Viver para si ou para o mundo? A
realidade de nossas praticas coletivas procuram harmonizar estes dois impulsos
difusos e opostos do exercício de nos mesmos enquanto seres viventes em estado
de sociedade. Somos educados para perpetuação pragmática da ordem das coisas,
conformados a um comportamento mimético regido pela experiência de signos e símbolos verbais
e não verbais. Através deles a dialética do eu e dos outros materializa o
social como co- existência de todos em uma dada imagem de realidade e mundo. Mas
a consciência de nossa individualidade é um silêncio e um desvio em relação a experiência
do social. Habitamos este silêncio onde os signos e símbolos podem ser
subvertidos, desfigurados ou reinventados através de recodificações inéditas e
inesperadas. A individualidade é o lugar da criatividade, do incerto e efêmero.
É onde a norma declina e as mudanças são gestadas revelando o social como
devir.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
LINGUAGEM E VIDA
A experiência da realidade é definida pelo exercício de práticas discursivas e pela replicação de um conjunto de enunciados consensuais que nos tornam participantes de uma mesma imagem de mundo.
Assim, a experiência da realidade é definida pela nossa consciência enquanto codificação linguística que estabelece o que é verdadeiro e o que é falso, o que tem ou não valor, através de práticas discursivas.
Linguagem e experiência são um mesmo acontecimento no devir de nossas interações simbólicas. Mas a linguagem tem a si mesma como objeto e é exterior a nossa condição humana cujo exercício é o acontecer do corpo como devir e finitude.
É através da linguagem, entretanto, que estabelecemos o humano como simulacro, como jogo infinito entre significante e significado, como um algo a mais em relação a nossa condição de organismo biológico.
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
DISCURSO E FICÇÃO
Toda prática discursiva possui algo de arbitrário ou ficcional, mesmo quando orientada pela pretensão a qualidade de verdade. Pois parte de um cenário interpretativo, de um referencial simbólico que previamente estabelece a possibilidade de sentido de um enunciado.
Verdadeiro e falso são categorias inerentes à significação discursiva, a ordem de um discurso normativo configurado por um arcabouço disciplinar.
O fato é que todo discurso inventa a realidade que lhe confere significação estabelecendo o que pode e o que não pode ser dito.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
O LUGAR DO EU E DO OUTRO
“Tudo se reduz ao diálogo, à contraposição enquanto centro. Tudo é
meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada termina, nada resolve. Duas vozes são
o mínimo de vida.” (Mikhail Bakhtin)
O outro é a medida da incerteza
de mim mesmo. É a imprecisão que circunscreve o falante e o ouvinte através dos
enunciados.
O outro é o próprio discurso que
se apresenta a partir de sua estrutura e
significações. É o que nos reduz a personas,
no ato do dialogo, em oposição e identidade com aquilo que é comunicado,
compartilhado, formatado pela linguagem. O sujeito é uma função da própria prática
discursiva que simultaneamente o faz um eu e um outro na alteridade discursiva,
na ação dialógica que pressupõe o próprio exercício da linguagem como pratica que nos define a
todos. Se o discurso é quem estabelece sentido a um dialogo, ele também define
o eu e o outro como um lugar dentro do dizer, como uma função inerente a construção do discurso. Somos inventados pelo e para o discurso, nos fazemos através dele aquilo que somos na presença um do outro, na incerteza daquele que fala como eu e também se percebe como um outro.
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
NOTA SOBRE JUNG E A MODERNIDADE
Ao pensar todo o desenvolvimento da cultura ocidental a partir de sua configuração pelo mito cristão, Jung estabeleceu uma leitura original da modernidade. Para ele o tema central da época moderna era o deslocamento do homem, enquanto imagem arquetipa, para o centro da consciência. Assim, o homem sentiu sua autoconsciência e seu envolvimento com o mundo material como uma experiência mais forte do que sua dependência de uma divindade onipotente. Tal processo encontra-se representado pelo drama alquímico que, de muitas maneiras, abriu o caminho para conversão do homem a demiurgo de seu próprio mundo social através de uma natureza sacralizada e, ao mesmo tempo, passível de sua intervenção. Confrontado com seu próprio deus, o homem surpreende-se capaz de intervir na criação substituindo este mesmo deus transformando a natureza. Emerge, assim, gradativamente o Homo Faber como imagem de um domínio da natureza e antropomorfização do mundo.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
DELINQUÊNCIA LINGUISTICA
Onde quer que estejam meus trapos verbais
Serei sempre este miserável
Que polui a face da escrita.
Sempre este provocador,
Destilando ódio e humor
Contra as cenas cotidianas
Das palavras abertas da ordem.
Aos amantes do bom dizer
E de boas ideias de mundo,
Ofereço meu mais franco desprezo
Pelas regras gramaticais,
Pela ordem de todos os discursos.
Não me engana qualquer
disciplina,
Nenhum conceito ou verdade.
A linguagem selvagem, fechada
sobre si mesma
Contra a normativa do sentido,
É minha trincheira de significação.POR UMA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA?
Em seu Ensaio sobre o Homem, ao
definir o Homem como animal symbolicum,
Ernest Cassirer lança as bases de uma antropologia filosófica fundado na individualidade
humana como lugar de criação do próprio homem em sua universalidade. É como
indivíduo que o ser humano configura sua própria experiência como espécie e,
consequentemente, também com a constante incerteza sobre seu próprio futuro
através do devir do tempo.
A linguagem, a
técnica/instrumentos e as artes plásticas, inscrevem materialmente os símbolos
nas praticas culturais. Isto é, a produção de artefatos cria a realidade
através do qual o homem se inventa ou revela como animal symbolicum.
O imperativo da obra, do ato de
criação produz seu criador. É expressão de uma rede de relações complexas entre
o eu e o mundo, que conduz do signo ao símbolo, da natureza ao humano, do
sensível ao abstrato.
O homem, esta questão
demasiadamente tardia, como nos faz pensar Foucault em As Palavras e as Coisas,
é um devir, uma sombra projetada pela imaginação, pela cultura como artificio
da consciência através de suas formas simbólicas.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
FUGA
O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente […] A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha” – Foucault, Vigiar e Punir
A indeterminação e o devir é tudo que saberão de mim.
Guardo o isolamento como premissa do meu nomadismo,
das minhas rotas de fuga...
Dialogo com o aleatório e o inesperado
A indeterminação e o devir é tudo que saberão de mim.
Guardo o isolamento como premissa do meu nomadismo,
das minhas rotas de fuga...
Dialogo com o aleatório e o inesperado
em um processo constante de desconstrução
de mim mesmo.
Nem mesmo sou idêntico a um eu
nas tantas variantes de um rosto
que me assombra no espelho.
ETERNO RETORNO
Tenho vontade de voltar no tempo
E repetir tudo aquilo que fiz de
mim mesmo.
Reescrever com as mesmas linhas
tortas
Antigos erros,
Reviver acertos e vitórias
Na mais imperfeita imperfeição de
ser.
Assim, seria feliz, sempre de
novo,
Na perene eternidade do mesmo
Em gratuito e franco existir.
Sem propósitos e sem soluções
Seria inteiramente eu
Na profundidade rasa do meu
querer.
Assinar:
Postagens (Atom)