Foi através da difusão de pequenas e informais bandas com guitarras e instrumentos improvisados, que faziam música inspiradas em canções folclóricas norte americanas em voga nos anos 20 e 30, os skiffle groups, que os jovens ingleses do pós guerra começaram, a partir de meados dos anos cinquenta, a construir uma identidade própria e inovadora em termos de sensibilidade e identidade musical. Tal empreendimento lúdico teve caráter espontâneo e suas as origens permanecem um tanto quanto obscuras ou controvertidas. O fato é que este modismo de época, sob o impacto da influência do rock and roll também vindo dos Estados Unidos originaria, em fins dos anos 50, um fenômeno musical sem precedentes: o British Rock.
De fato, em janeiro de 1964, com o sucesso dos Beatles nos Estados Unidos, teria inicio em solo americano uma verdadeira invasão britânica que definiria a atmosfera de toda uma época, configurando significativamente o imaginário juvenil nas décadas seguintes. O sucesso dos Beatles abriu as portas do novo mundo a artistas como Billy J. Kramer e The Dakotas, Gerry e The Pacemakes, The Searches, etc. Havia ainda uma segunda vertente inspirada mais diretamente pelo blues e a música negra americana, sendo representada por bandas como o Rolling Stones, The Animais, The Yardbirds, etc.
Por volta de 1967, surgiria ainda uma terceira vertente através de bandas como o The Who, Spencer Davis Group, Pink Froyd e Cream. Nos anos 70 a criatividade e originalidade do British Rock sustentar-se-ia com a originalidade impactante de bandas como Led Zepellin, Black Sabbath, Iron Maidem, etc. Para não falar do surpreendente e explosivo niilismo agressivo do Punk que redefiniria para sempre a linguagem do rock através da simplicidade selvagem da musica de três acordes e seu anti esteticismo.
O que me faz lembrar aqui muito sucintamente esta fascinante aventura musical é uma interrogação elementar: O que define a moderna musicalidade britânica e seu inquestionável poder de encantamento e criatividade? O que perpassa todas as bandas aqui citadas a ponto de enlaça-las sob um mesmo rótulo? Absolutamente nada a não ser sua origem comum... Mas cada uma delas é por demais singular em suas apropriações e reinvenções deste estranho estilo chamado rock and roll. Muitas, como os Beatles, Rollling Stones, Black Sabbath e Led Zeppelin, converteram-se em símbolos vivos de novas formas de sentir e perceber o mundo despertadas pelo encantamento da música, personificaram a vitalidade e primitivismo dourado do prazer da vida em seus gostos, cores e energias mais radicais. Coisa que tornou-se possível, diga-se de passagem, justamente pela singularidade e originalidade da identidade musical de cada uma delas, tanto quanto pelas personalidades marcantes de alguns de seus integrantes facilmente mitificados pelo público que os consagra.
Seja por que razão, foi justamente o British Rock a mais perfeita definição desta evasão, desta busca de Ícaro que por muitos caminhos perpetua-se e renova-se até os dias de hoje no peculiar sincretismo e pluralidade de estilos, ritmos e experimentações que definem a musicalidade britânica e o prazer descontraído de inabalável vocação libertária que caracteriza esse exótico e tão peculiar estilo musical originário do novo mundo...