistêmica. Tudo o que realmente importa é que aprendamos a escutar nosso daimon....
“ Conheci todas as dificuldades possíveis para me afirmar, sustentando meus pensamentos. Havia em mim um daimon que, em última instância, era sempre o que decidia. Ele me dominava, me ultrapassava e quando tomava conta de mim, eu desprezava as atitudes convencionais. Jamais podia deter-me no que obtinha. Precisava continuar, na tentativa de atingir minha visão. Como, naturalmente, meus contemporâneos não a viam, só podiam constatar que eu prosseguia sem me deter.
Ofendi muitas pessoas; assim que lhes percebia a incompreensão, elas me desinteressavam. Precisava continuar. À exceção dos meus doentes, não tinha paciência com os homens. Precisava seguir uma lei interior que me era imposta, sem liberdade de escolha. Naturalmente, nem sempre obedecia a ela. Como poderíamos viver sem cometermos incoerências?
Em relação a alguns seres, era sempre próximo e presente na medida em que mantínhamos um diálogo interior; mas podia ocorrer que, bruscamente, eu me afastasse, por sentir que nada mais havia que me ligasse a eles. Tinha que aceitar, penosamente, o fato de que continuassem lá, mesmo quando nada mais tinham a me dizer. Muitos despertaram em mim um sentimento de humanidade viva, mas só quando esta era visível no circulo mágico da psicologia; no instante seguinte, o projetor poderia afastar deles seus raios e nada mais restaria. Poderia interessar-me intensamente por alguns seres, mas, desde que se tornavam translúcidos para mim, o encanto se quebrava. Fiz, assim, muitos inimigos. Mas, como toda personalidade criadora, não era livre, mas tomada e impelida pelo demônio interior.
(...)
Poderia talvez dizer: necessito das pessoas mais do que os outros, e, ao mesmo tempo, bem menos. Quando o daimon está em ação, sentimo-nos muito perto e muito longe. Só quando ele se cala é que podemos guardar uma medida intermediária.
(...)
Sinto-me contente de que minha vida tenha sido aquilo que foi: rica e frutífera. Como poderia esperar mais? Ocorreram muitas coisas, impossíveis de serem canceladas. Algumas poderiam ter sido diferentes, se eu mesmo tivesse sido diferente. Assim, pois, as coisas foram o que tinham de ser; pois foram o que foram porque eu sou como sou. Muitas coisas, muitas circunstâncias foram provocadas intencionalmente, mas nem sempre representaram uma vantagem para mim. Em sua maioria dependem do destino. Lamento muitas tolices resultantes de minha teimosia, mas se não fossem elas não teria chegado a minha meta. Assim, pois, eu me sinto ao mesmo tempo satisfeito e decepcionado. Decepcionado com os homens, e comigo mesmo. Em contacto com os homens vivi ocasiões maravilhosas e trabalhei mais do que eu mesmo esperava de mim. Desisto de chegar a um julgamento definitivo, pois o fenômeno vida e o fenômeno homem são demasiadamente grandes. À medida em que envelhecia, menos me compreendia e me reconhecia, e menos sabia sobre mim mesmo.”
( C G Jung. Memória, Sonhos, Reflexões. Tradução de Dora Ferreira da Silva. RJ: Nova Fronteira, 20º ed, p. 308 et seq. )
METAFISICA FEMININA
A mulher é artífice
E fonte de vida,
Imagem e semelhança
Da magna matéria
Que faz o mundo.
Toda mulher
Guarda em si
Um pouco de esfinge,
De mistério,
No corpo e na alma
Em que se escreve.
Cada mulher
É uma estrela viva,
Sabendo-se ninfa,
Deusa e senhora
No labirinto de encantos,
Desejos e sonhos
Que a lua inspira
Na aventura de encontros.
E fonte de vida,
Imagem e semelhança
Da magna matéria
Que faz o mundo.
Toda mulher
Guarda em si
Um pouco de esfinge,
De mistério,
No corpo e na alma
Em que se escreve.
Cada mulher
É uma estrela viva,
Sabendo-se ninfa,
Deusa e senhora
No labirinto de encantos,
Desejos e sonhos
Que a lua inspira
Na aventura de encontros.
A UMA DEUSA...
Médium e mística
Senhora da natureza.
Em seu altar
Deixo-me inquieto.
Espero...
Pelo abraço
Do teu amanhã mágico
Em minha vida,
Pelo gozo e êxtase
De uma única primavera
Na fertilidade do seu sonho.
Encontro-me...
em suas fontes e jardins...
Encontro-a...
Senhora da natureza.
Em seu altar
Deixo-me inquieto.
Espero...
Pelo abraço
Do teu amanhã mágico
Em minha vida,
Pelo gozo e êxtase
De uma única primavera
Na fertilidade do seu sonho.
Encontro-me...
em suas fontes e jardins...
Encontro-a...
segunda-feira, 3 de março de 2008
A IDENTIDADE CULTURAL NA POS MODERNIDADE
Uma das questões chaves da contemporaneidade é o deslocamento das identidades culturais de classe, étnicas, sexuais e nacionais. Na verdade trata-se de um deslocamento ou descentração da experiência coletiva e crise do “sujeito” moderno frente a fragmentação caótica do individuo na sociedade pós industrial. Se por um lado tal fenômeno gera instabilidades e incertezas diversas, novas modalidades de expressão e experiências culturais, também fomenta os particularismos e fundamentalismos identitários mais diversos.
Um livro que muito bem nos introduz a esse delicado debate é A Identidade Cultural na Pos Modernidade do sociólogo britânico Stuard Hall .
Em linhas gerais, como expõe o próprio autor ao apresentar a questão:
Um livro que muito bem nos introduz a esse delicado debate é A Identidade Cultural na Pos Modernidade do sociólogo britânico Stuard Hall .
Em linhas gerais, como expõe o próprio autor ao apresentar a questão:
“ A questão da identidade está sendo extensamente discutida na teoria social. Em essência, o argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o individuo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada “ crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social."
(Stuart Hall. A Identidade na Pos Modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes. 9º ed. RJ: DP&A, 2004.)
Em outro momento, falando especificamente do caso britanico:
“ Num mundo de fronteiras dissolvidas e de continuidades rompidas, as velhas certezas e hierarquias da identidade britânica têm sido postas em questão. Num pais que é agora um repositório de culturas africanas e asiáticas, o sentimento do que significa ser britânico nunca mais pode ter a mesma velha confiança e certeza. O que significa ser europeu, num continente colorido não apenas pelas culturas de suas antigas colônias, mas também pelas culturas americanas e agora pelas japonesas?
A categoria de identidade não é, ela própria, problemática? É possível, de algum modo, em tempos globais, ter-se um sentimento de identidade coerente e integral? A continuidade e a historicidade da identidade são questionadas pela imediatez e pela intensidade das confrontações culturais globais. Os confortos da Tradição são fundamentalmente desafiados pelo imperativo de se forjar uma nova auto interpretação, baseada nas responsabilidades da Tradução cultura.”
( idem, p. 84)
sábado, 1 de março de 2008
Freeway...
No agir dos olhos
Colhendo o mundo,
No acontecer do corpo
Em aleatório movimento,
Inventam-se momentos,
Entre a existência e o pensamento.
Ponto abstrato de tempo
Em que me surpreendo restrito
A qualquer realização de limite;
Ausente dos passos
E dos caminhos
Onde me conduz muda
A própria vida
Na curva de um freeway.
Colhendo o mundo,
No acontecer do corpo
Em aleatório movimento,
Inventam-se momentos,
Entre a existência e o pensamento.
Ponto abstrato de tempo
Em que me surpreendo restrito
A qualquer realização de limite;
Ausente dos passos
E dos caminhos
Onde me conduz muda
A própria vida
Na curva de um freeway.
Assinar:
Postagens (Atom)