Evito utilizar, mesmo que de forma meramente figurativa, a palavra ou
conceito de alma para descrever os estados abstratos da condição humana.
Sendo ainda mais radical, considero qualquer recurso a este conceito um
arcaísmo de linguagem. Pois me parece definitivamente superada na
contemporaneidade qualquer superstição inspirada na falácia do dualismo
corpo/alma. Referir-se a alma, para mim,
aliais, não passa de uma anedota neurológica.
Se ainda existem tantas pessoas que se deixam iludir por algo tão absurdo,
ignorando o mais elementar avanço do conhecimento cientifico contemporâneo, é
porque a ignorância e obtusidade do pensar humano não é definitivamente uma
questão de bom senso.
Vivemos ainda em uma sociedade que nos educa para sermos idiotas e
perpetuar as mais ridículas formulas do pseudo conhecimento por séculos
acumulados ao longo da marcha patética das civilizações.
O mais curioso é que desde os gregos homéricos ou desde Alcmeon de Crotona, filósofo e médico
que viveu por volta de 500 - 450 a.C. e foi, até onde sei, o primeiro a
atribuir ao cérebro o merecido lugar de destaque na anatomia humana, sabemos da
importância das atividades cerebrais na definição da experiência humana.
Alcmeon fora seguido por Hipócrates, até hoje lembrado como pai da medicina.
Lhe é atribuida a autoria da chamada Corpus hippocraticum ou "Coleção
Hipocrática", principal fonte do conhecimento medico da antiguidade.
Em
outras palavras foi à revelia do bom senso cientifico que a tradição do
dualismo se afirmou e sobreviveu até os dias de hoje, mesmo sendo tão
francamente inverossímil.
Não
é nosso conhecimento objetivo das coisas, portanto, que desfaz superstições.
Elas existem independente do desenvolvimento de qualquer forma de saber
cientifico. As estruturas mentais mudam muito lentamente. Foram necessários
séculos para que, por exemplo, a ideia de que a terra era plana fosse
descartada pelo imaginário ocidental.
Algum
dia estima-se que o mesmo aconteça com a hipótese de uma alma imortal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário