Sir Gawain e O Cavaleiro Verde é um poema épico oral de autoria desconhecida difundido na velha Inglaterra e transcrito por volta de 1400. Dentre as composições do ciclo arthuriano esta chama atenção pela rigorosa estruturação da narrativa.
A história inicia-se na noite de ano novo com a surpreendente e repentina aparição de um misterioso cavaleiro na corte do Rei Arthur. De estatura gigantesca, armadura e armas verdes, impunha uma acha no lugar da espada e lança um curioso desafio a todos os cavaleiros ali reunidos: Aquele que ousasse tomar sua acha e decapita-lo com um único golpe deveria no ano seguinte, também em noite de ano novo, apresentar-se na Capela verde para oferecer-se ao mesmo desafio. Gawain, sobrinho do Rei, oferece-se para desferir o golpe mortal. Apesar de sua precisão, perante os atônicos olhares de todos os presentes, como se nada tivesse acontecido, o corpo decapitado ergue-se e pega a cabeça ensanguentada nas mãos, e após confirmar o compromisso ali selado retira-se pacificamente.
Exatamente um ano depois, Sir Gawain deixa a corte do Rei Arthur para buscar a capela verde e cumprir o bizarro pacto. Suas errâncias em torno desta estranha demanda são marcadas por vários episódios simbólicos que personificam os desafios enfrentados pelo herói na busca de sua “redenção” ou individuação. Mas o mais curioso deles é aquele no qual o próprio cavaleiro verde, em sua capela, esclarece a Gawain todo o mistério por traz do desafio e se apresenta. Impossível precisar o pleno significado desta passagem que apesar da cristianização intencional do manuscrito, mantém seu “encanto” pagão....
“... Bertilak de Hautdesert é como me conhecem nesta terra. Fui encantado e minha cor foi transformada pelo poder de Morgana, a Fada, que mora em minha casa, por muitas artimanhas de magia que aprendeu com o sábio Merlim, a quem envolveu em seu amor por algum tempo, como sabem todos os cavaleiros em Camelot.
Assim “Morgana, a Deusa”, ela se fez:
É o nome com que exerce seu fascínio.
Ninguém possui orgulho ou altivez
Imune a tal poder, a tal domínio.
_ Ela me enviou com este disfarce à vossa corte famosa, para pôr à prova o grande orgulho da Casa, a reputação e o renome da Távola Redonda. Encantou-me deste modo estranho para enfeitiçar-vos os sentidos, para magoar Guinevere e aguilhoá-la até que morresse apavorada diante daquele fantasma fabuloso que falava a segurar a cabeça nas mãos, perante a mesa principal. É esta que tenho em casa, a velha dama. Ela é, na verdade, sua tia, meia irmã de Artur, filha da Duquesa de Tintagel, em quem, depois, Uther gerou Artur, que agora reina. Por isso eu te peço, bravo cavaleiro, que voltes ao encontro da tua tia, que te alegres em minha casa, pois és estimado por meus homens.”
A história inicia-se na noite de ano novo com a surpreendente e repentina aparição de um misterioso cavaleiro na corte do Rei Arthur. De estatura gigantesca, armadura e armas verdes, impunha uma acha no lugar da espada e lança um curioso desafio a todos os cavaleiros ali reunidos: Aquele que ousasse tomar sua acha e decapita-lo com um único golpe deveria no ano seguinte, também em noite de ano novo, apresentar-se na Capela verde para oferecer-se ao mesmo desafio. Gawain, sobrinho do Rei, oferece-se para desferir o golpe mortal. Apesar de sua precisão, perante os atônicos olhares de todos os presentes, como se nada tivesse acontecido, o corpo decapitado ergue-se e pega a cabeça ensanguentada nas mãos, e após confirmar o compromisso ali selado retira-se pacificamente.
Exatamente um ano depois, Sir Gawain deixa a corte do Rei Arthur para buscar a capela verde e cumprir o bizarro pacto. Suas errâncias em torno desta estranha demanda são marcadas por vários episódios simbólicos que personificam os desafios enfrentados pelo herói na busca de sua “redenção” ou individuação. Mas o mais curioso deles é aquele no qual o próprio cavaleiro verde, em sua capela, esclarece a Gawain todo o mistério por traz do desafio e se apresenta. Impossível precisar o pleno significado desta passagem que apesar da cristianização intencional do manuscrito, mantém seu “encanto” pagão....
“... Bertilak de Hautdesert é como me conhecem nesta terra. Fui encantado e minha cor foi transformada pelo poder de Morgana, a Fada, que mora em minha casa, por muitas artimanhas de magia que aprendeu com o sábio Merlim, a quem envolveu em seu amor por algum tempo, como sabem todos os cavaleiros em Camelot.
Assim “Morgana, a Deusa”, ela se fez:
É o nome com que exerce seu fascínio.
Ninguém possui orgulho ou altivez
Imune a tal poder, a tal domínio.
_ Ela me enviou com este disfarce à vossa corte famosa, para pôr à prova o grande orgulho da Casa, a reputação e o renome da Távola Redonda. Encantou-me deste modo estranho para enfeitiçar-vos os sentidos, para magoar Guinevere e aguilhoá-la até que morresse apavorada diante daquele fantasma fabuloso que falava a segurar a cabeça nas mãos, perante a mesa principal. É esta que tenho em casa, a velha dama. Ela é, na verdade, sua tia, meia irmã de Artur, filha da Duquesa de Tintagel, em quem, depois, Uther gerou Artur, que agora reina. Por isso eu te peço, bravo cavaleiro, que voltes ao encontro da tua tia, que te alegres em minha casa, pois és estimado por meus homens.”
(Sir Gawain e o cavaleiro verde/ Anônimo; tradução de Marta de Senna. RJ: Francisco Alves, 1997; p.123 et seq.)
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