terça-feira, 29 de setembro de 2015

FILOSOFIA DA EVOLUÇÃO


Estou condenado ao inacabamento,
ao provisório dos pensamentos
e ao transitório dos sentimentos.

Tudo é incerto
E a vida segue aberta,
apesar do estreito das minhas rotinas.

Talvez  eu ainda não me conheça.
Ainda não terminei de nascer.
Amanhã serei outro
na filogênese do meu rosto.
Mas não saberei o obvio
do desatino de ser eu.

Tudo que fui foi prematuro.
Queria rescrever meus atos.
Parar o tempo e sonhar,
Não ser apenas este esboço
de solitário trabalho inútil
de se fazer e perder
para acontecer de novo.
Mas nada é definitivo

 e eu me desfaço em devir.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SOBRE MEUS LIMITES

É certo que errei e errarei muitas vezes.
Mas não cobrirei de culpa meus erros.
Nem irei me condenar pelo erro
Que dentro de mim, por um momento,
Foi profunda certeza.
De nada me arrependo.
A vida é um quebra cabeça
E eu não sou feito de dogmas.
Apenas me invento na arte
Da tentativa e erro.
Tudo para mim é incerto.
Mas um dia, quem sabe,
Eu me surpreenda realizado,

Dentro de meus tantos limites.

domingo, 27 de setembro de 2015

A HUMANIDADE DOS OBJETOS

A existência era o interagir constante com as coisas externas. Era saber aquela paisagem, sentir o vento,  escutar os sons espalhados pelas ruas,  fumar um cigarro ou beber uma cerveja.  

A existência era a polifonia das coisas todas  a  minha volta. Pouco importava as pessoas. A vida estava nas coisas... Na minha consciência intima do inanimado, do silencioso barulho dos objetos.

Oscilando entre os artefatos de cultura através das horas, percebo o quanto a engenhosidade humana ultrapassou os limites da natureza.  Minha plena consciência dos objetos é onde reside o mais profundo da condição humana, pois é isso  que nos proporciona  a curiosa habilidade de representar a realidade e reinventa-la segundo nossas mais abstratas necessidades.


O ser humano não se conforma a natureza, ele inventa e reinventa constantemente seu próprio mundo através dos artefatos culturais. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A JANELA E OS TELHADOS

Meus olhos visitavam uma paisagem antiga
Através da janela do quarto de hóspedes.
Via apenas telhados e melancolias
E a copa de algumas árvores.
Ruas e pessoas não atrapalhavam
A vista.
E eu imaginava infâncias brincando
Naqueles telhados sujos
Que pareciam elevar-se
Acima do mundo.
Eu tinha os olhos abertos.

Mas não estava acordado.

UM DIA VAZIO

Precisamos todos de um dia vazio,
sem nada para dizer
ou sobre o que pensar.
Apenas um dia
para se viver sem qualquer responsabilidade
ou obrigação.

Um dia para não se  preocupar com alguém
e esquecer de si mesmo também.
Apenas um dia ,
onde não caiba definições, aflições
ou conclusões.
Um dia que seja tão vazio
que nos permita, finalmente,

saber realmente da vida.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A DECADÊNCIA DA ARTE DA LEITURA

 Sei que as ideias servem para tudo e para nada ao mesmo tempo.  Tudo depende do estado de espírito de quem as pensa ou compreende. Afinal, a existência é algo ilegível, um trabalho inútil que finda com a morte.

Não há nada que se possa dizer ou pensar que venha a anular isso. A vida da espécie é aquela que realmente conta até que, como os indivíduos, a própria espécie encontre sua extinção. Infelizmente  nenhum de nós viverá o suficiente para participar do fim da humanidade.


O que sei é que há livros e ideias demais no mundo. Não tenho tempo para ler todos e a maioria dos que li se quer me lembro direito. Hoje em dia consumimos livros  como qualquer outra mercadoria. O próprio ato da leitura tornou-se mecânico, uma mania. Mesmo entre os mais bem letrados.

A VONTADE CATIVA

Alguns sonhos estão latentes na proximidade do imediatamente dado.  Quando o percebemos como  um misto de fantasia e desejo a assombrar o pensamento, nos damos conta de que somo prisioneiros dos nossos atos e  gestos, que somos limitados por nossas auto definições e convicções e que, em alguma parte de nós, reside o inteiramente outro de nós mesmos.

Trata-se  aqui daquilo tudo que nos recusamos a viver e se cristalizou como hipótese de opções perdidas. Falo daquele segundo em que não dobramos a esquina e  não desistimos da segurança do previsível. Como se o acaso e a sorte exigissem bons jogadores e não apenas indivíduos suficientemente audaciosos para se exporem ao incerto e ao risco.


Você podia ter escolhido ir a praia no luar do trabalho, embriagar-se naquela madrugada em vez de dormir cedo...  Começar uma conversa com aquela garota no elevador... Tanta coisa podia ter feito diferente e se rasgado um pouco. Mas não. Isso não lhe seria suficiente. Nada te esgota a vontade que de tão intensa já não comporta mais qualquer objeto.

A AUTONOMIA DO INDIVÍDUO

Podemos passar a existência inteira tentando nos adaptar a um mundo que nos foi socialmente dado, quando na realidade, o que realmente importa, é nos tornamos indivíduos na medida em que aprendemos a habitar nossas próprias fantasias de realidade, nossas apropriações subjetivas do mundo, transitando entre o interior e exterior de nós mesmos.


não é a sociedade a quem devemos pertencer, mas a própria sociedade deve ser habitada por indivíduos capazes de viver segundo os ditames de sua consciência diferenciada.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A INCERTEZA COMO MEDIDA DA CONSCIÊNCIA DO AGORA

O incontrolável, o inconstante e permanentemente desconhecido define o cotidiano pós moderno contra as certezas e identidades do passado. A felicidade e a plenitude não passam de imagens fantasmagóricas de um passado que nada mais diz ao futuro e muito menos ao cada vez mais impreciso  tempo de agora.

Vivemos cada vez mais de nossos medos, de nossas fragilidades e tensões. Somos, a todo momento, desafiados a continuar, a sustentar o próprio rosto, seja através do superficial da euforia dos sentidos, seja através da evasão dos sentimentos.

Apenas estamos condenados a continuar freneticamente em direção ao nada.


MATURIDADE E NIILISMO

“Não queremos mais suportar os pesos das “verdades”, continuar sendo suas vítimas ou seus cúmplices. Sonho com um mundo em que se morreria por uma vírgula.”

EMIL CIORAN in SILOGISMOS DA AMARGURA

a maturidade se confunde com uma gradual perda de interesse pelas pessoas e a realidade, por um voltar-se cada vez mais para o claro enigma de si mesmo.
É como tentar responder ao que não tem resposta,
reaprender a viver sem qualquer meta ou significado ultimo.
Por isso poucas pessoas realmente amadurecem. A maioria é incapaz de lidar com a verdade, com o vazio de nossas vidas.


sábado, 19 de setembro de 2015

ESCREVER É SER

Pouco me importa quantos livros você leu. Estou mais interessado em quantas coisas você escreveu e guardou na gaveta e si mesmo. O quanto escrever se tornou através da leitura uma necessidade vital, um desafio que se confunde com sua intima necessidade de saber a existência intensamente além dos lugares comuns da imanência e dos silêncios que nos definem socialmente.

A palavra não cabe no preenchimento do vazio de nossas falas cotidianas e pragmáticas. Ela nos define nas urgências da subjetividade. Somos aquilo que escrevemos. E ninguém realmente existe sem escrever.

Se você quer realmente conhecer um indivíduo, pergunte sobre as coisas que ele escreveu. Nem que seja uma coletânea de velhas epístolas... bilhetes ou recados inspirados de geladeira.

Um indivíduo se revela na capacidade de inventar a si mesmo através da palavra escrita e marcada no tempo para sempre como o instante aprisionado por uma fotografia.

UTOPIA TECNOLÓGICA

Cresci diante da tela de um aparelho de TV,
Vivo hoje diante de um computador
E amanhã, quem sabe,
Finalmente realize o sonho antigo
De escapar a toda realidade.
Talvez a tecnologia se torne
Nosso novo mundo,
Nossa mais perfeita definição
De verdade através dos simulacros.
No fundo, estamos todos fartos
De tudo aquilo que até agora

Tornou a vida possível.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

SOBRE OS DESENCONTROS ENTRE A VIDA E A REALIDADE

O dia foi diferente de tudo aquilo que eu pretendia ou queria.
As horas transcorreram vazias entre as fantasias de uma vida impossível e a impossibilidade de aceitar aquele cotidiano sem rumo ou significado que me definia as rotinas.

Quem era eu entre o desejado e o vivido?  O que  me definia entre os  fatos e  minhas intimas fantasias de outra realidade?
Entre minhas indagações duvida da realidade do mundo, do semblante e do olhar das pessoas. Elas nada tinham a me dizer e eu pouco me interessava pelos seus atos.

Minha principal ocupação era não fazer parte de coisa alguma. Ser livre em algum sentido negativo de liberdade, vivendo enterrado em meus devaneios e sonhos.

Infâncias me visitavam com frequência...

Eu era  novamente qualquer coisa que nunca fui em meu anos de formação.


terça-feira, 15 de setembro de 2015

SOBRE AS RUÍNAS DA REALIDADE

Eu não sei até que ponto a palavra, dita ou escrita não se confunde, as vezes, com alguma estranha modalidade barulhenta de silêncio. Em tempos de inflação da informação o dizer quase não é percebido como compartilhamento de experiências, como intimidade de individuações que através da palavra constroem socialmente um mundo de livre pensamento contra os lugares comuns vazios de todas as tradições.


Não são poucos os que ainda  se debruçam sobre o desafio de reinventar a realidade. Mas a realidade já não é tão obvia. Vivemos tempos de hiper realidade e simulacros. Baudrillard dialoga com Baumman sobre as ruínas do real....

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

CULTURA E CONTEMPORÂNEIDADE

O que hoje caracteriza a cultura nas sociedades ocidentais não é capacidade de perpetuar tradições ou unir uma diversidade de indivíduos em torno de uma identidade. Mas a capacidade de romper  cada vez mais com as ilusões coletivas.

A cultura é hoje um esforço constante de desconstrução e transformação, um superar-se constante. Pode-se dizer que as novas tecnologias digitais e as sensibilidades que engendrou estabeleceu  o indeterminado como um principio identidário.  Estamos todos de passagem, em constante fluxo. Até mesmo o ser tornou-se indeterminado.

Como nunca antes tudo parece possível...


domingo, 13 de setembro de 2015

NOTA SOBRE VERDADE E ERRO

Você nunca sabe que um erro é um erro até que ele se dispa da fantasia de verdade e exponha sem qualquer pudor toda a sua nudez.

Até que se prove o contrário estamos sempre errando em alguma coisa. Não existem consciências perfeitas. É preciso estar sempre atento para os pequenos detalhes, para a sutileza dos equívocos e seus jogos de sedução cognitiva.


O certo e o errado são como duas crianças idênticas brigando no lodo do fundo escuro do abismo da realidade.

sábado, 12 de setembro de 2015

AUTOBIOGRAFIA

Passei a tarde deitado
Pensando no passado,
Na fragilidade dos meus atos
E na precariedade dos fatos.
Sou eu aquele que nunca foi,
Que sempre ficou para depois.
Nunca fui do tipo
Que se veste de herói.
Não tive motivos para
Enfrentar o destino.
Sempre fui o cara errado,
O que se recusou a dar certo
E sempre viveu de sonhos

Mais do que da realidade.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

VIVER

Enquanto o mundo acontece lá fora
Tento me achar aqui dentro
entre erros e certezas,
Equívocos e ruídos
de existência.

Talvez  existir não caiba
na arte de viver.
Talvez a vida seja apenas
um ato radical de imaginação,
uma vazia aventura de  e sonho e espanto.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

DEFINIÇÃO DE PASSADO

O passado não é o ontem.
É aquilo que se perdeu  totalmente
Do tempo presente.
Aquilo que nos assombra  a memória
Como o  sem lugar de um sonho
Sem qualquer relação
Com aquilo que agora somos.
O passado é o vazio,
O absurdo  que alucina,
Ou, simplesmente,
A consciência do se perder

Irremediável das coisas.

A DECADÊNCIA DA INTIMIDADE

Tédio e solidão definem nosso cotidiano privado na exata medida que a plenitude da intimidade deixou de ser intensa. Ela já não é abstratamente possível à maioria das pessoas depois que o virtual, enquanto transbordamento do real, enquanto publicidade padronizada do coração, tornou-se uma regra.

A própria ideia de singularidade humana foi banalizada. Por isso, nunca foi tão difícil encontrar um indivíduo... Mesmo expostos uns aos outros em intimidade, reproduzimos lugares comuns.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

CONTRA AS CERTEZAS E VERDADES SAGRADAS

O que mais me assusta  nas pessoas não são seus erros, mas a tendência a inventarem certezas, a confiar demasiadamente nelas mesmas.  Quanto mais convictamente as pessoas acreditam em determinada coisa, mais perigosas elas se revelam. Difícil prever até que ponto um ser humano pode chegar inspirado por alguma convicção.


Infelizmente vivemos em uma sociedade de crédulos que não suportam questionamentos que coloquem em  risco os precários fundamentos de suas caras certezas. Certezas estas, as quais normalmente, atribuem validade universal. Pessoalmente duvido de um mundo e de uma realidade que faça sentido fora do universo de nossas possibilidades humanas de codificar o vivido e o pensado.

O COLAPSO DA INFORMAÇÃO

Tudo o que sinto e penso é circunstancial. Não sou  aquele que vivia antes sob o meu rosto e não serei amanhã quem sou hoje. Sou efêmeros e inconstante  como a própria vida que me consome.   É sempre provisória a forma como concebo meus  limites e possibilidades.

Quase não sei o que faço, apenas sei o quero, embora o modo do meu querer seja mutável e inconstante inspirado pelo incerto do  meu desejo.


Então, não me exijam definições, opiniões ou posições sobre o que quer que seja. Já não tenho nada a dizer as pessoas ou o mundo. Estou farto de tudo e descrente de soluções. Qualquer posição possível hoje em dia é mero excesso de informação que já não gera qualquer reflexão autêntica sobre o real. Chegamos a um ponto em que a realidade já não tem mais importância...