O inacabamento é a essência da finitude e o trágico destino da existência... Tal constatação me remete a uma passagem muito curiosa do medievalista Paul Zumthor em seu último livro que , muito apropriadamente, permaneceu inacabado em seu leito de morte....
"Um amigo biólogo afirmava na minha presença que o estatuto do homem é o de um feto extra- uterino. Donde a fragilidade e a extensão da infância; donde a sua indeterminação psíquica e o fato de, globalmente falando, se tratar de um ser inacabado. E isso é válido, continuava o amigo, não só para o indivíduo, mas também para a espécie. Do ponto de vista biológico, haverá adultos? A cultura , ia eu pensando no meu íntimo, ao mesmo tempo que participa deste caráter geral, tira daí a sua necessidade, pois substitui no ser que nós somos, a natureza cujo fundamento e limites não são fixos nem estáveis. Na perspectiva semântica, tal como na geométrica, o sentido do ser- humano ( do facto de ser humano) não é dado. De que modo triunfar deste inacabamento ontológico, quando afinal ele se comunica, como uma infecção, a tudo que nossas mãos moldam, tudo o que nossa inteligência concebe?"
Paul Zumthor in Babel e o Inacabamento: Uma reflexão sobre o mito de Babel. Lisboa: Editora Bizancio, 1998; p.220
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