terça-feira, 30 de dezembro de 2014

SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS DA LIBERDADE

O que nos faz humanos é o peso da liberdade e a consequente necessidade de transcender o simples e banal cotidiano em uma cada vez mais radical afirmação da vida contra os imperativos das necessidades.

Não somos feitos apenas de nossas escolhas... Mas , fundamentalmente, de nossas necessidades.


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

FATOS INACABADOS

Os fatos inacabados
Esperam na fila dos acontecimentos
A oportunidade de um desenlace fecundo.
Querem ser conhecidos e famosos,
Virar noticia e ganhar o mundo.

Mas a fila não anda,
O tempo passa,
E tudo termina em tedio e nada.

Os fatos inacabados nunca serão lembrados...



ALÉM DO REVEILLON

Não basta que o ano acabe,
Os fogos da passagem,
O brinde e o beijo a meia noite.
É preciso que a vida mude,
 Que a gente estranhe o rosto no espelho,
E que o mundo nos deixe em paz os ombros
Através de qualquer modo novo
De sentir e fazer as coisas.
Pouco me importa o passar do ano.
Quero saber apenas
do quanto me perderei de mim mesmo

na invenção de futuros.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

E A INFORMAÇÃO VENCEU A POESIA

Na era da informação e das tecnologias digitais, a poesia perdeu  sua aura e consequentemente um contingente significativo de leitores. De alguma forma o signo venceu o símbolo, o sexo mecânico venceu o amor, o fútil derrotou o encanto e todos tem algum pudor no trato com seus sentimentos.

Virou perda de tempo cultivar as dores do mundo, escrever cartas ou se render  a melancolia de não saber da vida.
Ninguém mais tem tempo pra se abandonar a si mesmo, duvidar tão profundamente do cotidiano até o ponto de rasgar a própria realidade.


O imperfeito, o inacabado e o transbordamento de si mesmo agora é só objeto de uma receita medica.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

REFLEXÕES SOBRE A ARTE DA AUTOCRITICA

O mundo vivido é uma invenção pessoal, quase um ato de imaginação.

Cada pessoa vive em uma realidade própria e carrega dentro de si sua própria e distorcida imagem do mundo. Por isso somos sempre condensedentes como nossos defeitos e limites. Mesmo quando admitimos nossos erros nunca comprometemos a integridade de nosso limitado eu.  Talvez isso fosse diferente caso pudéssemos, como um espectador invisível ou alter ego sombrio, acompanhar nossos atos e falas em câmera lenta até o ponto de não nos reconhecermos neles. 

EU E O ACASO

Não tinha muito a dizer,
Nada a esperar ou fazer.
Apenas deixava o tempo passar
E qualquer coisa acontecer.

Sim. Apenas jogava com o acaso
E brincava com o destino.

Afinal que outro significado
Sustenta a vida
Além da falta de sentido
Da soma de fatos aleatórios?

Meu eu é um jogo de quebra cabeça...


sábado, 6 de dezembro de 2014

SOBRE A SOLIDÃO

A solidão não é propriamente o fato de estar sozinho, mas um modo de se estar insuportavelmente acompanhado apenas de si mesmo.

Não se trata de um jogo de palavras....
Suportar a si mesmo pressupõe uma incômoda lucidez quanto  a nossa existência pessoal, nossos limites, sonhos, angustias, virtudes, fraquezas e todas as experiências vividas que definem nossa biografia.


A solidão acontece quando, de tão envolvido com si mesmo se é incapaz de corresponder as ilusões e carências dos outros, ela é a agonia da necessidade de estarmos demasiadamente absortos em seguir nosso próprio caminho, independente de toda necessidade de companhia.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

TRANSFIGURAÇÃO POÉTICA

Entre a retórica e a poética
O poeta desespera
Perante a imaginação,
Sofre seus sentimentos
Que de tão intensos
Se tornam vazios.

Versos ensinam 
o lirismo dos abismos
Que nos transcendem.
Inspiram o delirio
que decora o  vestido triste
 que cobre
A mulher do fim do mundo.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

UM DIA...

Era um dia para escutar,
Um momento de sentir
Qualquer musica dodecafônica
No ar.
Era o instante de um relâmpago,
O vazio do grito
Na tempestade dos nossos silêncios.
Era um dia apenas...
Um dia que de tanta realidade

Não existia.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

EM BUSCA DE SI MESMO

Perdido pelas ruas em busca de qualquer coisa que desfaça todas as minhas angustias, desvendo lugares colhendo vestígios de experiências esquecidas no tempo, reencontrando rostos que já  não me frequentam  desde as  idades mais serenas.

Tenho estado além e aquém de mim mesmo,
Rarefeito em minhas incertezas de dias  futuros e embriaguez dos fatos.

Talvez eu nunca me torne quem eu sou.

Talvez eu nunca me conheça. 

A VIDA COMO LABIRINTO

O acaso e seus descasos
É o que transforma
A vida da gente
Em um labirinto mágico.
Vale a pena seguir sem direção,
Ao sabor do vento,
Esperando qualquer surpresa
Em alguma esquina
Que sem qualquer razão
Nos conduza a um outro dia

De nosso sentimento de mundo.

domingo, 30 de novembro de 2014

O HOMEM DESFEITO ( MINE CONTO)

Nada esperava além deste dia, deste definitivo vazio que lhe esclarece as emoções no gosto azedo de sonho na boca depois do despertar.
Sim. Hoje era o grande dia de nada acontecer.  A data da clareza do enigma em que a vida se revelava  apenas como uma simulação de realidades.
Nenhuma explicação. Nenhuma perplexidade. Apenas a consciência ferida nos deslocamentos aleatórios do eu na percepção de todas as coisas.
Nada mais havia para ser dito ou ouvido.Nada podia reparar o estrago.


sábado, 29 de novembro de 2014

VIDA SECA

Meus defeitos não explicam meus  erros.
Meus acertos não me aproximam da perfeição.
Nunca estou certo ou estou errado,
Apenas conformado
Com alguma forma de ilusão.
Existo entre  apenas
Entre atos aleatórios
Tentando encontrar um pouco de vida.
Nunca estou alegre ou triste.

Não vale a pena sentir.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O DESAFIO DA VIDA PLENA

Ainda não morri o suficiente
Para começar a viver.
A vida é uma descoberta
E uma realização difícil.
Poucos a atingem.
A grande maioria
Apenas sobrevive.
Por enquanto apenas
Virtualmente sou
Espalhado pelas paisagens confusas
De minha mínima existência.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

O VAZIO DE NOSSAS GRAMÁTICAS

Não sei qual palavra ainda pode tornar novamente claro e legível o mundo.
Talvez não existam mais  gramaticas capazes de dizer as coisas
Ou assegurar nossa humanidade no corpo de qualquer  discurso.

Estamos vazios de significações e significados.
Seguimos vivendo o naufrágio de nossos dizeres, saberes
E sentimentos,
Seguimos absortos e absurdos
Desfeitos em nossos próprios passos.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

MINHA EXISTÊNCIA


Minha existência não suporta perfeições,
Se enobrece e se envaidece com
seus pequenos e cotidianos limites
de desvãos de existir concreto.

Minha existência tem orgulho
De ser imperfeita,
De estar sempre incompleta
No provisório limite de cada dia.

Minha existência se reinventa,
Constantemente,
Nos silêncios que semeiam

Meus incertos futuros.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

TEMPOS DE INFÂNCIA

Quase não me lembro do tempo
Em que a felicidade
Brincava livremente
No antigo jardim de casa.
Quase não me lembro
De mim mesmo,
Da vida leve e sem compromissos
Pelas quais passeavam sem medo
Bem nutridas e pueris alegrias.
A existência era naquela época
Tão leve
Que a vida fazia sentido

E todos eram felizes.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

FILOSOFIA DA MADRUGADA

Que estranho território humano é este, definido pelas horas mortas da madrugada?
Não sei como dizê-lo em seus protocolos de intensidades e intencionalidades flácidas, onde gritam os silêncios , ócios e solidões e o corpo se faz mais real do que  qualquer ilusão do pensamento.
A madrugada, talvez, seja apenas um estado de espírito para solitários e mancos, ou um não lugar das coisas onde cabe um pouco de tudo.

Em qualquer definição que lhe caiba ela é solitária e selvagem, introspectiva e melancólica pois pressupõem o dizer do silêncios mais fáceis de ignorar sob a luz do dia.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

FILOSOFIA MINIMALISTA

O mundo é feito de significados que transcendem a própria vida concreta e cotidiana de um indivíduo.

Por isso pouco me preocupo com os problemas do mundo.
Meus olhos apenas procuram a mim mesmo no espelho do outro.

Não busco mai do que a microfísica de minha mínima realidade contra todas as vis certezas que vestimos para administrar nosso mecânico cotidiano em sociedade.

Não tenho tempo para grandes ideais, triunfos eou causas sociais.


Busco apenas aprender a viver a mim mesmo entre os outros.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

PERPLEXIDADE

Quantas palavras maltratadas
Pelo nosso sentimento das coisas vividas,
Quantas certezas mal feitas,
Quantas vontades vazias.
Quase não sei direito

O que nos foi feito da vida.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CANSAÇO

Sinto  falta dos meus futuros
Neste meu hoje vazio de sonhos.
Sinto falta de mim mesmo
Soterrado por meus passados.
Estou cansado do meu querer sem rumo,
Dos sentimentos atrasados
E da nulidade dos  meus atos

Frente o deserto da realidade.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

SOBRE A NECESSIDADE DE DESCOBRIR E INVENTAR

Tenho afirmado, ás vezes, determinadas certezas das coisas sempre ardentemente esperando estar errado sobre meu próprio ponto de vista.

Isso não é raro de acontecer quando adotamos posicionamentos que acreditamos convenientes  mas que contrariam profundamente nossas expectativas.

Razão e vontade, assim, se opõem na consciência dividida entre o mais simples querer de novidades e às sansões impostas por  representações mais convencionais da realidade.

Afinal, o que nos desperta o mais intenso dos desejos é sempre o exótico, o inteiramente outro de nós mesmos.

O desejo nasce da necessidade de evadir-se, de escapar das fronteiras de nossa privada e convencional existência em busca de qualquer forma de desconhecido que nos livre da angustia  do sempre igual dos fatos.


Assim a humanidade avança, a vida dos indivíduos se transforma no exercício simples de inventar e inventar-se no humano esforço de apropriar-se do mundo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

NO LIMIAR DOS DISCURSOS

Não há palavra que diga
O dizer  que quero.
Todo discurso possível
Me reduz ao silêncio.
Minha maior angustia
É esta falta absurda de significações
Que reduzam a um mero discurso

Esta vontade cega que me consome.

RESIGNAÇÃO


As horas passaram depressa.
Em pouco tempo
Nos despimos de nossas esperas
E abandonamos as expectativas
Das ilusões mais sinceras.
Recusamos a vida como uma linha reta
Rasgando projetos e descartando sonhos.
Aceitamos a realidade
E aprendemos a suportar a existência,

Pura e simplesmente.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MEU EU E MEUS OUTROS

Dentro de mim
Há mais realidades
Do que cabem
Em todas as verdades do mundo.
Sou múltiplo,
Sou único,
Sou pro inteiro,
Esta enorme confusão

Que me consome por dentro.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O ILEGÍVEL BIOGRÁFICO

Há algum tempo pensei em fazer  uma espécie de folha de balanço da minha vida.

A primeira coisa que constatei foi o fato de que tal narrativa já não mais poderia ser concebida no formato tradicional de um escrito biográfico.

Minha existência apresenta-se tão  desestruturada, fragmentada e descontínua  ao longo dos anos, que seria  artificial  impor-lhe qualquer raciocínio linear, qualquer periodicidade cronológica ou etária, qualquer propósito teleológico.

Não vejo possibilidade de uma avaliação serena e coerente de todas as coisas vividas e sentidas que definiram minha existência ao longo das últimas décadas.

Sei, por exemplo, que nada tenho daquele menino que fui um dia.  Não me reconheço nele. Apenas invejo seu mundo seguro e fechado decorado pelo colorido de sonhos e fantasias.

Também não me reconheço em meus amores perdidos, nas viagens e pequenas glorias do simples cotidiano hoje tão distantes do meu dia a dia. Talvez, eu apenas me veja um pouco em meus grandes amigos que seguiram resolutos seus próprios caminhos e buscas e se perderam do meu mundo.  

A verdade é que meu passado pessoal já não está mais onde deveria estar como abstrata dimensão de identidade e memória.

Todo vivido tornou-se abstrato e incerto.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

HIPÓTESE

Talvez  outra hora,
Em outro dia
De  qualquer versão
Mais atualizada do mundo,
Eu me perca do nada do dia a dia.

Eu me refaça nas pequenas coisas,
A ponto de saber a vida

E todas as suas 
mais profundas consequências.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

LIMITE

Estamos sempre
A um passo de qualquer limite,
De qualquer vazio de vontade
Que nos estraga a alegria.

Estamos sempre
Perdendo a hora,
A oportunidade
E a sorte.

Estamos sempre distantes
De nossos mesmos,
De simplesmente viver
Como quem somos.


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

COTIDIANO

Sigo remendando a existência,
E rasgando a vida.
As vezes, confesso,
Tropeço em meus próprios passos
E caio em minha sombra
Com o coração quebrado.


O TEMPO

O tempo se perde em todas as partes
Acabando aos poucos com a gente,
Desfazendo atos e vontades,
Minguando afetos e sentimentos.
O tempo passa,
Suplanta tudo e todos.
Mas nunca envelhece,
Nunca muda.
É sempre pura e simplesmente

Tempo...

terça-feira, 7 de outubro de 2014

QUALQUER PALAVRA

Qualquer palavra para mudar o dia,
Qualquer grito...
É tudo de que preciso
No impreciso de  mim mesmo.
Não importa  se a tarde esta linda
Ou como passo as horas.
Não importa .

Ontem foi cedo,
Hoje já  é tarde
E o amanhã não existe.

Só quero agora
Encontrar a palavra certa
Para dizer minha sina.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

PARA ALÉM DO SER OU NÃO SER

Enquanto brincamos de Ser ou não Ser qualquer coisa,
apenas existimos e pouco vivemos.
A vida não está nas opções que nos são impostas.
Viver transcende a falácia das escolhas.
É um ato rebelde de imaginação,
Um desafio que torna
Virtual a ilusão.


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A REALIDADE

A realidade é sempre maior do que nossas opiniões sobre ela.
Nunca cabe em  convicções,
Emoções e afetos.

A realidade
É tudo aquilo
Sobre o que não temos controle
E desafia nosso conhecimento.

Já a verdade
É tudo aquilo
Que ingenuamente esperamos da realidade.


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

PÓS IDENTIDADE

Não sei o que de mim fica
Neste rálo instante,
Não sei se sou
Ou se me desfaço.
Quase não me vejo
No tempo e no espaço.
Prefiro seguir o caminho do outro
E apagar os vestigios

Do meu rastro.

domingo, 21 de setembro de 2014

AFORISMA SOBRE O EFÊMERO

A vida parece, as vezes, um filme mudo em preto e branco onde os gestos  e o olhar falam mais do que o possível de qualquer palavra.

A vida, as vezes, é como um teatro mágico de consciência e signos que não cabe em qualquer definição de humanidade.
É só poesia  e aventura na profunda superficialidade de um simples e desproposital instante.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

SIMULACRO E SIMULAÇÃO

Os simulacros são experiências, códigos e objetos sem referência que se apresentam mais reais do que a própria realidade, ou seja, eles representam uma espécie de “hiper-realidade”. Desta forma não é uma oposição entre o real e o irreal que sugere o conceito de simulacro, pelo menos tal como utilizado por Baudrillard, ele afirma a desrealidade, uma perda de substância ou de significação dos signos, que leva a uma aproximação radical entre o metafórico e o real.


Trata-se, assim, de um esvaziamento do conceito de realidade onde todas as nossas possíveis codificações e discursos de mundo caem no vazio de uma objetividade que é sua própria paródia em um jogo de metamorfoses entre sentido e não sentido definido por nossas trocas simbólicas.

DESCUBRA SEU DETETIVE INTERIOR

Qualquer leitor de Sherlock Holmes sabe que o mais elementar em qualquer investigação é aprender a ver aquilo que simplesmente está diante dos olhos. São os detalhes que  definem a realidade.

Reaprender  a apreensão cognitiva do real diande de um cenario existencial onde o quadro geral  tornou-se insuficiente para uma leitura satisfatória do mundo é agora, de modo similar, um desafio que se apresenta ao indivíduo contemporâneo.

Se nosso modo de saber a realidade é  formatado pelos valores e configurações sociais da sociedade em que nascemos e crescemos, a critica cotidiana do nosso ser social nos adestra na delicada arte  de enxergar mais do que aquilo que nossas gramaticas de mundo permitem apreender.

Cabe hoje aqueles que aceitam o desafio do pensamento livre adentrar o labirinto dos emblemas e sinais  enterrados nos subterrâneos do mais simples cotidiano.  A título de exemplo, o modo peculiar como cada pessoa  fala, o timbre de sua voz e suas sutís variações, definém mais uma pessoa do que seus discursos e convicções.


A teatralidade de um ser humano é reveladora sobre o abstrato e vago exercício da condição humana. 

domingo, 14 de setembro de 2014

MICROFÍSICA DA FELICIDADE

Sentir-se bem e pleno
é realizar sua máxima subjetividade
Em todas as coisas do dia a dia.
Logo, felicidade é uma palavra vazia.

Cada um lhe impõe os significados
Que bém entende
No desafio de uma paz permanente,
De uma alegria que mesmo quando oscila,
Jamais se perde

E não depende da falácia de uma vida perfeita.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

CONTRA A DITADURA DO ABSOLUTISMO RELIGIOSO

Mesmo os adeptos da metafísica religiosa que se predispõe a um diálogo com o ativismo ateísta contemporâneo, partem muitas vezes de uma falsa e lamentável premissa.

Não raramente reduzem a crítica ateísta a critica as concepções “distorcidas” da imago dei e ao combate a certas instituições religiosas que utilizam a fé enquanto fenômeno social motivadas por interesses “duvidosos”.

Assim, paradoxalmente, tomam o ateísmo como um instrumento indireto de uma suposta “autenticidade da fé” a ser resgatada e, consequentemente, como um adversário estranhamente fraterno.

A “boa vontade” de tal argumentação dissolve-se frente à clara incapacidade dos seus partidários em aceitar como legitimo o questionamento absoluto de qualquer premissa metafísica. Não é para eles uma possibilidade relativizar a convicção dogmática de que deus existe e isso absolutamente não é passível de qualquer questionamento relevante.

Caberia apenas discutir, segundo este ponto de vista, as razões que conduzem os “ateus de boa vontade” a recusa de uma verdade dada e tão “evidente” quanto à religiosa.

O que o novo ateísmo busca, entretanto, é muito mais do que a simples recusa ou critica das institucionalidade religiosa e suas praticas coletivas. O que realmente encontra-se em questão é a possibilidade de uma cultura social totalmente desvinculada de qualquer premissa religiosa.


O  ateísmo afirma  que vivemos em uma sociedade plural onde nenhuma verdade é sagrada, nenhum ponto de vista é privilegiado, e convicções religiosas não passam de mais uma entre tantas outras possibilidades de construção de uma realidade socialmente significativa. 

POR UMA VIDA AUTÊNTICA

É muito trivial que nossa conduta seja conduzida pela reprodução acrítica de hábitos de pensamento e não pela primazia de escolhas inspiradas pela crítica dos fatos e das circunstancias.

O acriticismo é o princípio do mimetismo da vida cotidiana.  Isso serve tanto para um acadêmico nova iorquino de esquerda quanto para o individuo mais tacanho de um aldeamento rural localizado em algum recanto da Asia.

Vivemos da microfísica de nossos hábitos mais elementares. O que realmente faz diferença, é o quanto de subjetividade conseguimos investir em nossas praticas coletivas e objetivas, o quanto somos capazes de individuar nossas experiências e imprimir nelas a marca de uma singularidade que contradiz seus próprios lugares comuns.


As ferramentas fornecidas pelos hábitos e práticas de determinada cultura, valores, costumes e padrões de pensamento, já não são suficientes para garantir ao indivíduo o pleno exercício de si mesmo. Nenhuma divindade lhe apaziguará sua auto-consciência ou a percepção de suas contradições internas.

A ARTE DO POSSIVEL

Ninguém faz da própria vida aquilo que quer.
Na maior parte do tempo estamos apenas tentando sobreviver,
Administrar nossas ansiedades
E seguir entre os outros
Por qualquer lugar nenhum de viver.
Nos abrigamos em alguns silêncios
Exercendo sem expectativas

A arte do possível.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

MIOPIA

Somos em nossas ansiedades,
Frustrações e inquietudes.
Somos onde não somos,
Onde não vivemos
Ou, simplesmente,
Em tudo aquilo
Em que reconhecemos
Nossa falsa incompletude.
Somos tão radicalmente
Aquilo que acreditamos
Que quase nunca

Nos enxergamos.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

INTRODUÇÃO AO DESAFIO DA BIOSSEMIÓTICA

Não sou biologo, mas me arrisco aqui a fazer um breve comentário sobre um campo relativamente novo da biologia que nos oferece uma original imagem de ciencia e de vida. Refiro-me a biossemiótica.

O termo "biossemiótica" foi pela primeira vez utilizado por F.S. Rothschild, em 1962. De um modo geral, biossemiótica é a ideia de que a vida é baseada em semiose, isto é, em signos e códigos.

Assim, o código genético é apenas um dentre as várias codificações orgânicas que formatam a teoria da evolução, a partir de dois processos elementares: copiagem e codificação. A copiagem dos genes, por exemplo, funciona em moléculas individuais, enquanto que a codificação das proteínas opera na coleções/ordenações de moléculas.

Assim, a evolução atua de modo diferenciado e em contextos variados através de diversas codificações orgânicas.


Trata-se aqui de um novo paradigma cientifico que me parece interessante na construção de nossas codificações cientificas de mundo ao propor um inusitado dialogo entre semiótica e biologia.   Pode-se surpreendentemente considerar, com certas ressalvas, a biossemiótica como um tipo especial de extensão da semiótica peirceana.  

A VIOLÊNCIA DA SIMPLICIDADE

Pretendo sonhar tão profundamente a realidade até atingir o ponto de saber meu querer em movimento através dos fatos.
Não importa o limite do viver de agora.
Meu abismo é a cotidiana realidade de desfazer e refazer o mundo
No grito mudo de cada dia.
Não tenho limites.
Sou os desejos e os sonhos que me transcendem
Através da febre
De  no mais simples das coisas redescobrir

O mais simples da vida.

sábado, 6 de setembro de 2014

O MAIS POSSÍVEL DA VIDA


Espero da vida

Apenas a oportunidade

De me desfazer e refazer

No exercício duvidoso

De um dia depois do outro.

Não espero da vida a mesmice

De mim mesmo

Ou o futuro

De meus antigos erros.

 

domingo, 31 de agosto de 2014

A DOR


Nos define a dor que nos inventa,

Que sentimos e construimos

Nos lugares comuns da palavra aberta.

Nos define o tédio

E o vazio de nós mesmos.

Pois sempre buscamos inutilmente

Algo mais verdadeiro

 que a própria vida.

 

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CONTRA A FALÁCIA DO CONCEITO DE ALMA


Evito utilizar, mesmo que de forma meramente figurativa, a palavra ou conceito de alma para descrever os estados abstratos da condição humana.

Sendo ainda mais radical, considero qualquer recurso a este conceito um arcaísmo de linguagem. Pois me parece definitivamente superada na contemporaneidade qualquer superstição inspirada na falácia do dualismo corpo/alma.  Referir-se a alma, para mim, aliais, não passa de uma anedota neurológica.

Se ainda existem tantas pessoas que se deixam iludir por algo tão absurdo, ignorando o mais elementar avanço do conhecimento cientifico contemporâneo, é porque a ignorância e obtusidade do pensar humano não é definitivamente uma questão de bom senso.

Vivemos ainda em uma sociedade que nos educa para sermos idiotas e perpetuar as mais ridículas formulas do pseudo conhecimento por séculos acumulados ao longo da marcha patética das civilizações.  

O mais curioso é que desde os gregos homéricos ou desde Alcmeon de Crotona, filósofo e médico que viveu por volta de 500 - 450 a.C. e foi, até onde sei, o primeiro a atribuir ao cérebro o merecido lugar de destaque na anatomia humana, sabemos da importância das atividades cerebrais na definição da experiência humana. Alcmeon fora seguido por Hipócrates, até hoje lembrado como pai da medicina. Lhe é atribuida a autoria da chamada Corpus hippocraticum ou "Coleção Hipocrática", principal fonte do conhecimento medico da antiguidade.

Em outras palavras foi à revelia do bom senso cientifico que a tradição do dualismo se afirmou e sobreviveu até os dias de hoje, mesmo sendo tão francamente inverossímil.

Não é nosso conhecimento objetivo das coisas, portanto, que desfaz superstições. Elas existem independente do desenvolvimento de qualquer forma de saber cientifico. As estruturas mentais mudam muito lentamente. Foram necessários séculos para que, por exemplo, a ideia de que a terra era plana fosse descartada pelo imaginário ocidental.

Algum dia estima-se que o mesmo aconteça com a hipótese de uma alma imortal.