sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

DESEDUCAÇÃO EXISTENCIAL

Renunciei a mim mesmo para realizar o improvável, para me banhar no absurdo, até  tornar possível todos os meus desvios e transgressões. 
Ousei sondar o desconhecido que me fita do fundo dos  abismos das imaginações aberrantes.
Soube o sabor de paradoxos e dissonâncias. 
Soube intensamente um mundo no qual nunca acreditei,
Onde tudo é  impossível.
Aprendi o nada e a contra razão dos fatos.
Desaprendi tradições e convenções,
Soube o não ser
Através de tudo que existe.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O PENSAMENTO


O pensamento ultrapassa a consciência nas entranhas do corpo.
O pensamento nos pensa através do corpo que pensa.
O pensamento está onde não existo...
Ele acontece através dos signos.



GEO ACONTECIMENTO



Meus pés sabem ler o chão.
escrevem caminhos,
idas e voltas
entre algumas inercias.
Produzem no tempo
o geo acontecimento
desta minha quase existência.

A paisagem ensina aos meus pés
a gramática dos lugares,
o sabor dos espaços,
onde sou apenas detalhe.

viver é uma questão de longitude,
latitude, e velocidades....


quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

SOBRE O NIILISMO CONTEMPORÂNEO


Questionar tudo aquilo que nos torna possíveis como sujeitos ativos e passivos da circulação  de signos e símbolos de uma dada consciência social e histórica. 

Questionar o que somos, sentimos e fazemos cotidianamente, na invenção  desta abstração  tão  concreta que é  o mundo e sua constante re-significação.

Eis o desafio do niilismo contemporâneo:
É preciso levar as últimas consequências nosso latente desconforto com o que coletivamente fizemos da vida sob a opressão das verdades  e tradições, nossos assujeitamentos e subjetivações.

É preciso ultrapassar a própria ilusão de ser, de uma positividade da vida e dos fatos sociais. Afinal, a existência é  mais intensa  na vertigem de seu desvalor. 

domingo, 22 de dezembro de 2019

ENXERGAR



Algumas coisas vejo,
Mas não enxergo.
Outras não reconheço,
E ainda há  aquelas
Que não  aceito ou entendo.


Só  sei o que me permite saber o pensamento,
Todos os naturais mecanismos de reconhecimento cognitivo,
Dispositivos semióticos de entendimento.

Há também o que permite a vontade,
O comodismo sedentário das certezas cristalizadas.

Enxergar é  muito difícil...
É  quase impossível a quem não  se permite
delírios & vertigens.



quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

LATA DE LIXO


Não quero viver como um depósito.
como qualquer coisa vivente
acumulando informações,
ansiedades, dividas e frustrações.

Não quero ser como a lata de lixo
no final da rua.
Mas isso é tudo que sempre esperam da gente.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

O ESTRANHO SILENCIO DO DEVIR COTIDIANO CONTRA O DIZER DAS COISAS

A mudez do devir cotidiano desafia o dizer das coisas através das palavras e discursos que vagam entre nós.
Queremos a carne do verbo contra a metafísica dos saberes e dizeres eruditos.

Queremos a metapoesia anti discursiva das intensidades, a vida inteira em delírio quebrando a sobriedade da frase corriqueira, rasgando o texto do noticiário e  o livro da escola.

A mudez do devir cotidiano grita a anti matéria da linguagem, a vida em sua muda e indeterminada plenitude.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

NOVAS INFÂNCIAS

Ainda ontem éramos apenas crianças.
Pequenos rascunhos de gente
conformados a fantasia de uma vida inteira.

Agora somos  a voz do mundo
Contra as humanidades e modernidades
Que ameaçam a natureza  e toda possibilidade de futuro.

A insanidade do viver adulto destruiu nossa inocência,
Mas não  matou nossa esperança.
Reinventamos a infância contra os absurdos da história.

Um dia todos serão  apenas crianças...

.

domingo, 15 de dezembro de 2019

A ÉTICA DAS LETRAS


Não buscamos mais a palavra precisa,
A ilusão  metafísica de qualquer verdade universal.
Ignoramos o letramento ,
O logocentrismo do narcisismo ocidental.

Buscamos a imanência, 
O afeto e o corpo,
A terra e a anima mundi.

Sabemos por intuição a nervura
Do Ser da linguagem 
Na tela em branco.

Buscamos a existência,
A lisura e sujeira do pensamento,
A diferença,  a estridência 
E a dissonância do sentimento
Na experimentação  do mundo.

Já não há muito a dizer.
Produzimos e escrevemos
Formas de vida,
Éticas e estéticas,
Convertendo letras em gestos. 




MUSICA E IMANÊNCIA

Sinto saudades de mim.
Afinal, ao longo dos anos,
Já  fui tantos, 
Mediante diferentes modos de sentir,
Saber e existir através do mundo e dos outros, 
Que agora mesmo,
Não  me reconheço.  
Pouco sei de mim.

Há apenas o corpo
Através  das coisas
Fora da representação, 
Da palavra,
Convertendo o próprio pensamento
Em extensão. 
Há unidade apenas no virtual da memória,
No devir da saudade da ilusão  de ser,
De me confundir com o espaço. 

A composição  de uma vida 
É  como uma música que escuta,
Quase uma alucinação. 

Sou o eco de uma melodia que fui,
Que flui,
E, através  de mim,
Ainda ouve a si mesma
No compasso do tempo de sua escrita,
Do seu movimento e execução. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

MUITO ALÉM DA ESCOLA

Contra tudo que me ensinaram em uma cela de aula, aprendi a ser livre, por excesso de vitalidade.
Conservei-me selvagem, experimental e criança, 
Onde me queriam inteligente, obediente
E conformado ao rebanho.
Descobri que a vida é  uma experiência 
Que transborda 
Na intensidade dos corpos e das imaginações 






segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

COISAS


Além do eu que inventa o falso dos meus dias,
Sou apenas coisa feita de coisas
Sabendo coisas que criam  coisas.

Sou a imaterialidade concreta das coisas...
E como são  misteriosas as coisas
Quando se é apenas uma coisa
No movimento e metamorfose das coisas!


quarta-feira, 27 de novembro de 2019

DA COISA A PALAVRA


Não acredito naquilo que diz um nome.
As coisas não habitam o nome.
O nome diz apenas a realidade do ato de nomear,
testemunha a potencia da imaginação verbal
contra a realidade muda da coisa.
A palavra já  é em si uma realidade,
a materialidade de uma significação.


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

QUANDO OS LIVROS FOREM APENAS LIVROS


Quando os livros forem apenas livros
voltaremos a leitura do mundo
através do corpo
que escreve os dias.
Seremos notas de rodapé
no quase ilegível texto
tendente ao infinito da nossa condição humana.


DIZER O MUNDO

Leio o mundo até  me perder de mim mesmo,
Até  a possibilidade de escrever a vida
Como multiplicidade e indeterminação,
Jamais  como abstração ou verdade.

O mundo é  a matéria viva da escrita de ser.
É sujeito e objeto que me esclarece,
Enquanto me distraio  comigo 
Ignorando os olhos da morte. 

Meu mundo é  maior que o mundo 
E quase não cabe no ato de dizer.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

A PALAVRA COMO HABITAT




Somos na modéstia de um dizer pequeno que re-apresenta o mundo através de um caco qualquer de realidade. Ele funda uma perspectiva, um modo de sentir e saber, que configura a existência como ethos, que define uma forma de vida, um dizível que dá forma ao invisível...

A palavra é nosso lugar de mundo. Através dela nos inventamos e reinventamos, sem nos dar plenamente conta do quanto a consciência é um ato de criação, não um reflexo do mundo como exterioridade, mas nossa própria lugar de ser em linguagem.

Em suma, habitamos palavras, desenraizados de nós mesmos.




quinta-feira, 21 de novembro de 2019

DIFERENÇA E DEVIR




A diferença transcende a ilusão da essência.
Ela expressa o plural, o impreciso e o dissonante
no movimento do diverso.

A diferença é o regime do inacabado
que estabelece o movimento da existência
como exercício de imanência e sentido
indiferente aos ritmos das permanências.

A diferença é o fluir das coisas
no quase ser da gente.

VERTIGEM PÓS MODERNA



É mais do que evidente a partir da segunda metade do século XX, a desintegração da pretensão pós iluminista de uma racionalidade global e totalizante vinculado a um projeto de emancipação do homem, até então visto como medida de todas as coisas desde da ofuscação racional dos oitocentos. Tamanha ilusão antroprocêntrica deu lugar a uma pluralidade de micro racionalidades  não mais condicionadas a construção de um sujeito do conhecimento ou de um teleológico processo histórico.

O que é menos evidente é a experiência de nosso mais imediato presente. Há uma multiplicidade de tempos dentro do tempo, um indeterminismo e irreducionismo a qualquer tendência totalizante de analise discursiva. É como se a possibilidade de interpretação e construção de sentido ficasse em segundo plano diante do relato raso da simples experiência de existir, de acontecer. Triunfa na contemporaneidade a vertigem do inacabado, do provisório e da verdade do ilusório  na sensação  cada vez mais concreta do abismo como conclusão, do simulacro como realidade bruta do fundo da superfície .

domingo, 17 de novembro de 2019

PALAVRA, CORPO E AMBIENTE

O corpo e a palavra,
Unidos através dos atos,
Inventam o possível e o imediato
Da minha presença 
Entre as coisas.

A Palavra é o corpo
Embriagado de sentido,
Vontade...

A palavra é o corpo comovido pelo exterior 
Que lhe abriga inventando a realidade.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

SOBRE O DIZER MAIS QUE VERDADEIRO



O dizer mais que verdadeiro não se destina a afirmação da verdade, de uma ilusória correspondência entre as palavras e as coias. Ele não inventa nomes, mas desenha conceitos como alegorias do sem nome das coisas concretas e vividas; mesmo reduzindo o sentido a alma das narrativas.

O dizer mais que  verdadeiro não tem sujeito. É anônimo e terapêutico na afirmação da existência como obra de arte.


O DIZER DO SILÊNCIO


Um silêncio  fala através  de mim
Todas as coisas da vida.
É  através  dele que existo
No ato e na palavra
Que me procura
E me torna visível 
Entre os outros. 

O silêncio me escuta
E me faz dizer.
Guardo dentro dele
Todos os pensamentos.

No silêncio  não  há interdição, 
Nenhum segredo.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

FILOSOFIA DO QUASE SER DA GENTE

Não  existe ser que não  seja um se fazer permanente na experiência de um mundo que nos inventa e ultrapassa.

Viver é  não  ter certeza de si mesmo,
É  ser conduzido pelas afetações ,
Pelas imagens e imaginações 
Que inventam pensamentos
Em um corpo que se faz entre corpos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

ALÉM DA VERDADE





A verdade não define a vida.
É a imaginação, a paixão,
e o sonho  
o que nos define como seres vivos.

Vivemos para as indeterminações,
as incertezas, inconstâncias,
e permanentes transformações
do pensamento e  da matéria.

Viver, para nós, 
é ser mais verdadeiro
do que a verdade
na arte de inventar-se
como  algo existente.


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O TRANSBORDAMENTO DO POSSÍVEL


Uma história que não seria aquela do que poderia haver de verdadeiro nos conhecimentos; mas uma análise dos ‘jogos de verdade’, dos jogos entre o verdadeiro e o falso, através dos quais o ser se constitui historicamente como experiência, isto é, como podendo e devendo ser pensado.”
Michel FOUCAULT
in História da Sexualidade vol. 2: O Uso dos Prazeres

A experiência de si é sempre a vivência dos limites do tempo presente. Pois esta condicionada a um dizível e a um visível, conformada a diversas formas de assujeitamento, de normalização da vida e do pensamento.

O “eu” através do qual escrevo, por  exemplo, é um componente do discurso que se confunde com os valores que condicionam qualquer enunciado,  estabelecendo os limites do possível do meu dizer.

O que me parece, portanto, desafiador e útil é buscar,  naquilo que permaneceu em estado virtual, que foi  objeto de interdição para viabilizar o possível, alguma sinalização de um outro futuro alternativo, de qualquer conteúdo rejeitado que ainda aguarda para nascer reinventando o presente. Estamos sempre grávidos de alguma palavra que foge as gramaticas vigentes, que se insinua como paixão, paradoxo e descontinuidade.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

UMA OUTRA INFÂNCIA





Existe uma infância que nos persegue.
Ela não é um tempo,
uma idade do corpo.
Mas um não lugar abstrato
onde acumulamos modos de sentir,
sensibilidades outras,
que nos deslocam do presente,
que nos conduzem ao sem tempo,
a irrazoabilidade de um devir-devaneio intenso.

Trata-se de uma infância carente de linguagem.
Nela domina a imagem e o afeto
na ambivalência do riso e do choro,
na instabilidade do ter e do perder.

Ela não pode ser educada,
domesticada ou superada.
Pois demarca um espaço de consciência
através do qual tudo escapa.

Esta infância é a inocência suprema
onde nada se sabe,
nada é dizível.
Nela se esconde
o radicalmente outro
de nós mesmos,
além do saber,
além do poder,
do cognoscível,
do agir e do ser.



DIZER O MUNDO



Encontrar minha própria forma de dizer o mundo é o único propósito que vejo no sem sentido da vida. Por outro lado há uma pluralidade irredutível a qualquer enunciado neste meu processo de dizer. Isso o torna inultrapassável  como meta. É  no próprio movimento de dizer que digo o mundo a minha maneira sem nunca esgotar meu modo de dizer o mundo. O dizer é sempre um vazio  rasurado pelo provisório da narrativa. Ele é um trabalho inacabado, inconclusivo, como a própria existência.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O PENSAMENTO QUE SENTE



Pensar é compor conceitos,
transvalorizar palavras,
até o limite do inteligível.

Não falo do pensar banal
de ensaios e tratados abstratos,
Refiro-me  ao pensar
que  promove o ajuntamento
do diverso,
reunindo frases  pelo sabor,
textura, volume, afetos,
estabelecendo conexões e sentidos inusitados
que reinventam as coisas,
que produz  a vida
como um texto sempre aberto.

Falo do pensar que sente,
que relaciona tudo e nada,
que inventa a realidade
como experiência complexa,
como imagem mosaico
irredutível a si mesma
e em constante mudança.

Trata-se do pensar da pele,
dos olhos,
das mãos e da boca....
um pensar com o corpo.


sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A PAISAGEM




A paisagem convida os olhos.
Ela nos envolve e nos consome
como geografia viva de signos.

Ela existe na medida em que somos
no sentir das coisas,
através de percepções e  ambiências.

Nossos olhos inventam pinturas
na imaginação que expressa o corpo
como um ponto contido
na imensidão de um lugar.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

TEMPO, NATUREZA E NÃO SER


O presente se estende ao dia seguinte,
Inventa seu próprio duplo,
Na multiplicidade de um agora inumano
Entranhado na paisagem viva
De uma terra em transe.

Já  não  faz sentido o tempo
Ou a eternidade.
O instante é a persistência da paisagem
Além da presença do humano.

A natureza , indiferente a si mesma,
Persiste sem tempo
No devir do espaço.

A vida transcende todas as suas formas e fórmulas
Na composição mutante do orgânico e do inorgânico.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

TEMPO PRESENTE E PÓS HISTÓRIA


O tempo presente sempre nos escapa como vivência plena através da experiência precária de cada momento. Ele se confunde, assim, com a permanente erosão de  seu próprio esboço.

Este presente colapsado e inconstante, que vinculamos a vivência concreta do imediato de um agora, não é linear, nem cíclico, mas  heterogêneo e múltiplo em sua fugacidade. Ele não comporta, ainda, interpretações ou significados. Pois simplesmente acontece a margem de todo sentido possível e do simulacro de qualquer memória. Ele é puro esquecimento em sua unicidade , mas, simultaneamente, é  sequência replicante de um outro de si sempre atualizado.

É a partir deste incerto agora que o tempo presente ganha forma e conteúdo enquanto território de ação e durabilidade, como lugar do acontecimento e da memória, como fato escrito em nossos corpos como ato e palavra.    

Este presente não é o efeito de qualquer passado, não semeia futuros possíveis. Ele é a eternidade de seu próprio momento cujas fronteiras indefinidas configuram uma experiência fluida do real. Trata-se de um tempo que é espaço, estado e matéria, e não uma percepção abstrata do simples fluir das coisas.

Podemos dizer também que ele é próprio a cada singularidade. Não é um tempo universal e objetivo. Cada um vive seu próprio presente definido por sua trajetória especifica no tempo e no espaço de sua existência.



quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A NUDEZ DA REALIDADE CONTRA OS PUDORES DO PENSAMENTO




O pensamento não acompanha os fatos,
Se quer se se aproxima deles.
Busca em sua própria superfície
Os fios de significações profundas.

Ele inventa o corpo
Na paisagem gramatical dos conceitos
como um passageiro clandestino
da realidade,
Contamina, assim, os sentidos,
Os gestos e sentimentos,
imprimindo  verdades a pele.

Depois, veste a realidade
com os trajes rotos da lógica
 negando a nudez o mundo.

Mas a realidade é esperta.
Sempre foge as palavras que lhe vestem
e zomba graciosa dos raciocinados pudores do pensamento.  

MICRO FÍSICA



Ainda hoje,
a imensidões de uma gota d’água
acorda em mim
o arcaico das imaginações
de proto infância.

Nos tempos de pré consciência
as coisas pequenas
continham universos.

Podia explora-los
com olhos
nas pontas dos dedos
Com mais  precisão
do que a de qualquer microscópio.




terça-feira, 22 de outubro de 2019

PÓS HISTÓRIA


Nossa consciência define-se entre o fluir de um imediato agora e o estruturante de um perpétuo tempo presente, indiferente ao passado e distante de qualquer futuro.

Nossas paisagens existenciais tem por horizonte o imediatismo, a superficialidade e a incerteza dos simulacros de múltiplas narrativas possíveis. Elas tornam impossível a miragem de um mundo comum na experiência d e um quase infinita diversidade semiológica. Os signos e símbolos circulam em uma meta realidade virtual onde tudo foge e transmuta.

Em contra partida, nos conformamos a finitude, a linguagem e ao corpo. Nenhuma metafisica discursiva que arremede sistemas e universalismos nos encanta os ouvidos em tempos de imersões no simples cotidiano.

Tudo é transitório e nos inventa  livres e vazios de sentido.

O tempo já não nos apavora. Buscamos a natureza e seu eterno retorno no resgate do mais recuado arcaísmo onde o humano não se distingue do mundo na dualidade de ser e não ser.

O QUASE SER DO HUMANO


Antes de habitamos cidades, culturas,
E sociedades,
Habitamos a natureza,
Somos afeto, corpo
E desejo.
Habitamos a terra,
Como animais selvagens
Em qualquer floresta.
Presos ao chão
Invejamos a liberdade dos pássaros.
Somos angústias,
Diante da imensidão  do mar,
Da violência da tempestade,
E somos quase nada
Sob o céu  estrelado.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O QUE SOMOS NÓS?


O "nós" são as degradadas formas de vida que nos conformam a comportamentos e pensamentos.
O "nós"  é o rosto impessoal e banal,
As roupas que esconde o corpo,
A moral que nega a natureza,
As Palavras que circulam,
E a angústia que nos mata aos poucos
E nos impede de ser multidão.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

OLHO MÁQUINA



O olho dentro da  tela
vê na medida que exibe.

Ele está em todas as partes.
Ela é todas as partes.

O olho e a tela
definem o mundo,
Nos habitam.

A tela que  vira olho,
É texto,
Imagem,
sentimento, pensamento,
E se confunde com o corpo.

A tela é onde tudo existe
e passa a fazer sentido.

Nela convivemos,
enxergamos e somos vistos,
em um mundo que é imagem
e maquina de produzir imagens
para simular sentido,
para viver a tela e o olho
até a vertigem.


MICRO TRATADO ABSURDO SOBRE A LUZ E O OLHAR



Na dualidade onda/partícula (vibração/matéria) a luz é energia em movimento entre o tempo e o espaço. Mas dizer o que a luz é, é não saber a luz, é não compreender os olhos. 

A luz é corpo,
 presença,
 movimento, 
que inventa o olhar. 

Não há o que dizer sobre o olhar....
Até os cegos, os que não podem ver,
sabem olhar.


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

A ORDEM DISCURSIVA



O discurso dentro da narrativa inventa a realidade.
Não tem rosto ou autor.
É  construído por normas e protocolos de dizibilidades.

O discurso tem pretensão a verdade.
Mas não se confunde com ela.
Dentro dele há outros discursos,
valores e interdições meta discursivas.

O discurso é feito de muitos silêncios,
comportamentos e relações de poder.

É sempre interessante acompanha-lo
onde ele se cala,
onde ele gagueja e semeia lapsos,
onde se faz inaudível,
onde já não consegue dizer
E esclarece o indizível...


domingo, 13 de outubro de 2019

A DIGNIDADE DA FALA


Estamos todos habilitados a falar. Mas nossas falas estão cheias de vícios miméticos, poluídas por dizibilidades,  limites, que aprisionam o dizer a um replicar coletivo de banalidades sociais.

Falar, entretanto, é um ato de criação antes de ser um exercício de comunicação e poucos são  capazes de alcançar a dignidade do dizer.

É  necessária a intuição  de um poeta para saber a metafísica simples  das palavras e a experiencia do não lugar do falar  mais autêntico.


A qualidade do falar é  o que nos faz dignos de participar do jogo social, esta ficção que  constitui a essência do animal humano e que se reduz, em ultima instancia, a suas tantas dizibilidades, que fundam modos de ser.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

BIO ESFERA



Não sou outra coisa além de um pedaço vivo de biosfera definido por latitudes e longitudes. 


Sou o vivente que extrapola o ser , que compartilha com o meio, em sua diversidade, a constância do movimento, através  de encontros e composições  orgânicas e inorgânicas, que inventam o animal e o inumano que definem o humano no meio das coisas.

Tudo em mim é ambientação  na paisagem que devem, que reduz o  tempo a um fluir imanente da matéria.

Dentro do fora e fora por dentro, invento qualquer coisa que já  é  outra, que me afeta e é  afetada. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

O HOMEM ÁRVORE


"O tempo em que o homem era uma árvore sem órgãos nem função,
Mas de vontade
E árvore de vontade que anda,
Voltará. "
Antonin  Artaud

O poema carta do homem árvore ( carta a Pierre Loeb) data de 23 de abril de 1947, mas remete a tempos imemoriais em que o homem era uma árvore sem órgãos,  nem função, pura vontade em lugar de um organismo.

O homem árvore remete aos primórdios de uma consciência cósmica, situa-se no extremo oposto da digestiva humanidade da magia negra do último homem. Este semi cadáver inspirado pela ambição  do lucro, pela ilusão técnico científica.

O homem árvore foi corrompido. Mas a carapaça do mundo presente terá que ceder, sucumbir ao acervo de horrores composto pelas ruínas de sua própria história.

Há de vencer a vontade do homem sem função,  nem órgãos,  que persiste oculto em devir a margem da modernidade.