A vida social é cotidianamente definida pela tensão e conflito entre indivíduos. A pluralidade de
interesses, perspectivas e sensibilidades que caracterizam os integrantes de um
grupo ou sociedade é um dado elementar que verificamos a tomo momento e em toda
parte. Muitos leitores, por exemplo, terão criticas a fazer a este texto,
enquanto outros tomarão seu partido total ou parcialmente. O fato é que estamos
sempre envolvidos em desacordos. Seria mais correto falar de uma federação
complexa de indivíduos do que propriamente de sociedade. A menos, é claro, que tomemos como séria a
fantasia republicana fundada no abstrato princípio de soberania popular.
Estamos tão ocupados em
reproduzir o que nos ensinaram sobre a realidade, mimetizar comportamentos
sociais, que raramente nos ocorre a possibilidade de um estranhamento radical
de todos os contextos sócio culturais nos quais estamos involuntariamente
inseridos. Fomos induzidos a domesticar nossa singularidade em nome de
abstrações racionais que atribuem demasiado valor ao social e suas
instituições.
O cotidiano mais imediato de
nossos tantos intercâmbios intersubjetivos evidenciam que, mesmo que a
cooperação e o compartilhamento de uma série de referencias simbólicos definam
os indivíduos inscritos em determinada cultura, ele não elimina as variáveis introduzidas
pela peculiaridade das configurações de cada um. No calculo social, o individuo é uma fator irracional
apenas parcialmente controlável. Um enunciado elaborado por um único individuo pode
contaminar certa quantidade de seus pares e ser replicado a ponto de constituir
uma contra tendência as normatizações até então consensualmente estabelecidas
e, em certas circunstâncias, impor-se como normativa emergente. A possibilidade
do novo origina-se da iniciativa individual. Isso
não deve ser negligenciado. Pois, se os indivíduos integrantes de qualquer
coletivo estão sempre vivenciando algum
tipo de desconforto em relação as
normativas sociais, quando um determinado individuo, elabora uma resposta para
seu próprio contexto que também lhes atende, tal reposta não perde seu caráter singular,
não se torna “coletiva”, pois, ao mesmo tempo que se faz objeto de adesões, também sofre reelaborações e adaptações. Assim, mesmo
uma formulação individual que se torna coletiva por suas consequências sociais,
não perde nunca sua singularidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário