terça-feira, 25 de setembro de 2007

MARIA DE FRANCE E A MATÉRIA DA BRETANHA


Quase nada sabemos sobre Marie de France, a não ser que viveu no sec. XII. Na introdução que preparou para a tradução de suas famosas Lais, Antônio L. Furtado assim especula sobre essa curiosa personagem feminina:

“... Quanto a pessoa da autora, nada conhecemos de sua biografia e nem ao menos sabemos quem foi. Entre as hipóteses sugeridas pelos estudiosos figuram as quatro seguintes: Maria, abadesa de Shaftesbury, meia irmã do rei Henrique II da Inglaterra; Maria de Meulan ou de Beaumont, filha do conde inglês Waleram de Beaumont; Maria, abadessa de Reading, naquela época centro importante da atividade literária, e que estão mantinha a posse de manunscrito contendo os Lais e as Fables; Maria, condessa de Bolonha, filha do rei inglês Estêvão de Blois e de Matilde de Bolonha. Em qualquer caso, parece ter sido de origem normanda, em vista do dialeto de francês antigo que empregava. Supõe-se porem que tenha vivido por longo tempo na Inglaterra, citando-se neste sentido: o modo como tratou algumas narrativas localizadas em solo inglês; a intromissão em seus escritos de algumas palavras inglesas; e o fato de ter traduzido as Fábulas dessa língua. A permanência na Inglaterra faz crer que o “nobre rei”, objeto da dedicatória incluída no prólogo dos Lais, tenha sido precisamente Henrique II, homem de considerável cultura, que deu estímulo decisivo à emergência da tradição literária arturiana.”

( Lais de Maria de France/ Tradução, introdução e notas de Antônio L. Furtado; prefácio de Marina Colassanti. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 20.)

Especulações a parte, o fato é que Maria é uma das mais singelas e encantadoras vozes femininas da Idade Média. A atmosfera feérica, imaginativa e sensual de seus pequenos poemas narrativos personificam um aspecto mais leve da matéria da Bretanha, voltado exclusivamente para a celebração do amor cortes a margem da saga personificada pelo monumental ciclo arturiano.
O maravilhoso bretão encontra-se nas páginas dos seus Lais através da aventura e desventura de princesas e principes, animais fantásticos e encantamentos sem par, de modo tão sereno que podemos classificar seus Lais como contos de fada; mesmo considerando a época em que forma compostos. Afinal, eles não se destinam a outra coisa a não ser a evasão e a fantasia em seu sentido mais gratuito e leve.

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