“A
palavra não é desprovida de sentido, já que atrás dela existe uma operação
categorial, mas ela não tem esse sentido, não o possui, é o pensamento que tem
um sentido, e a palavra continua a ser um invólucro vazio (...), a linguagem é
apenas um acompanhamento exterior do pensamento”
(Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção)
A objetificação da realidade tornou-se o ponto fraco
da modernidade ao estabelecer a ilusão dicotômica entre sujeito e objeto,
ignorando a dimensão projetiva da consciência, a indeterminação das fronteiras
entre o eu e o mundo. Mais do que isso, ignorou o corpo como lugar da
significação das coisas e dimensão intuitiva e instintiva de toda representação
do real.
Não existe intencionalidade desvinculada
da dimensão irracional inerente ao próprio acontecer humano. Toda percepção do
mundo é um estar no mundo e, portanto, experiência e subjetividade. O corpo que
somos nós incarna o drama do mundo em nós através da consciência.
A autonomia da linguagem sobre a
própria vida e sobre o próprio mundo, seu fechar sobre si mesma, define a
ambiguidade do pensamento enquanto fato gramatical e experiência fenomenológica.
Existe uma dimensão silenciosa da significação que esta sujeita ao arbítrio do
inconsciente enquanto fonte de da própria consciência. O que é dito pressupõe
sempre o não dito de nossas compulsões. O próprio conhecimento é um ato
instintivo, uma compulsão que formata nossa adaptabilidade ao mundo vivido e
experimentado.
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