terça-feira, 25 de setembro de 2007

LITERATURA INGLESA VIII

Conheço muito superficialmente a poesia materialista e, ao mesmo tempo, intimista e melancólica de Percy Byshe Shelley ( 1792-1822). Não tive ainda o prazer da leitura daquelas que podem ser consideradas suas maiores obras. Refiro-me ao poema filosófico Queen Mab ( Rainha Mab) ou Alastor or the Spirit of Solitude ( Alastor ou o Espírito da Solidão).
Arrisco-me, entretanto, a dizer, com base nos poucos versos seus que tive o prazer de ler e sentir, que em sua poesia emerge uma lírica singular, sensual e imaginativa, onde a natureza se faz experiência de mistério e, ao mesmo tempo, conhecimento, através do devaneio poético.
Ironicamente este singular poeta encontrou a morte nos braços da fúria da própria natureza morrendo afogado durante um naufrágio ocorrido em uma tempestade que se desencadeou sobre o golfo de Spezzia, na itália....
Reproduzo aqui um fragmento de um de seus poemas menores: A Uma Cotovia que muito bem ilustram sua prodigiosa inventibilidade.

“...Que coisas são fontes
Do teu canto em flor?
Que ondas, campos, montes?
Que céu, de que cor?
Que imenso amor dos teus, que ignorância da dor?

Ao teu claro gozo
Languidez não vem;
Tédio doloroso
não te assombra o bem:
Amas, sem ter sabido o tédio que o amor tem.

Dormindo ou desperta,
Devesa ter a morte
Uma luz mais certa
Que a da nossa sorte.
Senão teu canto não seria claro e forte.

Da saudade ao sonho
Aspiramos tanto!
Nosso ar mais risonho
É da dor o manto;
Nossas canções mais suaves são as de mais planto.

Mais que todo o ouro
Que um canto descerra,
Que todo o tesouro
Que em livros se encerra,
Teu canto ao poeta val, desdenhador da terra!

Soubesse eu o que goza
Tua alma, e tal fora
A minha harmoniosa
E lírica loucura,
Que o mundo escutaria como escuto agora.”

( Clássicos Jackson. Vol. XXXIX; POESIAS, 2º Vol. Seleção de Ary de Mesquita. RJ/ SP/ PA: W.M. Jackson Editores; s/d. p. 57 et seq.)

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