quarta-feira, 25 de abril de 2018

TEATRUM PHILOSOPHICUM: FOUCAULT SOBRE DELEUZE


O teatrum Philosophicum é um ensaio realmente singular escrito por Foucaul em 1970 sobre a filosofia de Deleuze tendo por referência suas obras  Diferença e Repetição e  Logica do Sentido. Trata-se de uma arqueologia das descontinuidades no pensar contemporâneo a partir da noção de acontecimento, tão cara a Deleuze em sua leitura dos Estoicos. Nenhum comentário aqui possível substitui a leitura do texto. Ouso mesmo dizer que qualquer comentário possível não lhe seria digno e o melhor a fazer é recordar um de seus fragmentos como estratégia de releitura de sua radical critica ao princípio da representação  através de uma reversão do Platonismo, como alternativa ao neo positivismo, a filosofia da História Hegeliana, a fenomenologia e ao retorno ao Ser proposta por Heidegger:

“ A inteligência não corresponde  à tolice:  ela é a tolice já vencida, a arte categorial de evitar o erro.  O sábio é inteligente.  Mas é o pensamento que se confronta com a tolice, e é o filósofo que a olha.  Há muito tempo eles estão frente a frente,  seu olhar mergulhado nesse crânio sem chama. É sua caveira, a dele, sua tentação, seu desejo talvez, seu teatro catatônico.  No limite, pensar  seria contemplar  intensamente, bem de perto,  e até quase se perder,  a tolice; a lassidão, a imobilidade, uma grande fadiga,  um certo mutismo obstinado, a inércia, formam a outra face do pensamento- ou, antes  seu cortejo,  o exercício cotidiano e ingrato que o prepara e que, de súbito, ele dissipa. O filósofo deve ter bastante má vontade para não jogar corretamente o jogo da verdade e do erro: esse malquerer, que se realiza  no paradoxo, lhe permite escapar das categorias. Mas, por outro lado, ele deve ter bastante ‘mal humor’ para permanecer diante da tolice, para contemplá-la imóvel até a estupefação, para se aproximar dela e imitá-la, para deixa-la lentamente crescer em si ( talvez seja isso que se traduz educadamente:  estar absorvido em seus pensamentos), e esperar, no final jamais fixado dessa preparação cuidadosa, o impacto da diferença: a catatonia encena o teatro do pensamento, uma vez que o paradoxo perturbou o quadro da representação.”

Michel Foucault in Theatrum Philosophicum (1970)




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