A possibilidade de representação
racional do mundo social no plano epistemológico torna-se cada vez mais duvidosa. Afinal, o
social já não dá mais conta de uma vida coletiva cada vez mais plural e dinâmica, irredutível a
racionalidade instrumental e funcionalista. Estratégias comunitárias de construção de identidades e vínculos
deram lugar a codificações mais abstratas e fluidas. Nestas o comportamento
coletivo é cada vez mais formatado pelo fluxo de imagens e estímulos produzidos
pelas novas mídias. Decorre dai uma autonomia maior do individuo nas estratégias
de construção de sua identidade e estabelecimento de vínculos societários. Ao
mesmo tempo, dar-se no entanto um deslocamento do sujeito e dispersão da
identidade. Não mais nos adequamos a nossas personas sociais, mas nos
reinventamos constantemente em um exercício de adaptação ao fluxo de experiências
efêmeras que compõe o mais imediato dia a dia. Um amalgama de discursos,
praticas e usos da realidade estabelecem agora os protocolos da realidade onde
nos inventamos como personas de nos mesmos no palco do coletivo. Assim, o próprio
coletivo já não é um espaço orgânico racionalmente estruturado a partir de um
consenso legitimador de determinadas praticas e representações sociais. Ele se
apresenta, ao contrario, como um plano indeterminado onde todos nós co-habitamos dispersos entre signos e conjunturas culturais e simbólicas justapostas.
Carecemos hoje em dia de um mapeamento cognitivo de nosso cenário vivencial,
das representações de mundo que compartilhamos diariamente. Nenhuma visão de
mundo é suficientemente abrangente para reduzir a realidade a uma totalidade
dotada de sentido e teleologia. Entre o universo dos significados e o mundo
material, agora se impõe o virtual, o ambíguo e o contraditório. O que nos
redime de qualquer sentido intencional balizador de nossas ações ou reflexões.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
O HORIZONTE DO ALÉM DO HUMANO
Eu vos ensino o
super-homem. O homem é algo que deve ser superado. Que fizestes para
superá-lo?” – Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, p. 13
Aprendemos com Nietzsche sobre a
impossibilidade da morte de deus sem a superação da forma homem. Este estranho campo
de batalha entre apetites diversos que agora se desfaz vitima da violência de
seu próprio devir.
Superar ideias fechadas, os
conceitos-prisões que definem os humanismos e o orgulho das conquistas da
civilização. O pensar racional e conformista é feito de enunciados abstratos
que estabelecem a ilusão de domínio sobre a realidade. Tudo que é compreensível
e explicável é domesticado. Reduzimos a complexidade dos fenômenos a formulas
simples e, assim, tomamos por resolvido o problema que é o mundo. Triste ilusão.
Pois nos escapa a própria vertigem e absurdo de nossa condição humana e apenas
inventamos uma realidade antropomórfica.
Mas o que nos espera além de toda
consciência legada pela civilização? Talvez a reinvenção do corpo e dos sentido
sem o peso do pensar metafisico baseado na
verdade objetiva que nos divorcia da concretude de nossa existência finita em nome da ideia, dos conceitos, do contra-natural. É preciso que nossa ideia de
realidade seja de algum modo mortalmente abalada para que este animal malfeito
que é homem seja finalmente transcendido.
Sabemos que o humanismo é um
conceito recente e demasiadamente moderno e, portanto, perecível.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
DEBATE
Como último recurso
Tentei responder a todas as suas perguntas
Calando minhas próprias dúvidas.
Desesperadamente busquei lhe explicar o nada.
Mas fomos envolvidos pela vertigem de nossas ocas palavras
E encontramos em um tumultuado silêncio
A melhor solução.
Tentei responder a todas as suas perguntas
Calando minhas próprias dúvidas.
Desesperadamente busquei lhe explicar o nada.
Mas fomos envolvidos pela vertigem de nossas ocas palavras
E encontramos em um tumultuado silêncio
A melhor solução.
DENTRO DE UM MINUTO
Dentro de um minuto
No eterno passado do mundo
Direi provisoriamente meu
sentimento das coisas.
Dentro dele existo indeterminado
No fluxo impreciso da
consciência.
Sou nas sensações e gostos que
definem o corpo.
Banal e inútil me desfaço no
insignificante.
A vida é superficial,
É insípida como a água em seu modo de ser essencial.
O significante transborda o
significado.
E tudo acontece dentro de um
minuto.
domingo, 11 de dezembro de 2016
AFORISMO SOBRE NOSSOS TEMPOS DE PÓS VERDADES
Em tempos de cacofonia de discursos conflitantes que se edificam sobre o cadáver do real, o significante espanca o significado na esquizofrenia dos enunciados.
Ultrapassamos a realidade no império efêmero das opiniões e overdose da razão.
Assim teve início a era da pós verdade.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
O INDIVIDUALISMO COMO FUNDAMENTO DO ACONTECER SOCIAL
A vida social é cotidianamente definida pela tensão e conflito entre indivíduos. A pluralidade de
interesses, perspectivas e sensibilidades que caracterizam os integrantes de um
grupo ou sociedade é um dado elementar que verificamos a tomo momento e em toda
parte. Muitos leitores, por exemplo, terão criticas a fazer a este texto,
enquanto outros tomarão seu partido total ou parcialmente. O fato é que estamos
sempre envolvidos em desacordos. Seria mais correto falar de uma federação
complexa de indivíduos do que propriamente de sociedade. A menos, é claro, que tomemos como séria a
fantasia republicana fundada no abstrato princípio de soberania popular.
Estamos tão ocupados em
reproduzir o que nos ensinaram sobre a realidade, mimetizar comportamentos
sociais, que raramente nos ocorre a possibilidade de um estranhamento radical
de todos os contextos sócio culturais nos quais estamos involuntariamente
inseridos. Fomos induzidos a domesticar nossa singularidade em nome de
abstrações racionais que atribuem demasiado valor ao social e suas
instituições.
O cotidiano mais imediato de
nossos tantos intercâmbios intersubjetivos evidenciam que, mesmo que a
cooperação e o compartilhamento de uma série de referencias simbólicos definam
os indivíduos inscritos em determinada cultura, ele não elimina as variáveis introduzidas
pela peculiaridade das configurações de cada um. No calculo social, o individuo é uma fator irracional
apenas parcialmente controlável. Um enunciado elaborado por um único individuo pode
contaminar certa quantidade de seus pares e ser replicado a ponto de constituir
uma contra tendência as normatizações até então consensualmente estabelecidas
e, em certas circunstâncias, impor-se como normativa emergente. A possibilidade
do novo origina-se da iniciativa individual. Isso
não deve ser negligenciado. Pois, se os indivíduos integrantes de qualquer
coletivo estão sempre vivenciando algum
tipo de desconforto em relação as
normativas sociais, quando um determinado individuo, elabora uma resposta para
seu próprio contexto que também lhes atende, tal reposta não perde seu caráter singular,
não se torna “coletiva”, pois, ao mesmo tempo que se faz objeto de adesões, também sofre reelaborações e adaptações. Assim, mesmo
uma formulação individual que se torna coletiva por suas consequências sociais,
não perde nunca sua singularidade.
UMA FILOSOFIA DO IMPOSSÍVEL
Sonho possível uma filosofia de
questões insolúveis orientada para reproblematização de todas as respostas e
soluções até agora imaginadas. Tal filosofia teria por vocação uma narrativa
sem qualquer pretensão ou valor , dedicada
a exercícios de imaginação fadados a inconclusão e ao inacabamento. Falo
de um exercício de reflexão perpetuamente aberto, indeciso e avesso a qualquer
forma de instrumentalização.
Pensar deve ser um exercício lúdico
a desafiar nossa ordinária consciência das coisas e mais arraigadas premissas
cognitivas.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
FATO E MEMÓRIA
Observo os círculos que uma gota
inventa na superfície serena do lago como se fosse o tempo acontecendo em torno
do fato do meu nascimento.
O tempo é eterno retorno e
esquecimento, enquanto experiência concreta da existência, não uma linha de
fatos encadeados em direção ao nada como passamos a imagina-lo depois do seculo XVIII.
O tempo é a medida do
inconsciente e se define na sucessão de gerações pelo esquecimento. A
seletividade do que é lembrado não depende apenas do vestígio, mas da
intensidade de nossas vivencias, de seu impacto passional, impessoal. É ele que define sua
conversão a memoria e apropriação consciente como fato histórico.
O passado só é lembrado quando se torna uma presença que nos diz algo sobre o presente.
O passado só é lembrado quando se torna uma presença que nos diz algo sobre o presente.
CORPO E SIGNIFICAÇÃO DO MUNDO
“A
palavra não é desprovida de sentido, já que atrás dela existe uma operação
categorial, mas ela não tem esse sentido, não o possui, é o pensamento que tem
um sentido, e a palavra continua a ser um invólucro vazio (...), a linguagem é
apenas um acompanhamento exterior do pensamento”
(Merleau-Ponty, Fenomenologia da Percepção)
A objetificação da realidade tornou-se o ponto fraco
da modernidade ao estabelecer a ilusão dicotômica entre sujeito e objeto,
ignorando a dimensão projetiva da consciência, a indeterminação das fronteiras
entre o eu e o mundo. Mais do que isso, ignorou o corpo como lugar da
significação das coisas e dimensão intuitiva e instintiva de toda representação
do real.
Não existe intencionalidade desvinculada
da dimensão irracional inerente ao próprio acontecer humano. Toda percepção do
mundo é um estar no mundo e, portanto, experiência e subjetividade. O corpo que
somos nós incarna o drama do mundo em nós através da consciência.
A autonomia da linguagem sobre a
própria vida e sobre o próprio mundo, seu fechar sobre si mesma, define a
ambiguidade do pensamento enquanto fato gramatical e experiência fenomenológica.
Existe uma dimensão silenciosa da significação que esta sujeita ao arbítrio do
inconsciente enquanto fonte de da própria consciência. O que é dito pressupõe
sempre o não dito de nossas compulsões. O próprio conhecimento é um ato
instintivo, uma compulsão que formata nossa adaptabilidade ao mundo vivido e
experimentado.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
MEMÓRIA, HISTÓRIA E "PRESENTISMO"
Tal como o excesso de informação,
o excesso de memória nos torna passivos e indolentes através da banalização, do
divorcio entre vivificação e cultura, entre mundo e experiência. Já não somos
capazes de verificar os rastros do passado dentro do nosso presente. Nem mesmo nos
interessamos mais por nossa própria historicidade. Pelo menos do ponto de vista
de uma história racional e teleologicamente orientada para o progresso da
humanidade. Sob as ruínas da modernidade dilaceramos o mito da razão triunfante
e abandonamos as velhas meta narrativas para brincar entre os cacos de seus enunciados.
Somos agora uma
pluralidade de forças e tendências em perpetuo devir e a deriva em um tempo
presente cada vez mais elástico.
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