CONTRA CULTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS by Ken Goffman e Dan Joy é um livro provocativo e original sobre uma das grandes matrizes da cultura contemporânea.
Encontramos nesta curiosa obra uma redefinição do conceito de contracultura quea faz um sinônimo de livre pensamento, uma espécie de contra hegemonia ideológica , para lembrar Gramsci, recorrente na invenção de sociedades e culturas ao longo da aventura humana.
Considero tal premissa um deliberado ato de anacronismo histórico, mas ao qual não recuso alguns méritos enquanto estratégia discursiva que chama atenção para a hipótese de uma contemporaneidade da contra cultura ainda pouco explorada.
Segundo os autores:
“... O impacto final da contracultura na história frequentemente é determinado pela adoção de seus símbolos, artefatos e práticas pela cultura dominante de uma forma que os isola violentamente de suas fontes na experiência real. Ainda assim, os traços históricos deixados pelas contraculturas podem ser identificados ao se observar a história com uma compreensão da essência da contracultura. Essa forma de ler os registros culturais oferece uma interminável fonte de inspiração, informação e afirmação, permitindo que as contraculturas extraiam muita energia de épocas e personagens históricos anteriores.
A contracultura é ”ruptura” por definição, mas também é uma espécie de tradição. É a tradição de romper com a tradição, ou de atravessar as tradições do presente de modo a abrir uma janela para aquela dimensão mais profunda da possibilidade humana que é a fonte perene do verdadeiramente novo- e verdadeiramente glandioso- na expressão e no esforço humano. Desta forma, a contracultura pode ser uma tradição que ataca e dá inicio a quase todas as outras tradições.”
Ken Goffmam e Dan Joy. A Contra Cultura através dos tempos: do mito de Prometeu à cultura digital. Traduão de Alexandre Martins RJ: Ediouro, 2007, p.13
Esta pretendida invenção de uma tradição contracultural , pelo menos nos termos aqui propostos, parece-me mais alegórica do que autentica ao colocar deliberadamente sobre o mesmo rótulo, sem considerar seus contextos históricos e conteudos, expressões tão diversas como a filosofia socrática, os sufis, os trovadores do sec. XII, etc.
Mas tal forma de ler os registros culturais é na verdade um ousado modo de ler a própria cultura contemporânea e a herança da contra cultura dos anos 60. Isso sem esquecer seus tantos desdobramentos e metamorfoses em uma variedade de configurações culturais, que se produziram a partir dos anos 70, e que dariam o tom das décadas seguintes.
Em outras palavras, considero mérito deste livro provocar a discussão sobre o fenômeno da contracultura focando em sua atualidade. Justamente por isso tomo sua terceira parte APÓS HIROXIMA, “A” CONTRACULTURA seu momento mais significativo, pois oferece um sagaz balanço da atividade contracultural dos anos 60 até os dias de hoje.
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