quinta-feira, 30 de junho de 2016

O SILÊNCIO DA HUMANIDADE

Em  algum ponto da terra
Pode ser que a humanidade inteira
Se cale,
Que não faça mais diferença
Os juízos, as conclusões e os fatos.
Em algum ponto da Terra
Pode ser que a vida persista
Sem o insano de tanta humanidade,

Princípios, regras e autoridades.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

NOTA SOBRE O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

A individuação enquanto  processo arquetípico, tal como formulado por C.G.Jung, estabelece que cada indivíduo naturalmente tende em sua experiência subjetiva a alcançar a condição de self, a coincidência entre consciente e inconsciente, mediante a integração de conteúdos da psique objetiva. Trata-se evidentemente de uma meta que se confunde com o próprio caminho.

A personalidade em individuação revela a si mesma, paradoxalmente, a dimensão coletiva ou impessoal de sua condição fenomenológica de modo compensatório e peculiar considerando sua situação pessoal e cultural. A própria “condição-de-eu” conduz para além de si mesma através da elaboração de fantasias.


Assim, nossas mais caras convicções, positiva ou negativamente, longe de expressar um exercício independente do intelecto e da racionalidade, projetam em grande medida o dinamismo deste processo irracional e ontológico através do qual nossa condição humana se faz um verdadeiro quebra cabeça.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

TEMPO ÍNTIMO

Habito um passado
Onde apenas eu existo,
Que jamais foi partilhado
Com aqueles que são parte
Do meu tempo vivido.
Pois cada um existe
Em seu próprio mundo
E intima memoria das coisas.
Cada um  porta solitariamente

O registro de sua  existência.

domingo, 26 de junho de 2016

O MÍNIMO DA EXISTÊNCIA

Minha vida mudou tanto nos últimos anos, que já não me reconheço nela. Quem eu sou ficou no passado. E o tempo presente é apenas o agora dos cacos de vontades, de afetos e especulações existenciais que habitam a orbita de algumas incertezas e acasos. 

Tudo que sei é que sou este corpo, cada vez mais desgastado, no aqui e agora. Nada mais do que isso.
Talvez a existência seja uma mera ilusão da consciência.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

SOBRE O EU LÍRICO CONTEMPORÂNEO

O transitório, o efêmero e o contingente são hoje em dia lugares comuns para definir nossa condição humana nos cenários definidos pela cultura e sensibilidades contemporâneas.  Eternidade e permanência, referenciais negativos da modernidade de um eu lírico em crise foram, ao contrário,  superados .

Diferente da modernidade, a contemporaneidade não tem como questão a crise do sujeito, mas, simplesmente, seu deslocamento e desaparecimento como lugar de produção de um discurso articulado a partir do hiato estabelecido entre o passado e o presente.

O passado e o presente foram nivelados a simulacro, e, enquanto referencias de articulação de eu discursivo, reduzidos a imagens de evasão e negação.

O eu lírico contemporâneo é um desenraizado de si mesmo que persegue o quebra cabeça  que é sua própria condição de existente vindo de um passado que hoje assombra o onírico e um presente estático e vazio de significados.


O fragmento, o nonsense, o silêncio e até mesmo a imagem crua são sua forma de expressão. Para ele tudo que resta são as ruinas da literatura e o cadáver do futuro.  

UM POUCO DE POESIA


Gostaria de um pouco de poesia,
Deste inútil artificio de desencantados
Para suportar a rotina,
Os gritos do sentir mais fundo.
Preciso de alguns versos
Para lidar com  esta desesperada necessidade
De ir contra tudo e todos.
Sei que o ser não tem consistência,
O quão frágil é a palavra
E o significado das coisas
Que me sustentam.
É transitando entre o nada
E o nada
Que constantemente me reinvento.



quinta-feira, 23 de junho de 2016

SOBRE A PERCEPÇÃO DAS COISAS

O eu esta no objeto que a nós se apresenta como realidade do mundo.
A consciência é sempre um acontecer fora, uma ausência de si mesmo através da percepção. Por isso não há como chegar a qualquer conclusão sobre a experiência humana da realidade. Pois nunca conseguiremos concebe-la “de fora”. Só é possível dizer que a percepção não é mimese, não apresenta a realidade a partir de sua objetividade, mas de acordo com nossa forma de perceber as coisas. Em outros termos, o corpo é a condição do pensamento.  O intelecto é um acontecimento físico e não um vago e indeterminado processo metafisico. Estamos o tempo todo através do espaço inventando e reinventando a realidade. Só que não nos damos conta disso. Mas a constância é ilusória. A descontinuidade é uma premissa da percepção, por mais que nos confrontemos o tempo todo com um mundo de experiências que se repetem.


SOBRE A INCERTEZA DE SI MESMO

Meu sentimento das coisas não cabem em qualquer sentimento de mundo. Pressupõe uma percepção irracional do que é o vivido, que não se conforma a qualquer configuração biográfica e racional que imponha significados ao meu efêmero instante.

 Chego mesmo a duvidar da linearidade do desenvolvimento da vida e da existência continua do "eu" que  julgo ser.

Afinal, tal singularidade é demarcada exclusivamente pelo corpo. 

Não é no desejo ou na busca pelo prazer  que se define o eu, mas em sua indeterminação e incerteza ontológica.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOBRE A INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO

O “eu” é um conjunto de estados mentais e não uma totalidade concreta e definível. Se enquanto sujeitos somos  a pré- condição dos objetos,  existimos não em nós mesmos , mas através do mundo. Assim, ao estabelecer o mundo como representação e linguagem, nos realizamos como  sujeitos na exata medida em que silenciamos sobre nós mesmos através do dizer das coisas.

Esta premissa solipsista , estabelece as representações mentais como fundamento de qualquer possibilidade de realidade tal como concebida em termos humanos.  O sujeito é como um não lugar que define todos os lugares. Sua condição é sua própria indeterminação.


terça-feira, 14 de junho de 2016

O DIZER PÓS MODERNO

As condições exteriores de construção de um discurso, sua hermenêutica, substitui a correspondência entre os discursos e os fatos. A verdade já não é digna de considerações. A fundamentação do dito  é o próprio dizer. A capacidade de pensar é idêntica ao do dizer que, fechado em si mesmo, configura a consciência das coisas.

A gramatica é mais importante do que a  verdade.


A FELICIDADE É SEMPRE DISTANTE

A felicidade é sempre o passado que a gente encontra no futuro, uma redescoberta do que passou e ficou no permanente da memoria.
Somos feitos  do vivido que ganha mais realidade quando desfeito.
Tudo o que importa é o que sobrevive ao presente como memória afetiva,
Como testemunho do próprio eu.

A felicidade é sempre distante...

ENTRE AS COISAS

Levo comigo um pouco de dor e medo
Além de sonhos antigos
Que já não valem mais grande coisa.
Aposentei a esperança
E reinventei evasões
Na descoberta da estranha arte
De ser apenas um eu

Decomposto entre as coisas.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

EXISTIR-IR

O futuro é desde sempre uma ausência de vontade,
Uma pré disposição para não permanecer o mesmo
E se deixar desfazer,  refazer ,
Pelo passar brando do tempo
Que a gente mal percebe.
Não somos,
Desde o principio estamos
E nos consumismo de tanta existência.


MINHA EXISTÊNCIA

Estou vazio de todas as questões e duvidas.
Não tenho horizontes,  perguntas
Ou desejos.
Apenas  vontades  inertes,
Silêncio e mansidões.
O mundo que siga seu rumo.
Tenho minhas próprias questões.
Pouco me importa o rumo das coisas.

Minha existência é todo o meu universo.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

SOBRE A COMPULSÃO DE ESCREVER

A necessidade de escrever deve ser sempre maior do que a possibilidade de dizer. A  dialética entre a impulsividade impotência  que da corpo a narrativa é alimentada por este impasse que inspira a imaginação. Bons textos são sempre devedores de alguma abstrata agonia existencial. Cada nova frase é uma luta contra o silêncio, contra o imediatismo da existência. Escrever pode ser classificado como um exercício trágico de vaidade e também um vicio.

terça-feira, 7 de junho de 2016

PENSO, LOGO RESPIRO E AS VEZES ME ENGASGO

Minha existência é a concretude do meu corpo vivo, meu respirar esta imprecisa consciência das coisas que me extrapolam em sensações . 

Penso, logo respiro e as vezes ma engasgo. Assim são as coisas nesta troca constante entre o meu eu e o mundo. 

Mas, que fique claro, a consciência é apenas um nada onde me imagino tudo.  


segunda-feira, 6 de junho de 2016

C.G. JUNG E O PROBLEMA DO NIILISMO CONTEMPORÂNEO

(...) tornar-se um consigo mesmo, e ao mesmo tempo com a humanidade toda (...) é uma opção livre e de decisão individual ... sem uma tal comunidade, o próprio indivíduo que se fundamenta em si mesmo e é independente, não pode progredir por muito tempo.

C.G. Jung  in A Prática da Psicoterapia, vol. XVI das Obras Completas. Petrópolis: Ed. Vozes, 1987.


É pouco observado o fato de que a psicologia de C. G Jung procura dar resposta a falta de significado da existência na sociedade que lhe foi contemporânea. O que ele atribuía a decadência do patrimônio simbólico e referencias culturas da civilização ocidental. Assim, podemos tomar sua obra como uma tentativa de responder a este impasse que, remete ao niilismo como uma tendência ontológica na moderna sociedade de massas, onde a despersonalização dos indivíduos e a secularização da experiência cultural, já não  permite  encontrar um proposito para a vida através de preposições metafisicas ou, simplesmente, da vida simbólica.

Mesmo os defensores da importância da  experiência do sagrado para a economia psíquica, embora  a contra gosto, não podem deixar de admitir  que nosso cenário cultural é desfavorável a respostas deste tipo, a menos que abdiquemos de uma existência dentro do tempo de agora e suas transfigurações técnico cientificas e filosóficas.

Se o processo de individuação é a grande resposta de Jung ao problema contemporâneo do niilismo, devemos também considerar que se trata de uma resposta absolutamente não dogmática. Jung não define exatamente o que entende por individuação. Tomemos este processo  como a realização do inconsciente através de uma consciência diferenciada e capaz de incorporar conteúdos da psique coletiva a ponto de se entregar a um vir a ser constante onde o interior e o exterior  funcionem como dois vasos comunicantes.

Assim, a individuação pressupõem um duplo movimento de diferenciação da consciência individual, através da retirada de projeções e integração de conteúdos inconscientes. 

Do pondo de vista da experiência subjetiva, isso significa a consciência de que a vida faz e não faz sentido, ao mesmo tempo, e que tudo que podemos fazer é construir nossa individualidade como uma obra que oscila entre os dois polos do significado do não significado.


UM TOQUE DE SAUDÁVEL EGOISMO

O que realmente importa
É não se importar com nada,
Viver  de silêncios e indiferenças.

As coisas acontecem
Enquanto minha existência
Não passa de desacontecimento.

Sei que não sou importante
E, mesmo assim,
Sou para mim
Tudo que existe no mundo.

Quero apenas existir,
Sofrer o tempo,
Sem me importar com o mundo.
Tenho muita coisa para viver.
Pouco me importa as informações,
Os jornais e o cotidiano dos outros.


sexta-feira, 3 de junho de 2016

PALAVRAS GUARDADAS

Tenho guardadas algumas boas palavras
Para ocasiões ideais
Que nunca ganharam até agora realidade.
Falo daqueles momentos que proporcionam
A existência
Um significado pleno,
Comovendo a gente
E estancando o tempo.
Poucas vezes provamos destes acontecimentos
Que justificam em poucos minutos
Uma vida inteira.
Tenho guardadas algumas palavras
Que de tão sem uso
Quase nem sei se ainda dizer.


quarta-feira, 1 de junho de 2016

META DEFINIÇÃO DE EXISTÊNCIA

Tenho  vivido intensamente as horas , os dias e os anos.  Tento me reconhecer em tudo que passa, levar a existência as ultimas consequências. Sigo de um nada ao outro em fome de consciência. Mas quanto mais eu vivo e  sei da vida, menos compreendo a mim mesmo, menos espero respostas ou me prendo as vontades de ser.

Então sou na vertigem de uma consciência perdida no mundo em exercícios de desconstruções e lamentos.