Muitas coisas deixaram de fazer sentido para mim ao longo dos anos.
Muitas antigas referências filosóficas ou intuições existenciais , hoje já não
possuem a mínima importância. Mal me lembro delas. As paisagens humanas que
frequento também mudaram, bem como certas rotinas. Posso dizer com alguma
segurança que, de muitas maneiras, sou hoje uma versão muito diferente de mim,
tomando como parâmetro o período curto de alguns poucos quatro ou cinco anos. A gente muda sem perceber e de modo bastante
sutil. É assim que a existência vai se desfazendo, se reinventando e deixando
um pouco do que fomos para trás como uma
camada espessa de pó sobre o calendário.
Não é por causa da idade ou por alguma concreta situação de vida que
essas mudanças acontecem. Na maioria das vezes, elas não tem motivo imediato,
são como o resultado do acumulo de diversas micro transformações inspiradas
pelo mais simples devir dos fatos. Nem tudo na vida precisa ser explicado,
catalogado e superado. Gosto de preservar o irracional sentimento de que as
coisas acontecem ao sabor do acaso, de modo selvagem e instável, sem
compromisso com qualquer significado possível.
Não tente ter controle sobre as coisas. Isso raramente é possível.
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