sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

VIVER PARA SI MESMO

A personalidade consciente é uma espécie de satélite da consciência coletiva personificado pelo arquetípico da persona. O ego, entretanto, pode romper a tendência a identificar-se com ela na medida em que se conecta a conteúdos de fantasia que sob certas circunstancias emergem do inconsciente e, contrariando as formatações culturais e sociais em que se inscreve determinado indivíduo,  joga luz sobre possibilidades novas  e afetivas que transformam a consciência que ele tem de si mesmo. Assim, individuar-se é um viver  “para- si” diante de todas as imposições do gênero humano.


LEMBRANÇAS DE VIDA

Minha memória pessoal  extrapola acontecimentos através da experiência radical dos objetos midiáticos. Assim, minha sensibilidade, a  lembrança de determinada época,  confunde-se com a experiência de series televisivas, consoles de vídeo games, musicas e toda sorte de impessoalidade artificial. Quase já não lembro mais de mim mesmo.

Nossa existência é rala, como provam os lugares de nossa memória pessoal.  Não vivemos em uma cultura  na qual a lembrança é de fato valorizada enquanto estratégia de individuação.


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O TEXTO ABERTO

O texto aberto,
sem fim ou começo
cresce em direção ao horizonte.
Não diz nada de importante,
apenas cresce a cada palavra,
a cada equivoco, angustia
e duvida.
O texto aberto lê minha existência,
contempla minha falência
e de ante mão sabe

que eu não existo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

NOTA SOBRE O SISTEMA DOS OBJETOS DE JEAN BAUDRILLARD

Para Baudrillard o consumo é o fundamento de todo sistema cultural, um modo ativo de relação, a totalidade virtual de todos os objetos e mensagens, uma atividade de manipulação sistemática de signos,  o consumo é a própria relação. Neste sentido,  quando  pensamos o mundo moderno e contemporâneo,

“Vemos que tipo novo de habitante se propõe como modelo: O “homem de arranjo” nem é proprietário nem simplesmente usuário e sim um informante ativo da ambiência. Dispõe do espaço como de uma estrutura de repartição e através do controle deste espaço detém todas as possibilidades de relações recíprocas e portanto a totalidade de papeis que os objetos podem assumir.”( Ele mesmo dever ser portanto ‘funcional’, homogêneo como este espaço caso queira que as mensagens do arranjo possam partir dele e para ele voltar.). Não é nem a posse nem a satisfação  e sim a responsabilidade que lhe importa no sentido próprio em que arranja a possibilidade permanente de ‘respostas’. Sua  práxis é exterioridade completa. O habitante moderno não ‘consome’ seus objetos. (...) Ele os domina, os controla, os ordena. Encontra-se dentro da manipulação e do equilíbrio tático de um sistema.”

(Jean Baudrillard. O sistema dos Objetos. SP: Editora Perspectiva, 2002, p.32)

O consumo,em sua dimensão simbólica,confunde-se com o próprio mundo como devir infinito de intercâmbios e possibilidades, como arranjo quase infinito de possibilidades, como movimento e fluxo constante de coisas.


Mas tal reflexão corresponde a um momento da obra de Baudrillard anterior as suas  formulações  sobre as “Estrategias Fatais"  e a “troca impossível" ...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A INDIVIDUALIDADE COMO UM ACONTECER ESTÉTICO

O dizer e o fazer da individualidade alimenta-se essencialmente da fantasia, das associações livres de significações e sentidos que conduzem a uma auto imagem imprecisa e afetiva de si mesmo.

Sou onde já não estou. Naquilo que foi vivido e reduzido ao lembrado. Toda a minha importância se esgota com a minha morte. O que eu vivi é o que sou em minha finitude e excentricidade ontológica.


A existência singular é acima de tudo um prazer estético....

ESTRATEGIAS DE SINGULARIZAÇÃO E IDENTIDADE COLETIVA

A dimensão afetiva da memoria relaciona-se em parte a invenção do eu através do outro. Esta banalidade ontológica torna-se, entretanto, interessante quando associamos a construção da individualidade com uma estratégica de contraposição ao coletivo e aos valores socialmente aceitos.  O individuo torna-se complexo e autônomo na medida em que escolhe o isolamento, o questionamento como via de auto - descoberta constante e desafio aos lugares comuns dos intercâmbios societários.  Desta forma, pouco importa a gênese social da individualidade. São suas escolhas e tendências introspectivas que condicionam sua maior ou menor importância enquanto personificação privilegiada da experiência humana.


Lamentavelmente, o que se descreve aqui não é uma tendência. Pelo contrário, o indivíduo contemporâneo tende a buscar segurança em uma identidade coletiva, a abrigar-se no grupo e não em investir em si mesmo como singularidade. A memoria torna-se compartilhamento com o outro da experiência indiferenciada do mundo.

INDIVIDUALIDADE COMO HISTÓRIA DE VIDA

A submersão do vivido no esquecimento é uma experiência que nos acontece o tempo todo contra a capacidade de lembrar. Não temos plena ou absoluta ciência da totalidade de nossas vivências ao longo dos anos. Isso é humanamente impossível.

Estes silêncios pessoalmente incomodam. Temos  a necessidade de nos  representar no tempo socialmente vivido , de saber o devir através do filtro do  nosso pequeno e insignificante eu.

 Não falo apenas da necessidade de ter um passado, de rememorar.  Falo, antes de tudo, da necessidade de pertencer a uma história de vida, ser moldado por ela na medida em que a tomamos como uma experiência singular que jamais será experimentada por qualquer outra pessoa. Isso não passa de uma construção subjetiva, mas é o modo como codificamos nossa individualidade, como a convertemos em uma  história de vida e critério de distinção entre o eu e os outros.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

TEMPO ÍNTIMO

De quanto tempo
precisa meu tempo
para periodicamente
reinventar minha vida?
Ou já não tenho mais tempo
nesta desesperada urgência
que agora me atropela.

Façam o passado parar
de crescer.
Preciso respirar futuros,
vencer o tempo afirmando existência
deste tempo abstrato e incerto

intimamente meu.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

META SOCIEDADE

O que define nossos mínimos consensos humanos? O que nos permite a convivência apesar de todas as nossas diferenças? Por mais que tendamos a um comportamento pré- moldado em  uma sociedade de massas e aos encantos quase totalitários de uma vida de consumismo simbólico,  ainda nos confrontamos com a angustia diante do efêmero e o insignificante de nossas existências.  Mas na luta contra esta insignificância, nos distanciamos cada vez mais uns dos outros na inflação de nossos egos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

ELOGIO AO INDIVÍDUO

A irracionalidade da individualidade pressupõe o desvio, a recusa do padrão e dos lugares comuns do coletivo, como  estratégia de realização de si mesmo além das metas e pressupostos da sociedade. Tornar-se um indivíduo é recusar-se como  opaca mimese social, uma arte elitista que depende exclusivamente de nossa  capacidade de reinventar o cotidiano na contramão do mundo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O VAZIO DAS VIRTUDES

Não são poucas as pessoas caricatas que circulam por ai  afirmando o imperativo de seus egos, de suas vontades pequenas e banais, contra qualquer realidade do mundo.

Não vale a pena muito falar sobre elas. Afinal, são apenas a sombra da humanidade ou aquelas que revelam o que de pior existe dentro de todos nós.

O mundo seria melhor sem elas. Mas nem por isso mais verdadeiro. Pode-se até dizer que elas revelam o que de fato anima e define a humanidade.

Não vivemos no melhor dos tempos. Mas este jamais será o melhor do mundo possíveis, pois a virtude e a coerência são meros ideias vazios.


HIPER INFORMAÇÃO

Há tantos livros por ai que já não sei mais sobre o que ainda é possível escrever. É cada vez mais difícil dizer alguma coisa realmente original e que não remeta a algum texto já consagrado. A banalização do significado desertificou as palavras através da hiper informação. Mas isso também já foi dito e se converteu em mais um entre tantos outros clichês e não nos conduz a lugar algum.


O leitor agora não passa de uma referencia virtual e abstrata para  um autor que apenas sofre de tédio.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

SOBRE LEMBRANÇA E ESQUECIMENTO

A memória é amiga do esquecimento. Lembrar é sempre esquecer de alguma coisa...

A memória flerta com a morte. Assim tem sido através dos tempos. Pois os fatos só existem quando recordados, reinventados e apropriados por significados, por agora e instantes inventados.

A memória dos fatos desaparece em silêncios na fragilidade de nossos atos...


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

PÓS IDENTIDADE

Quem eu sou? Talvez  esta seja a mais inútil  de todas as perguntas. Daqui a cem anos não fará qualquer diferença quem eu fui ou qualquer coisa que vivi. Irei desaparecer na paisagem do tempo como um indigente qualquer.


Então, quem eu sou é este momento que não se sustenta como fato concreto. Sou apenas aleatório caos de sentidos, sentimentos e sensações, entre a dúvida e o tédio...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

GUY DEBORD: CONTRA CULTURA E BIOGRAFIA

Guy Debord, co-fundador da Internacional Situacionista em 1957 e autor de A Sociedade do Espetáculo, foi um dos grandes expoentes da contra cultura da segunda metade do século XX e do pensamento revolucionário pós 68.

Um pouco antes de se suicidar em 1994 nas montanhas de Auvergne ( França) ele nos legou uma breve biografia onde faz um melancólico balanço de sua existência. Em seu Panegírico Debord se define como um homem das ruas e das cidades, um agitador de tempo integral.

Seu texto é recheado de citações e referências históricas, mas tem um tom profundamente subjetivo e pessoal. Como ele próprio esclarece, certas personalidades muitos distantes entre si, ainda comunicam algo precioso sobre o significado das condutas e inclinações humanas. Nas próprias palavras do autor, “ As citações são úteis nos períodos de ignorância ou de crenças obscurantistas.”
Debord se recusa a utilizar em sua narrativa biográfica a linguagem efetivamente falada nas modernas condições de vida e que se reduz, em ultima instância, ao imediato da representação, não passando de uma imposição midiática. Assim, o estilo do enunciado torna-se também um meio de recusa da “dominação moderna”, uma audácia.

Diferente de seus textos teóricos e políticos, Panegírico é um texto sereno onde, de modo bastante comedido, Debord se propõe a contar sua “verdadeira história” como um velho general experimentado no campo de batalha refletindo sobre uma guerra ainda em curso.

Sua conclusão é que no capitalismo tardio o valor de uso impôs seu domínio autônomo, mobilizando todo costume humano e estabelecendo o monopólio de sua satisfação, inaugurando, assim, a franca decadência da civilização ocidental. Tal leitura remete a dicotomia situacionista entre a vida falsificada do espetáculo e a vida autentica da contra mão cultural.


Creio que é justamente esta autenticidade de ser que o autor procura comunicar em seu panegírico , em seu discurso de louvor a verdadeira vida.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

LINGUAGEM E CONDIÇÃO HUMANA

Vivemos enterrados em redes linguísticas de crenças e significados que nos desenham abstratamente os contornos de tudo aquilo que nos é possível conceber.

Somos definidos por interações mentais. Não é tão evidente a premissa de um sujeito abstrato e introspectivo que demarque a fronteira entre “o que está fora” e “o que esta dentro”. Ainda não é possível determinar o que somos ou, simplesmente, como acontecemos. Mas o velho binário sujeito X objeto já não grande apelo cognitivo. A linguagem pode ser tudo aquilo que nos permite, através de enunciados, inventar o mundo. Mas já não é mais suficiente inventar o mundo...


O PASSADO COMO EVASÃO

É sempre suspeito interpretar o passado a luz do presente. O agora não pode ser um dogma ou uma prisão. Pelo contrário, o passado deve nos servir como uma estratégia de evasão, um espelho que torna circunstancial tudo aquilo que hoje nos parece confiável e digno de valoração. O conhecimento de outras épocas ou culturas deve nos conduzir a um questionamento de nossa própria identidade através do reconhecimento de sua perenidade. Aquilo que chamamos de história  não é um processo linear, mas um acervo de ruinas que inventariamos enquanto sofremos o arruinar-se de nossa própria época.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

TEMPO E INTROSPECÇÃO

Sinto as ruas e os carros lá fora
dentro do vazio deste apartamento
onde não existem flores
e a TV já não funciona.
O tempo quebrou no relógio.
Não tenho sinal de internet.
Sé me resta o desconforto da cama.

Mas sei que tudo é indiferente
a minha patética experiência das coisas.
Só preciso ser paciente.
Aguardar as novidades
que se perderam pelo caminho
em algum tropeço da existência,

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O DESTINO DAS MINHAS PALAVRAS

Tinha por incerto
o destino das minhas palavras.
Talvez, o vento as conduzissem
ao silêncio do  oceano.
Pois o possível de ser dito
não cabe no pensar alheio,
aquilo que tenho em mim

é incomunicável .

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

OS LIMITES DA FORÇA DE VONTADE

Na cultura ocidental a dita “força de vontade” para superar situações adversas goza de um status quase metafísico. Mas, no fundo, “força de vontade” não passa de uma equação simplista composta  por variáveis como dor , prazer,  recompensa  e castigo, tendo como resultado algum tipo de autodisciplina que visa alcançar uma meta pré determinada. Há algo de autoritário nisso. Até porque entre nossas promessas e o que nos tornamos  há sempre uma certa distância . Geralmente o reconhecimento do próprio sucesso é uma questão de miopia, pois desconsidera todas as contradições que o tornam sempre relativo. Podemos sacrificar tantas coisas em nome da realização de um sonho ou proposito que não não atentamos para hipótese de que, sob muitos aspectos, ele pode ser considerado um pesadelo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A MAGIA DAS PALAVRAS

As palavras formatam o corpo,
os hábitos e a realidade.
O mundo existe nos discursos,
que abstratamente nos condenam
a experiência de alguma duvidosa verdade.
É assim que existimos,
que nos fazemos no tempo,
provisórios e rarefeitos,
como nossas gramaticas.
Somos o que dizemos,
não o irracional que nos corre

por dentro.

A VIRTUDE DAS IMPERFEIÇÕES

Sou feito de bons e maus defeitos.
Tudo depende da ocasião
e das interrogações.
Não me preocupo em estar certo
ou errado,
em dar conta das coisas.
sei que sou falho e limitado
e o que hoje parece certo
amanhã pode me surpreender
errado.
Então prefiro agir
segundo meus defeitos.


AUTÊNTICIDADE

Desabrigado de mim mesmo
e a ermo no mundo
tento conter em meu pensamento
toda a minha existência.
Quero vencer  o tempo,
transcender pessoas e coisas
para respirar a vida
em estado puro,

meus sentimentos em estado bruto.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

VIVER É MOVIMENTO

A vida precisa ser reinventada todos os dias,
redefinida a cada banal iniciativa
através da qual acontecemos no mundo.
Mesmo que tudo seja incerto e provisório,
quase silêncio, na maioria das vezes.
Nossa visibilidade enquanto indivíduos
é relativa.
Por isso, essencial se faz a persistência,
a teimosia de correr contra o tempo
no acontecer dos  atos,
na afirmação da vontade
contra os imperativos das circunstâncias.

Viver é movimento...