Vivemos uma época em que o velho
racionalismo de inspiração iluminista já não nos oferece qualquer segurança e, suas conclusões aparentemente concretas, figuram agora como o resultado débil de uma fé ingenua na racionalidade do mundo. Ao mesmo tempo aprendemos novas formas de perceber e pensar o mundo.
Paul Zumthor expõe tal dilema de forma
dramática e precisa em sua arqueologia simbólica do mito de Babel:
“Existimos em um mundo em
migalhas; S.C.Malik evoca uma ‘crise de fragmentação’, o nosso dilaceramento
entre as energias sempre ativas da modernidade de ontem e essas outras,
incisivamente crescentes, de uma inteligência diferente: por um lado, o
dualismo que se diz cartesiano, o gosto vicioso do quantitativo, a
predominância dos elementos físicos nas nossas argumentações ; por outro, o
aumento dos conhecimentos biológicos e psicanalíticos, com a transformação
nocional que eles ocasionam... Todas as enumerações deste gênero não fazem mais
que destacar os aspectos do que é menos uma crise do que a emergência de uma
nova episteme; menos uma metamorfose
intelectual do que a pulsão de uma outra
presença escondida em nós, e que é a nossa própria.”
Paul Zumthror in Babele e o
Inacabamento: Uma reflexão sobre o mito de Babel. Lisboa: Editora Bizancio, 1998, p. 214