sexta-feira, 20 de julho de 2007

SUBJETIVIDADE DE ALMA E SENTIMENTO...

No infinito pessoal
Que define cada ser humano
Universos se expandem
Até o limite da alma.
Tudo é abstração e construção
De si mesmo.
Tudo é aventura e descoberta
No desconhecer do outro
No próprio espirito.
Quem me dera ter na manga
Qualquer resposta fácil
Para as dissonâncias da vida,
Quem me dera ser herói
Em lugar da migalha
Do meu próprio eu.
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Toda alegria é infinita
Em apenas um momento,
Toda alegria é fantasia
Que nos constrói realidades
Na aventura do mundo.
O que é no fundo
Uma alegria?
Talvez tristeza
De me encontrar comigo
No deserto profundo
Do meu desconhecimento de tudo.

LITERATURA INGLESA I



Nascido duzentos anos antes de Shakespeare, Geoffrey Chaucer ( 1340-1400) é considerado o primeiro grande nome universal da literatura inglesa. Sua obra mais conhecida permanece sendo Os Contos da Cantuária (The Canterbury Tales). Podemos defini-la antes de tudo como um rico mosáico do cotidiano, da cultura, e da própria literatura medieval.
Em linhas gerais, a narrativa desenvolve-se em torno da romaria de uma comitiva composta por 29 peregrinos, reunidos ao acaso, ao tumulo do Sto. Tomas Beckett, então localizado na cidade da Cantuária. Por sugestão do dono do albergue onde pernoitam no inicio da viagem acordam de, ao longo do trageto, narrar histórias, cabendo como prêmio ao melhor narrador um grande jantar. Com este motivo elementar, a obra compõe-se de 24 histórias, duas das quais inacabadas. Cabe ressaltar que cada uma delas é simultâneamente ilustrativa de um gênero literário diferente e dedicada a uma ciência ou atividade humana específica. Assim sendo, o Conto do Propietário de Terras é uma Lai Bretã, enquanto o Conto do Cavaleiro, como não poderia deixar de ser, um romance de cavalaria, o Conto do Padre da Freira uma fábula, etc.
Mas o que quero aqui indagar é o que a obra desse autor,escrita a centenas de seculos, ainda  nos é de algum modo  contemporânea. Creio que em sua apresentação a edição brasileira do Contos da Cantuária Paulo Vizioli aproxima-se de uma explicação para esta surpreendente atualidade:

“...Naturalmente, todo esse conteúdo social e cultural não tem apenas valor histórico. Quando rimos das limitações e da carga de supertição da ciência daquele tempo, ou quando nos espantamos diante doscasos de opressão, de espoliação e de corrupção descritos, somos levados a imaginar como hão de de ver nossa ciência daqui a seis séculos, ou a indagar-nos se há realmente diferenças sensíveis, para melhor ou para pior, entre as injustiças e os abusos que então se praticavam e os que se praticam agora. Os contos de Chaucer oferecem-nos, portanto,um precioso referencial para a avaliação de nosso progresso e para a compreensão de nossa própria sociedade. Mesmo porque a época retratada pode ser a medieval, mas a humanidade é a de sempre.

Isso acontece devido ao fato de que, ao lado desse primeiro mérito, de interesse essencialmente sociológico, o livro ostenta um outro, não menos importante, de interesse basicamente psicológico, que decorre da sua exploração do ser humano como indivíduo e, num segundo momento, como que a fechar um círculo, de sua análise do relacionamento do indivíduo com a sociedade.” ( Paulo Vizioli; Apresentação in Os Contos da Cantuária/ Geoffrey Chaucer. SP; T A Queiroz, 1988, p. XVII).

Particularmente, o que me seduz nesse singular escrito medieval é não só a precoce consciência da singularidade e individualidade da experiência humana mas também seu humor e ironia mordaz com relação a sociedade e, ao muitas vezes contraditório, caráter de seus surpreendentemente complexos personagens.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

FEMINIMO E LITERATURA MEDIEVAL DO PONTO DE VISTA PSICO HISTÓRICO


Definição superficial de “amor cortes”
Para a igreja católica de fins do sec XII o casamento tornava-se cada vez mais um modo de influenciar a sociedade secular e lhe impor um dado ideal de espiritualidade que culmina na conversão do casamento em sacramento controlado pela própria Igreja no séc XIII...
Neste contexto, privilégio de poucos, “O aprendizado do verdadeiro amor implica em uma cultura superior e complexa, em uma mística e uma ascese que só poderia ser aprendida entre as mulheres finas e instruídas e adulteras” ( Mircea Eliade. História das crenças e das Idéias religiosas. Volume III; p. 123 )
Por outro lado o casamento era um mero instrumento de alianças senhoriais destinadas a proteger o patrimônio ancestral do fracionamento. Neste sentido, o casamento era um contrato destinado ao cumprimento de obrigações sociais e políticas.
Pensando aqui especificamente nas narrativas em língua vulgar escritas por Chrétien de Troyes (1135-1183), cabe observar que este autor, de modo singular, substituiu em seus poemas inspirados na Matéria da Bretanha, o rude mundo masculino das epopéias medievais por uma exposição das tensões entre diferentes códigos de amor e de honra, as exigências antagônicas da vida secular e religiosa. O melhor exemplo é seu Lancelot, O cavaleiro da charrete, cujo o argumento lhe fora imposto, muito significativamente, por sua protetora Maria de Champagne.
Conveniente lembrar nesse ponto, as Lais Bretãs compiladas por Maria de Franca por volta de 1175, pequenos contos de amor e de mistério inspirados na tradição oral do folclore bretão. Embora nestes a figura masculina do cavaleiro permaneça como o centro da narrativa as figuras femininas desempenham papel quase sempre decisivo.
No imaginário medieval predomina a dualidade entre Eva e Ave: a mulher como pecadora natural e inspiradora espiritual. No plano social e aristocrático as mulheres, embora marginalizadas, destacam-se no campo das letras, seja como patronas de literatos, como religiosas ou escritoras. No primeiro caso cabe lembrar o exemplo de Eleonor da Aquitânea ( rainha da França e posteriormente da Inglaterra) e sua filha Maria de Champagne, no segundo caso o da mística alemã Hildegard de Bingen, “a sibila do Reno”, no terceiro destaca-se Maria de França....
Muito ainda resta a dizer sobre a dualidade entre cristianismo e paganismo que define a sociedade medieval e, de outras maneiras, ainda define o nosso presente em um claro indício de que o cristianismo nunca foi absoluto ou vencedor na afirmação de uma imagem peculiar de mundo fundada no logos e dado projeto de racionalidade...


Falta qualquer coisa
No segredo desta noite,
Qualquer paz de estrela cadente.
em ânsias de dias seguintes.
Falta qualquer coisa...
Não sei ao certo.
Talvez um grito,
Um riso
Ou um rio a correr na alma.
Talvez apenas
Um gole de esperança,
Um porre de ânsia
Ou um sono de jardim.
Falta alguma coisa...
É certo
Na certeza da própria vida.

terça-feira, 17 de julho de 2007

ESPECULAÇÕES À SOMBRA DE UM DRAGÃO...




APROFUNDAMENTO DAS HORAS
Não posso escrever enquanto estou ansiosa ou espero solução a problemas porque nessas situações faço tudo para que as horas passem- e escrever, pelo contrário, aprofunda e alarga o tempo. Se bem que ultimamente, por necessidade grande, aprendi um jeito de me ocupar escrevendo, exatamente para ver se as horas passam.”
Clarisse Lispector


Diria eu que escrever para que as horas passem é uma busca, uma realidade do homem no tempo que se perde, um descobrir-se no limite e no alem de coisas e fatos ... Desvelar, talvez, de um grande dragão vermelho que nos transforma em alma e vida no fogo de toda vontade que nos faz acontecer.

A NATUREZA DO DIA

Acordei para um dia como qualquer outro. Tão semelhante aos anteriores que quase não faz sentido rotula-lo de “novo”. Mesmo que me afirme fria e teimosamente o calendário a objetividade da data com aquele gosto de não sentido que costuma vestir os fatos em sua nudez.
Sim, eu acordei....No involuntário movimento matinal de abrir os olhos e saber de mim sem pensar; no não lembrar as marcas do sonho e do sono que até a pouco insinuavam qualquer coisa mágica além do banal e do normal ... Eu acordei.
Mas abri desleixado a gaveta de um vento onde guardava projetos de inacabadas infâncias e idealizadas velhices felizes para finalmente me buscar como adulto, superar relativamente as horas organizadas sob os números que nomeiam a data que é esse dia cíclico e infinito no sempre igual dos anos...
Que importa? Do que vale tudo isso e a janela aberta em sol?
Sei, felizmente, o ouro das paciências todas somadas.
Sei o obrar da espera de um futuro que me redima dos tempos desse impertinente dia;
que me conduza a didatica introspecção do meu eu além dos fatos e horas perdidas.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

AUSÊNCIA

Tenho saudades
Dos meus amanhãs de menino,
Das minhas certezas de infância,
Saudades de céu azul
E noites de estrelas,
Na luz de algum encanto
De alma e corpo.
Tenho saudade de mim mesmo
Nos dias primeiros
De invenção da minha existência.

Falta qualquer coisa
No segredo desta noite,
Qualquer paz de estrela cadente.
em ânsias de dias seguintes.
Falta qualquer coisa...
Não sei ao certo.
Talvez um grito,
Um riso
Ou um rio a correr na alma.
Talvez apenas
Um gole de esperança,
Um porre de ânsia
Ou um sono de jardim.
Falta alguma coisa...
É certo
Na certeza da própria vida.

CORPO E PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO



O imaginário contemporâneo, não é novidade dizer, distanciou-se significativamente das premissas do pensamento “clássico” ou “moderno” e seu referencial logocentrista. As zonas de experiência e da ação que definem o ato reflexivo do pensamento, seja no fazer-se da linguagem, da arte ou da política, mesmo que inconscientemente, recuperam a presença e realidade do corpo enquanto consciência do espaço e do tempo como condição inalienável da própria reflexão e suas premissas.
Trata-se de um corpo que se observa, que se faz pensamento, através da presença que nos define no mundo; não mais necessariamente articulado pela coordenação recíproca de experiências que estabelecem um intersubjetivo consenso que estabelece a realidade enquanto outro de nós mesmos em sociedade.
O corpo tornou-se experiência e enigma de autoreflexão, de reconhecimento de nossa própria singularidade e não mais um uma mero testemunho ontológico da condição de pertencimento a espécie, a humanidade...Ele é cada vez mais cocreto na objetividade de seus cuidados, cultos e idealizações aparentemente banais. Ele é o que define nosso limitado e reduzido lugar no mundo, a consciência de nós mesmos como seres autônomos e atomizados atores e autores da reflexão.
O corpo nos possui como o possuimos e é o próprio mundo que somos. O pensamento atraves dele torna-se performace, gesto, ritual ou mera necessidade.... cuja presença ou expressão é fragmento ou particularidade de um real inesgotável, um caminhar pelas ilegiveis e confusas vielas do espirito guiados pela sensualidade que nos disperta tudo que existe virtual ou concretamente.
Em poucas palavras, nos aproximamos de qualquer neo materialismo profundamente imaginativo onde o pensar divorcia-se de qualquer imagem racional de verdade e faz-se carne em nossas duvidas e incertezas cotidianamente vividas em todos os campos da existência.

O MANDALA COMO SÍMBOLO DO SELF



Como demonstra Eliade no primeiro capítulo de IMAGENS E SÍMBOLOS, o Mandala, enquanto expressão viva da natureza da psique, é uma variação tardia do simbolismo do centro fartamente documentado nas culturas arcaicas. A imagem do mundo como microcosmos organizado pressupõe a dualidade entre o espaço de uma realidade ordenada, cosmicizada ou familiar, e o espaço do caos, do desconhecido e da morte, normalmente atribuído a um estado primordial anterior ao advento da civilização.
O mundo habitado pelos homens na geografia sagrada possui centros, lugares de interseção entre os vários níveis de representação do universo, ou seja, um espaço onde se desenha um eixo que , para usar um esquema básico, liga o céu, a terra e o mundo inferior. Lugares sagrados, como templos , clareiras, árvores e cavernas ,manifestam nas culturas arcaicas a inserção no espaço profano desta realidade absoluta em que o caos e a ordem, o informe e o formado, ou, em termos modernos, a consciência e o inconsciente, estão em perfeita conjunção como dois vasos comunicantes.
O mandala, significativamente presente tanto na cultura oriental quanto na arte e imaginário medieval , é uma experiência pessoal deste simbolismo universal enquanto locus da vivência do sagrado. A melhor tradução deste termo sâncrito é “aquilo que rodeia” . Na arte e na religião o encontramos personificado sob a forma de círculos , concêntricos ,ou não, sobrepostos em um quadrado ornamentado por alegorias ou, então, por representações circulares contendo formas geométricas ou antropomórficas de vários modos associadas a expressão do que é considerado “numinoso” .
O mandala é como uma imagem interior exteriormente projetada do próprio cosmos, um “ punctum cordis” (centro do coração),ou ainda, a tradução de uma determinada situação psíquica que tradicionalmente é associada a experiência do Self , do Si- Mesmo , enquanto símbolo de conjunção e de totalidade.
Trata-se de uma espécie de mecanismo ou suporte que funciona como lugar da imagem do sagrado e uma janela que se abre para as paisagens da indeterminada amplidão da psique inconsciente. Ele é a mais precisa definição do que permanece obscuro , desconhecido e indelineável no conjunto da personalidade humana. Falo aqui do “homem absoluto”, da totalidade insondável da experiência de existir apenas pressentida pela consciência individual ou determinada do complexo egóico.
Em todas as épocas e sociedades cada homem tende, mesmo que inconscientemente, para o próprio centro e para o centro de uma realidade integral. São as experiências fundamentais do amor, da angustia, da melancolia , da alegria, do medo, da arte, do ódio, etc. que, através de vários ritmos temporais e modalidades de consciência , nos colocam em tênue contato com aquilo que gosto de chamar de integralidade do fenômeno humano. Quanto menos dissociadas e fragmentadas nossas emoções mais nos surpreendemos próximos da intuição de uma finalidade e teleologia inerente a vida em todas as suas dimensões. Este sentimento de continuidade e propósito é o que mais corretamente traduz a experiência do Si-mesmo enquanto arquétipo da centroversão e da totalidade, dos mais variados modos, observável em todo organismo vivo1. Sendo a identidade dos opostos a característica definidora dos fatos psíquicos inconscientes, a substância das representações mandálicas é contraditória. Sua leitura nos conduz ao “obscurum per obscurius ,ignotum per ignotius” (o obscuro pelo mais obscuro, o ignorado pelo mais ignorado). Impossível tratar deste tema sem recorrer a descrição de exemplos concretos . Antes de apresenta-los gostaria ,porem, de reproduzir uma breve caracterização feita por Jung sobre os elementos formais dos temas mandálicos. Podemos encontra-los como :
1-Forma circular, esférica ou oval.
2-Figura circular elaborada como flor (rosa, lótus ,padma em sâncrito) ou como roda.
3-Centro figurado pelo sol, estrela, cruz, em geral de quatro, oito ou doze raios.
4-Círculos, esferas e figuras cruciformes em rotação (suástica)
5-Círculo como serpente enrolada circularmente (urobolo) ou espiralada(ovo órfico) em torno de um centro.
6-A quadatura do círculo, como círculo dentro de um quadrado ou vice versa.
7-Castelo, cidade , pátio ( temenos ) quadrado ou circular.
8-Olho (Pupila e íris)
9-Ao lado das figuras tetrádicas(ou em múltiplas de quatro) aparecem também, mas muito mais raramente, formas triádicas ou pentagonais que devem ser consideradas como imagens de uma totalidade perturbada.2
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1Cabe assinalar que somente o indivíduo é que dá sentido e faz a História. Qualquer realidade histórica é operada por indivíduos que, conscientemente , ou não, cooperam com as fontes inconscientes , irracionais e transpessoais da vida produzindo fatos coletivos que nada mais são do que reflexo de uma dada exigência da Psique Objetiva.
Desta forma, a energia psíquica caminha naturalmente em direção a um “centro”, ou seja, esboçam um processo de centroversão que faz da totalidade o princípio ordenador do processo histórico. Só podemos apreende-lo através da psique e, portanto ,tudo o que formulamos sobre a História está condicionado e limitado a Psique e a nossa equação pessoal. Em outras palavras, a vida de cada indivíduo, em sua multiplicidade de expressões, permite analogias com os fatos e fenômenos históricas pois, em um e outro caso, lidamos com as atividades da alma inconsciente. Isto é, encontramos um só fundamento.
22- cf. Cal Gustav Jung,, O simbolismo da Mandala, in Os arquetipos e Inconsciente Coletivo, Obras Completas, Vol.IX/1, p.357.

SOBRE O EU, O TEMPO E O MUNDO

Um eu caiu
Do meu rosto
E se partiu
Em cacos
No fundo de um chão
Aberto de mundo.

Qualquer coisa
Perdeu-se ali
Sem me fazer falta,
Qualquer entulho,
Que me distorcia o riso
E só reconheci em cacos...
Quebrou-se
Então
A casca
De algum antigo mundo.
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Meus olhos fechados
Adivinham infinitos.

Inventam  o instintivo ato de imaginação
Onde arrumo os fatos
Em seus lugares e tempos
De provisórios caminhos.

Qualquer cegueira d’alma,
Entretanto,
Inventa sombras no escuro,
Apaga presentes e problemas,
Sonhando qualquer outro dia
No encanto profundo
Do púrpuro azul da noite.