sexta-feira, 13 de maio de 2016

A FABULAÇÃO LITERÁRIA

A fabulação literária configura um abstrato território imagético entre o eu e o mundo.

Podemos toma-lo como uma estratégia de evasão, um afrouxamento existencial que se revela  vital a nossa experiência psicológica do real. Assim, escrever é um exercício psicológico onde contemplamos a autonomia da palavra pacientemente lapidada por nossa configuração pessoal. Jamais ninguém escreverá sobre o mesmo tema o mesmo que uma outra pessoa. Há uma marca pessoal em toda narrativa, um vestígio de identidade. Quando escrevemos nos surpreendemos diante de nós mesmos de um modo realmente sem paralelos. Somos a própria matéria de nossas palavras. E é isso que, em grande medida, justifica a fabulação literária.  



quarta-feira, 11 de maio de 2016

O PROBLEMA DA NOSTALGIA

A palavra nostalgia é composta por dois radicais gregos: nóstos (regresso) e álgos (dor) e mais do que um sentimento e expressão de subjetividade, constitui uma enfermidade que normalmente acomete pessoas desenraizadas, apartadas do ambiente em que cresceram e no qual construíram identidade ou seja,  que, em função de certas circunstâncias objetivas, foram apartadas de sua casa ou família.

Desde o século XIX, o conceito de nostalgia frequenta os tratados de medicina como uma forma de patologia relacionada, principalmente a indivíduos exilados de sua terra natal.   Assim, a nostalgia não é um problema simples.

Memoria, afetividade e identidade andam juntas.  Somos nosso passado. Ás vezes somos mais no que já vivemos do que no imediato acontecer da existência que define o tempo presente. Pode-se definir esta afetividade como nostalgia. Mas se trata de outra coisa.  Trata-se  da relação entre o eu e o mundo, do sentimento de si mesmo como parte de uma determinada atmosfera existencial  que nos propicia identidade psíquica. Assim, a nostalgia pressupõe uma imagem de passado que personifica uma idealização daquilo que a vida deveria ser.  


segunda-feira, 9 de maio de 2016

ENTRE O PASSADO E O PRESENTE

Entre o dizer e o pensar agora existe um grande dilema. Nenhuma realidade sustenta enunciados. Nenhuma formulação  parece inequivocamente confiável do ponto de vista de qualquer subjetiva eficácia racional fundada na  apreensão dos objetos.

Há, ao contrario, um sentimento cada vez mais claro de que não somos mais capazes de responder as questões fundamentais de nossa condição humana, de nossos dilemas sociais ou diagnosticar satisfatoriamente nossa experiência cultural.  O mundo ocidental é agora irreconhecível diante da sua própria tradição, do cânone cultural que até o momento estabeleceu sua realidade enquanto horizonte de pensamento e desdobramento singular da civilização humana que foi capaz de estabelecer uma economia mundo, uma integração nunca antes possível do gênero humano em  algo que poderíamos considerar próximo de uma “aldeia global”.


Não pesa mais sobre nossas cabeças a lógica dicotômica ideológica da cultura do século XX, mas ainda somos incapazes de conceber a realidade sem nos afastar definitivamente das questões do ultimo século e todas as suas falsas expectativas futurológicas com relação ao século atual. Ainda vivemos entre duas épocas ou, quem sabe, eu já esteja demasiadamente velho para compreender as mais inéditas tendências do tempo presente.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O QUE PODEMOS NOS TORNAR E FAZER?

Um dos mais relevantes questionamentos filosóficos que podemos fazer nos dias de hoje, quando vivemos  em função  de nossa finitude e despidos de qualquer confiança  na eternidade, é  o que podemos nos tornar e fazer durante o curto tempo de nossa existência.  "Quem somos nós?"  revelou-se uma interrogação  vazia, pois não  possibilita qualquer conclusão. Vivemos em um mundo onde o não  ser, o acontecer, é  um imperativo ontológico  e onde o espaço  do nosso "ser" foi reduzido à abstração  da linguagem. 

O ser é  um atributo do dizer  e não  da existência  nua e concreta de todos  os dias, onde  precisamos comer, respirar e realizar a vida socialmente compartilhada através  de enfadonhas rotinas.

Então , o que no final das contas, nos tornamos ao longo dos anos e da capacidade de construir uma consciência cada vez mais complexa sobre a incerta realidade das coisas sensíveis? 
Objetivar a subjetividade é  Uma tarefa para a vida inteira e , "o que podemos nos tornar e fazer?"  é  uma resposta que cada um deve construir para si mesmo.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

DEFININDO A CONTEMPORANEIDADE

A obliterada sensibilidade  dos meus contemporâneos desfez todas as minhas apostas no gênero humano.
Existo como indivíduo  e, ao mesmo tempo, como uma abstração coletiva. Sou apenas mais um entre milhões  tentando levar a vida em tempos de incertezas e dúvidas sobre o significado vigente de todas as possibilidades.
Estou  condenado a não  fazer  o menor sentido. Ouso dizer que tenho medo daquelas que arrotam razões  e boas intenções,  que idealizam o mundo e a existência. Também  não  confio muito em mim mesmo. Como todo mundo acredito em meus próprios enganos. Mas sem nossos defeitos individualmente e coletivamente vividos, simplesmente não  seríamos possíveis.

ESCOMBROS


Enquanto a vida passa
Sigo o tempo que se esvai
No superficial de cada momento
Até o limite da minha circunstancial imaginação.
Pode ser que eu me inscreva
No céu dos teus olhos
Ouvindo suas palavras a céu aberto.
Ou talvez eu me perca em um sonho antigo
E me reinvente futuro
Entre os escombros do meu passado.

Quem pode saber?

terça-feira, 3 de maio de 2016

RELATIVIDADE

Enquanto as frases e versos acontecem
A vida segue em silêncio aqui dentro
E toda existência se transforma
Em uma questão sem resposta.
Pode ser que os sonhos rasguem o dia,
O silêncio e sorte.
O amanhã é mais que o futuro,
É minha imaginação aberta
Nas infinitas possibilidades
De uma intimidade nova.
Sei que tudo que existe
É uma questão de ponto de vista.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

TEMPO DE POESIA

Atualmente me preocupo apenas
Com o tempo, o espaço,  o sentir do corpo
E com os infinitos das imaginações.
Sou feito da intimidade das aventuras
Do meu pensar nômade  e incerto
Que busca a vida em todas as possíveis  e aleatórias
Direções  da existência.
Pouco me importa o certo, o errado
E a certeza de pensamento.
Me surpreendo um feliz náufrago  de mim mesmo
Nas invenções  das minhas precárias subjetividades.
Serei tudo aquilo que me for possível ser,
Apesar de todos os limites do dia a dia.
Fora isso, existo no tempo incerto da poesia.

IMAGENS, SÍMBOLOS E HIPER INFORMAÇÃO

A partir de uma leitura simbólica analógica do imaginário contemporâneo podemos traçar um panorama dos grandes temas arquetípicos hoje constelados na cultura ocidental. Imagens universais como a grande mãe, a criança e o mito do herói, mais claramente do que outras, aparecem em nossas narrativas simbólicas.  Coisa que facilmente podemos constatar através do cinema, na literatura ou, até mesmo da propaganda, só para citar alguns exemplos mais corriqueiros expressos recorrentemente em nossa cultura imagética.  

O que questiono é se em tempos de hiper informação não ocorre uma banalização das formas conscientes e já estabelecidas dos conteúdos arquetípicos através das  imagens consteladas na consciência coletiva.

Assim, haveria uma surpreende conversão de alguns símbolos tradicionais à condição de signos já que seus conteúdos, de tão degradados, teriam perdido sua capacidade de “dizer” com a mínima fidelidade qualquer expressão do inconsciente coletivo.  Na consideração do imaginário contemporâneo vale a pena questionar tal fenômeno.

Evidentemente não me cabe aqui dizer nada de conclusivo a respeito.


O DILEMA DA IMAGINAÇÃO

O mundo anda se tornando um lugar hostil aqueles que apostam nas virtudes da imaginação. Entretanto , a imaginação  é  hoje tudo que nos resta contra a fantasia da realidade. Como dizia Baudrillard, vivemos em tempos de hiper realidade. Todas as meta narrativas estão  mortas. Assim como o passado....