Faz parte de nosso processo de adaptação a realidade converter tudo
aquilo que é estranho e desconhecido a uma fórmula familiar. Assim o intelecto
humano domestica os fenômenos. Por isso questões aparentemente bobas podem
revelar uma profundidade surpreendente. É o caso da questão proposta pelo professor
de Física e Astronomia da Universidade
de Massachusetts, Edward Harrison, em A Escuridão da Noite: Um Enigma do
Universo. é peculiarmente interessante aos não especialistas como eu.
Afinal, não deve surpreender o
fato de que, como afirma o autor, a interpretação que damos “a escuridão por detrás das estrelas” depende
da natureza do universo em que imaginamos viver. Alem disso, ele também nos
chama atenção para o fato de que o enigma tem sua própria história, tendo sido
objeto, ao longo de séculos, da reflexão de cientistas, filósofos e poetas. Dentre
estes últimos vale registrar meu caro Edgar Allan Poe.
Mesmo com todo o avanço da
astronomia, nós leigos, quando olhamos para o céu, tendemos a pensar
irrefletidamente que as estrelas estão
arranjadas “divinamente” no espaço produzindo o céu noturno. Não levamos em
conta a questão da velocidade da luz e,
consequentemente, o fato de que o universo que nos é visível na verdade esconde um universo invisível
ilimitado.
As estrelas que vemos são apenas
uma imagem de um universo primitivo. Nas próprias palavras de Harrison,
“A ar livre, à noite,
contemplamos o céu escuro. Por entre as estrelas, olhamos para imensas
distâncias no espaço e para um tempo muito remoto, anterior a formação
das galáxias e ao nascimento de suas primeiras estrelas. Nossa visão se
estende até o horizonte do universo
visível, na fronteira do big bang. Em todas as direções, por toda parte, entre
as estrelas, vemos a criação do universo recobrindo inteiramente o céu. Muito
tempo atrás, quando o universo era jovem e repleto de energia, o céu primordial
resplandecia com uma luz fulgurante.”
Edward Harrison. A escuridão da
noite: um enigma do universo. RJ: Jorge Zahar Editores, 1995, p. 233
Evidentemente, não sou competente
para questionar ou endossar a tese aqui exposta, mas até onde me parece ela faz
todo sentido. Alem disso, nos leva ao questionamento de uma experiência cotidiana naturalizada, a revelia de toda a sua
complexidade.