terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O LUGAR DA INDIVIDUALIDADE NO ACONTECER SOCIAL

Viver para si ou para o mundo? A realidade de nossas praticas coletivas procuram harmonizar estes dois impulsos difusos e opostos do exercício de nos mesmos enquanto seres viventes em estado de sociedade. Somos educados para perpetuação pragmática da ordem das coisas, conformados a um comportamento mimético  regido pela experiência de signos e símbolos verbais e não verbais. Através deles a dialética do eu e dos outros materializa o social como co- existência de todos em uma dada imagem de realidade e mundo. Mas a consciência de nossa individualidade é um silêncio e um desvio em relação a experiência do social. Habitamos este silêncio onde os signos e símbolos podem ser subvertidos, desfigurados ou reinventados através de recodificações inéditas e inesperadas. A individualidade é o lugar da criatividade, do incerto e efêmero. É onde a norma declina e as mudanças são gestadas revelando o social como devir.


sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

LINGUAGEM E VIDA

A experiência da realidade é definida pelo exercício de práticas discursivas e pela replicação de um conjunto de enunciados consensuais que nos tornam participantes de uma mesma imagem de mundo. 

Assim, a experiência da realidade é definida pela nossa consciência enquanto codificação linguística que estabelece o que é verdadeiro e o que é falso, o que tem ou não valor, através de práticas discursivas. 

Linguagem e experiência são um mesmo acontecimento no devir de nossas interações simbólicas. Mas a linguagem tem a si mesma como objeto e é exterior a nossa condição humana cujo exercício é o acontecer do corpo como devir e finitude.

É através da linguagem, entretanto, que estabelecemos o humano como simulacro, como jogo infinito  entre significante e significado, como um algo a mais em relação a nossa condição de organismo biológico.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

DISCURSO E FICÇÃO

Toda prática discursiva possui algo de arbitrário ou ficcional, mesmo quando orientada pela pretensão a qualidade de verdade. Pois parte de um cenário interpretativo, de um referencial simbólico que previamente estabelece a possibilidade de sentido de um enunciado.

Verdadeiro e falso são categorias inerentes à significação discursiva, a ordem de um discurso normativo configurado por um arcabouço disciplinar.

O fato é que todo discurso inventa a realidade que lhe confere significação estabelecendo o que pode e o que não pode ser dito.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O LUGAR DO EU E DO OUTRO

“Tudo se reduz ao diálogo, à contraposição enquanto centro. Tudo é meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada termina, nada resolve. Duas vozes são o mínimo de vida.” (Mikhail Bakhtin)

O outro é a medida da incerteza de mim mesmo. É a imprecisão que circunscreve o falante e o ouvinte através dos enunciados.
O outro é o próprio discurso que se apresenta a partir de sua  estrutura e significações. É o que nos reduz a personas, no ato do dialogo, em oposição e identidade com aquilo que é comunicado, compartilhado, formatado pela linguagem. O sujeito é uma função da própria prática discursiva que simultaneamente o faz um eu e um outro na alteridade discursiva, na ação dialógica que pressupõe o próprio exercício  da linguagem como pratica que nos define a todos. Se o discurso é quem estabelece sentido a um dialogo, ele também define o eu e o outro como um lugar dentro do dizer, como uma função inerente a construção do discurso. Somos inventados pelo e para o discurso, nos fazemos através dele aquilo que somos na presença um do outro, na incerteza daquele que fala como eu e também se percebe como um outro.





terça-feira, 19 de dezembro de 2017

NOTA SOBRE JUNG E A MODERNIDADE

Ao pensar todo o desenvolvimento da cultura ocidental a partir de sua configuração pelo mito cristão, Jung estabeleceu uma leitura original da modernidade. Para ele o tema central da época moderna era o deslocamento do homem, enquanto imagem arquetipa, para o centro da consciência. Assim, o homem sentiu sua autoconsciência e seu envolvimento com o mundo material como uma experiência mais forte do que sua dependência de uma divindade onipotente. Tal processo encontra-se representado pelo drama alquímico que, de muitas maneiras, abriu o caminho para  conversão do homem a demiurgo de seu próprio mundo social através de uma natureza sacralizada e, ao mesmo tempo, passível de sua intervenção. Confrontado com seu próprio deus,  o homem surpreende-se capaz de intervir na criação substituindo este mesmo deus transformando a natureza. Emerge, assim, gradativamente o Homo Faber como imagem de um domínio da natureza e antropomorfização do mundo.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

DELINQUÊNCIA LINGUISTICA

Onde quer que estejam meus trapos verbais
Serei sempre este miserável
Que polui a face da escrita.

Sempre este provocador,
Destilando ódio e humor
Contra as cenas cotidianas
Das palavras abertas da ordem.

Aos amantes do bom dizer
E de boas  ideias de mundo,
Ofereço meu mais franco desprezo
Pelas regras  gramaticais,
Pela ordem de todos os discursos.

Não me engana qualquer disciplina,
Nenhum conceito  ou  verdade.
A linguagem selvagem, fechada sobre si mesma
Contra a normativa do sentido,
É minha trincheira de significação.

POR UMA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA?


Em seu Ensaio sobre o Homem, ao definir o Homem  como animal symbolicum, Ernest Cassirer lança as bases de uma antropologia filosófica fundado na individualidade humana como lugar de criação do próprio homem em sua universalidade. É como indivíduo que o ser humano configura sua própria experiência como espécie e, consequentemente, também com a constante incerteza sobre seu próprio futuro através do devir do tempo.

A linguagem, a técnica/instrumentos e as artes plásticas, inscrevem materialmente os símbolos nas praticas culturais. Isto é, a produção de artefatos cria a realidade através do qual o homem se inventa ou revela como animal symbolicum.

O imperativo da obra, do ato de criação produz seu criador. É expressão de uma rede de relações complexas entre o eu e o mundo, que conduz do signo ao símbolo, da natureza ao humano, do sensível ao abstrato.

O homem, esta questão demasiadamente tardia, como nos faz pensar Foucault em As Palavras e as Coisas, é um devir, uma sombra projetada pela imaginação, pela cultura como artificio da consciência através de suas formas simbólicas.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

FUGA

O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente […] A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha” – Foucault, Vigiar e Punir

A indeterminação e o devir é tudo que saberão de mim.
Guardo o isolamento  como premissa do meu nomadismo,
das minhas rotas de fuga...
Dialogo com o aleatório e o inesperado
em um processo constante de desconstrução
de mim mesmo.
Nem mesmo sou idêntico a um eu 
nas tantas variantes de um rosto
que me assombra no espelho.

ETERNO RETORNO

Tenho vontade de voltar no tempo
E repetir tudo aquilo que fiz de mim mesmo.
Reescrever com as mesmas linhas tortas
Antigos erros,
Reviver acertos e vitórias
Na mais imperfeita imperfeição de ser.

Assim, seria feliz, sempre de novo,
Na perene eternidade do mesmo
Em gratuito e franco existir.
Sem propósitos e sem soluções
Seria inteiramente eu

Na profundidade rasa do meu querer.