quarta-feira, 27 de agosto de 2008

F. NIETZSCHE E A CONTEMPORANEIDADE


É justo questionar o que efetivamente faz de friedrich Nietzsche ( 1844-1900) um dos mais contemporâneos pensadores do século XIX europeu. Pode-se dizer que ele foi um critico voraz da modernidade, o que por si só é mais do que suficiente para atestar sua atualidade, visto que esta é uma das questões mais decisivas de nossa contemporaneidade.
Mas cabe também considerar o forte apelo de sua filosofia aquilo que nos é mais caro: nossa própria individualidade e singularidade humana a deriva entre as prerrogativas da natureza e os imperativos da civilização.
Colocando as coisas em ternos bem “nietzscheano”, seu pensamento é essencialmente uma afirmação radical da vida em toda sua potencialidade instintiva e telúrica, uma filosofia dionisíaca voltada para superação de toda a tradição ocidental, seja em sua dimensão racionalista/filosófica, seja em sua dimensão ético moral personificada pelo “deus morto” da tradição judaico-cristã.
Seu livro mais popular: Assim falava Zaratustra personifica de modo intensamente poético e metafórico a verdadeira transmutação de valores vislumbradas pelo seu autor. Através de seu Zaratrusta Nietzsche não apenas anuncia a morte do deus cristão, mas nos oferece a boa nova do alem do humano, do super homem. Este advento de um homem superior, arauto de um pensar critico e independente, irredutível frente a lógica do rebanho inspirada pelo poder simbólico da Igreja, do Estado e da própria Sociedade, é também um chamado a solidão. Não qualquer solidão, mas aquela que nos compromete a busca do Maximo potencial da singularidade ou individualidade humana através de uma reconciliação com nossa própria natureza psíquica e a desconstrução de todo carcomido mundo da tradição.



DO HOMEM SUPERIOR ( fragmento)

1

“ A primeira vez em que estive na casa dos homens, cometi a loucura do solitário, a grande loucura: instalei-me na praça pública.
E como falava a todos, não falava a ninguém. E, à noite, tinha por companheiros funâmbulos e cadáveres. Eu mesmo era quase um cadáver!
A nova manhã me trouxe uma nova verdade. Aprendi então a dizer: “Que me importam a praça pública, a plebe, a algazarra da plebe e as orelhas cumpridas da plebe?”.
“Homens superiores”- assim diz a plebe. “Não há homens superiores. Todos somos iguais. Perante Deus, um homem não é mais que outro. Todos somos iguais.!”
Perante deus! Mas agora esse Deus morreu. E perante a plebe nós não queremos ser iguais. Homens superiores, fugi da praça pública.

2

Perante Deus! Mas agora esse Deus morreu! Homens superiores, esse Deus foi o nosso maior perigo.
Ressuscitastes desde que ele jaz na sepultura. Só agora volta o grande meio dia. Agora torna-se senhor o homem superior.
Compreendeis essas palavras, meus irmãos? Estais assustados, vosso coração esta dominado pela vertigem? Vedes abrir-se aqui para vós o abismo? O cão do inferno ladra contra vós?
Vamos, coragem! Homens superiores! Só agora a montanha solta o grito da parturiente porque vai dar a luz o futuro humano. Deus morreu. Agora nos queremos que viva o super homem.”

(F. Nietzsche. Assim falava Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém./ tradução de Ciro Mioranza. SP: Editora Escala, ( Coleção Grandes Obras do pensamento Universal) s/d., p.250-1)

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