sexta-feira, 4 de maio de 2018

FILOSOFIA POP




A palavra viva que apresenta o corpo,
Que colhe olhares
E se mistura aos gestos,
As sutilezas da paisagem facial,
É mais intensa  do que qualquer palavra morta
Presa a tela morna do computador.

Afinal, vivemos tempos de falência da representação,
De niilismos gramaticais
E fluxos de instantaneidade de ultra presentismo.

É tempo de improviso,
De onipresença do efêmero
Como medida de todas as eternidades possíveis.

A discussão e a performance
É agora uma estratégia do pensamento
Onde o sentido se faz no acontecer naufrago do discurso.

A palavra finalmente é a vida.
Uma vida grega e antiga
Onde as praças se multiplicam e se desdobram.
O pensamento já não tem mais um lado de dentro,
E não se inventa como um lado de fora.

O DIZER POSSÍVEL



O que nos escapa é a alma das coisas.
Talvez ela não exista.
Ou seja apenas a presença,
O devir onde tudo é parte de um não ser,
De um tornar-se
Sempre renovado como virtual e incerto.
A realidade é feita de fugas e extravios
Que preenchemos com sentidos.
Mas quantos lapsos cabem em um enunciado?


quinta-feira, 3 de maio de 2018

POESIA E CONHECIMENTO


É fato que conhecimento não esta associado apenas à linguagem científica, mas a toda forma de saber, a todos os artifícios simbólicos que nos permitem codificar o mundo e a realidade através de alguma forma de linguagem. Desta forma, a poesia é um modo de conhecimento que, desde o Romantismo, passando pelo Dadaísmo e pelo  Surrealismo, nos faz refletir sobre os limites da representação que, desde de Platão, se impôs a cultura ocidental como sinônimo de conhecimento legitimo.

A verdade é para nós a referencia que define a legitimidade do conhecimento. A poesia, ao contrario, remete a um saber que se dobra sobre a linguagem, que encontra nela a vocação ao significado e não em qualquer suposta relação entre palavra e objeto. Dizer não é descrever, mas criar um plano imaterial de existência, um fora de si e do mundo da experiência que, entretanto, o fundamenta como vivência.   


quinta-feira, 26 de abril de 2018

FILOSOFIA E DEVIR



Filosofia é movimento,
Um estar entre as coisas,
Em sua multiplicidade e devir.
É como o se fazer de uma musica,
O refazer de uma frase perdida
Em um enunciado inacabado.


A materialidade de um conceito
É um acontecimento por vir.
É um espaço abstrato
Entre o território e a terra.
A vida é feita de multiplicidades,
De encontros e inacabamentos.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

TEATRUM PHILOSOPHICUM: FOUCAULT SOBRE DELEUZE


O teatrum Philosophicum é um ensaio realmente singular escrito por Foucaul em 1970 sobre a filosofia de Deleuze tendo por referência suas obras  Diferença e Repetição e  Logica do Sentido. Trata-se de uma arqueologia das descontinuidades no pensar contemporâneo a partir da noção de acontecimento, tão cara a Deleuze em sua leitura dos Estoicos. Nenhum comentário aqui possível substitui a leitura do texto. Ouso mesmo dizer que qualquer comentário possível não lhe seria digno e o melhor a fazer é recordar um de seus fragmentos como estratégia de releitura de sua radical critica ao princípio da representação  através de uma reversão do Platonismo, como alternativa ao neo positivismo, a filosofia da História Hegeliana, a fenomenologia e ao retorno ao Ser proposta por Heidegger:

“ A inteligência não corresponde  à tolice:  ela é a tolice já vencida, a arte categorial de evitar o erro.  O sábio é inteligente.  Mas é o pensamento que se confronta com a tolice, e é o filósofo que a olha.  Há muito tempo eles estão frente a frente,  seu olhar mergulhado nesse crânio sem chama. É sua caveira, a dele, sua tentação, seu desejo talvez, seu teatro catatônico.  No limite, pensar  seria contemplar  intensamente, bem de perto,  e até quase se perder,  a tolice; a lassidão, a imobilidade, uma grande fadiga,  um certo mutismo obstinado, a inércia, formam a outra face do pensamento- ou, antes  seu cortejo,  o exercício cotidiano e ingrato que o prepara e que, de súbito, ele dissipa. O filósofo deve ter bastante má vontade para não jogar corretamente o jogo da verdade e do erro: esse malquerer, que se realiza  no paradoxo, lhe permite escapar das categorias. Mas, por outro lado, ele deve ter bastante ‘mal humor’ para permanecer diante da tolice, para contemplá-la imóvel até a estupefação, para se aproximar dela e imitá-la, para deixa-la lentamente crescer em si ( talvez seja isso que se traduz educadamente:  estar absorvido em seus pensamentos), e esperar, no final jamais fixado dessa preparação cuidadosa, o impacto da diferença: a catatonia encena o teatro do pensamento, uma vez que o paradoxo perturbou o quadro da representação.”

Michel Foucault in Theatrum Philosophicum (1970)




VERDADE E SIMULACRO

O dizer da verdade é um falar tagarela que sempre se repete na medida em que se replica como variante do mesmo. É o tempo cronológico, o tempo de Cronos, deus que tudo devora em seu eterno retorno.

A verdade devora seus filhos para permanecer sempre a mesma em temporalidade, como aqui e agora do modelo, da ideia e sua cópia que recusa os simulacros.  

O simulacro, entretanto, é epidérmico, intensidade de superfície, que recusa a verdade como ilusão do efêmero.

terça-feira, 24 de abril de 2018

FRAGMENTO , TOTALIDADE, DIVERSIDADE, DEVIR....


As variantes do meu próprio rosto dizem a multiplicidade de discursos que estruturam minha consciência das coisas. Trata-se de uma totalidade informe de  representações e significados. É quase uma miragem onde o eu se torna uma função abstrata do corpo, um artifício da consciência inserida no mundo, nesta complexidade de fenômenos diversos  que só podem existir enquanto experiência e imanência. Mas há sempre algo que escapa a percepção, que se afirma como um fora de nós que, entretanto, nos contém.

A finitude não se traduz apenas no perene de nosso acontecer em mundo, mas também na incapacidade de apreender a multiplicidade em toda sua radicalidade enquanto acontecimento de todas as coisas. Sabemos sempre menos do que “aquilo-que-é” em  nossas fórmulas analíticas. Nos ocupamos dos detalhes, pois somos nós mesmos detalhes na paisagem/totalidade informe e multifacetada.  A simultaneidade e o aleatório das diversas estratégias de combinação dos fatos e coisas apresenta-se para nós como algo misterioso, pois dispensa toda orientação teleológica, toda ilusão de significado.

O múltiplo é movimento e devir...

O LADO DE FORA DO PENSAMENTO


Dentro de todo discurso existe um fora do enunciado que transborda os signos. É a experiência do sentido como uma metafísica do dito que simula o sensível no abstrato da convicção. O pensamento é fisiologia, uma maquinação biológica, um modo de acontecer dos nossos corpos que a própria natureza não explica.

Toda narrativa é um ato de vida, uma estratégia de subjetivação que nos mobiliza de forma múltipla. O cérebro inventa o simulacro do pensamento. Ele é o próprio lado de fora do pensamento.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

COMPLEXOS, SIMULACROS E CONVICÇÕES



Os complexos afetivos possuem um grau de autonomia relativo em relação ao ego, que inscreve-se em um complexo egóico, enquanto centro da consciência. Podemos defini-los, em termos bem gerais, como um conjunto de imagens e ideias significativas ou com grande carga afetiva estruturados em torno de um arquetípico. Podemos aplicar a teoria dos complexos não apenas a dinâmica da personalidade individual ( como uma totalidade múltipla e dinâmica), como também a grupos de indivíduos que aderem a esta ou aquela profissão de fé religiosa ou ideológica. 

A vida psicológica é um encadeamento de incidentes desconectados que são arranjados teleologicamente pela ação dos complexos. Jung desenvolveu a teoria dos complexos a partir de seus estudos experimentais com associação de palavras realizados na primeira década do século XX.

Apropriando-me muito livremente de sua teoria diria que é o encadeamento e estruturação de nossa economia afetiva, através de um fluxo de imagens, conceitos e fantasias, que definem nossas opiniões mais corriqueiras e experiências, inclusive nossos arquivos minemônicos. Por isso, de modo geral, é muito difícil separar nossas opiniões dos afetos. Opiniões são agenciamentos e não escolhas racionais, a experiência arquetípicos definem a existência como simulacro através da autonomia dos complexos.



quinta-feira, 19 de abril de 2018

EXISTÊNCIA E DEVIR

Criamos inventando fugas
Ou estratégias de evasão.
Nossa consciência é essencialmente descontente,
Transitória, sensual e inquieta.
Pode-se mesmo dizer: inadaptável.
Busca sempre o inédito,
O impossível,
Contra o imediatamente dado.

Criar é afirmar a impermanência das coisas,
Fazer fluir a existência,
Como exercício constante de deslocamentos.