sábado, 30 de agosto de 2008

SOLITUDE

O céu fechado
em abstrações de passados
Desconstrói presentes
Em delírios de futuros.

Toda tempo cabe
Em um instante
Inútil
de perfeito silêncio.

O acontecer do mundo
Perde-se no ser
De um dia nublado
Onde mergulho em inercias
Sob cobertas
Até desaparecer provisoriamente
Em algum outro de mim mesmo.

TEMPO E EXPERIÊNCIA VIVIDA


Nossa idéia de tempo encontra-se intimamente associada ao vivido, ao subjetivo, por mais que nossa conceituação formal do fenômeno da temporalidade remeta a uma experiência objetiva, ou seja, acontecida fora de nós.
É na pseudo realidade do tempo que nos movemos, que nossas vidas acontecem. Daí, nada mais natural do que vinculá-lo a ação e atividade, a experiência da irreversibilidade de todo acontecer da vida mais do que propriamente uma medida cronológica baseada na linealidade de um “antes” e um “depois” psicológicos.
Enquanto premissa subjetiva da condição humana, o tempo apresenta-se agora como um fenômeno irracional e quase incognoscível, como a personificação básica da profunda inconstância que fundamenta nossa consciência das coisas.
Em outra palavras, a contemporaneidade tornou a idéia de um tempo absoluto e universal, qualquer noção de eternidade, uma abstração vazia frente ao “relativismo historicista” da percepção e vivência imediata de nossos múltiplos tempos subjetivos.
Em poucas palavras, nossa idéia de tempo confunde-se hoje com o particular, com o fragmento multifacetado que compõe uma biografia individual alem de todo o universal. Livres da mítica da tradição e do peso de nossos passados socialmente construídos, adotamos como coordenadas básicas de nosso senso ontológico, o próprio imediato fugaz da mínima experiência do agora como lócus de uma temporalidade aberta e indefinida que se faz a deriva no jogo sensual e finito dos acontecimentos brutos. O tempo é agora a pluralidade de cada instante enquanto o mesmo de um “si-mesmo” que se mantém incessantemente como um novo outro de si.
Do ponto de vista da percepção do tempo e da individuação de sua experiência, pode-se falar de um “fim da História” sem um ultimo homem em um mundo em que a vida humana perdeu-se de todos os seus propósitos e sentidos para revelar a sensualidade de sua abstrata nudez...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

PEDAÇOS DE MIM

Perdidas realidades
De esquecidos hojes
reinventam
dentro de mim
o tempo.

Em restos de memórias
E pensamentos
Vivem ainda possibilidades
perdidas em dias
quase vividos.

Em algum canto
Roto de mim
um futuro se apavora
ao surpreender-se
passado...

NIETZSCHE E A LINGUAGEM


Uma das peculiaridades das obras de Nietzsche é a extraordinária habilidade para “revelar” a fantasia como linguagem através de um estilo metafórico e aparentemente poético de desconcertante densidade para os adeptos do racionalismo.
Mas é importante dizer que tal estilo traduz com impecável precisão o novo modo de “olhar o mundo” inaugurado pelo filósofo que aprendera a ser pós moderno antes do próprio pos moderno ao subverter a experiência da linguagem e do próprio pensamento usando os códigos literários como ardiloso artifício filosófico e psiquico.
Em as Idéias de Nietzsche J. P. Stern nos fornece uma leitura profundamente interessante para melhor se compreender o lugar e papel da linguagem na filosofia de Nietzsche.Primeiramente, como ele nos fala em suas conclusões:

O que Nietzsche nos ensina não é ler filosofia como literatura, nem muito menos literatura como filosofia, mas ambas como formas intimamente relacionadas de vida. Ao desafiar, através do seu modo de escrever, a dicotomia “cientifico” versus “imaginativo”, ou a antítese entre “conceito” e “metáfora”, “abstrato” e “concreto”, estava, ao mesmo tempo, decidido a desafiar essas divisões em nossas áreas de conhecimento e experiência e a fragmentação do conhecimento em que ele ( juntamente com outros pensadores do século XIX, homens como Marx, Thomas Carlyle e Matthew Arnold) viu um dos principais flagelos da moderna civilização ocidental.”

(J P Stern. As idéias de Nitzsche/ tradução de Octavio Mendes Cajado. SP: Cultrix, s/d, Coleção Mestres da Modernidade, p. 94)

Por outro lado, o autor reconhece que em uma dimensão mais profunda;

“O que Nietzsche desenvolveu nos dezesseis anos que lhe foram concedidos para o seu empreendimento filosófico foi uma variedade de estilos metafóricos no sentido esboçado no seu ensaio anterior e nas observações mais recentes que dele promanam. É um modo de escrever que se situa em algum ponto entre a individuação e o interesse pelos particulares, que é a área da linguagem das belas artes, e as generalidades conceituais e abstrações, que constituem a área da linguagem da filosofia tradicional kantiana e pós kantiana. Quando Nietzsche se refere a imagem da moeda de prata com sua inscrição apagada, seu valor reduzido ao valor exclusivo do metal, não n tem em mente a própria moeda ( ele esta contando uma história), nem uma generalidade que faria da imagem real da moeda uma simples ilustração e,portanto, dispensável. A metáfora da moeda destina-se a ser um intermediário entre dois modos de pensar e escrever, como um modelo que não determina nem uma linha de narrativa nem um trecho de poesia filosófica ou “Begriffsdichtung”, mas um argumento filosófico.
Esse modo médio de discurso pode, sem duvida, ser mostrado ( e mostrá-lo tem sido o propósito deste capitulo), mas não vejo com muita clareza como se pode defini-lo mais precisamente. Não é poesia: a poesia de Nietzsche é menos distinta e menos importante do que a sua prosa- a prosa poética que ele escreveu só de raro em raro logra êxito; em passagens de Zaratustra (em si mesma e em sua influência) é um desastre. Tampouco é aforismo-os pronunciamentos rigorosamente aforísticos de Nietzsche são menos interessantes que os de La Rochefoucauld e de Georg Chistoph Lichenberg, os dois praticantes do gênero que ele mais admirava. E não é, de certo, a linguagem conceitual da filosofia: nas ocasiões em que, ao tratar de problemas filosóficos tradicionais ( como, por exemplo, em sua polêmica com Kant), ele emprega esse tipo de linguagem, s eu estilo torna-se impaciente, repetitivo e amiúde perfunctório. A verdadeira distinção da sua obra, e a verdadeira esfera de sua influência imensamente ampla e frequentemente avassaladora, reside em seu modo médio de linguagem, que imagino podemos denominar “literário-filosófico”; o ter inventado esse modo e o tê-lo aplicado a uma variedade quase infinita de questões contemporâneas é a sua maior consecução. Entretanto, desse modo também decorre o hábito de todo em todo moderno (e deprimente familiar) de falar por metáforas sobre Deus, a santidade, a criação divina, o pecado, e outras coisas do gênero, sem jamais decidir quais os significados não metafóricos e quais as crenças ( se é que há alguma), que acompanham esse falar.
O desdém com que ele tratou a esfera da associação e as conseqüentes limitações de sua concepção da vida no mundo já forma mencionados, mas existe outro lado, o positivo, dessa história. A intenção diretora da sua prosa filosófica não é transmitir o geral nem o médio, senão o único; preservar a natureza dinâmica, vacilante, irregular e, acima de tudo, individualizada da vida. Ele receia ser “formulado, estatelado, sobre um alfinete”. Sua intenção é deixar falar o processo do “vir-a-ser”, afastar tanto quanto possível a descrição da “vida” das origens e destino incertos e catastróficos da existência, até à custa da própria coerência intelectual. A linguagem, a metáfora e o pensamento estão relacionados com o “mundo real” como padrões e paradigmas do nosso ser em sua relação com o “mundo real”: não existe nada parecido com um “Ser em repouso com sigo mesmo, idêntico a si mesmo, inalterado: o único ‘ser’ que nos foi outorgado é mutável, não idêntico a si mesmo, e está envolvido em relações.”

( Idem, p. 92)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

F. NIETZSCHE E A CONTEMPORANEIDADE


É justo questionar o que efetivamente faz de friedrich Nietzsche ( 1844-1900) um dos mais contemporâneos pensadores do século XIX europeu. Pode-se dizer que ele foi um critico voraz da modernidade, o que por si só é mais do que suficiente para atestar sua atualidade, visto que esta é uma das questões mais decisivas de nossa contemporaneidade.
Mas cabe também considerar o forte apelo de sua filosofia aquilo que nos é mais caro: nossa própria individualidade e singularidade humana a deriva entre as prerrogativas da natureza e os imperativos da civilização.
Colocando as coisas em ternos bem “nietzscheano”, seu pensamento é essencialmente uma afirmação radical da vida em toda sua potencialidade instintiva e telúrica, uma filosofia dionisíaca voltada para superação de toda a tradição ocidental, seja em sua dimensão racionalista/filosófica, seja em sua dimensão ético moral personificada pelo “deus morto” da tradição judaico-cristã.
Seu livro mais popular: Assim falava Zaratustra personifica de modo intensamente poético e metafórico a verdadeira transmutação de valores vislumbradas pelo seu autor. Através de seu Zaratrusta Nietzsche não apenas anuncia a morte do deus cristão, mas nos oferece a boa nova do alem do humano, do super homem. Este advento de um homem superior, arauto de um pensar critico e independente, irredutível frente a lógica do rebanho inspirada pelo poder simbólico da Igreja, do Estado e da própria Sociedade, é também um chamado a solidão. Não qualquer solidão, mas aquela que nos compromete a busca do Maximo potencial da singularidade ou individualidade humana através de uma reconciliação com nossa própria natureza psíquica e a desconstrução de todo carcomido mundo da tradição.



DO HOMEM SUPERIOR ( fragmento)

1

“ A primeira vez em que estive na casa dos homens, cometi a loucura do solitário, a grande loucura: instalei-me na praça pública.
E como falava a todos, não falava a ninguém. E, à noite, tinha por companheiros funâmbulos e cadáveres. Eu mesmo era quase um cadáver!
A nova manhã me trouxe uma nova verdade. Aprendi então a dizer: “Que me importam a praça pública, a plebe, a algazarra da plebe e as orelhas cumpridas da plebe?”.
“Homens superiores”- assim diz a plebe. “Não há homens superiores. Todos somos iguais. Perante Deus, um homem não é mais que outro. Todos somos iguais.!”
Perante deus! Mas agora esse Deus morreu. E perante a plebe nós não queremos ser iguais. Homens superiores, fugi da praça pública.

2

Perante Deus! Mas agora esse Deus morreu! Homens superiores, esse Deus foi o nosso maior perigo.
Ressuscitastes desde que ele jaz na sepultura. Só agora volta o grande meio dia. Agora torna-se senhor o homem superior.
Compreendeis essas palavras, meus irmãos? Estais assustados, vosso coração esta dominado pela vertigem? Vedes abrir-se aqui para vós o abismo? O cão do inferno ladra contra vós?
Vamos, coragem! Homens superiores! Só agora a montanha solta o grito da parturiente porque vai dar a luz o futuro humano. Deus morreu. Agora nos queremos que viva o super homem.”

(F. Nietzsche. Assim falava Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém./ tradução de Ciro Mioranza. SP: Editora Escala, ( Coleção Grandes Obras do pensamento Universal) s/d., p.250-1)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

BUSCAS

Sigo inquieto,
Quase perplexo,
Pelos diversos tempos
Da vida.

Mas não sei
Que tempo
Me define o hoje,
Se vivo dias de risos,
Lágrimas
Ou incertezas.

Não sei o que sinto
Ao poente,
Os vazios a preencher
Tentando saber a vida
Mais intensamente
Que a mim mesmo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

THE CLASH



O The Crash foi originalmente formado em Londres nos idos de 1976 por John Mellor - vulgo Joe Strummer - (vocais, guitarra rítmica), Mick Jones (vocais, guitarra), Paul Simonon (baixo e vocais), Keith Levene (guitarra guia) e Terry Chimes - creditado no primeiro LP como "Tory Crimes" - (bateria), tornado-se uma das principais referências da primeira fase do punk britânico.
O primeiro show que fizeram foi em 1976 como banda de apoio dos Sex Pistols. Mas não demorou muito para a banda talhar uma identidade própria e única dentro do cenário do movimento punk superando o niilismo anarquista com um engajamento político, mesmo que não menos ingênuo, mais conseqüente do que a infeliz oposição a monarquia e a aristocracia britânica através do apoio a movimentos de libertação então espalhados pelo mundo como cria da sombria ideologia dos tempos de guerra fria. Assim a banda apoiou movimentos como os dos sandinistas na América Latina e até mesmo o terrorismo do IRA e do PLO, envolvendo-se com a polêmica Liga Anti Nazista e o Rock Against Racism.
Do ponto de vista da musicalidade cabe destacar o ecletismo da banda que, transcendendo a lógica do som cru de três acordes característica do punk, recebia influências do jazz, do rockabilly e do reggae.
Dentre os trabalhos da banda, extinta em 1985, considero o mais marcante e significativo o LP duplo London Calling (1979) onde encontramos uma de suas mais ontológicas composições:

London calling

London calling to the faraway towns/

Now that war is declared/And battle come down;/

London calling to the underworld/

Come out of the cupboard/

All you boys and girls/

London calling, now don't look to us/

Phony Beatlemania has bitten the dust/

London calling/

See we ain't got no swing/

Except for the ring of that truncheon thing/



The ice age is coming, the sun's zooming in/

Meltdown expected the wheat is growing thin/

Engines stop running/

But I have no fear/

London is drowning/

And I live by the river/




London calling to the imitation zone//

Forget it brother, you can go it alone/

London calling to the zombies of death/

Quit holding out and draw another breath/

London calling and I don't wanna shout/

But while we were talking/

I saw you nodding out/

London calling/

See we ain't got no highs/

Except for that one with the yellowy eyes/



The Ice age is coming the sun is zooming in//

Engines stop running the wheat is growing thin/

A nuclear error but I have no fear/

Cos London is drowning/

And I live by the river/



Now get this/

London calling/

Yes I was there too/

An' you know what they said/

Well some of it was true!/

London calling at the top of the dial/

An' after all this/

Won't you give me a smile?/


I never felt so much a' like...



Tradução:



Chamada de Londres



Chamada de Londres para as cidades distantes/

Agora que a guerra foi declarada/

E a batalha chegou/

Chamada de Londres para o submundo/

Apareçam/

Todos os rapazes e garotas/

Chamada de Londres, agora não lha para nós/

A fingida Beatlemania está terminando/

Chamada de Londres/

Veja nós não sabemos dançar/

A não ser com o toque do cassetete/



A era do gelo está chegando, o sol cresce/

Esperando que se derreta o trigo que cresce/

As máquinas param de funcionar/

Mas eu não tenho medo/

Londres está afundando/

E eu moro à beira do rio/



Chamada de Londres para a zona de imitação/

Esqueça irmão, você pode ir sozinho/

Chamada de Londres para os zumbis da morte/

Perca as esperanças e respire novamente/

Chamada de Londres e eu não quero gritar/

Mas enquanto estávamos conversando/

Eu vi você adormecer/

Chamada de Londres/

Veja nós não temos nobreza/

Com exceção àquele com olhos amarelados/



A era do gelo está chegando, o sol cresce/

As máquinas pararam, o trigo cresce/

Um erro nuclear mas eu não tenho medo/

Londres está afundando/

E eu moro à beira do rio/



Agora ouça/

Chamada de Londres/

Sim eu também estava lá/

E você sabe o que eles disseram/

Bem, alguma coisa era verdade!/

Chamada de Londres no topo do mostrador/

E depois de tudo isso/

Você não irá sorrir para mim?/


Eu nunca me senti dessa forma/

SOMBRA E AUTO CONHECIMENTO


Uma das imagens mais fascinantes construídas por Jung em seu jogo de ciência e fantasia com a psique objetiva ou inconsciente foi a formulação do arquétipico da sombra... Esse desafio ao ego e as representações convencionais do self cultural de qualquer época estabelecida que nos conduz, de muitas maneiras, ao abismo de nossas certezas mais intimas e, ao mesmo tempo, a um confronto com o socialmente vivido e representado. Mas não quero aqui falar sobre as complexas relações entre sombra e persona. Faz mais sentido para mim adotar como ponto de partida deste aleatório discurso que ora construo um fragmento do próprio Jung sobre o sentido do auto conhecimento em Presente e Futuro, ensaio aqui já citei anteriormente:

“ O que a nossa época vê como sombra e inferioridade da psique humana contém mais do que algo puramente negativo. Já o simples fato de que através do autoconhecimento, através da investigação da própria alma, nós nos depararmos com os instintos e seu mundo de imagens, pode construir um passo no sentido de esclarecer as forças adormecidas de nossa psique que, embora presentes, passam quase despercebidas. Trata-se de possibilidades de intensa dinâmica, e a questão se a interrupção dessas forças e visões a elas relacionadas conduz a uma construção ou a uma catástrofe depende apenas do preparo e da atitude da consciência. O medico parece ser o único a saber, pela sua experiência, como o preparo psíquico do homem moderno é precário, pois ele é o único que se vê obrigado a buscar, na natureza do homem singular todas as forças e idéias que possam servir de ajuda para atravessar a obscuridade e o perigo. Esse trabalho paciente não pode se valer de formulas convencionais “teria que”, “deveria”,m pois com isso ele depositaria em outras instâncias o perigo. Esse trabalho paciente não pode se valer de formulas convencionais “teria que”, “deveria”, pois com isso ele depositaria em outras instâncias o esforço exigido, contentando-se com o trabalho fácil da repetição. Todos sabemos como a pregação do desejável é inútil, e como a ausência de parâmetros e a forte exigência a ser cumprida acabam fazendo com que se prefira repetir velhos erros a quebrar a cabeça com um programa de ordem subjetiva. Alem disso, trata-se sempre de um indivíduo e não de um milhão, o que talvez valesse o esforço, apesar de saber que, sem a transformação do indiví duo, nada pode acontecer.”

( C G Jung. Presente e Futuro. Obras Completas vol. X/1, Petrópolis: Vozes, 2º ed, 1989, p. 49-50)

I AM TIRED... FREE.

Entre um dia
E outro
Sofro o mesmo sono,
O mesmo cansaço
Em avessos de vontades
E certezas de pensamento.

Guardo-me de mim mesmo
E do silêncio das coisas
Que sofrem o tempo
Esquecendo meus mais caros
Sonhos.

Que importa?

Infinitos correm dentro de mim
Dizendo o sem limite da vida
Em fome louca de liberdade
E individualidade.

PARA QUE SERVE TUDO ISSO?



Tomo a liberdade de reproduzir aqui a saborosa introdução de um texto interessante sobre o sentido da vida de Julian Baggini. Refiro-me a provocante introdução de seu livro “PARA QUE SERVE TUDO ISSO? A FILOSOFIA E O SENTIDO DA VIDA, DE PLATÃO A MONTY PYTHON” .


Rio de Janeiro
Tradução:
Cristiano Botafogo
Título original:
What’s It All About?
(Philosophy and the Meaning of Life)
Tradução autorizada da edição inglesa
publicada em 2005 por Granta Books, de Londres, Inglaterra
Copyright © 2004, Julian Baggini
Julian Baggini asserts the moral right to be identifi ed as the author of this Work.
Copyright da edição brasileira © 2008:
Jorge Zahar Editor Ltda.



Introdução



“Você é o T.S. Eliot”, disse o taxista ao famoso poeta quando
Eliot entrou em seu táxi. Eliot, então, perguntou a ele como
sabia. “Ah! Eu sempre reconheço as celebridades”, respondeu o
taxista. “Um tempo atrás, eu peguei o Bertrand Russell, e disse
para ele: ‘E aí, lorde Russell, qual o sentido da vida?’ E, sabe o
quê? Ele não sabia.”
Quem está sendo zombado nessa história? Lorde Russell,
o grande fi lósofo, que, apesar de toda a sua presumível inteligência
e sabedoria, não soube responder ao taxista? Se alguém
é capaz de nos dizer qual é “o sentido da vida”, esse alguém
deveria ser Bertrand Russell, o maior fi lósofo vivo do mundo,
certo? Ou seria o taxista, que esperava ouvir a solução de um
problema tão profundo em um curto percurso? Mesmo que
Russell soubesse a resposta, explicar os segredos do universo
demandaria tempo e paciência.
Talvez o melhor a dizer seja que nenhum dos dois merece
ser zombado. Russell certamente não, pois se fosse possível
responder a essa pergunta de forma adequada em dez minutos,
alguém já o teria feito e o taxista não precisaria perguntar. Também
não deveríamos zombar do taxista por não saber disso. Sua
pergunta é uma que todos se fazem em algum ponto da vida.
O problema é que a pergunta é vaga, inespecífi ca e obscura.
Não é bem uma só pergunta, mas o ponto central de uma
série de questões: por que estamos aqui? Para que serve a vida?
Ser feliz é sufi ciente? Minha vida serve a um propósito maior? Estamos
aqui para ajudar os outros ou somente a nós mesmos?
8 Para que serve tudo isso?
Qual o sentido da vida?
Para responder a essas perguntas, temos que realizar uma
investigação racional e secular. E com “secular” não quero dizer
“atéia”. Quero apenas dizer que nossa argumentação não deve
partir de nenhuma verdade supostamente revelada, de doutrinas
religiosas ou textos sagrados. Em vez disso, ela deve recorrer
a razões, evidências e linhas de pensamento que possam ser
compreendidas por todos, sejam pessoas de fé ou não. Isso porque,
mesmo para muitos fi éis, a autoridade das reli giões não
pode ser vista como absoluta. Conhecendo a grande diversidade
de religiões no mundo, entendendo as forças e os acontecimentos
históricos que moldaram suas doutrinas e textos sagrados
e percebendo a falibilidade dos seus líderes, a idéia de
que elas nos fornecem acesso direto a verdades absolutas perde
credibilidade. A mão humana está claramente presente ali, seja
por inspiração divina ou não. Isso signifi ca que, mesmo que
tenhamos fé, não podemos aceitar os ensinamentos religiosos
sem questioná-los. Precisamos usar nossa inteligência para determinar
por nós mesmos se as respostas que eles nos dão fazem
ou não sentido. E como em algum momento da vida sempre
acabamos nos perguntando “qual o sentido da vida?”, não
dá pra fi car postergando esse fi losofar para sempre.
O assunto, às vezes, é tão complicado e profundo que a tentativa
de escrever um livro sobre o tema já pode ser considerada
arrogante. Eu até poderia ser acusado se estivesse afi rmando que
o “sentido da vida” é um segredo que somente alguns poucos
podem descobrir através da contemplação, de uma revelação ou
de uma vida inteira de investigação intelectual. Esse tipo de promessa
subentende que o sentido da vida é um enigma que, após
desvendado, revela todos os mistérios e explica todas as coisas. E,
como a grande maioria de nós não conhece esse segredo, é preciso
ser realmente muito sábio para tê-lo descoberto.
Eu acho essa idéia uma palhaçada e espero que a maioria
dos leitores concorde comigo. Se realmente existisse um grande
Introdução,segredo, já estaria correndo algum boato. O problema do sentido
da vida não é a falta de acesso a uma informação secreta que
nos faria compreendê-lo. Não é uma questão que se possa resolver
a partir da descoberta de uma nova informação, mas sim
pensando-se nas questões sobre as quais não possuímos muitas
evidências. Grande parte do que vem a seguir, espero, demonstrará
isso.
Sendo assim, eu diria que a explicação do sentido da vida
presente nesse livro é “defl acionária”, pois reduz a busca mítica
e misteriosa por um único “sentido da vida” a uma série
de questões menores e pouco misteriosas a respeito dos vários
sentidos da vida. Dessa forma, o livro apresenta a questão
como, ao mesmo tempo, algo menor e maior do que normalmente
é considerada. Menor porque não é um grande mistério
inatingível para a maioria de nós; e maior porque não gera uma
só pergunta, mas muitas.
Essas perguntas podem ser respondidas – não por eu ser
um grande sábio, mas pelo simples fato de estar aqui reunindo
a sabedoria dos grandes fi lósofos do passado. Ao selecionar
e apresentar suas idéias, contudo, necessariamente estou
também mostrando uma visão particular, e não uma pesquisa
imparcial sobre o que disseram a respeito do tema. Este livro é
um relato pessoal, mas espero que a maioria dos fi lósofos concorde
com ele.
Quem quiser embarcar na busca pelo sentido da vida deveria
prestar atenção ao alerta feito por Douglas Adams no livro
O guia do mochileiro das galáxias. Nessa história, uma raça de
seres se cansa de brigar por causa do problema e decide construir
um supercomputador para obter uma resposta. O “Pensador
Profundo”, como fi cou conhecido, demora sete milhões
e meio de anos para responder a questão sobre “a vida, o universo
e tudo”. No dia de anunciar a resposta, com “majestade
e calma infi nitas”, o Pensador Profundo fi nalmente deu o seu
veredicto: “Quarenta e dois.”
10 Para que serve tudo isso?
O problema é que os engenheiros que construíram o
compu tador pediram uma resposta para “a questão da vida,
do universo e de tudo”, sem nem ao menos se questionar se
eles mesmos sabiam o que ela signifi cava. Agora eles tinham a
resposta, mas não a compreendiam porque não sabiam a que
questão ela estava direcionada. Fazer as perguntas certas é tão
importante quanto responder corretamente.
Nunca vai haver uma explicação defi nitiva para o sentido
da vida, em parte porque todo indivíduo tem que fi car satisfeito
tanto com as perguntas quanto com as respostas. A busca
pelo sentido da vida é essencialmente pessoal. Este livro não
poderá dar aos leitores um mapa mostrando exatamente onde
ela terminará – se é que isso um dia vai acontecer. Mas pode
lhes fornecer algumas ferramentas que auxiliarão na procura.
Como serão utilizadas, e se serão úteis ou não, é o leitor que
deve determinar.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

COISAS

O tempo é como um vento que nos conduz a essência do movimento de ser.




Há coisas que apagam
A gente
E se fazem absolutas
No modo como dizem
O mundo.
Há coisas que se fixam
Na alma,
Como se fossem
Um eu mais profundo.

ESPERA

A noite seguinte,
O fato seguinte...
Talvez nunca cheguem.

Tudo pode de repente,
Sem causa aparente,
Permanecer em estático transe,
Sem tempo...

Tudo pode acontecer
Entre esperados desconhecidos
No movimento vivo
De aguardar aqui
impotente
O que quer que seja.

ESPERA

A noite seguinte,
O fato seguinte...
Talvez nunca cheguem.

Tudo pode de repente,
Sem causa aparente,
Permanecer em estático transe,
Sem tempo...

Tudo pode acontecer
Entre esperados desconhecidos
No movimento vivo
De aguardar aqui
impotente
O que quer que seja.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

MOVIMENTO

A vida pressupõe
O desconhecido
Como provisório sentido
Do acaso que nos leva
A algum destino.

Sei que avanço
Na medida em que me desconheço,
Em que me esqueço
E surpreendo outros no espelho...

Escravo dos meus atos
Vislumbro liberdades
Em algum outro lado
Do tempo futuro.

CRÔNICA RELÃMPAGO XXXIV




É conhecida a frase segundo a qual fazemos nosso próprio destino. Segundo essa máxima, nossas opções pessoais determinam aquilo que somos. Mas cabe questionar se tudo o que nos tornamos na vida pressupõe uma cristalina consciência de nossos fatos e contextos vividos; o quanto nossas representações de nós mesmos e do mundo efetivamente correspondem a alguma teleológico significado objetivo de todas as coisas. Paradoxalmente, não somos senhores de nossas próprias opções. Em grande parte elas dependem também daquilo que os outros projetam sobre nós e que em contra partida projetamos no mundo. Sei que hoje não sou a mesma pessoa que em algum passado relativamente distante optou por isso ou aquilo.
Definitivamente não fazemos nosso próprio destino. Participamos dele tanto quanto participamos de tudo aquilo que somos. Não questiono o livre arbítrio que rege a biografia de cada individuo, o que de fato não me parece fazer sentido é a idéia de que uma identidade fixa e cristalina nos orienta o agir e o escolher. As decisões mais importantes de nossas vidas não passam de escolhas de momento guiadas por um misto de intuição e acaso no mais que profundo da superfície de um momento.

domingo, 17 de agosto de 2008

EU E O TEMPO

Vazios
Insinuam infinitos
Em tardes de puro tédio.

Procuro no corpo das nuvens
Que decoram o azul profundo
Retratos de sonhos de infância.

Guardo até hoje pedaços
Da criança que fui um dia
No absoletismo de meus sentimentos
Frente ao absolutismo das razões de ser.

Maior do que eu
É o mundo
No gosto de aos poucos
Perecer....

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Invasão britânica ( Brithsh Invasion)



A expressão Invasão Britânica ( Brithsh Invasion) associado ao surpreendente e estrondoso sucesso de bandas britânicas, encabeçadas pelos Beatles, nos E U A entre os anos de 1964 e 1966 costuma ser também utilizado para as sucessivas ondas posteriores de bandas de origem britânica que conseguiram transcender as fronteiras da Grã-Bretanha e conquistar amplamente o público americano. Se ainda nos anos 60 bandas como Rolling Stones, The Who, The Animals, The Kinks, The Dave Clark Five, Gerry & The Pacemakers beneficiaram-se do impacto da “invasão clássica” e da Beatlemania, nos anos 70 assistimos uma onda de invasão de grandes proporções comportamentais e culturais assolarem o território americano. Se por um lado tínhamos o had rock inovador do Led Zeppelin e Black sabbath, do outro tinhamos o verdadeiro furacão punk dos Sex Pistols e The Clash. Isso para não falar da reminiscência psicodélica personificada pelo estilo único do Pink Floyd e pelo pós punk de bandas como Siouxsie & the Banshees e Joy Division.
Nos anos 80 seria a vez da new have através da explosão de bandas como The Police, Soft Cell, The Pretenders, The Wham ou os alternativos The Smiths, The Stone Roses, The Cure e Echo & the Bunnymen) aos quais se contrapunham em termos estilísticos bandas como Iron Maidem, Def Leppard, Saxon e Motörhead.
Chegando finalmente aos anos 90, somos surpreendidos pelo Britpop representado por bandas como Oasis, Blur e Radiohead. Por sua vez contrapostos ao cumulo da pop music das Spice Girls.
Bom, ficando nos anos 90, mas sem querer desmerecer bandas como o Coldplay, Amy Winehouse, Arctic Monkeys, Lily Allen ou Klaxons, cabe observar que ao longo dessas “invasões britânicas”, através de estilos e contextos diversos podemos vislumbrar uma musicalidade ou sensibilidade peculiar dos músicos britânicos que a diferencia significativamente do rock americano. Tal especificidade cultural, mesmo que não muito bem definida, é reveladora de algo que, no alem da lógica da industria fonográfica, podemos explicar pelos traços peculiares da própria cultura britânica e seu caráter ao mesmo tempo insular e cosmopolita. Universalista por excelência em decorrência da herança imperialista, o rock em solo britânico pressupôs sincretismos culturais diversos e únicos como, por exemplo, com a musica indiana, através dos Beatles e do the Who nos anos 60, com a musica folk através do Led Zeppelin ou um misto de folk e erudito como no caso do Deep Purble em seu álbum singular The Book of Taliesyn (1968). Evidentemente existem outros exemplos. O panorama atual da musica no reino unido, dada a massiva presença de imigrantes, é ainda mais rico em ritmos, tons e diferentes estilos até a fusão máxima e desconcertante de tudo através do mágico delírio da musica eletrônica. Certamente, podemos esperar ainda por muitas invasões britânicas...

Emily Dickinson e o lirismo popular da nova Inglaterra...



Já comentei escrevi anteriormente aqui sobre a poética de Emily Dickinson. Mas é inevitável voltar ao assunto após uma descompromissada visita ao encantador universo de sua poesia. Talvez, o que mais me atraia nela seja seu peculiar lirismo definido por um misto de ingenuidade infantil, subjetividade feminina, magoa de mulher e profundidade de poetisa que traduz como ninguém a simplicidade do canto popular da Nova Inglaterra em palavras aladas a correr ao vento de nossas próprias e contemporâneas almas.


Compartilho aqui alguns de seus versos:


I’ll tell you how the Sun rose-
A Ribbon at a time-
The Steeples swam in Amethyst-
The news, like Squirrels, ran-
The Hills unidet their Bonnets-
The Bobolinks- begun-
Then I said softly to myself-
“That must have been the Sun”!
But how he set- I know not-
There seemed a purple stile
That litlle Yellow boys and girls
Were climbing all the while-
Till when they reached the other side,
A Dominie in Gray-
Put gently up the evering Bars-
And led the flock away-


Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


Vou-te contar como é que o sol nasceu:
De repente uma fita apareceu,
Campanários nadaram em ametista
E noticias correram como esquilos;
Colinas desataram seus toucados,
Os passarinhos romperam em trinados.
Então disse baixinho p’ra mim mesma,
‘Deve sido o sol’!
Mas como foi que ele se pôs, não sei dizer.
No céu, um torniquete avermelhado-
Meninos e meninas de amarelo
Pulavam por ali em atropelo,
Na pressa de alcançar o outro lado-
Quando um clérigo de hábito cinzento
Fez o gradil da noite subir manso-
E dispersou o bando.
Love-is anterior to Life-
Posterior- to Death-
Initial of Creation, and
The Exponent of Earth-
Tradução de Aila de Oliveira Gomes:
O amor é à vida anterior,
À morte posterior,
Da criação o nascente, e
Do respirar, expoente.
The Rat is the concisest Tenant.
He pays no Rent.
Repudiates the Obligation-
On schemes intent
Balking our Wit
To sound or circumvent
Hate cannot harm
A foe so reticent-
Neither Decree prohibit him-
Lawfut as Equilibrium.
Tradução de Aila de Oliveira Gomes:
O rato é o inquilino mais conciso.
Não paga aluguel-
Repudia o compromisso;
Atento e ardil.
Frustra nossa astúcia
De alarme ou laço rente-
Nem ódio traz prejuízo
A inimigo tão reticente.
Love-is anterior to Life-
Posterior- to Death-
Initial of Creation, and
The Exponent of Earth-

Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


O amor é à vida anterior,
À morte posterior,
Da criação o nascente, e
Do respirar, expoente.


The Rat is the concisest Tenant.
He pays no Rent.
Repudiates the Obligation-
On schemes intent
Balking our Wit
To sound or circumvent
Hate cannot harm
A foe so reticent-
Neither Decree prohibit him-
Lawfut as Equilibrium.


Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


O rato é o inquilino mais conciso.
Não paga aluguel-
Repudia o compromisso;
Atento e ardil.
Frustra nossa astúcia
De alarme ou laço rente-
Nem ódio traz prejuízo
A inimigo tão reticente.
Nenhum decreto
Inibe-o-
Legal como
O equilíbrio.

Nenhum decreto
Inibe-o-
Legal como
O equilíbrio.



MEDOS



Guardo muitos medos em silêncio
No desenho dos atos
E apostas tolas de pensamento.


Cada passo de mundo
É como um pisar de abismos
Sobre hiatos que rasgam vontades
Construindo fronteiras
Entre sonhos e realidades.


Entre o real e o fantástico
Afinal
O medo é tudo que existe.
No jogo da existência
a regra é aprender limites...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

NOSTALGIA

Desbotados passados
Pendurados nas paredes
D’alma
Ainda me dizem
Algum amanhã possível
Enquanto sombras passeiam pelo vazio
Do provisório de cada dia.

Guardo a nostalgia
Dos coloridos jardins
De quintais de infância.

Aguardo-me na porta dos fundos
Da memória
Para reinventar o futuro
Em resgates de sonhos perdidos.

NOSTALGIA DE FUTURO

Procuro
No fundo das horas
Um pedaço aberto de céu
Para guardar medos e sonhos,
Esquecê-los em degredos
E descobrir em meus passos
Toda liberdade de ser.

Quero caminhar
Sobre um chão transparente
E incerto
Que me conduza a paisagem
De um feminino rosto escrito
Na alma dos meus sentidos.

Talvez, então,
Eu finalmente me veja
Do outro lado do pensamento,
Na realidade do outro,
buscando um delírio de acaso
que conduza a vida
A própria Vida
Até o infinito dos sentimentos...

Procuro
No fundo do tempo futuro
A perdida metade do meu ser
Sofrendo sonhos e nostalgias
De amanhãs quase perdidos.

A ARTE DE NAOTTO HATTORI: Um exemplo de "pos cultura"








As “psicodélicas” ou "surreralistas" imagens de Naotto Hattori ( 1975- ...) , ilustrador e artista gráfico japonês contemporâneo, nos conduzem a aventura de subversão das representações tradicionais da vida e do mundo através da fantasia como linguagem, como forma de des-leitura do real que nos leva ao avesso de uma narrativa do mundo. É articulada a tal orientação que sua obra personifica a desconstrução da própria idéia de arte e estética tradicionalmente estabelecidas. Podemos considerá-lo demasiadamente “pop”... demasiadamente distante de nossas sensibilidades a ponto de representar algo como uma "pos cultura". Mas o que poderia ser mais contemporâneo no plano das artes do que esse deslocamento absoluto de nossas sensibilidades compostas por retalhos de “classicismos” e “modernismos”?


terça-feira, 12 de agosto de 2008

CRONICA RELÂMPAGO XXXIII


Há dias que merecem apenas a saudação de um bocejo; dias previsíveis e definidos pela fatalidade serena do acontecer das rotinas; dias que nada nos dizem e contra os quais nos debatemos evadindo em devaneios para algum passado distante, alguma alegria inteiramente perdida, mas que nos habita intensamente como o fantasma de possibilidades felizes em sonhos de futuro. De muitas maneiras somos moldados por essas ingênuas fantasias enquanto percorremos a contra gosto nossos desertos cotidiano.
Todo ato de pensamento é uma manifestação do porvir, do infinito movimento ou mutação permanente que nos faz de algum modo existir contra a inércia dos fatos.

RADIOHEAD: NO SURPRISES...



Formada no ano de 1988, em Oxford, por Thom Yorke (vocais, guitarra, piano), Jonny Greenwood (guitarra), Ed O'Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo, sintetizador) e Phil Selway (bateria, percussão), o Radiohead tornou-se uma das mais originais bandas inglesas de rock alternativo.
OK Computer, seu terceiro álbum, lançado em 1997, uma alegoria cinzenta para o mundo moderno, pode ser considerado um dos grandes ícones dos anos 90 do século passado. Considero uma das canções deste álbum, NO SURPRISES, singularmente interessante, uma espécie de anti utopia pós moderna que nos faz pensar sobre a condição do individuo singular envolto em um mundo de incertezas e ausências de significados...

SURPRISES
Compositor: Tom Yorke
A heart that's full up like a landfill

A job that slowly kills you

Bruises that won't heal

You look so tired and unhappy

Bring down the government

They don't, they don't speak for us

I'll take a quiet life

A handshake of carbon monoxide


No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

Silent

silent


This is my final fit, my final bellyache with


No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

please


Such a pretty house, such a pretty garden


No alarms and no surprises (let me out of here)

No alarms and no surprises (let me out of here)

No alarms and no surprises please (let me out of here)


Tradução:


Um coração que se encheu como um aterro
um trabalho que te mata lentamente,
feridas que não cicatrizam.

Você aparenta estar tão cansado-infeliz,


Derrube o governo,
eles não, eles não falam por nós.
Eu vou levar uma vida tranqüila,
Um aperto de mão de monóxido de carbono,


Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,
sem sustos e sem surpresas,
sem sustos e sem surpresas.
Silêncio, silêncio.


Este é meu ajuste final
minha dor de barriga final.


Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,
sem sustos e sem surpresas,
sem sustos e sem surpresas,

por favor.


Uma casa tão bonita
e um jardim tão bonito.


Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,
sem sustos e sem surpresas,
sem sustos e sem surpresas

, por favor.

FANTASY

Soube o doce bailado
De uma fantasia
Sob a suave musica
De um outono em chuva.

Naquele instante
Não sofria o tempo,
Não sabia as agonias
Das rotinas e dos dias.

Abraçado a uma fantasia
Percorria jardins antigos,
Sentia o sumo
Do gosto do mundo
Saboreando a verdade viva
Da simplicidade
De todas as coisas vivas.

sábado, 9 de agosto de 2008

C G JUNG E O PROBLEMA PSICOLOGICO DA IMAGEM DO MAL



Comentei a poucos dias a obra de William Golding “O Senhor das Moscas” e me pareceu adequado agora aprofundar a imagem das dimensões sombrias da condição humana, sugeridas pela literatura do autor, através de um fragmento do ensaio Presente e Futuro de C G Jung, originalmente publicado em março de 1057 em Zurique. Se o grande tema aqui é o arquetipico da sombra, cabe lembrar que um dos desafios que conduzem a saúde psíquica e a um desenvolvimento da consciência não é a sua recusa moral, mas sua integração positiva a pluralidade de eus que nos compõe... Na reflexão de Jung, aqui exposta há ainda o espectro da então relativamente recente experiência da Segunda Guerra Mundial e das polêmicas surgidas em torno de especulações sobre sua posição frente ao nacional socialismo. O que importa, porém, é a critica do autor a idéia de que o mal corresponde a uma realidade metafísica da qual somos vitimas em lugar de algo humano, demasiadamente humano...
“Na opinião generalizada de que o homem é aquilo que sua consciência conhece de si mesmo, diz-se sub-repticiamente que o homem é inocente, o que na verdade, só acrescenta uma dose de ignorância a maldade dele presente. Não se pode negar que coisas terríveis aconteceram e ainda acontecem. Contudo, achamos que são sempre os outros, os responsáveis, e como esses acontecimentos pertencem sempre a um passado, seja mais próximo ou mais distante, eles rapidamente acabam mergulhando no mar do esquecimento, num estado de espírito completamente ausente e crônico que chamamos de “estado normal”. Na realidade, porém, nada desaparece definitivamente e nada pode ser reposto. O mal, a culpa, o medo profundo da consciência moral e as instituições sinistras estão ai para quem quiser ver. Forma homens que cometeram esses atos: eu sou um homem e, enquanto natureza humana, compartilho dessa culpa como também trago a em minha própria essência a capacidade e a tendência de fazer, a cada momento, algo semelhante. Do ponto de vista jurídico, mesmo não estando presentes no momento do ato, nós somos, enquanto seres humanos, criminosos em potencial. Na realidade só nos faltou a oportunidade adequada para nos lançarmos ao turbilhão infernal. Ninguém esta fora da negra sombra negra sombra coletiva da humanidade. Se o crime foi cometido por muitas gerações ou se é apenas hoje que se realiza, isso não altera o fato de que o crime é o sintoma de uma disposição preexistente em toda parte, de que realmente possuímos uma “imaginação para o mal”. Apenas o imbecil pode desconsiderar durante todo tempo as condições de sua própria natureza. Mas é justamente essa negligência que se revela o melhor meio para torná-lo um instrumento do mal. A inocuidade e a ingenuidade são atitudes tão inúteis quanto seria para um doente de cólera e s eus vizinhos permanecer inconscientes a respeito da natureza contagiosa da doença. Ao contrário, estas acabam levando a projeção do mal não percebido nos “outros”. Isso só fortalece enormemente a posição contrária, pois, com a projeção do mal, não percebido nos “outros”. Isso só fortalece enormemente a posição contrária, pois, com a projeção do mal, nós deslocamos o medo e a irritação que sem timos em relação ao nosso próprio mal para o opositor, aumentando ainda mais o peso da sua ameaça. Além disso, a perda da possibilidade de compreensão também nos retira a capacidade de lidarmos com o mal. Aqui nos vemos diante de um dos preconceitos básicos da tradição cristã e um grande obstáculo a nossa política. Segundo esse principio, é preciso evitar o mal a todo custo e, se possível, jamais falar dele nem mencioná-lo. O mal é também o “desfavorável”, o tabu e a instância de temor. O comportamento apotropético na relação com o mal e na forma de se lidar com ele ( mesmo que aparente) vem ao encontro da tendência característica do homem primitivo de evitar o mal, de não querer percebe-lo e de, se possível, afastá-lo para outras fronteiras, tal como o pode expiatório, no Na tigo Testamento, usado para afastar o mal para o deserto.
Se entendermos então que o mal habita a natureza humana independentemente da nossa vontade e que ele não pode ser evitado, o mal entra na cena psicológica como o lado oposto e inevitável do bem. Essa compreensão nos leva de imediato ao dualismo que, de maneira inconsciente, se encontra prefigurado na cisão política do mundo e na dissociação do homem moderno. O dualismo não advém da compreensão. Nós é que nos encontramos diante de um estado de dissociação. Todavia, seria extremamente difícil pensar que teríamos de assumir pessoalmente essa culpa. Assim, preferimos localizar o mal em alguns criminosos isolados ou em um grupo, lavando as próprias mãos e ignorando a propensão geral para o mal. A inocência, porém, a longo prazo, não será capaz de se manter porque, como nos mostra a experiência, a origem do mal está no próprio homem e não constitui um principio metafísico como supõe a visão cristã.”
( C G Jung. Presente e Futuro, in Obras Completas de C G Jung. Vol. X/1/ tradução: Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 2ºed. 1989, p.44)

POEMA DO NADA

Nada que somos
E vivemos
É límpido e claro
Como uma certeza
Ingênua de pensamento.

Nada é pré desterminado,
Atávico,
Em nossas vidas
Explodindo no correr do tempo.

Nada é tudo que importa,
Nada é definitivo,
Como um grito perdido
Em uma paisagem morta...

A liberdade é um nada
Que nos faz buscar o impossível
E construir o possível
De nossas possibilidades
Entre casas e jardins
Fora do mundo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008



“AND NOW FOR SOMETHING COMPLETERY DIFERENT!”

IT’S....


O ultimo esquete do episódio 8 da primeira temporada do Flying Circus do Monty Python, exibido originalmente pela BBC em 25 de novembro de 1969, intitulado Full Frontal Nudity, é filosoficamente hilariante ao construir, em fins dos conturbados anos 60, um jogo mágico de espelho cultural através do seu ultimo esquete. Refiro-me, obviamente, a Hell’s Grannies... Esse imperdivel clássico do humor britânico. Que ninguém morra sem o ver...
Enfim, em Notlob, um bairro da cidade de Bolton, surge uma inusitada e crucial questão: A cidade encontra-se, então, sitiada e acuada por uma nova e inédita modalidade de violência: surgem, não se sabe de onde, sombrias gangues de velhas que atacam gratuitamente homens jovens, rebeldes e indefesos. Estes já não mais possuem segurança para saírem de casa, freqüentar a academia de boxe e etc...; entregues ao medo dessas cruéis delinqüentes de vestido e cabelos brancos que também elegem como alvo privilegiadamente inofensivas cabines telefônicas eles se encolhem em seu fazer-se no mundo. Elas também se divertem deproravelmente pichando no silêncio dos muros frases subversivas do tipo Make tea not love, etc...
Mas o pior de tudo acontece no dia do pagamento das aposentadorias, quando essas deploráveis senhoras torram todo o seu dinheiro em leite, pão, chá, comida para gato, e transformam as matinês de cinema em verdadeiros espetáculos dantescos rasgando poltronas e quebrando aparelhos auditivos.
Mas o grande problema dessas delinqüentes senis ancora-se, no fundo, na completa rejeição dos valores que hoje norteiam a sociedade contemporânea. Não é por acaso que muitos jovens se sentem culpados diante dessa absurda ameaça na qual se converteram nossas velhas de estimação. Eles são hoje bem sucedidos corretores, empresários e até sociólogos e historiadores, mas são obrigados a conviver com essas viciadas em crochê, potencialmente instáveis quando lhes falta lã...
Mas essas Hell’s Grannies não são a única ameaça contra a sociedade contemporânea. Esse novo tipo de violência também ganha forma através da dos bebes ladrões que fazem adultos indefesos e diversas coisas desaparecerem e a gangue de pracas de Keep Left ( Mantenha-se a esquerda) que constrangem e impedem o direito de ir e vir de muitos indefesos jovens.

BLACK SABBATH



1968 foi o ano de formação de uma das maiores bandas de rock de todos tempos, o Black sabbath. Surgida em Birmingham, Inglaterra e composta originalmente por Ozzy Osbourne (vocalista), Tony Iommi (guitarrista), Geezer Butler (baixista) e Bill Ward (baterista), chegou a se chamar Polka Tulk e mais tarde Earth antes de adotar seu nome definitivo em 1969. O Black Sabbath surgiu no cenário do rock dos anos 70 como uma novidade esmagadora. Podemos atribuir-lhe a ruptura com a musicalidade dos anos 60, o fim do clima de paz, amor e psicodelismo e a criação de uma nova linguagem musical que daria origem ao heavy metal.
Seu LP de estréia Black Sabbath (1970) com seus temas sombrios e místicos rendeu-lhe uma legião de fãs e uma excelente colocação no top 10 das paradas britânicas. Mas foi, definitivamente seu segundo álbum Paranoid ( 1970) com clássicos como War Pigs,Iron Man e Fairies Wear Boots, que lhe assegurou definitivamente um lugar privilegiado no cenário musical de então.
A rebeldia dos anos 70, já não se identificava apenas com questões políticas e filosóficas, compreendia o desregramento dos sentidos, a desmedida, e incorporava o culto ao diabo como uma forma radical de contestação dos valores culturais impostos pela tradição. Pode-se dizer que imperava ainda um certo otimismo ingênuo na cultura da juventude herdado dos anos 60, mas muitas coisas começavam a mudar...

AVENUES

O mundo cabe
Em uma lágrima
E escapa a um pensamento.

È tão pequeno
Que não o percebo...

For we are on
The brink of
Re-relembrance.
I suppose...
In vistas,
Down dark avenues,
Down the avenues...

INVERNO VIRTUAL

Em dias de puro verão
Fico pensando
Se as flores
Não gostariam de um pouco de chuva,

Se minhas dores não sonham
Com um pouco de fuga...

Talvez surja na neve
Presente em alguma parte
Do mundo e do norte
Qualquer sombra de sorte
E primavera
Em absoluto branco e frio
De mil destinos.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

LITERATURA INGLESA XXXIV




Sir William Golding (1911-1993) foi um dos mais fascinantes escritores britânicos do pós guerra. Novelista e poeta graduado em literatura inglesa em Oxford nos anos 30, em 1940 entrou para a Marinha Britânica servindo na Segunda Guerra Mundial. Participou inclusive do histórico desembarque dos aliados na Normandia, em 1944.
Com o fim da guerra passou a lecionar e em 1954 publicou seu primeiro e mais impactante romance: O Senhor das Moscas. Até então só havia publicado uma coletânea de poemas em 1934. Seguiram-se, então, Os Herdeiros (1955) e Queda Livre (1959), dentre outros títulos.
O título de o Senhor das Moscas é uma referência a Belzebu (do nome hebraico Ba’al Zebub, בעל זבו), um sinônimo para o Diabo. Trata-se de uma obra profundamente alegórica e pessimista que nos defronta com o pior e mais elementar da condição humana. Uma das passagens que considero mais significativa desta singular narrativa é o momento em que Simon, um dos meninos perdidos na ilha, imagina uma voz em uma cabeça de porco coberta de moscas. Acreditando que a mesma pertence ao imaginário monstro que habita a ilha, a escuta dizer que jamais escapará dele, pois ele existe no interior de todos os homens. O personagem é pouco depois morto pelos seus próprios companheiros que ao verem saindo de uma floresta o tomam por engano pelo monstro imaginário.
O argumento para essa interessante obra pode ter sido sugerida pela experiência de Golding na Bishop Wordsworths School, uma escola católica para meninos, em Salisbury, na Inglaterra, onde ensinou língua inglesa a partir de 1945. O fato é que O Senhor das Moscas pode ser interpretado como uma critica a teoria do "bom selvagem" formulada por rousseau. Trata-se de um dos livros mais fascinantes que já li ...


" -És um menino tonto! -diz o Deus das Moscas. -Um menino tonto e ignorante!
Simão move a língua inchada, mas não profere palavra.
-Não estás de acordo? -pergunta o Deus das Moscas. Não és um menino
pateta?
Simão replica-lhe na mesma voz silenciosa.
-Ora bem -continua o Deus das Moscas. É melhor saíres daqui
para ires brincar com os outros. Pensam que tu és maluco. Tu não
queres que Rafael pense que és maluco, pois não? Gostas muito do Rafael,
não é verdade? E do Bucha e do Jack?
A cabeça de Simão levanta-se ligeiramente. Os seus olhos não podem
desfitar o Deus das Moscas, ali cravado naquele espaço diante de si.
-Que fazes tu aqui sozinho? Não tens medo de mim? Simão estremece.
-Não há ninguém que te ajude. Só eu. E eu sou a Fera. A boca de Simão
esforça-se, exprime palavras audíveis:
-Cabeça de porco num pau!
-Imagina tu! Pensar que a Fera era alguma coisa que se poderia caçar
e matar! -exclama a cabeça. Durante uns segundos, a mata e todos os
outros recantos indefinidamente entrevistos
ecoam com a paródia do riso. - Tu sabias, não é verdade? Eu sou
parte de ti próprio. Aproxima-te, aproxima-te ainda mais! Sou eu

o motivo por que não se pode ir mais além? Porque é que as coisas são
o que são?
O riso torna a arrepiá-lo.
-Ora vamos! -volve o Deus das Moscas. -Vais ter com os outros e esqueçamos
tudo isto.
A cabeça de Simão vacila. Os seus olhos estão semicerrados como se imitasse
aquela coisa obscena espetada num pau. Pressente que se avizinha
um dos seus momentos. O Deus das Moscas expande-se como um balão.
-É uma parvoíce. Sabes perfeitamente bem que só nos encontraremos lá
em baixo, de maneira que não tentes fugir!
O corpo de Simão arqueia-se, rígido. O Deus das Moscas fala-lhe com a
voz de um professor.
-Esta brincadeira já durou mais do que devia. Meu pobre menino desencaminhado,
tu pensas que sabes mais do que eu?
Uma pausa.
-Aviso-te. Vou zangar-me. Vês? Não precisam de ti. Entendes? Vamos
ter uma grande reinação nesta ilha. Entendes? Vamos
ter uma grande reinação nesta ilha! De modo que não tentes fazer de
esperto comigo, meu pobre menino desencaminhado, ou então...
Simão dá-se conta de que olha para uma bocarra imensa. Lá dentro há
negrume, um negrume que se expande.
-Ou então -prossegue o Deus das Moscas -acabamos contigo. Vês? O
Jack, o Maurício, o Roberto, o BilI, o Bucha e o Rafael. Vês?
Simão era tragado pela bocarra. Cai e perde os sentidos.
Uma visão da morte."

NAUFRAGO

Naufrago de mim mesmo
Abandonei-me
Em ilhas imaginárias
Perdidas no fundo d’alma.

Esqueci rosto
E palavra
Despido de sonho
E vontade.

Cai em minha sombra
Como quem cai em abismos
Mutilado pelos silêncios
Do meu passado entreaberto.

Vislumbro esquecimentos
Em minhas ausências
Degredando futuros
E sonhos selvagens de felicidade.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

MONTY PHYTON: FLYING CIRCUS



IT’s...
No episódio 2 ( Sex and Violence) da primeira temporada de FLAING CIRCUS do Monty Phyton encontramos uma série de sketchs singularmente divertidas e acidas sobre alguns dilemas contemporâneos. Penso particularmente no esquete The Epiloque: A question of Belief ( O Epílogo: Uma questão de crença), simulação de um programa de debates onde na noite em questão, os debatedores representados por um lado pelo Monsenhor Edward Gav, emissário pastoral visitante da Universidade de Teologia Somerset, autor do best seller “Meu Deus” e, por outro lado, pelo Dr. Tom Jack, humanista, jornalista, palestrante e autor de livros como “Ola Marinheiro”, decidem substituir os incansáveis e infrutíferos debates sobre a existência ou não de Deus por uma boa briga em um ringue em uma disputa de três assaltos...
Algumas esquetes depois, em outra simulação de um programa sobre atualidades, The World around us (O mundo a nossa volta) nos confrontamos com o delicado problema da descriminação e preconceito contra os “homens- ratos”, ou seja o caso de homens que pensam que são ratos e adotam um comportamento desviante fantasiando-se como tal e adquirindo hábitos d e ratos.
Mas em que pese todo o preconceito e falta de informação existente sobre o delicado tema, após depoimentos de homens ratos e opiniões de especialistas, somos induzidos a crer que, como demonstram os exemplos históricos de Cezar e Napoleão, os “homens-ratos” podem ocupar um lugar útil na sociedade.
... Já no final do episódio, retomando o esquete The Epilogue, cabe informar o resultado do combate pela existência ou não de Deus: Deus existe por duas quedas contra um nocaute... Resultado que, pessoalmente, considero terrivelmente injusto... Até hoje aguardo pelo sketch de uma revanche que certamente provaria que Deus não existe!

ENIGMA PESSOAL



Nenhum instante
Ou retalho de tempo sentido
Define-me nos dias
Ou na alma.


Significados me fogem
Quando tento
Inutilmente agarrá-los
Em sombras de memórias
E certezas de rosto.


Sou a soma
De perdas e conquistas
No provisório balanço
De mim mesmo.


Entre transformações e buscas
Abandono-me ao vento
Que me desfaz e refaz
No movimento da vida.

PENSAMENTO E CONTEMPORÂNEIDADE


“Sem os punhos de ferro da modernidade,
a pós-modernidade precisa de nervos de
aço”
.
BAUMAN, Zygmunt: Modernidade e Ambivalência

O exercício de pensar na contemporaneidade pressupõe toda economia simbólica como um jogo de linguagem deslocado de qualquer objeto de eleição, de qualquer correspondência viva entre as palavras e as coisas.
A consciência tornou-se, em muitos sentidos, o único sujeito e objeto possível do pensamento que, cada vez mais, volta-se para e contra si mesmo no produzir irrestrito do conhecimento.
Já não é mais possível apropriar-se do mundo pelo pensar, reduzi-lo a uma espécie de ciframento, codificação ou desvelamento de uma realidade passível de revelação. Pois tudo que vemos hoje é uma espiral de conceitos, métodos, ideações e arbitrarias eleições cognitivas que se mesclam em um amalgama de informações inconclusas, historicamente determinadas, em sua inevitável perenidade ou provisório e relativo valor.
Aqueles que ainda se entregam à chamada “vida do espírito” encontram-se diante do desafio de reconhecer o esforço de pensar, antes de tudo, como uma atividade lúdica não mais destinada a fomentar valores morais, princípios e certezas de mundos imaginados como realidades.
O conhecimento hoje em dia, parafraseando Jean Francois Lyotard em A Condição Pos Moderna, é basicamente performance... Acrescentaria ainda: ele é incredubilidade e descrença na fundamentação ultima de todo discurso, isto é, o sentimento de verdade.

A ESSÊNCIA DO FUTURO



Muito do que sou hoje
É puro futuro
Do qual ainda
Não sou capaz.


O porvir, afinal,
É o vazio que da forma
Ao tempo,
Uma insaciável ausência
Que nos faz
Desesperadamente
Viver...


Sem querer,
Entretanto,
Vislumbro apenas passados
Em meus horizontes
E sigo no tempo
Como um sereno vento.

domingo, 3 de agosto de 2008

MONTY PHYTON: FLYNG CIRCUS


IT’S...

O personagem maltrapilho. Cabeludo e barbudo das aberturas dos episódios da série Flyng Circus do Monty Phyton, exibida pela BBC entre os anos de 1969 e 1973 é um naufrago que nos sugere o naufrágio de nosso próprio mundo... Leitura possível para uma apropriação do humor singular e único do Monty Phyton em linguagem filosófica/satirica. Podemos, inclusive considerar esse mágico sexteto britânico, sem embargos, como os melhores continuadores da “literatura de costumes” tão em voga entre os escritores vitorianos...
Sim... somos náufragos de nos mesmos e rir disso é uma vitória do pensamento.

LOVE...

I get my love back
At evening.

O mundo explode
Lá fora em brilho fosco de noite
Nessa cidade que nos ignora
Como ignoramos um ao outro.

Free...

Fidelity?
Loyalty?
Attachment?

Oh, these are
Abstractions
Sobre um céu nublado
E lindo.

SHIP

Entre o céu e a terra
Correm diversos ventos,
Que percorrem nossos momentos
Como um verso exilado
Em busca da forma
De um pensamento.


Sinto-me o mero e provisório
Produto
De algum destes ventos
Que sopram
Sem direção ou rumo.

Sei que sou o esforço
E esboço
De algum futuro informe
Que nunca busqueiComo nau em mar profundo