quarta-feira, 19 de março de 2008

CONTEMPORANEIDADE: INVESTIGAÇÕES PROVISÓRIAS DE UM SENTIMENTO DE MUNDO

A noção de contemporaneidade ou de tempo do agora, tal como eu entendo não é um mero sinônimo para o tempo presente. Ela não se destina a definir, rotular ou, de alguma maneira, racionalmente ordenar ou explicar o aqui e agora do mundo em que vivemos. Com tal expressão pretendo apenas traduzir o sentimento de estranheza, de desenraizamento, que nos define desde as crises da representação e metamorfoses da linguagem ocorridas nas primeiras décadas do séc XX, seja através das vanguardas artísticas ou dos revolucionários estudos sobre lingüística que aos poucos abalaram nossa ingênua premissa de um harmonioso relacionamento entre discurso, realidade e verdade.
Ser contemporâneo, portanto, é de muitas maneiras sentir-se hospede em sua realidade individual e coletivamente vivida, é estar aberto a todos os ventos, as múltiplas presenças que nos invadem a consciência e imagem das coisas, seja através da tela do computador, da televisão ou simplesmente no cotidiano percorrer de ruas e prédios cada vez menos reais ou dotados de clara significação.
A contemporaneidade é, por tudo isso, uma instabilidade ontológica, um niilismo discreto, onde qualquer racionalidade possível pressupõe um vislumbre de dês-razão nas peripécias da representação e significação de um real que já admitimos como uma mera convenção de nossas imaginações.
A contemporaneidade é, em uma única frase, o aleatório e provisório movimento da própria existência em uma finitude despida de eternidade e coberta de indefinido.

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