segunda-feira, 26 de setembro de 2011

NOTA SOBRE MAD MEN: INVENTANDO A VERDADE


Considerada a sucessora natural da aclamada serie FAMILIA SOPRANO, MAD MEN é mais do que uma releitura acida do cenário sociocultural da New York do inicio dos anos 60. Como sugerido pelo seu subtítulo, “Inventando a verdade”, trata-se antes de tudo de uma sutil alegoria do novo status da cultura em uma  sociedade pós industrial através do universo da propaganda e de seus profissionais em uma época em que a novidade estava na pauta do dia.

Em seu surpreendente GUIA NÂO OFICIAL  DE MADMEN, OS REIS DA MADISON AVENUE  Jesse McLean nos oferece algumas chaves interessantes para uma leitura mais profunda deste drama televisivo que dá sentido a celebre frase de Gregory House “Menos leitura e mais televisão”.

Pensando na estrada até agora ( referencia gratuita a SUPERNATURAL) segue um pequeno fragmento da obra aqui citada:

À ESTRADA  PERCORRIDA  E A ESTRADA POR VIR

“Mathew Weiner atravessou uma longa e sinuosa estrada até alcançar o sucesso com seu projeto de estimação. Através do prisma das aventuras do independente e solitário Don Draper no mundo  da publicidade dos anos 1960 em Nova York, o roteirista permite à audiência  enxergar as  várias  facetas da cultura norte americana,que vivenciou uma transformação devastadora naquela época em excitante, das politicas de gênero e primeiras fendas no chamado “teto de vidro” à politica presidencial durante as campanhas Kennedy e Nixon. Nessa mesma  época, a psicanálise era aceita pelo grande público e o movimento pelos direitos civis alterava as noções de raa de modo revolucionário. Além disso, uma crescente consciência social mudou o papel da juventude americana na sociedade, e a própria publicidade passou por uma alteração cataclísmica, assim como a cultura como um todo.
Mad Men fornece um coquetel espumante de roteiros formidáveis, com figurino e cenografia inebriantes, polvilhando com uma doce ironia que ajuda a compreender tanto o passado distante quanto o mundo atual.”

Jesse McLean. O guia não oficial de Mad men, tradução de  Patricia Azevedo, RJ: BestSeller, 2011, p.25

Como sugere aqui a autora, mais do que um exercício de imaginação “histórica” a série em questão nos permite pensar o tempo presente, igualmente marcado por transformações e angustias novas sem qualquer precedente passado....

Definitivamente é hora de assistir mais TV....

domingo, 25 de setembro de 2011

SÉRIES DE TV E IMAGINÁRIO CONTEMPORÂNEO

Segundo Ernest Cassirer em seu clássico ENSAIO SOBRE O HOMEM,  o homem é um Animal symbollicum. De fato, é através de signos, imagens e símbolos, que codificamos e inventamos a condição humana. Logo, uma das chaves para compreensão da paisagem cultural contemporânea é o fato inédito da dessacralização de todo patrimônio simbólico cristalizado nos últimos séculos, a desconstrução do sagrado e de toda modalidade de metafísica como premissa de nossas representações do mundo e da vida.

Um bom exemplo disso é o grau de complexidade simbólica e imagética alcançado por certas expressões da mídia televisiva nesse inicio de século. Algumas séries de TV apresentam  hoje um conteúdo imagético reflexivo muito mais rico do que qualquer possível tratado de filosofia.

Penso particularmente  na série SUPERNATURAL dirigida por Jensen Ackles e que em suas ultimas temporadas  propôs uma reinvenção fecunda do mito judaico cristão de uma perspectiva humanista , cuja a relevância é normalmente subestimada. Poder-se-ia falar ainda, em uma proposta diferente da desconstrução do clássico dualismo bem X mal, através de séries protaconizadas por anti heróis como House ou Dexter. Isso para não falar no amoral e ácido drama de MadMen e seu questionamento da própria ideia de verdade e significado da existência.

Em breves palavras, o imaginário ocidental  nunca foi tão fecundo na reviravolta de todos os valores. Tal possibilidade se materializa em fenômenos simples e midiáticos como o universo das séries de TV.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

MY TIME

Tenho a vida
Que preciso
Entre as coisas
Que constantemente
Me surpreendem
No acontecer
Do mero espaço tempo...

Tenho tudo aquilo
Que não procuro
Me redescobrindo a cada segundo
De pensamento e ato sem rumo...

NEWS


Nada é surpreendente
Ou suficiente
Quando exploramos
A vida
No explodir
De cada amanhã.

Nada é tão profundo
Quanto respirar
Uma estrada aberta
Na novidade de um dia de sol
Indiferente
As páginas abertas
Do jornal matinal...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

DIALETICA DO ENVELHECIMENTO

Depois de certa idade o tempo parece se encolher e o leque de possibilidades que definem o acontecer biográfico estreita seu ângulo. É justamente quando descobrimos o que nos é definitivo e essencial nas paisagens da existência, quando confrontamos nossa persona no espelho torto do mundo e nos tornamos nos fazemos a nossa própria imagem  e semelhança sobre as ruinas dos anos passados e vividos.
É também quando abandonamos, mesmo que relutantes, nossa irracional necessidade de segurança e referencias confrontados com o indiferente fluxo cego do existir humano em sua dimensão impessoal /biológica e aprendemos que tudo a nossa volta é surpreendentemente inconstante e volúvel...

NOTA SOBRE O LIVRO A CONTRACULTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS II

Como fica explicitado na terceira parte da obra, CONTRA CULTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS é antes de tudo uma peça literária de militância politico\cultural voltada para o debate sobre o presente e o futuro da nova esquerda norte americana.

Neste ponto, parece-me pertinente chamar atenção para o balanço sombrio que esta singular narrativa nos oferece sobre o tema acusando a tendência neo-moralista autoritária  que de muitas maneiras  vem se afirmando tanto na cultura quanto na contracultura contemporânea:

“A Nova Esquerda Moderna tem o potencial de se transformar na força politica antiautoritária mais importante do mundo contemporâneo, porque está em oposição direta aos crescentes poderes de corporações gigantescas. Monolitos empresariais globais estão, em essência, se fundindo com a maioria dos governos do mundo e se colocando na posição de determinar as próprias condições físicas e materiais sob as quais irão viver as pessoas de todas as partes, que tipo de ar irão respirar, que tipos de prédios irão cerca-los, que tipo de trabalho elas irão fazer ou mesmo se serão totalmente excluídas do trabalho, que tipo de produtos irão consumir, e que tipos de programas estarão disponíveis por intermédio dos meios de comunicação de massa e mesmo ( se eles conseguirem) da internet. Eles estão invadindo a privacidade de todo mundo para globalizar ( isto é, integrar) sua base de consumidores de modo à atender a integração de seus interesses empresariais, e eles estão utilizando informações anteriormente particulares para excluir pessoas do serviço de saúde, de empregos, da concessão de credito e da habitação. Eles estão criando um sistema fechado em que as escolhas e oportunidades do individuo são capturadas em uma rede de base de dados empresariais que não pode ser contestada . Benedito Mussolini definiu o facismo, e sua definição era a completa integração do estado e das empresas.

Infelizmente, a Nova Esquerda Moderna também inclui o que este autor considera elementos claramente reacionários. Um exemplo radical seria o  daqueles  que querem devolver a humanidade ao estágio de caçadores-coletores. E embora a maioria dos ambientalistas neo-hippies defenda a tecnologia “apropriada”, um numero substancial é de neoludistas, que se opõe a qualquer tecnologia. Esta crescente cultura antiprometéica ganha força em face dos extraordinários abusos da intervenção tecnológica pelas forças de cobiça e do poder. Você pode encontra-los, juntamente com os fundamentalistas religiosos de direita, se opondo veementemente  não apenas  à clonagem, mas à pesquisa  com células-tronco;. Não ao patenteamento de novas formas de alimentos transgênicos, mas a própria biotecnologia.

Muitos ambientalistas radicais também tem a necessidade extremamente forte de dizer as pessoas como elas devem viver:  o que dirigir (preferencialmente uma bicicleta), o que comer (nada de carne), o que fumar (legalizar a maconha, mas perseguir os que fumam tabaco), o que vestir ( nada de peles, maquiagem, nada caro) e como gastar  o seu tempo livre ( não ver televisão). Entrar em uma Starbucks pode ser crime de pensamento. Pisar em um Burger King pode ser assassinato. Dirigir um utilitário pode ser um crime de guerra!”

Ken Goffmam e Dan Joy. A Contra Cultura através dos tempos: do mito de Prometeu à cultura digital. Traduão de Alexandre Martins RJ: Ediouro, 2007, p.394

Esta verdadeira pressão social neo moralista denunciada pelo autor é um fenômeno contemporâneo que realmente merece maior atenção. Diante dele, a reafirmação dos valores elementares da contracultura, como autonomia e liberde individual, é mais do que saudável. O que não é, evidentemente, suficiente para garantir a afirmação fecunda das tendências contraculturais na contemporaneidade. Por uma série de razões considero esta questão  como um tema interessante e ainda em aberto.... 

NOTA SOBRE O LIVRO A CONTRACULTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS


CONTRA CULTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS by Ken Goffman e Dan Joy é um livro provocativo e original sobre uma das grandes matrizes da cultura contemporânea.

Encontramos nesta curiosa obra uma redefinição do conceito de contracultura quea faz um sinônimo de livre pensamento, uma espécie de contra hegemonia ideológica , para lembrar Gramsci, recorrente na invenção de sociedades e culturas ao longo da aventura humana.

Considero tal premissa um deliberado ato de  anacronismo histórico, mas ao qual não recuso alguns méritos enquanto estratégia discursiva que chama atenção para a hipótese de uma contemporaneidade da contra cultura ainda pouco explorada.
Segundo os autores:

“... O impacto final da contracultura na história frequentemente é determinado pela adoção de seus símbolos, artefatos e práticas pela cultura dominante de uma forma que os isola violentamente de suas fontes na experiência real. Ainda assim, os traços históricos deixados pelas contraculturas podem ser identificados ao se observar a história com uma compreensão da essência da contracultura. Essa forma de ler os registros culturais oferece uma interminável fonte de inspiração, informação e afirmação, permitindo que as contraculturas extraiam muita energia de épocas e personagens históricos anteriores.

A contracultura é ”ruptura” por definição, mas também é uma espécie de tradição. É a tradição de romper com a tradição, ou de atravessar as tradições do presente de modo a abrir uma janela para aquela dimensão mais profunda  da possibilidade humana que é a fonte perene do verdadeiramente novo- e verdadeiramente glandioso- na expressão e no esforço humano. Desta forma, a contracultura pode ser uma tradição que ataca e dá inicio a quase todas as outras tradições.”

Ken Goffmam e Dan Joy. A Contra Cultura através dos tempos: do mito de Prometeu à cultura digital. Traduão de Alexandre Martins RJ: Ediouro, 2007, p.13

Esta pretendida invenção de uma tradição contracultural , pelo menos nos termos  aqui propostos, parece-me mais alegórica do que  autentica ao colocar deliberadamente sobre o mesmo rótulo, sem considerar seus contextos históricos  e  conteudos, expressões tão diversas como a filosofia socrática, os sufis, os trovadores do sec. XII, etc. 

 Mas tal forma de ler os registros culturais é na verdade um ousado modo de ler a própria cultura contemporânea e a herança da contra cultura dos anos 60. Isso sem esquecer seus tantos desdobramentos e metamorfoses em uma variedade de configurações culturais, que se produziram  a partir dos anos 70, e que dariam o tom das décadas seguintes.

Em outras palavras, considero mérito deste livro provocar a discussão sobre o fenômeno da contracultura focando em sua atualidade. Justamente por isso tomo sua terceira parte APÓS HIROXIMA, “A” CONTRACULTURA seu momento mais significativo, pois oferece um sagaz balanço da atividade  contracultural dos anos 60 até os dias de hoje.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

SOBRE TEORIA DA EVOLUÇÃO E A DECADENCIA DO TRANSCENDENTAL: UM FRAGMENTO DE RICHARD RORTY

“...Darwin,entretanto, tornou muito mais difícil a tarefa de ser kantiano. A partir do momento em que as pessoas começaram a fazer experimentos com a própria imagem, como sendo o que Nietzsche, o fervoroso admirador de Darwin, chamou de “animais inteligentes”, elas começaram a achar muito difícil pensar em si mesmas como tendo um lado transcendental ou numeral. Além disso, quando a teoria da evolução de Darwin foi associada à sugestão de Frege e Peirce, antecipada por Herder e Humboldt, de que é a linguagem, e não a consciência  ou a mente, o diacrítico de nossa espécie, a teoria da evolução de Darwin tornou possível ver o comportamento humano- incluindo o tipo de comportamento “superior” anteriormente interpretado como como a satisfação do desejo de conhecer o incondicionalmente verdadeiro e fazer o incondicionalmente correto- como sendo contínuo com o comportamento animal. A origem da linguagem, ao contrário da origem da consciência, ou de uma faculdade chamada “razão”, capaz de apreender a natureza intrínseca das coisas, é inteligível em termos naturalistas. Podemos dar o que Locke chamou de uma “explicaão simples, histórica”, de como os animais pararam de lidar com a realidade e começaram a representa-la, muito menos de como os animais pararam de ser entes meramente fenomenais e começaram a construir o mundo fenomenal.
Podemos, é claro, nos apegar a Kant e insistir que Drarwin, assim como Newton, apenas nos contou uma história sobre os fenômenos, e que as histórias transcendentais tem precedência sobre as empíricas. Mas eu suspeito- e espero- que que os cento e tantos anos que passamos absorvendo e aperfeiçoando a história empírica de Darwin nos tornaram incapazes de levar histórias transcendentais a sério. No curso desses anos, a substituímos gradualmente a tentativa de nos vermos do lado de fora do tempo e da história, pela construção de um futuro melhor para nós mesmos- uma sociedade utópica, democrática. O desejo de ver a filosofia como nos auxiliando a nos transformarmos, ao invés de nos conhecermos, é outra.”

Richard  Rorty in UM MUNDO SEM SUBSTÂNCIA OU ESSÊNCIA in  PRAGMÁTICA. A FILOSOFIA DA CRIAÇÃO E DA MUDANÇA. Organização de Cristina Magro e Antônio Marcos Pereira. BH: Editora UFMG,2000, p.91-92  


UM MUNDO SEM RUPTURAS

“Quando desistimos da ideia de que o sentido do discurso é representar acuradamente a realidade, perdemos o interesse na distinção entre os construtos sociais e outras coisas. Passamos a nos confinar ao debate a respeito da utilidade de construtos sociais alternativos.”

 Richard Rorty in ÉTICA SEM OBRIGAÇÕES UNIVERSAIS

Inventa-se um mundo novo todos os dias. Entretanto, ele não nos parece muito diferente daquele que abandonamos no dia anterior. Pois na contemporaneidade, a ideia ou sentimento de ruptura em nosso agir coletivo diluiu-se na vivencia de um cotidiano fluido e opaco onde mudanças são apenas mudanças. Afinal, já não há codificação possível da realidade que transcenda sua condição de discurso, de jogo, onde tudo o que importa é sua própria construção e não a adequação aquillo que convencionamos chamar de real... Atingimos um estágio civilacional que já não pode saltar sobre si mesmo...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

POEMA IMANÊNCIA


É preciso guardar
Um pouco de azul
Nos olhos
Para saber
Um dia de sol,
Combinar luz
E trevas
No corpo abstrato
Dos fatos
Em pluralidade de formas
Que nos apresentam
Todas as coisas
Em gratuitos gestos de existência...