quinta-feira, 19 de maio de 2016

O QUE É O PENSAMENTO?

A forma como pensamos ou representamos o mundo define nosso modo de viver a vida. Neste sentido ideias são coisas bem concretas e tangíveis. Mesmo que , na maior parte do tempo, simplesmente não pensamos sobre o que fazemos. Mas é justamente quando isso acontece que as ideias agem , revelando sua surpreendente autonomia  e capacidade de configurar a existência de seus portadores. 

Somos do modo como vemos o mundo. O pensamento funciona como uma espécie de filtro. Pode-se mesmo dizer que pensar é um estado, não uma atividade.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

ROTINA

Amanhã será como hoje.
Tudo já está dado na arrumação dos fatos
E só nos  resta  seguir em frente
Inventando futuros,
Administrando o tempo.
Tudo passa,
Mas o presente parece eterno
No sempre igual da rotina,
Neste banal sentimento de existência

Que não me esclarece.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

COMUNICAÇÃO E CONTEMPORÂNEIDADE


Há limites à intencionalidade da consciência, a matéria subjetiva através da qual apreendemos os objetos e situações cotidianas, criando a ilusão de que o mundo existe tal como percebemos, ou, que existe uma correspondência direta e simples  entre a consciência e as coisas.  Sem querer trilhar os caminhos de qualquer fenomenologia cabe aqui apenas insistir na ilegibilidade do mundo e no desaparecimento do real como premissa de nosso sentimento e apreensão da realidade em termos contemporâneos.

A perda da capacidade de apreender e, consequentemente, compreender, é um sintoma de nossa cultura contemporânea saturada pela informação que se inventa e reinventa a ponto de substituir o fato, seguindo aqui uma linha de raciocínio de Jean Baudrillard.

O problema do real é um dos mais cruciais em uma sociedade onde o domínio da opinião tornou virtualmente acessível ao mais ignorante dos indivíduos e onde  toda informação pode propagar pelo mundo inteiro através do ciber espaço sendo  replicada até  tornar-se uma “verdade” coletiva independente da qualidade da consciência individual e seu bom senso ao recepta-la.


VIDA E DEVIR

Muitas coisas deixaram de fazer sentido para mim ao longo dos anos. Muitas antigas referências filosóficas ou intuições existenciais , hoje já não possuem a mínima importância. Mal me lembro delas. As paisagens humanas que frequento também mudaram, bem como certas rotinas. Posso dizer com alguma segurança que, de muitas maneiras, sou hoje uma versão muito diferente de mim, tomando como parâmetro o período curto de alguns poucos quatro ou cinco anos.  A gente muda sem perceber e de modo bastante sutil. É assim que a existência vai se desfazendo, se reinventando e deixando um pouco do que fomos  para trás como uma camada espessa de pó sobre o calendário.

Não é por causa da idade ou por alguma concreta situação de vida que essas mudanças acontecem. Na maioria das vezes, elas não tem motivo imediato, são como o resultado do acumulo de diversas micro transformações inspiradas pelo mais simples devir dos fatos. Nem tudo na vida precisa ser explicado, catalogado e superado. Gosto de preservar o irracional sentimento de que as coisas acontecem ao sabor do acaso, de modo selvagem e instável, sem compromisso com qualquer significado possível.  Não tente ter controle sobre as coisas. Isso raramente é possível.


sexta-feira, 13 de maio de 2016

A FABULAÇÃO LITERÁRIA

A fabulação literária configura um abstrato território imagético entre o eu e o mundo.

Podemos toma-lo como uma estratégia de evasão, um afrouxamento existencial que se revela  vital a nossa experiência psicológica do real. Assim, escrever é um exercício psicológico onde contemplamos a autonomia da palavra pacientemente lapidada por nossa configuração pessoal. Jamais ninguém escreverá sobre o mesmo tema o mesmo que uma outra pessoa. Há uma marca pessoal em toda narrativa, um vestígio de identidade. Quando escrevemos nos surpreendemos diante de nós mesmos de um modo realmente sem paralelos. Somos a própria matéria de nossas palavras. E é isso que, em grande medida, justifica a fabulação literária.  



quarta-feira, 11 de maio de 2016

O PROBLEMA DA NOSTALGIA

A palavra nostalgia é composta por dois radicais gregos: nóstos (regresso) e álgos (dor) e mais do que um sentimento e expressão de subjetividade, constitui uma enfermidade que normalmente acomete pessoas desenraizadas, apartadas do ambiente em que cresceram e no qual construíram identidade ou seja,  que, em função de certas circunstâncias objetivas, foram apartadas de sua casa ou família.

Desde o século XIX, o conceito de nostalgia frequenta os tratados de medicina como uma forma de patologia relacionada, principalmente a indivíduos exilados de sua terra natal.   Assim, a nostalgia não é um problema simples.

Memoria, afetividade e identidade andam juntas.  Somos nosso passado. Ás vezes somos mais no que já vivemos do que no imediato acontecer da existência que define o tempo presente. Pode-se definir esta afetividade como nostalgia. Mas se trata de outra coisa.  Trata-se  da relação entre o eu e o mundo, do sentimento de si mesmo como parte de uma determinada atmosfera existencial  que nos propicia identidade psíquica. Assim, a nostalgia pressupõe uma imagem de passado que personifica uma idealização daquilo que a vida deveria ser.  


segunda-feira, 9 de maio de 2016

ENTRE O PASSADO E O PRESENTE

Entre o dizer e o pensar agora existe um grande dilema. Nenhuma realidade sustenta enunciados. Nenhuma formulação  parece inequivocamente confiável do ponto de vista de qualquer subjetiva eficácia racional fundada na  apreensão dos objetos.

Há, ao contrario, um sentimento cada vez mais claro de que não somos mais capazes de responder as questões fundamentais de nossa condição humana, de nossos dilemas sociais ou diagnosticar satisfatoriamente nossa experiência cultural.  O mundo ocidental é agora irreconhecível diante da sua própria tradição, do cânone cultural que até o momento estabeleceu sua realidade enquanto horizonte de pensamento e desdobramento singular da civilização humana que foi capaz de estabelecer uma economia mundo, uma integração nunca antes possível do gênero humano em  algo que poderíamos considerar próximo de uma “aldeia global”.


Não pesa mais sobre nossas cabeças a lógica dicotômica ideológica da cultura do século XX, mas ainda somos incapazes de conceber a realidade sem nos afastar definitivamente das questões do ultimo século e todas as suas falsas expectativas futurológicas com relação ao século atual. Ainda vivemos entre duas épocas ou, quem sabe, eu já esteja demasiadamente velho para compreender as mais inéditas tendências do tempo presente.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O QUE PODEMOS NOS TORNAR E FAZER?

Um dos mais relevantes questionamentos filosóficos que podemos fazer nos dias de hoje, quando vivemos  em função  de nossa finitude e despidos de qualquer confiança  na eternidade, é  o que podemos nos tornar e fazer durante o curto tempo de nossa existência.  "Quem somos nós?"  revelou-se uma interrogação  vazia, pois não  possibilita qualquer conclusão. Vivemos em um mundo onde o não  ser, o acontecer, é  um imperativo ontológico  e onde o espaço  do nosso "ser" foi reduzido à abstração  da linguagem. 

O ser é  um atributo do dizer  e não  da existência  nua e concreta de todos  os dias, onde  precisamos comer, respirar e realizar a vida socialmente compartilhada através  de enfadonhas rotinas.

Então , o que no final das contas, nos tornamos ao longo dos anos e da capacidade de construir uma consciência cada vez mais complexa sobre a incerta realidade das coisas sensíveis? 
Objetivar a subjetividade é  Uma tarefa para a vida inteira e , "o que podemos nos tornar e fazer?"  é  uma resposta que cada um deve construir para si mesmo.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

DEFININDO A CONTEMPORANEIDADE

A obliterada sensibilidade  dos meus contemporâneos desfez todas as minhas apostas no gênero humano.
Existo como indivíduo  e, ao mesmo tempo, como uma abstração coletiva. Sou apenas mais um entre milhões  tentando levar a vida em tempos de incertezas e dúvidas sobre o significado vigente de todas as possibilidades.
Estou  condenado a não  fazer  o menor sentido. Ouso dizer que tenho medo daquelas que arrotam razões  e boas intenções,  que idealizam o mundo e a existência. Também  não  confio muito em mim mesmo. Como todo mundo acredito em meus próprios enganos. Mas sem nossos defeitos individualmente e coletivamente vividos, simplesmente não  seríamos possíveis.

ESCOMBROS


Enquanto a vida passa
Sigo o tempo que se esvai
No superficial de cada momento
Até o limite da minha circunstancial imaginação.
Pode ser que eu me inscreva
No céu dos teus olhos
Ouvindo suas palavras a céu aberto.
Ou talvez eu me perca em um sonho antigo
E me reinvente futuro
Entre os escombros do meu passado.

Quem pode saber?