Como fica explicitado na terceira parte da obra, CONTRA CULTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS é antes de tudo uma peça literária de militância politico\cultural voltada para o debate sobre o presente e o futuro da nova esquerda norte americana.
Neste ponto, parece-me pertinente chamar atenção para o balanço sombrio que esta singular narrativa nos oferece sobre o tema acusando a tendência neo-moralista autoritária que de muitas maneiras vem se afirmando tanto na cultura quanto na contracultura contemporânea:
“A Nova Esquerda Moderna tem o potencial de se transformar na força politica antiautoritária mais importante do mundo contemporâneo, porque está em oposição direta aos crescentes poderes de corporações gigantescas. Monolitos empresariais globais estão, em essência, se fundindo com a maioria dos governos do mundo e se colocando na posição de determinar as próprias condições físicas e materiais sob as quais irão viver as pessoas de todas as partes, que tipo de ar irão respirar, que tipos de prédios irão cerca-los, que tipo de trabalho elas irão fazer ou mesmo se serão totalmente excluídas do trabalho, que tipo de produtos irão consumir, e que tipos de programas estarão disponíveis por intermédio dos meios de comunicação de massa e mesmo ( se eles conseguirem) da internet. Eles estão invadindo a privacidade de todo mundo para globalizar ( isto é, integrar) sua base de consumidores de modo à atender a integração de seus interesses empresariais, e eles estão utilizando informações anteriormente particulares para excluir pessoas do serviço de saúde, de empregos, da concessão de credito e da habitação. Eles estão criando um sistema fechado em que as escolhas e oportunidades do individuo são capturadas em uma rede de base de dados empresariais que não pode ser contestada . Benedito Mussolini definiu o facismo, e sua definição era a completa integração do estado e das empresas.
Infelizmente, a Nova Esquerda Moderna também inclui o que este autor considera elementos claramente reacionários. Um exemplo radical seria o daqueles que querem devolver a humanidade ao estágio de caçadores-coletores. E embora a maioria dos ambientalistas neo-hippies defenda a tecnologia “apropriada”, um numero substancial é de neoludistas, que se opõe a qualquer tecnologia. Esta crescente cultura antiprometéica ganha força em face dos extraordinários abusos da intervenção tecnológica pelas forças de cobiça e do poder. Você pode encontra-los, juntamente com os fundamentalistas religiosos de direita, se opondo veementemente não apenas à clonagem, mas à pesquisa com células-tronco;. Não ao patenteamento de novas formas de alimentos transgênicos, mas a própria biotecnologia.
Muitos ambientalistas radicais também tem a necessidade extremamente forte de dizer as pessoas como elas devem viver: o que dirigir (preferencialmente uma bicicleta), o que comer (nada de carne), o que fumar (legalizar a maconha, mas perseguir os que fumam tabaco), o que vestir ( nada de peles, maquiagem, nada caro) e como gastar o seu tempo livre ( não ver televisão). Entrar em uma Starbucks pode ser crime de pensamento. Pisar em um Burger King pode ser assassinato. Dirigir um utilitário pode ser um crime de guerra!”
Ken Goffmam e Dan Joy. A Contra Cultura através dos tempos: do mito de Prometeu à cultura digital. Traduão de Alexandre Martins RJ: Ediouro, 2007, p.394
Esta verdadeira pressão social neo moralista denunciada pelo autor é um fenômeno contemporâneo que realmente merece maior atenção. Diante dele, a reafirmação dos valores elementares da contracultura, como autonomia e liberde individual, é mais do que saudável. O que não é, evidentemente, suficiente para garantir a afirmação fecunda das tendências contraculturais na contemporaneidade. Por uma série de razões considero esta questão como um tema interessante e ainda em aberto....
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