sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

FIM DE ANO


É, mais uma vez,
fim de ano.
Tempo de consumo,
hipocrisia e festa.

O mundo segue,
como sempre,
de mal a pior.
Mas hoje isso não importa.
É  tempo de reeditar a bleguice natalina
e a estupidez do réveillon.

Vamos fingir que tudo vai bem.
Pois é tempo de consumo,
hipocrisia e festa.
É, mais uma vez,
fim de ano.



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

CONTRA O CONFORMISMO

Venho tentando,
na contramão da realidade,
 fazer qualquer coisa 
que me anime a existência.

Não busco com isso nenhum motivo
para imaginar futuros alternativos
ou inspiração para cultivar esperanças e utopismos.

Que fique aqui bem claro:
Não quero criar bandeiras ou fundar partidos.

Me basta qualquer coisa tola e pequena,
 que  rompa, sem grande alarde, 
com  todo nosso escandaloso conformismo.
Quero cultivar espantos.

Contento-me com o vigor de um susto,
de um uivo, de um cuspe, e,
talvez, até, de um suicídio,
que traduza toda perplexidade de estar vivo contemplando disparates e absurdos.






sábado, 30 de novembro de 2024

A NEGAÇÃO DE SER


Sou livre de todo destino, 
moral ou sina.
Nenhum deus me guia,
nem busco qualquer companhia.
Pois não nasci para constituir família,
nem cresci para fazer fortuna.

Meu futuro é me perde de ser.
É desacontecer, 
viver intensamente minha queda
no raso abismo da realidade
até, por fim, desaparecer.



















 


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A ARTE DE VIVER


Não me conformo a prisão 
de uma língua ou nacionalidade.
Não carrego o peso de tradições,
identidades ou ancestralidades.

Viver é para mim evadir-se,
não ser em si.
Por onde vou sou liberdade
e sempre estou de passagem.
Pois nada me prende a nada.
Vivo apenas para morrer.


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

FARDO BIOGRÁFICO

Cada um de nós é o resultado 
dos outros que nos frequentam,
de um dado intervalo de tempo
e de alguns banais sentimentos
sempre convencionais.

Mas há algo de indeterminado
e de incerto
em tudo que somos nós,
algo que de tão insondável e inquieto,
termina mansamente 
em esquecimento, 
indiferença, angustia e silêncio.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

ROTINA & TÉDIO

Todo dia a mesma rotina,
o mesmo tédio,
 trabalho, almoço e cansaço.

O tempo passa
em horas mortas 
enquanto a vida segue vazia
e meu quintal tem gosto de cemitério

Todo dia a mesma rotina,
o mesmo tédio,
entre o trabalho, almoço e  cansaço
e  meu quintal tem gosto de cemitério.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

POR UMA EXISTÊNCIA ERRANTE


Quero existir fora de época,
a margem da lei, da ordem
 e do universo.

Quero crescer
como um animal qualquer.
Sem ambições, pretensões 
ou profissões de fé.

Quero ser na contramão da Razão, 
adversário de todo progresso,
religião e Estado.
Seguir duvidoso e incerto contra todos os fatos,
até a vida  me desfazer da existência e apagar os meus atos.







sexta-feira, 8 de novembro de 2024

O OUTRO

O outro é aquele que escapa,
 que desconhece nossa realidade 
 e nos ensina distâncias,
 descrenças e alteridades. 

 Ele é o forasteiro que  nunca se enquadra,
 que insinua mudanças,
que quer outra coisa 

Ele é o vizinho que nos questiona 
 e o estranho que nega o rebanho.

O outro é, por definição,
aquele que diz não
e jamais se conforma.


A VIDA É O AGORA

Não importa o passado,
as tradições e memórias
que sustentam o tempo do sempre igual.
A vida é o agora.

É preciso romper com o futuro
e atualidade de tantos e perversos passados.
É preciso ir além dos fatos
inventados pela tradição.

Libertem-se de tanta ilusão,
da prisão dos livros de história.

Não importa o passado 
Vivemos para efêmera eternidade do instante.
A vida é o agora.


domingo, 3 de novembro de 2024

INFÂNCIAS



É fato que as infâncias mudam com o tempo estabelecendo múltiplas formas de um acontecer criança.
A infância é um momento inventado de nosso desenvolvimento físico e cognitivo.
Mas se trata de uma invenção muito poderosa.Talvez um dia não existam mais adultos e todas as idades se tornem diferentes fases de um permanente estado de infância ...

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

LIMITE

Ainda alcançaremos
o limite da angustia,
da rotina, da busca,
da fuga, do desespero
e das indignações.

Ultrapassaremos as margens do abismo,
superaremos todas as nossas cotidianas ilusões 
através de fatais transgressões .


quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O QUE É A REALIDADE?


A realidade é a necessidade 
que nos impõe limites.
É o trabalho, o tributo,
e o consumo.
É ser reduzido a dados,
objetivado e vigiado pelo Estado.

A realidade é uma doença 
que nos apodrece a consciência.
É o limite, a ordem,
o poder, o privilégio e o racismo
que rouba de nós, diariamente, a vida
sem nunca encontrar  a tenaz resistência que merece.




sábado, 5 de outubro de 2024

O LIMITE DE TODOS NÓS

Cada um sabe o limite de si mesmo,
a onipotência e atrocidade do mundo
contra nossa atroz vaidade.

Cada um é sua própria impotência,
sua  necessidade e resistência,
enquanto as coisas mudam,
enquanto  morremos todos
 derrotados por efêmeras urgências.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

PONTO DE MUTAÇÃO

Em algum momento 
fiquei pelo caminho
da minha própria vida.

Deixe-me ali,
onde algo não aconteceu
e tudo mudou para sempre.
Depois daquilo,
nunca mais pude ser eu.



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

O MUNDO

O mundo não cabe nos olhos, 
no pensamento, 
na cidade ou no corpo. 

 O mundo é o sangue,
 a fome, 
a dor e o limite. 

 É tudo que me obriga 
a ser outro,
é o que me faz ninguém
e o que nos falta.


SOBRE O TEMPO QUE FALTA

Não tenho tempo para a verdade, 
ou, quem sabe,
para plantar uma árvore 
pelo futuro da humanidade. 

 Não tenho tempo... 

Mas nada disso
 mudaria  a realidade
 ou nos traria um futuro
 contra as dores do mundo.

 Não há mais tempo.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

AS COISAS NÃO ACONTECEM MAIS

As coisas não acontecem mais...
Permanecem indeterminadas
entre o fato e a interpretação,
reduzidas a informação,
 banal e abstrata,
como o mundo atual.

As coisas não acontecem mais
nos tempos do virtual.
Tudo é narrativa, simulacro,
quase ficção.
Vivemos a era do efêmero e do descartável.

A vida não acontece mais.
O mundo é uma grande ilusão
reciclável.


sábado, 14 de setembro de 2024

SOBRE O QUE NUNCA ACONTECEU


A vida é o que escapa,
o que morre,
o que não foi,
não será,
ou se perdeu para sempre
no mais fundo de uma recordação.

A vida é o que nunca aconteceu,
mas será lembrado, como miragem,
possibilidade,
de um outro que poderia
ter sido eu.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

MEU SILÊNCIO

Meu silêncio é um grito 
que foge aos ouvidos 
 para evitar ser devorado pela multidão.

 Não quero ter voz, 
 vomitar verdades, 
ser porta voz de modelos 
ou utopias.

 Jamais direi aos outros 
como ser, saber ou viver. 

Meu silêncio 
fala sobre a liberdade de todos
 contra o poder de poucos
afirmando a submissão de ninguém.

sábado, 7 de setembro de 2024

CIDADES

Toda cidade é um deserto
de asfalto, carro e concreto,
onde mal se respira.

É um lugar onde gente
parece formiga,
políticos mentem,
ninguém se entende,
e a necessidade e a miséria 
goveram insensatamente a vida.

Toda cidade é um lugar de trabalho,
exploração, desalento e rotina,
onde o luto é sempre mais forte
que qualquer  esperança ou alegria.

Resumidamente,
toda cidade é a triste ilusão 
de qualquer classe média 
que nega o protagonismo
das periferias.









terça-feira, 3 de setembro de 2024

CONSERVADORISMO PROGRESSISTA

Muitos falam sobre transgressão e mudança 
como se a vida ainda fosse a mesma
do  século XIX.

Tornaram-se tristes profetas
de uma transformação caduca,
pois veneram com devoção 
o cadaver do futuro morto
de uma antiga revolução.

Hoje são mais conservadores
que os mais raivosos reacionários
Pois amam um passado que nunca foi
defendendo um futuro que jamais será.




PARA TODOS, TODAS E TODXS II

Existem todos,
todas e todxs,
além da norma,
da gramática,
da identidade
e da forma.

Existe cada um,
o nós e alguns.
Mas jamais existirá novamente 
apenas eles e elas exclusivamente.

PARA TODOS, TODAS E TODXS I

Nascemos todos,
todas e todxs
para sonhar
 e fabular  o mundo 
na invenção de nossa singularidade.

Nascemos todos,
todas e todxs
para a unicidade 
e pluralidade de uma vida inteira.

Mas a realidade é um sonho comum
que faz cada um se perder em pesadelos, angústias e medos,
criando a ilusão totalitária 
que anula a subjetividade 
de todos, todas e todxs
na homogêneo silêncio 
inaugurado pela insanidade
de Estado e a moral do rebanho.




segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A VIDA COMO INCESSANTE DEVIR

A vida de hoje
 é a mesma de sempre,
 é aquilo que sempre 
nos supera e transcende
contra o próprio tempo.

 A vida nos nega, 
pois nascemos para morte
 na metamorfose incessante
 de tudo que existe. 

 A vida é o fora do tempo,
 é o devir, o intempestivo, 
que contra nós persiste
 na contramão das épocas
e do ser vivente.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

ENSAIO DE REBELDIA

Minha imaginação 
despreza o absurdo da realidade
como um cativo odeia
as grades de sua prisão.

Juntem seus sonhos,
suas silenciosas desistências
e dolorosas  resistências.

Organizem a raiva.
Juntem suas misérias,
angústias e renúncias 
contra o mundo morto
que nos obriga, sempre de novo,
ao conformismo da mais cega sobrevivência.

Lutem contra o medíocre resto
de suas tristes e inúteis existências.
Imaginem um mundo novo,
qualquer  outra experiência 
que transcenda a desigualdade e a miséria.






A VIDA, O ACASO E IMPONDERÁVEL

Lidamos o tempo todo
com o inevitável
 e o indeterminado
que nos ultrapassa.

A vida não é feita de escolhas,
opiniões e certezas.
Mas de fatos brutos,
 acontecimentos incontroláveis
e incomensuráveis grandezas.

A vida é o que foge ao controle,
é o que transborda,
o incontrolável e o imponderável 
de um caprichoso acaso
que nos molda.







quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A VIDA PERDIDA

Enquanto vivia
ele procurava
uma vida
que lhe faltava.

Ele pescrntia outros dias,
explorava noites e madrugadas,
através de frestas, avessos
e buracos.

Procurava...
insistia.
Queria muito 
Uma vida
que nunca encontrava,
algo que se perdia,
que morreria.
Mas em lugar algum
estava.
Havia apenas ele
enquanto aquele
que morria.



sexta-feira, 23 de agosto de 2024

SOBRE LIBERDADE

Liberdade é, antes de tudo,
movimento. 
Como tal, é,
 um mudar permanente,
um incessante deslocamento,
que extrapola todo acontecimento.

Liberdade é saber sempre um outro
de si e dos outros.
É não limitar-se a identidades,
verdades,
ou sucumbir a hierarquias 
e autoridades.

Liberdade, meus amigos,
é ir além da necessidade.




segunda-feira, 19 de agosto de 2024

DESPERTAR


É preciso avançar contra o passado,
sonhar outros futuros,
antes que seja tarde
para qualquer amanhã.

É preciso acordar às crianças 
do pesadelo do mundo.
Saber o intempestivo,o devir
a falta de sentido,
e a angústia que nos move
contra os dias e seus absurdos.

É preciso provar  um  silêncio profundo...


SABER NIILISTA

Tudo que sei 
é a concretude viva da terra,
a materialidade de um chão
que não é humano,
nem divino.

Tudo que sei
é que o universo não sabe  razão,
não se conforma a verdades.
O universo, simplesmente, é,
na contramão de toda filosofia e religião.

Tudo que sei
é que nada é definitivo,
 que não importa o que eu sei
e que tudo que é humano
é irrelevante.





sábado, 17 de agosto de 2024

O QUE NOS CONFORMA

O que nos conforma
é a degradada lembrança 
dos anos de infância,
a ilusão de que um dia
tivemos esperanças,
que éramos felizes
sobre a tutela dos pais
e toda alegria do mundo
 cabia dentro de casa.

O que nos conforma
é a mansidão que nos ensinaram
nos anos em que tudo era quase sonho e nada nos ameaçava.

O que nos conforma é lembrar a TV,
o rádio e o jornal diário 
que nos inventavam a mentira de um mundo mágico,
mais do que suportável.

O que nos conforma
é o que fomos, lembramos,
 e nos faz hoje
querer de volta o passado
para sobreviver ao futuro.

O que nos conforma
é a intensidade de nossas primitivas ilusões.




terça-feira, 13 de agosto de 2024

SOBRE ESCREVER E MORRER


Escrever deve ser um ato de transgressão,
Deserção.
Jamais um tributo a gramática,
a erudição ou um divertimento de salão.

Escrever é um agir solitário   em revolta
contra o cotidiano,
a modernidade, a cidade,
a moral vigente
e o poder de Estado.

Escrever é querer destruir
todos os limites de ser
no morrer que sempre nos visita
através da escrita.




sábado, 10 de agosto de 2024

REDE SOCIAL

Nas redes sociais a imagem é a realidade de um tempo sem substância.
Tudo é passado, tudo é presente,
na persistência do efêmero.

Não há sentido em nenhuma lembrança 
pois nada vale um vestígio,
um indício,
do que nunca mais será.

A vida é o abismo de um momento
que não se sustenta
Ana prisão de um dispositivo.



 


quarta-feira, 31 de julho de 2024

IMPESSOALIDADE

A vida é sempre outra
 enquanto as pessoas nascem,
 morrem
 e quase não são notadas. 

 Há sempre outros rostos e vozes
 proliferando em uma infinita ilusão biográfica. 

 Quem sou eu, 
quem são os outros, 
quem fala por todos 
ou por ninguém, pouco importa. Somos apenas rostos sobrepostos, misturados e desfocados em um formigueiro.


O COMUM CONTRA O ESTADO

O comum é múltiplo e diverso,
é devir e movimento,
composição de corpos em diversidade e cumplicidade.

É o que se opõe aos partidos,
 rebanhos e Estados. 
É uma vontade que cresce,
que transborda e transforma.

 O comum é a liberdade do único 
na ilusão de todos.
É a transcendência da banalidade do social, 
do poder e da autoridade,
na primavera das singularidades
que da forma a multidão.

domingo, 28 de julho de 2024

POSSESSÃO

Não me importa
a letra morta 
de todo discurso,
os muros da escola
 as janelas do escritório,
as contas do mês e o final de semana.

Não me interessam
filosofias, princípios 
ideologias & leis.

Quero saber o agora
pelo avesso, 
pelo lado de fora do humano, 
sobre o cadáver de deus
e sobre as ruínas da civilização.

Há em mim,
uma vontade selvagem e sem nome
de transgredir, absolutamente,
o eu, toda educação e razão
que me foi imposta.

A vida é qualquer outra coisa que não conheço,
mas que me espreita lá fora.







sábado, 20 de julho de 2024

TUDO É ESPANTO

Não há nada de divino no céu,
nem de sagrado na terra.
Existe apenas a natureza
que nos ignora e apavora.
Por isso, existo em meu breve finito
em permanente estado de perplexidade.

Maior me percebo
quanto menor me descubro
e tenho orgulho da minha insignificância.

O céu, como tudo que sei,
não existe fora dos olhos.
Pois nada é divino,
nada é sagrado.
Tudo é espanto,
sublime e inumano.






ANTI COSMOLOGIA

Entre a ficção e o fato
há um hiato chamado realidade.
Nele dançam a mentira e a verdade
a doce valsa do simulacro.

Tudo que é humano me parece estranho
quando escuto um animal
ou sinto o sopro de um vento.

Não viverei para ver
o fim da eternidade,
o universo regressar a mocidade.
Mas acredito no nada que o esclarece,
em sua terrível falta de novidade.



segunda-feira, 15 de julho de 2024

SOBREVIVENDO

Sobrevivemos a família,
a escola, ao trabalho,
ao amor barato,
e ao vazio existencial.

Sobrevivemos 
apesar do tédio,
da rotina,do sistema
da sociedade de massas
e da civilização pós industrial.

Sobrevivemos
morrendo um pouco
todos os  dias,
sem saber da vida,
em incerto estado
de quase agonia.

Sobrevivemos
contra os fatos,
além do certo e do errado,
através do possível,
da embriaguez 
e da poesia.

Sobrevivemos como baratas
sob um insuportável sol de meio dia.


quinta-feira, 11 de julho de 2024

ESCRITA NIILISTA

Escrevo para dizer meu silêncio,
para deletar toda informação,
opinião e convicção
que me escraviza o pensar, o sentir
e toda possibilidade de expressão.

Escrevo para esquecer,
para realizar o nada,
para não ser,
para não querer,
para não saber ou ter esperanças.

Escrevo contra todos os livros,
religiões, filosofias e ciências.

Escrevo para destruir, transgredir,
para fazer outra coisa
que não seja escrever.

Escrevo para respirar,
viver e , tentar existir,
onde é possível tocar
a nudez das palavras.







domingo, 7 de julho de 2024

CAÇA PALAVRAS

Procuro palavras simples
que digam os prazeres do corpo,
o gosto da terra e os sabores do mar.

Procuro palavras que me façam sonhar,
que não digam nada
além do efêmero,
do lúdico e do impossível.

Procuro palavras que não comuniquem,
mas brinquem na boca da gente
como um pedaço de fogo ou de vento.



sábado, 6 de julho de 2024

VARIAÇÕES SOBRE O NADA

A ousadia de ser livre
é praticar a arte
de não pertencer a nada,
de viver e saber o nada,
acima de todos, de tudo 
e além do próprio nada.

Alguns acham 
que o nada não existe
porque somos nada.
Mas o nada é tudo que é.
O nada é a essência 
de nossa raiva,
da grande vontade 
e de todo querer.

No fundo,
tudo se resume
e se destina a nada.



segunda-feira, 1 de julho de 2024

SINGULAR & PLURAL



Toda ilusão coletiva
passa pela fantasia da individualidade.

Cada um se reinventa
 como singularidade
garantindo a sobrevivência do rebanho,
mas a melhor parte de cada um
é invisível aos outros 
e se reduz a ninguém
entre o ideal e o senso comum.

No fundo,
nos fazemos únicos
 extrapolando a identidade
que nos faz iguais e nulos.
Mas onde todos são únicos 
o que importa a singularidade?

A vida é uma curta e puta jornada através do nada
onde nenhum de nós importa.

Toda ilusão coletiva
passa pela fantasia da individualidade.

Carlos Pereira Júnior







sexta-feira, 28 de junho de 2024

O MUNDO COMO AUSÊNCIA

O mundo é tudo aquilo que dói, 
que nos fere a consciência e a existência.

É , simplesmente, 
tudo que nos define como experiência.

 É o que chamamos, 
além de nós, de realidade.

 O mundo é o que nos transborda, 
é o que a pele toca. 
Um lado de fora,
 um abismo,
 quase um enigma. 

 O mundo é, ao mesmo tempo,
 aquilo que falta,
é onde o tempo nos mata
e a vida é espera,
revolta e uma dor abstrata.



terça-feira, 18 de junho de 2024

OPINIÃO

Todo mundo tem opinião. 
Seja sobre  tudo
ou sobre quase tudo
que os outros andam
por aí dizendo.

Estamos, afinal,
na era da informação.
Todo mundo tem uma posição
 sobre qualquer coisa.
 
O que importa é ter razão, 
estar abrigado em um rebanho,
 ser mais um ninguém entre os outros,
discutindo os fatos e boatos
que decoram o senso comum.

É preciso,de todas as formas,
 evitar a solidão,
negar nossa impotência,
 nossa insignificância,
e achar que o que a gente pensa
faz alguma diferença
ou alimenta qualquer esperança vã. 

Para existir, todo mundo precisa desaparecer
 a sombra de uma posição.
Precisa ser previsível, 
seguir tendências,
defender um ponto de vista
com a falsa autoridade de um especialista.

É preciso julgar, condenar,
debater
até o limite da  banalização 
mais estúpida.

Tenha sempre uma opinião.
A realidade é uma invenção 
constantemente atualizada
para que alguém tenha razão
e ninguém saiba além 
da informação mais esteriotipada.


quarta-feira, 12 de junho de 2024

A PALAVRA ALÉM DO VERBO

Quando limitada a norma
a palavra se faz prisão.
É reduzida a ilusão 
do significante,
do significado,
e de um sujeito,
sempre incerto.

Assim, ela se torna um lugar,
um chão,
onde os pés escapam
e o mundo se insinua
como representação.

Reduzida a verbo
a palavra semeia silêncios,
se rende ao esquecimento
e se recusa como transgressão.

A palavra é sopro
e só tem vida
onde venta com violência  nossa mais profunda imaginação.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

O CORPO E O OUTRO

O corpo é meu lugar no mundo,
e também o outro
que me esclarece.
É meu avesso
e meu segredo.

É o limite de todos os limites,
 o silêncio que antecipa a ausência
 esclarecendo o mundo.

O corpo é o  simulacro
que inventa a realidade
e alimenta o absurdo eu
que afirma todos os superlativos,
necessidades e limites.
O corpo é estar aqui
e ser no agora um outro.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

QUASE MORTO

Não posso saber tudo que quero,
 nem ter tudo aquilo que acho que preciso.
A vida é uma queda cega em mil precipícios
onde tudo escapa.

 Estou permanentemente em esboço.
Nunca sou eu mesmo
ou idêntico a mim mesmo.
Sou múltiplo e desconjuntado.
Nada me basta.

 Minha essência é nada.
 Minha natureza o vazio 
e meu tempo é quando.

Sou no movimento descendente e urgente do equilíbrio do  meu corpo.
Sempre meio vivo, meio morto.

Só sei que respiro
e meu coração 
bate torto.

Sou  nas encruzilhadas,
pois, transitório entre as coisas,
quase existo
e persisto,
 onde desisto
ou quase 
já estou morto.






quinta-feira, 6 de junho de 2024

FILOSOFIA DA NATUREZA

Fúteis são os desejos, 
os sonhos e devaneios
 de uma vida quase perfeita. 

Tudo que acontece ou existe 
exibe defeitos. 
Pois a natureza é caos e mudança
 contra todo ideal de ordem e razão.

 Não acredite em religião ou ciência. Tudo é caos & transformação.

terça-feira, 4 de junho de 2024

A IMPORTÂNCIA DAS COISAS

A importância das coisas
não é parte das coisas 
mas algo que afeta
nosso saber das coisas.

Algo que não pertence a realidade,
que não tem pretensão de verdade,
mas define toda nossa consciência das coisas.

Coisas são ditas, pensadas
ou imaginadas
além da verdade das coisas.
Coisas só existem
quando percebidas como coisas.

Coisas não são coisas.
A importância das coisas
está além da certeza das coisas.
Porque coisas não existem .
O mundo não é feito de coisas.



segunda-feira, 3 de junho de 2024

EXISTO ONDE NÃO SOU

É quase impossível ser onde vivo, onde estou submetido ao cotidiano,
 a prisão dos fatos coletivos, 
 ao socialmente estabelecido.

 É quase impossível...
 Todos sabem disso. 
Por toda parte há tempo, 
espaço e limite.
Mesmo assim,
Insisto.
Tento ser contra o nada,
 contra os anos,
a memória e os fatos.

Mas não insisto.
Pois sei que existo para me perde em necessidades,
acontecer através de imediatismos e edonismos,
contra toda moralidade
e falsos ideais de espiritualidade e felicidade.

Existo onde não sou.
Isso me define vivo.