sábado, 24 de dezembro de 2022

A MORTE DA REALIDADE

A crise é um modo de ser
em tempos em que tudo
é linguagem,
informação,
e todos os valores
estão em colapso
tornando precária
toda significação.

A maior parte de nós
é inconsciente
e não configura
modos de subjetivação.

O tempo é o espaço do agora
onde quase existimos
em nossa delirante imaginação.

O mundo se torna,
cada vez mais,
uma metáfora impossível.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

ANTI MONOTEÍSMO

Em algum ponto
entre a respiração e a imaginação
toda palavra é inútil.
Não há lugar para significação,
E o desvalor afirma o silêncio
além da vida e da morte.

Em algum ponto
onde o corpo
apaga o mundo
e tudo é sensação,
existir se faz ilusão.

Não há mais um eu
e os outros,
apenas matéria crua,
composição,
além da percepção.

O múltiplo se faz infinito
onde o uno é impossível.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

MUNDO CORPO

Existir é devir corpo e mundo
 No dentro e no fora
 Do movimento 
Que me projeta
 Como consciência e verbo, 
Que me faz acontecimento em curso 
Nos outros que me observam mudos
 Em qualquer canto escuro.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O CORPO QUE NOS INVENTA

O corpo despido de alma,
des-subjetivado,
Indisciplinado,
Transborda a própria presença
na negação do universo.

Reinventa o espaço,
 criando o mundo,
Como processo,
imanência,
Hedonismo,
além do conceito e do verso.

O corpo é medida de todos os verbos.
Plural, diverso e singular acontecimento
ele é natureza em movimento
que nos atravessa e supera
em seu modo de ser frágil e efêmero.




sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

FILOSOFIA REBELDE

É sempre o erro
quem produz novidades.

É sempre o desvio
no meio do caminho
quem transforma o destino.

Artista é todo aquele que cria,
Qualquer um que desvia
ou semeia desordens.

Não há liberdade
onde heresias não abalam verdades.
A realidade é feita da soma
de pequenas e permanentes revoluções.

O mundo é filho do caos.



quarta-feira, 30 de novembro de 2022

O CORPO

O corpo acontece
a revelia da consciência,
do eu e do juízo.
Pouco lhe importam
as palavras e intensionalidades
de qualquer pensamento.

O corpo é a inexata soma de suas partes
e de todos os seus micro apetites.
Ele é movimento,
tomada de posse de um mundo
que sempre lhe escapa como realidade
e progresso.

O corpo é o tempo transformado em lugar
dos efeitos que devoram suas causas.



sexta-feira, 25 de novembro de 2022

EU E O TEMPO

O passado não me pertence,
mas é tudo que tenho
na contramão do tempo,
nas nostalgias do corpo,
dos outros, e dos momentos.

Tudo é indeterminação e mudança.
Nenhuma identidade ou autoridade
me aprisiona o juízo.
Meu passado não é tradição.

Existo limitado e finito,
dentro dos cinco sentidos,
em movimento intuitivo,
quase sem tempo,
na invenção da minha época 
aquém do futuro e do presente.

Desde sempre sou apenas lembrança
se desfazendo em esquecimentos.





quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ELOGIO AOS INSENSATOS

Entre a tragédia e a farsa
jamais busquei equilíbrio.
Ri um delírio contra todos os princípios
diante das solenes verdades dos letrados.

Desprezei tudo considerado elevado
e que contra a igualdade atenta
em nome do Estado.

Assim me fiz a margem dos outros,
além de mim mesmo,
na contramão da existência vigente.

Desafiei a falsa alegria dos tolos.
Soube a raiva dos ventos
e as errâncias das encruzilhadas
Afirmando a resistência dos condenados,
a insurgência dos desatinados.





terça-feira, 22 de novembro de 2022

OS SONHOS DA TERRA

Onde quase não respiramos,
resistir é preciso,
é necessário lutar,
e cantar o impossível.

Os sonhos nos inventaram
para derrubar o céu,
todos os privilégios e desigualdades,
matar os deuses, sacerdotes e políticos 
que nos conformam os corpos
a ilusão do espírito.

Os sonhos transcendem o tempo,
o espaço e a eternidade,
no mais profundo sentimento da Terra
tornando a carne é a alma da vida.




domingo, 20 de novembro de 2022

O INUMANO

Não me interessa a humanidade,
os grandes debates estéticos,
éticos, políticos e filosóficos,
que adoecem a imaginação
e atrofiam os pensamentos.

Sigo reduzido a corpo e imanência,
necessidade e cansaço,
como qualquer animal de sangue quente
que sente o mundo como um delírio.

É preciso estar além de todo juízo
Para saber o espírito do tempo.
Os que ousam a vida
recusam a razão
em atrevida desmedida
e vontade de chão.

terça-feira, 8 de novembro de 2022

TEMPO E MEMÓRIA

Memória é a consciência ferida pelo tempo.
Há em nós um passado que não para de crescer,
que supera a vida e a morte,
sem se render a qualquer ilusão de eternidade.
Tal passado é o que somos como inumanos, terrestres.
É o que nos faz tudo no nada de uns  nos outros.
Há em nós uma memória que nunca será lembrança.

SOBRE SER LIVRE



Ser livre é escapar ao tempo
no absoluto dos espaços.
É permanecer no aqui e agora,
Tal qual um monumento vivo
ao tédio do simples instante.

Ser livre
é o não ser de fugir do passado, 
do futuro,
 e deste agora
que nos rouba a existência
até apagar a eternidade.


Ser livre é ser nada,
é sempre quase.
É não ter qualquer vaidade.

FILOSOFIA DO QUASE NÃO SER

Tenho buscado fazer da  singularidade do corpo uma impessoalidade onde tudo cabe e nada é possível. 
Tenho tentado equilibrar a vida e a morte até desfazer a ilusão da eternidade, mergulhar na superfície da finitude de tudo aquilo que nos define.
Todos os dias eu aprendo a morrer convencido de que nunca existi.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

VIDA QUE ESVAI

A vida já não pesa nos olhos
ou na ponta dos dedos.
Talvez não exista além da porta
ou do avesso do mundo
que me contempla através do espelho.

Tudo que sei
é que a morte não dói
enquanto durmo e me esqueço.

sábado, 22 de outubro de 2022

REALIDADE

A realidade é tudo aquilo
que me afeta, transforma,
e inquieta.

É corpo e imaginação,
sempre em movimento.

Opressão,
respiração,
silêncio e assujeitamento.

É o lado de dentro
e o fora da prisão.

A realidade é o nos que nega,
o que nos mata e consome,
na afirmação do nada.

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

SONO E LIBERDADE

Preciso dormir profundamente,
 esquecer,
Até que tudo amanheça em  mudança,
e me permita viver 
a ilusão de alguma esperança.

Quero dormir, 
fugir do mundo,provocar e provar algo novo,
qualquer coisa louca além de toda realidade.

Preciso desfazer os fatos, 
as pessoas e o Estado.
Aprender, urgentemente
e entre todos,
a arte da liberdade
na realidade dos sonhos
e na fabulação dos fatos.



sexta-feira, 7 de outubro de 2022

SOBRE A REALIDADE

A realidade está em outra parte.
Ela está sempre ausente de nós,
Dispersa pelo mundo,
múltipla, incerta e sem rumo,
entre o caos e a ordem.

A realidade é um segredo
que a gente inventa
Para suportar a existência.



quinta-feira, 6 de outubro de 2022

EXISTO

Existo
como um provisório arranjo de matéria,
entre a consciência e o sonho do mundo,
na ilusão de algum modo de ser eu.

Existo, como se a existência
fosse possível,
Como se eu fosse importante
e tudo fizesse sentido.


FILOSOFIA PARA ANTI FILÓSOFOS

Não penso para entender o mundo
e nem escrevo para explicar minha vida.
Não promovo esclarecimentos,
nem cultivo sabedorias.
Tudo que sei é o manso desespero,
Minha cotidiana agonia,
de gratuita e inutilmente sofrer os dias.

Pouco me interessa o mundo,
os rebanhos e suas orgias.
Sou feito de tempos, mortes,
e esquecimentos.
Avesso a julgamentos e assujeitamentos,
Não sou corrompido por sonhos de eternidade
ou ilusões de futuro.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

ALEATÓRIA DEFINIÇÃO DE LIBERDADE

Liberdade é saber meus limites
mas transgredi-los todos os dias
 Contra as  necessidades dos simulacros  que nos definem a realidade.

Liberdade é estar sempre além do bem e do mal,
da prisão da moral, dos deuses, e das vaidades.
É não se deter diante de qualquer ilusão de verdade.

Liberdade é não ter identidade,
vontade ou propósito.
É sofrer o tempo, 
Gozar o finito
e morrer de eternidade, saudades,
Abraçado a qualquer pequena nostalgia de algum desejo perdido
sem a menor vaidade.

Liberdade é acumular imaginações e preguiças
enquanto o mundo segue sem sentido, limites e propósitos,
É morrer aqui dentro
enquanto a vida grita lá fora.













quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O MISTÉRIO DOS LIVROS

Um Livro não é feito apenas de letras,
Enunciados não se reduzem a palavras,
Nem o pensamento é escravo de conceitos.

O Livro não é só objeto.
Alguma coisa há nele
além do papel e do verbo
que fechado em si mesmo
Jamais faz um livro.

Há um imaterial acontecer do livro,
algo invisível que nos decifra
através da leitura
e transcende o objeto " livro".

Não reduza o livro a mercadoria
ou objeto feitiche do exércicio de algum poder.






terça-feira, 20 de setembro de 2022

CORPO, VIDA, E MUNDO

O corpo é um lugar de mundo,
mas o mundo jamais será lugar
de corpo.
pois o corpo é menor que o tempo,
a natureza e o espaço.
Ele não dura para ser no mundo.

Viver não está no corpo,
viver é feito de  mundo,
de tempo e de espaço.
Viver não é perecível.
e nós somos um corpo que morre
enquanto a vida é mundo.



segunda-feira, 29 de agosto de 2022

A VIRTUDE DA IGNORÂNCIA

Eu, que pensava  demais,
que sabia das coisas,
e explicava o mundo,
Não passava de um ninguém 
enterrado em palavras.
Qualquer coisa viva,
Inutilmente consciente,
Perdida na  geografia urbana,
entre a fome, o sono,
e o tempo.

Eu que pensava de tudo
não sabia a importância
da minha própria ignorância,
não conseguia escutar meus tantos silêncios.





quarta-feira, 24 de agosto de 2022

ATIVISMO NIILISTA

Inacabado e indeterminado,
Persisto no exercício de mim mesmo,
até a incerteza de ser outro,
ou estar desenganado ou morto
para os dias de hoje.

É certo que não tenho abrigo
ou lugar
em tempos de antagonismos
e racionalismo normativos.

Sou avesso ao fanatismo moral
dos meus inimigos.
Seja ele moderno ou tradicional.

Sei que sou nada,
mas reivindico minha impotência
como arma de guerra,
instrumento de sabotagem e protesto.

Percisto intempestivo contra o mundo,
a humanidade e os deuses,
apesar dos meus limites,
na espectativa de um fim absoluto.






terça-feira, 23 de agosto de 2022

DESEDUCAÇÃO

Nada do que me foi ensinado
guarda vestígio de algum amanhã.
É puro entulho, larva de esquecimentos,
Poluindo o tempo e a vida.

Desaprendo a existência todos os dias.
Quebro regras e paradigmas
para enterrar valores e convicções vazias.
Pouco me importa os pudores e limites
das civilizações.
Nada para mim é sagrado.

Aponto para os anos
nos quais estaremos todos mortos
e o inesperado há de cultivar
em terra incerta
outros modos de existência e vida.
Mas já não tenho mais nada
a aprender.






quarta-feira, 17 de agosto de 2022

IMAGINAÇÃO & PAISAGEM

Espírito é sonho,
matéria é espaço.
E o tempo é o incerto do corpo
entre a imaginação e a paisagem.

Sei que o mundo existe através de mim
mas eu não existo no mundo.
Sou na morte que se move em tudo
um ponto ilusório no campo de forças vivas
do quase infinito combate
 entre  as vontades e representações que inventam a realidade e suas dualidades.



sexta-feira, 12 de agosto de 2022

AS METAMORFOSES DO SILÊNCIO

Escrevo para transformar o silêncio.
Um silêncio que mesmo  imenso 
nunca para de crescer
e mudar nosso sentimento de mundo,
ou tudo aquilo
que ainda é possível escrever.

Este silêncio, misto de vida e de morte,
contém suspiros, gritos, rabiscos,
E, até mesmo, o ilegível de nossas angústias.

No fundo tudo que há para escrever
é o próprio silêncio em seu vir a ser.




terça-feira, 9 de agosto de 2022

INVENTAR A SI MESMO

Inventar-se é um ato cego,
Tanto quanto um processo,
que não carece de finalidade.

Inventar-se é emergir,
Cinfundir-se com a própria emergência.
Nada acontece além disso.
Tudo se inventa.

Não há profundidade,
fundamento ou razão,
onde todo acontecer é simulacro.

Não queira tirar disso
qualquer fundamento,
verdade ou conclusão.

Inventar-se é ocultar-se
no gratuito exercício de aparecer.
pois toda presença é incerteza
contra toda ilusão de ser.








segunda-feira, 1 de agosto de 2022

FUGA QUASE ABSOLUTA

Na soma de alguns tempos,
Lugares, músicas,
& Letras,
Inventei desvios e devaneios,
perigos e segredos,
Para fugir de tudo,
Renegar a vida
E o mundo,
Onde fui parido e esquecido
no  delito de qualquer delírio alternativo.



Criei o escândalo do meu erro mais certeiro,
Para sobreviver ao absurdo,
Cuspir nos doutos e eruditos,
e vomitar a  fábula de nossa perecível e duvidosa
Condição humana. 

O resto da minha história
é deserção e catástrofe
Numa linha reta para o ponto final
que desfaz toda ilusão de eternidade.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

MISTÉRIOS TELÚRICOS

Nem tudo se degrada em palavra.
Há segredos na alma da matéria 
Que em silêncio e inconsciência
 reinventam a terra e o corpo
E duram além do instante incerto que os transcendem
Como precário e humano acontecimento.

Tais segredos acontecem além do espaço e do tempo,
Aquém do eu e dos outros,
Atravessando a vida em todas as formas inumanas e terrestres sem qualquer precisão.

Na infinita superfície das coisas mínimas
 os paradoxos coincidem os opostos
E transcendem a ordem que rege as palavras
E nos limitam a inteligência e a vontade ingênua de verdade,
Onde há apenas metáforas.

Tudo isso nos escapa,
Mas age dentro da gente
Na imanente presença de Gaia
Que tudo envolve no caos do seu ventre.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O NÃO SENTIDO DA POESIA

A poesia só faz sentido
Como intuição do sem nome da vida,
Como antecipação de um tempo absoluto,
Onde a realidade é um  sonho absurdo.

A poesia exige o corpo refeito em mundo
E o mundo desfeito em corpo.
Ela é a revelação inumana das coisas,
A superação do homem como medida da experiência.

A poesia é a quebra da representação,
A palavra incendiada e des- sacralizada.
Ela é o martelo que nos diz 
Que já é tempo de superar todos os rebanhos,
Enterrar tudo que é gregário,
E assumir de vez a insignificância de todo existir e presença.





quarta-feira, 20 de julho de 2022

O SEM NOME DA LIBERDADE

Liberdade não é uma palavra,
Mas a intuição de outro modo de vida,
De qualquer coisa que escapa ao nome,
A norma, a forma, e a lei.

Liberdade é aquilo que nos arde
Além da realidade,
Que foge ao tempo,
Ao espaço, identidades, poderes e mundos.

É a força de uma imaginação selvagem,
Que transcende os opostos,
Que cria na medida 
Que reduz tudo que existe
A incerteza de um sonho.

Liberdade é a arte,
Breve é a vida:
Solve et coagula.

terça-feira, 5 de julho de 2022

A VELHA ÁRVORE

Sou a velha árvore
Que me viu crescer,
Que soube a morte
Das coisas
Em seu próprio tronco
E cujas raízes
Buscaram o inferno
Para renascer.

O que fez nela o tempo
Que sonha nossas vidas?
A árvore não sabe dizer 
No invisível da memória
Que transcende a geografia.

O quintal vazio
Tem rosto de cemitério.

sábado, 2 de julho de 2022

A VIDA E O MUNDO

Afinal,
o que a vida se torna hoje
no além dos dias e das noites?
O que se faz mundo
enquanto o passado cresce
e algo em nós se insurge
contra o espírito da época?

Na criação do si mesmo
desaparecemos
no processo incerto
de um permanente nascer das coisas.

A arte nos reinventa no jogo de forças
do movimento de uma natureza múltipla
e tudo é transvalorado
na aventura de tornar-se,
ser em devir,
Imersos em um ético e estético exercício de consciência,
onde a vida é um ato contínuo de imaginação e indeterminação do mundo,
onde não cabe mais a ilusão do tempo presente,
nem a conveniência de qualquer segredo.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

DES-CONHECIMENTO

Minha percepção e pensamento
não da conta do mundo, 
do universo, 
e nem mesmo do microverso da vida
do meu vizinho.

A realidade escapa ao conceito,
a palavra, ao jornal,
a todo artifício humano
destinado ao desvelamento do ser das coisas.

Pois nada é tal como concebemos.
Nada é real.

Toda realização humana
é um exercício de imaginação
e no raso profundo do mundo
impera a beleza inapreensivel do caos.
Um dia eka será arrebatadoramente visível!



LIBERDADE E IMAGINAÇÃO

Não importa o tamanho
dos meus limites.
Em todo espaço 
onde me faço corpo
invento a aventura
de ser livre.
Nenhuma forma de prisão,
nenhuma força ou opressão, 
diminui a potência de nossa imaginação criadora. 

terça-feira, 28 de junho de 2022

ASSIGNIFICANTE

Tudo em mim
é arcaico,
passado,
e intempestivo
no eterno retorno do futuro.

Nada em mim pertence ao presente
ou se pretende infinito.

Sou essencialmente mudança, 
duração efêmera
que não tem limite ou sentido.


sábado, 25 de junho de 2022

INCONSCIÊNCIA

A existência é questão de imaginação. 
Pois, a realidade,
se existe,
escapa as percepções e convenções humanas.
Tudo em nós é superfície,
ilusão
ou, simplesmente,
signo e símbolo.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

ONTOLOGIA LIBERTÁRIA

Minha existência não tolera
tutela estatal ou moral.
É corpo e movimento
no raso abismo de si.

É ato contínuo de potência,
pulsão libertária 
que se inventa memória,
duração e criação de mundos,
entre mitologias e imanências.

Minha existência é liberdade,
singularizada experiência 
do além do humano
em devir natureza.




domingo, 12 de junho de 2022

O PARADÓXO DO SILÊNCIO

Tenho aprendido a saber o silêncio,
a presença muda das coisas
quando despidas de informação,
livres de qualquer exigência de comunicação ou significação. 

Onde não há sujeito e objeto
não se percebe os limites entre as coisas.

Tudo se mistura na composição da experiência do aqui e agora,
na decomposição do eu na inconsciência do sensível em toda sua inconstância. 

Pois no silêncio tudo se torna vivo, incerto e inumano.
Cada coisa participa da outra
tornando a vida incompativel
com a ilusão de nossa condição humana.

O eu e o mundo são uma única coisa em movimento
e as palavras são desnecessárias
onde o mínimo  é infinito e o máximo imperceptível.






terça-feira, 7 de junho de 2022

TEMPO LIVRE

Preciso de um tempo livre
onde não caiba o dia de 24 horas,
o lazer previsível do entretenimento,
o descansar programado, coletivo e vazio
de passear no  parque das redes sociais.

Preciso de um tempo livre pra fugir da informação, do mundo,
do preço das coisas,
e saber o corpo despido do ego,
do desejo,
 e da necessidade mesquinha de ser nos outros.

Preciso provar o nada, o vazio,
onde a imaginação aflora
na superfície da pele de um silêncio quase absoluto,
onde tudo é imanente e telúrico,
no verde musgo do ventre de um antigo poço.

Preciso de um tempo livre do  tempo sem retorno que nos persegue e inventa modernos.

Preciso de um tempo que me faça ser tempo,
onde eu não precise mais de tempo.



domingo, 5 de junho de 2022

TODA VERDADE ESTA MORTA!

A verdade é uma doença 
que apodrece as palavras,
que anoitece a percepção, 
e nos embriaga de certezas.

A verdade é um misto
de poder e delírio 
contra a natureza, a morte,
e o ilegível do lado negro da lua.

A verdade é a doença 
que nos torna absurdamente  humanos,
indescentemente modernos,
contra o ocaso e a incerteza 
de nossa própria existencia.

É preciso enterrar de vez 
o cadaver de deus,
do homem e da verdade,
antes que seja tarde
para desistir do mundo
e se entregar aos quatro cantos
da imaginação  dos corpos e dos contágios.

A revolução dos virus e dos quase mortos 
que recusam a miséria  de nossa cotidiana realidade ascética
de putrefada saúde e  ilusão  de alma,
está apenas começando.

DESENCONTRO

Há um desencontro,
sempre renovado,
entre o corpo e o mundo,
entre o tempo e o espaço,
na coincidência da vida e da morte.

A consciência é uma ferida aberta
em nossa percepção,
uma agonia, uma ilusão.

Há apenas um desencontro
entre o corpo e o mundo
no mais profundo acontecer
da natureza e do inumano.

A natureza é aquilo que nos mata.



sábado, 28 de maio de 2022

DEFINIÇÃO DE LIBERDADE

Liberdade
é saber a vida
como obra de arte.

É afirmar-se como potência, como vontade cega,
onde todas as coisas coincidem 
despidas dos valores e verdades
que deformam o mundo.

Ser livre é viver o jogo de forças 
que nos faz natureza,
desejo e imanência, 
além dos artifícios humanos.

É saber a intuição  do inominável,
a existência como movimento
na imensidão das coisas pequenas.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

A VIDA COMO DEVIR



O devir da vida 
é inumano,
imanente,
e insurgente,
na composição de forças, 
que define a terra no universo.

Nele
Tudo retorna no sem tempo
além da ilusão da existência
entre matéria e anti matéria.
Tudo é impreciso no sem sentido das coisas
no sublime espanto
do corpo e do caos.

O devir da vida é experiência de movimento
que não se conforma a razão
e escapa a toda definição
no mais intenso do sem tempo. 


 


quinta-feira, 19 de maio de 2022

CONTRA IDENTIDADE

É no incerto ponto de encruzilhadas e
fronteiras
que me invento no movimento do tempo,
que me faço constantemente outro,
que me desfaço de mim mesmo,
afogando no mundo.

Sei que no fundo existo vivo e morto,
que sou um permanente esforço, esboço,
de composição incerta de um corpo quase inumano na anti identidade do desejo.
Entre coisas, maquinas e delírios,
sigo decomposto e exposto.



quarta-feira, 18 de maio de 2022

SOBRE O CÉU E O CHÃO

Existe um céu
para cada  estrela que se esconde
no infinito da escuridão
através do silêncio do universo.
Pois o céu acontece apenas no ato de olhar.
O céu não existe.
Esqueçam tudo que dizem sobre o céu. 
É mais importante inventar o chão. 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

ALÉM DO SONHO E DA REALIDADE

Espero que o mundo mude
antes que meus sonhos morram.
Antes que a vida se torne de vez mero artifício, 
utilitarismo vazio,
maquinação doentia,
além do limite do compreensível.

Espero que o mundo morra
quando eu acordar do meu sonho
para esgotar de vez
nossa maldita realidade cotidiana.

O sonho é tudo que nos acorda,
que nos transforma,
contra os estreitos limites do mundo contemporâneo. 

Mas já não  nos basta a realidade,
como também não nos conformam os sonhos. 

terça-feira, 10 de maio de 2022

MUDANÇAS

Mesmo em silêncio, 
cansados e impotentes,
é possível criar,
produzir mudanças, 
quebrar as inércia que nos aprisionam aos rebanhos
e bolhas de realidade.

Há sempre algo que foge,
que se recusa,
que desafia a realidade.

Há sempre algo inumano
no fundo de nós
que não busca soluções 
ou resposta,
algo que nos revela
o inteiramente outro
que nos mata um pouco,
todos os dias,
que nos tira
qualquer ilusão de identidade
e lembra que a arte
é mais importante que a vida.

Há sempre muita coisa acontecendo
enquanto nos destraímos
com a realidade.


.
 

domingo, 8 de maio de 2022

A PALAVRA COMO FERIDA

A exterioridade do que nos fere por dentro é a palavra.
Palavra que nos atravessa na coincidência do corpo e do mundo,
parindo significados.
A poesia é esta palavra que define o informe de uma ferida invisível rasgada na consciência. 

sábado, 7 de maio de 2022

CONDENADOS

Vivemos como crianças que pensam como deuses.
Mas não passamos de animais doentes.

Felizmente não há futuro para o homem no sem tempo da natureza.

Estamos todos condenados
ao além do humano,
a ruína da civilização,
e ao futuro do inumano. 


LIVROS

Ninguém aprende nos livros
o sentido da vida.
A vida não  tem sentido.
O que os livros ensinam
é que viver não basta,
a realidade mata,
e a imaginação nos inventa e transforma.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

AS METAMORFOSES DO PASSADO

Todos os dias
acordo para o passado.
Um passado que nunca é o mesmo,
que me faz outro,
na triste presença de muitas ausências.
 
O passado é como um sonho
que me reinventa o diurno
através de um sentimento estranho de mundo
onde, absolutamente nada
é para sempre,
e a existência não passa
da ilusão de um sonho.

Um dia acordamos para o nada
e o passado desaparece com a gente.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

O TERRITÓRIO DO SILÊNCIO

Há entre o eu e o mundo
uma autônoma zona de silêncio,
um campo neutro,
onde me desinvento
a margem de todos os sentidos
no absoluto do tempo.
Tudo parece em fuga
dentro do campo deste silêncio
que contem tudo aquilo que não pode ser dito. 

O CORPO ANTI BIOGRÁFICO

A vida além da ilusão biográfica,
define o corpo que persiste em si mesmo,
que se desgasta e se apaga,
em sua rotina fisiológica.

Corpo que se confunde com o caos
e com as coisas,
que se reduz ao espaço e ao movimento,
contra toda psicologia
até o limite da bıologia
e do silêncio que nos traduz a morte. 
Afinal, do que nos serve
uma biografia
se é o corpo que nis faz natureza,
mundo e tempo?

quinta-feira, 28 de abril de 2022

ADEUS A VERDADE



Através do jogo do verdadeiro e do falso perdemos a medida da ignorância, esta expressão da imaginação e da sabedoria, que sempre nos desafia a superar o inimaginável, a conceber o impossivel  contra os limites do pensável. 
Criar é reinventar sempre de novo o mundo além de qualquer noção de verdade, é avançar sem parar sobre o incerto e o desconhecido
na invenção negativa de si mesmo como um instante breve de realidade no positivo da liberdade.
O mundo é um caos de pespectivas.
Através do jogo do verdadeiro e do falso perdemos a medida da ignorância, esta expressão da imaginação e da sabedoria, que sempre nos desafia a superar o inimaginável, a conceber o impossivel  contra os limites do pensável. 
Criar é reinventar sempre de novo o mundo além de qualquer noção de verdade, é avançar sem parar sobre o incerto e o desconhecido
na invenção negativa de si mesmo como um instante breve de realidade no positivo da liberdade.
O mundo é um caos de pespectivas.

A VIDA QUE SEGUE

Minha vida segue,
como sempre,
provisória, inacabada,
e incerta.
Nada nela é verdadeiro ou seguro,
nem mesmo minha consciência 
que, através das coisas,
é outra no exercício do verbo.

Quanto mais tempo existo
 mais diverso me faço de mim mesmo
diluído em meu próprio corpo.

Qualquer ilusão me sustenta,
disperso, 
enquanto cresce dentro de mim
um mortal silêncio. 

quarta-feira, 27 de abril de 2022

ENTRE O DISCURSO E O SILÊNCIO

No tribunal, nas praças e palcos,
circulam discursos 
que produzem o mundo.
Signos e símbolos em movimento
atravessam os corpos
fabulando, criando,
produzindo sentido.
Mas nenhuma palavra
transcende o silêncio 
que nos habita
no desenho dos dias
onde o silêncio é mais intenso 
do que qualquer palavra.

AS ILUSÕES DAS URGÊNCIAS

Todas as minhas urgências são banais.
Não importa o que me encanta
entre a necessidade e o sonho.
A vida segue sem esperanças
no desastre do mundo comum.
E a realidade não cabe
em qualquer existência. 
O caos é tudo que nos inventa
na multiplicidade em movimento
das mutações do efêmero.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

A ESCURIDÃO DOS DIAS

Os dias já não passam como antigamente.
Também nunca foram tão efêmeros
e vazios de futuro.

Quase não se nota o sol,
o céu e o tempo,
em uma época coberta por tanta escuridão,
onde é quase impossível enxergar
além do momento.

Provavelmente não haverá memórias destes tristes dias
tão indiferentes a vida
sobre os quais é impossível calar.
Tudo será redusido a fatos e dados.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

UM MUNDO ALÉM DO SER

Busco um mundo sem substância,
além da essência
e da aparência.

 Um mundo
que me embriague
através da experiência
de não ser mundo,
 escapando as armadilhas
de uma boa consciência. 

Um mundo onde eu aprenda
a sonhar o oco das coisas
provando a vertigem dos anos
na casca quebrada de um instante desfeito em palavras. 

Um mundo sem explicações,
problemas e soluções
no jogo do eu e dos outros.

Um mundo feito de tantos mundos
que não possa ser chamado de mundo
no paradoxo de um finito infinito
além da verdade e da ilusão.

Um mundo que não seja simplesmente um lugar,
mas um modo da vida nos acontecer,
muda e profundamente,
no mais intenso da pele
e além do Ser.


 









quarta-feira, 6 de abril de 2022

ANONIMATO

O anonimato nos lança ao invisível,
ao incomunicável e ilegível 
do lado de dentro da vida.

Ele não define apenas o status de desconhecido
que exibimos na multidão,
ou o nomadismo
que nos torna intimos da solidão.

O anonimato é a inconsciência de si e dos outros,
é estar fora das identidades,
é aquilo que nos torna estranhos, inumanos,
e livres do próprio nome.

É ser muitos e ninguém 
em um profundo desraizamento de si;
É um embriagar-se de sensivel, 
de corpo,
no avesso do mundo possível.



A VIDA É RISCO

A VIDA É RISCO

É perigoso viver.
Não importa quantas verdades se leva no bolso,
Há sempre riscos e incertezas
espreitando no caminho de casa.

Nada é seguro
ou está sobre controle.

Estamos sempre em perigo
e a mercê do inesperado.
Por isso é preciso aprender o cultivo de alguma forma de coragem.

A CONDIÇÃO NIILISTA

A condição niilista é a libertação de qualquer confissão de verdade, de qualquer agenciamento que nos reduz a situação de uma maquina semiotica, é  a recusa de tudo aquilo que nos conforma a  capturas e assujeitamentos que pacificam consciências. 

O niilista é aquele que ri de si mesmo,
que desaprende o mundo,
que não se importa,
e segue indiferente,
ciente que tudo nos leva a nada.




terça-feira, 5 de abril de 2022

O FUTURO DO PASSADO

O futuro muda o passado
através das lembranças
que sonham o presente.

Nunca somos os mesmos,
pois a vida é sempre outra
enquanto esvaímos no tempo.

Nada nos obriga ao Ser.
Tudo é impermanência
e desaparecimento.
Tudo é devir e imanência
no futuro do passado
que funda a arte
como um exercício de morte.




domingo, 3 de abril de 2022

O ENÍGMA DO ROSTO

O rosto é uma fabulação inerente a sensibilidade moderna que inventa o indivíduo entre o biológico e o político. Nele se inscrevem valores, signos, poderes. 
Através dele, a alma se desenha claramente como prisão do corpo, pois a expressão facial  foi convertida em uma metafísica da interioridade e da identidade. Mas o que é esta interioridade e identidade além de simulacro, um silêncio que nos veste a pele e transveste a consciência através dos signos?
Neste sentido, longe de individualidade, o rosto expressa a multiplicidade, a diversidade do único, o ilegível da experiência humana, a banalidade e nulidade de sua própria expressão. 
 O rosto é o outro do olhar normativo que nega em nós o animal e impõe o impessoal da civilidade ao corpo. Corpo que deve ser sempre escondido ou representado pelo rosto, sempre previsível e sociável, ou, simplesmente, classificável.

Carlos Pereira Júnior 
*******
"A expressão é um elemento crucial no desenvolvimento do indivíduo ocidental. Está aí, toda importância do rosto, que constitui o traço sensível desse processo. O rosto é ao mesmo tempo o lugar mais intimo e mais exterior do sujeito, aquele que traduz mais diretamente e da maneira mais complexa a interioridade psicológica e também aquele sobre o qual recaem as mais pesadas restrições públicas. São os rostos que se perscruta antes de tudo, são os olhares que se procura captar para decifrar o individuo. Isso explica o paradoxo central que percorre este livro e que é constitutivo do indivíduo  moderno: esse processo, que é ao mesmo tempo, indissoluvelmente, o de uma individualização e de uma socialização pela expressão,  incita à expressão da interioridade, a manifestação dos sentimentos, ao mesmo tempo em que impõe ao rosto o silêncio,  relativo ou profundo, da inexpressividade."
Jean-Jacques Courtine, Claudine Haroche. História do rosto. Exprimir e calar as emoções ( do século 16 ao começo do século 19). Petrópolis: Vozes, 2016, p.244-245.

domingo, 27 de março de 2022

O INFINITO DA FLOR

Há mais vida
no corpo de uma flor
do que realidade
em uma forma humana.

A verdade da vida
é que não existe verdade.
Todos os valores
podam a experiência
do plural e da imanência 
que devem natureza.

O infinito da flor
é menor do que um dia de jardim.

terça-feira, 22 de março de 2022

INTUIÇÃO DE VIDA

Sei dentro de mim
uma estranha melodia
que inventa palavras,
uma percepção que devêm
em consciência,
 que foge,
que busca,
qualquer coisa inominável
que define a existência 
como natureza 
além do humano
entre a percepção e a necessidade de criar.

domingo, 20 de março de 2022

ESCRITA NIILISTA

Escrevo a vida
para inventar distâncias 
entre o eu e o mundo,
entre o passado e o futuro.

Minha consciência desrazoável 
duvida de tudo,
desacredita radicalmente da existência,
da experiência das coisas,
do significado do fluxo de momentos incertos
que me torna um ser único
em movimento
entre o dentro e o fora
da percepção.

sábado, 19 de março de 2022

PENSAMENTO DIONISÍACO

Dance o pensamento
até  o limite do tempo,
até a vertigem da reflexão. 

Faça do corpo uma idéia em movimento
através das afecções, 
das imagens consteladas
na imaginação. 

Que não haja fronteira
entre a vida e o mundo,
o eu e o outro,
entre a razão e o absurdo.

Dance o pensamento
e descubra o canto
de uma nova terra
na intensidade do chão,
na destruição do Uno e do absoluto.

Embriague-se de matéria,
em um fluxo de vida, morte, 
e ilusão. 

sexta-feira, 18 de março de 2022

MORTOS VIVOS

As pessoas parecem felizes em uma sociedade triste, porque desconhecem tudo aquilo que a vida poderia ser.
Existimos em uma sociedade de mortos vivos,
de corpos domesticados,
cotidianamente assassinados por relações de poder.

VIDA AUSÊNTE

A vida é qualquer coisa que anda por aí desencontrada de nossa existência. 
Perder-se da vida foi, afinal, a mais elementar condição da evolução humana.
Viver não está em nada que nos acontece.

quarta-feira, 16 de março de 2022

O MUNDO NÃO É UM LUGAR

O mundo escapa ao corpo,
não cabe na consciência, 
na imaginação, 
ou no devir de nossas vivências.


O mundo, simplesmente,
converteu-se em signos em movimento,
já não define o sensível ou
o visível.
Reduziu-se a discursos,
conceitos e informações,
que desafiam todas as certezas
que nos convocam a ação. 

O mundo é um lugar que não existe
mas nos surpreende em todos os lugares.

O mundo é onde estamos sempre a um passo de estar.



 







terça-feira, 15 de março de 2022

OS DIAS PASSAM

Os dias passam cegos
no teatro da tela,
no virtual,
no simulacro,
de imagens prisão. 

A realidade oca embriaga o olhar,
inventa o sem tempo do novo acontecer das coisas.

Os dias passam
nas horas do sempre igual
e nada mais acontece
dentro de nós.

sexta-feira, 11 de março de 2022

DA NATUREZA

A natureza segue indiferente a si mesma.
Dela estão ausentes valores,
moral e propósito,
toda miséria produzida pela imaginação humana.

A natureza é 
puro jogo de forças
na inconstância de tudo que existe.
Ela não tem alma,
e nem mesmo sabe 
que nos sonha.



MUDANÇA

O mundo nos muda
no avesso dos dias
e ocasos do tempo.

Nós, não mudamos nada.
Somos apenas movimento,
finitude e imanência. 


quarta-feira, 9 de março de 2022

NEO PAGANISMO

Há uma vida que
paradoxalmente
nos falta
por tão intensamente
nos preencher
as profundezas do ser.

Há uma vida que é natureza,
comunhão entre a carne e a Terra.

terça-feira, 8 de março de 2022

A VIDA COMO CONTRA REPRESENTAÇÃO

 

Vida é experiência,

um campo de intensidades,

de movimentos,

jogos de forças,

que nos transformam

na indeterminação do mundo vivido.

 

Vida é se perder de si

entre o outro e a natureza

Além de toda representação.

DAS COISAS TOLAS

 

Das coisas tolas

que me povoam a cabeça

não consigo escapar.

Elas são parte constituinte de mim,

inerentes a minha banalidade,

as minhas desfuncionalidades.

 

São elas as responsáveis

pela minha imprevisibilidade,

pela minha incapacidade

de bem viver no mundo,

ou me adequar ao conforto

de qualquer identidade.

 

Devo as coisas tolas

que me povoam a cabeça

todos os meus traços

de liberdade.

 

sábado, 5 de março de 2022

O ENÍGMA DA MORADIA

A moradia é o lugar  do corpo no mundo. É a vida como duração e memória de experiências entre geraçöes. Logo, também é devir e mudança, ou, simplesmente, descontinuidade.
O morar nunca é sedentário. Ele acontece mais no tempo do que no espaço,  enquanto consciência e valoração de vivências e cotidianos.
Desta forma, é preciso desespacializar a moradia e habitar o tempo, re-significando a geografia de nossas vidas. Morar é saber-se corpo e natureza, é não caber realmente em parte alguma da realidade do mundo.

sexta-feira, 4 de março de 2022

NATUREZA E NIILISMO

Despida da máscara da verdade,
a vida se revela intensa
 experiência do desrazoável das coisas.
Há somente a vertigem das sensações, 
o movimento das afeições
transbordando imaginações.

Cada objeto se faz sujeito de alguma imagem pensamento
que  conduz ao estranhamento
de um mundo que através de cada coisa
se apresenta inédito, 
que se faz outro através do corpo
que redescobre o vento.
A vida se reduz assim
a natureza nua que nos desperta
para uma nova infância.



O ENIGMA DA FLOR

A flor dura apenas alguns dias em um jardim que nunca é o mesmo. E nós, que nos julgamos mais complexos do que uma flor, cultivamos a ilusão de que nossos anos escapam a natureza, que valém mais do que  a eternidade desfeita em um dia de jardim.

quarta-feira, 2 de março de 2022

NO MUNDO DA INFORMAÇÃO

Os olhos cansados diante da tela
já não passeiam mais.
Mal sabem percorrer o texto
cujo sentido se esvai em informação. 
Texto que é seguido de outro,
no desfile de um dizer banal,
como degradadas paisagens perfeitas
de qualquer comercial.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O HOMEM VERDE

Visto o verde musgo
das pedras 
que dialogam com o rio.
Existo entre a terra e o mar
ao sabor do vento
sem o peso de estar
em qualquer lugar.
A natureza ensina a beleza
de uma vontade dispersa
que ignora o querer
e sabe sonhar.
Vestido de verde
vivo o encantamento do mundo
entre os animais selvagens. 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

SOBRE O PASSAR DOS ANOS

Sofremos os dias que nos inventam
como se as horas
fossem palavras já ditas, 
escritas em nossas rotinas,
e o futuro fosse feito de algumas  certezas.
Mas nenhuma verdade
nos revela os anos.
Tudo é sempre novo e desconhecido.

A vida e o tempo nunca envelhecem,
ao contrário dos nossos corpos
e dos nossos dias
que quase nunca
suportam memória.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

OS DOIS LADOS DA PALAVRA

O lado de dentro da palavra é a vida. Vida que quando não é dita ou escrita, escapa através do silêncio que nos devora.

O lado de fora da palavra é a escuta que nos transforma
reinventando a vida que nos cala
e aos poucos vai embora.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

O SENTIDO DO SILÊNCIO

Refugiados em alguns discursos, buscamos abrigo contra a perplexidade que nos obriga ao silêncio.
Mas é um esforço inútil...
Lutamos contra a indeterminação de um luto universal
que denuncia nossa carência ontológico, nossa falta de mundo, que desfaz o sentido de qualquer palavra.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

SENSIBILIDADE BARROCA

No labirinto barroco das oposições,
luzes inventam sombras,
na vertigem de ermas alturas.
Tudo é incerteza e evasão,
na angustia da distância,
nos abismos da imaginação,
na fome crua de redenção,
entre a sensualidade e o inatingível.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

O RIDÍCULO DA MODERNIDADE

A modernidade, com seus saberes e disciplinas, com sua razão pudica, reduziu o homem a um animal doméstico.
O industrialismo e a mercantilização da vida tornarnaram,  no mínimo, ridícula a declaração dos direitos universais...
A metanarrativa de uma razão emancipadora e tecnicista nos conduziu a domesticação das consciências e ao controle estatistico dos corpos, agora reduzidos a triste categoria de população.
A disciplina da educação e do trabalho fez do "cidadão republicano" um bichinho adestrado e dedicado a mera sobrevivência, resignado aos poderes que o atravessam na produção de sociabilidades e razões de Estado.

SOBRE A REALIDADE

A realidade,
é feita da vida crua
dos corpos,
da orgia das imagens,
e meta linguagens,
que tranacendem a razão e a verdade.

A realidade é niilista,
absurdista, e dadaista.
E faz questão de näo fazer sentido
contra todas as verdades humanas.

A realidade não cabe em nossas cabeças
e muito menos nos livros.







sábado, 12 de fevereiro de 2022

META IMAGINAÇÃO

Imagens nos criam
na invenção do mundo.
Imagens sem tempo,
infinitas,
e quase intraduziveis.
São elas que nos decifram
na trama dos pensamentos.


Metamorfoses de imagens
embriagam a percepção
além dos sentidos
e tudo se faz movimento
e indeterminação.




quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

TERRA EM TRANSE



A America não é ocidente, nem oriente.
A América é um em devir inumano onde jamais fomos modernos, onde o intempestivo nos surpreende na gaia ciência de um existir intensivo, incerto, além do telúrico e a luz de um céu profundo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

DESPERSONALIZAÇÃO E NEO PRIMITIVISMO FANTÁSTICO

Talvez "eu" seja apenas um traço constante de percepção e consciência, um organismo abstrato e despersonalizado, exteriorizado em mundo, movimento, e linguagem.
Existimos impessoalmente ao sabor dos afetos, na sucessão da variação, na duração de um único instante mutante.
Talvez eu seja nos outros um outro de mim mesmo no indeterminado exercício de estar provisiriamente vivo.
Talvez, toda matéria semiótica que nos significa a vida seja a  realidade de nossa ilusão primaria, ou, ainda, seja a desnaturalização civilizacional da sobrevivência, da persistência, que me faz animal vivente, imerso em natureza e alienado dela no exercício do verbo que aprisiona o corpo.
Talvez eu seja um uivo encarnado e silenciado de um outro ser perdido em multiversos.


domingo, 30 de janeiro de 2022

MILITANTE NIILISTA

Vi a morte
onde todos
buscavam vida.
Logo, rasguei minha sorte,
as palavras e seus significados.
Agora sou livre de todos os discursos,
de tudo aquilo que se pretende  verdade.
Existo a margem da sociedade,
entre a revolta e o niilismo.

FUGA N° 0

Desencantado do mundo,
decepcionado com o humano,
e doente de vida,
passei meu passado a limpo
no limbo dos futuros perdidos.

Sofri todos os destinos amargos e imaginaveis
para depois desaparecer em um grito,
transgredindo todos os limites
de nossa triste condição humana.

Desfeito no intempestivo,
roubei, então, do nada o infinito,
para abrigar meus vazios
nos incertos cumes do niilismo.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

PASSADO FUTURO

O passado sempre fala ao futuro.
Pois o amanhã, 
de alguma forma,
já é passado.
Tudo está sempre a escapar
na perenidade dos atos
que me transformam
e transportam a um futuro
que me lança constantemente ao passado.

ANTI DEFINIÇÃO DE VIDA

 

A vida é qualquer coisa

que eu não sei onde está.

Só sei que não basta

estar vivo

para saber da vida

E cada um segue sua vida

entre vidas

pouco vividas.

a vida é sempre

algo além

de nós mesmos.

Mas não tente

tocar

a vida....

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

ÉTICA, ESTÉTICA, E POESIA

O mundo será sempre pequeno para os filhos da poesia.
Pois a arte ensina profanas teogonias, fabulações selvagens, contra a miséria da realidade de todos os dias.
Transvalorizar a vida, transfigurar a palavra, implodir o corpo no devir do ser e do não ser, é o xamânico ofício e o exercício ético estético do saber poético anti moderno em seu doce delírio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

MUITO ALÉM DO OCIDENTE

Meus dias não  cabem no tédio do aqui e agora.
São vastos imateriais territórios
dos meus passados presentes.

Pois sou na coincidência de tempos
que me transcendem e formam,
entre a memória e o sonho,
de muitos urgentes antigamentes.

Agora mesmo, há um brilho de infância na mesa do almoço, 
um sabor  dos outros,
que me preenchem de ausências. 
Nos gestos indiferentes de algum intimo desconhecido,
surpreendo, por exemplo, a sombra de um velho amigo.

O tempo foge ao espaço 
e se espalha livre como um vento bravo
que me embriaga os sentidos
no sentimento de um instante movente pelo labirinto das épocas.

Há algo desfeito de mim
na sombra de uma árvore que me viu crescer,
na música do tempo dos meus avós
que me rouba os ouvidos.
Tenho muitas idades no fundo do corpo,
mas nenhuma delas me explica 
ou reduz a inércia de uma identidade qualquer.
Persisto desfeito em natureza,
além das certezas do humano,
no eterno retorno do informe
onde dorme minha finitude.
É sempre em todos os tempos
que tudo se transforma no agora.






 




OS DES-SENTIDOS DO TEXTO

 

Cada texto é uma ferida rasgada na pele da realidade.

Um procedimento evasivo, agressivo,

contra tudo aquilo que existe,

além do nome, da palavra,

e do sentido.


Cada texto é um exercício de calculada violência

contra a mudez do mundo,

contra o branco do papel e da tela.

É uma busca pela nervura incerta do real

que transcende o encadeamento das frases.


domingo, 23 de janeiro de 2022

PÓS HISTÓRIA

Passados transbordam o presente
e afogam o futuro.
A memória não  cabe
nos livros de história.
Mas lembranças definem a existência 
a deriva no oceano do tempo,
Enquanto no vazio do eterno
triunfa sempre o esquecimento.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

NIILISMO E CONSCIÊNCIA

Há uma distância entre o pensamento e o fato,
entre o afeto e o ato,
o tempo e o espaço. 

Há uma ausência de consciência 
onde o corpo existe,
e a vida acontece
dentro e fora de nós,
no inumano devir de todas as coisas.

Existimos na angustia de sofrer distâncias,
de saber a vertigem do abismo de ignorâncias,
onde nada se encaixa
na gramática das significâncias.

Contra toda linguagem humana,
a natureza é ilegível na inconstância das formas.
Tudo é caos e silêncio que nos transforma.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

VIDA E SILÊNCIO

O tempo é sempre jovem
no espaço mutante
onde nossos corpos envelhecem.
Tudo é inconstante.
A vida é um inconsciente. 
A realidade acontece onde nos escapa.
E toda linguagem é silêncio.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A URGÊNCIA DA EMBRIAGUEZ

Embriagado de urgências
quebrei a vidraça do presente,
arrombei a  porta do futuro,
na contramão da eternidade.

Enquanto as horas fugiam dos meus  intempestivos atos,
Avancei contra o limite
das leis, do pensar,
e do querer,
sem olhar para traz.

Afinal, é urgente correr
e transgredir,
provar desrazões,
ontem, hoje, e sempre.

É preciso avançar e abraçar o inesperado,
inventar o inédito
contra a normalidade do tédio.
Nada mais é sagrado.

Apaguem todas as respostas e soluções
na definição  de novos problemas e questões. 

É preciso perder-se,
desencontrar-se ,
e respirar o informe infinito
até que outros mundos sejam possíveis.

Que a vida seja urgente,
inadiável, no intenso 
 devir de qualquer embriaguez possível. 

Embriagado de urgências 
eu pulei do telhado!











sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O EU COMO SIMULAÇÃO

Eu, que por fora, 
pareço com todo mundo,
que vivo como e com os outros,
enraizado na superfície dos dias,
não sou mais do que a ilusão de um rosto.

Meu nome, persona,
endereço, ou número de identidade,
vestem precariamente meu corpo,
mas nada revelam do que há
por dentro deste eu concreto 
que acena nas ruas,
que vomita silêncios no prato do almoço. 

Por dentro de mim
corre o avesso das coisas,
a indeterminação biológica
e o absoluto do tempo que me faz absurdo na abstração do mundo.

Por dentro de mim tudo é mudo.










quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A REALIDADE COMO ASSOMBRO

A realidade não cabe na frase,
escapa aos conceitos,
a erudição vazia da Academia,
a miopia da pesquisa empirica,
e as ilusões da razão e da ordem estabelecida. 

A realidade é selvagem e
assignificante.
Pluraridade de forças e tensões, 
onde tudo é devir, indeterminação, e caos. 

Ela foge ao dizer do poema,
aos nossos dilemas,
angustias, certezas e incertezas de ocasião. 

Há quem diga que a realidade
não tem tempo ou espaço, 
que é um delírio dentro da consciência,
e que a existencia é incompreensível
 quando despida
da farça da percepção humana.

A realidade é, portanto,um problema sem solução,
ou, simplesmente, aquilo
que nos impõe a perplexidade de estar vivo.






domingo, 9 de janeiro de 2022

A REFLEXÃO COMO EXERCÍCIO DE NIILISMO

Não pensar em nada é meu modo de refletir.
Esvaziado de mundo, de informações, conclusões e opiniões,  
me abandono ao fluxo das sensações,  do pensar desinteressado e movediço, 
que me desfaz em nostalgias, fantasias,  imaginações, e caprichos. 

Não pensar em nada, 
ao contrário do que dizem, 
não torna a vida mais simples. Pelo contrário,  a faz mais complexa e desafiadora,
 em sua absoluta falta de sentido.

sábado, 8 de janeiro de 2022

O TEMPO EM MEU CORPO

Tenho meus pés 
firmes no chão 
da mais feérica imaginação. 
Passados transfigurados
imaginam futuros 
na ventania do tempo presente.
Nada no tempo é seguro.
Tudo é movente,
e me desfaço de novo
em cada segundo,
para ser outro,
para inventar ninguém, 
na concretude do corpo.




sábado, 1 de janeiro de 2022

O ENCANTAMENTO DO INSTANTE

Por um segundo escapei do mundo.
Qualquer outra coisa existiu em mim
mais forte que a vida,
além das palavras 
convicções e certezas.
Tudo apenas existia
atravessando o corpo,
sem a necessidade de qualquer sentido
em um instante subjetivamente infinito.

A MORTE DO FUTURO

O amanhã virou passado.
Tudo em nós deixou de ser.
Restou a memória,
a saudade,
de qualquer vir a ser.
Mas a vida sumiu no silêncio. 
Sem deixar vestígios.