quinta-feira, 19 de julho de 2007

FEMINIMO E LITERATURA MEDIEVAL DO PONTO DE VISTA PSICO HISTÓRICO


Definição superficial de “amor cortes”
Para a igreja católica de fins do sec XII o casamento tornava-se cada vez mais um modo de influenciar a sociedade secular e lhe impor um dado ideal de espiritualidade que culmina na conversão do casamento em sacramento controlado pela própria Igreja no séc XIII...
Neste contexto, privilégio de poucos, “O aprendizado do verdadeiro amor implica em uma cultura superior e complexa, em uma mística e uma ascese que só poderia ser aprendida entre as mulheres finas e instruídas e adulteras” ( Mircea Eliade. História das crenças e das Idéias religiosas. Volume III; p. 123 )
Por outro lado o casamento era um mero instrumento de alianças senhoriais destinadas a proteger o patrimônio ancestral do fracionamento. Neste sentido, o casamento era um contrato destinado ao cumprimento de obrigações sociais e políticas.
Pensando aqui especificamente nas narrativas em língua vulgar escritas por Chrétien de Troyes (1135-1183), cabe observar que este autor, de modo singular, substituiu em seus poemas inspirados na Matéria da Bretanha, o rude mundo masculino das epopéias medievais por uma exposição das tensões entre diferentes códigos de amor e de honra, as exigências antagônicas da vida secular e religiosa. O melhor exemplo é seu Lancelot, O cavaleiro da charrete, cujo o argumento lhe fora imposto, muito significativamente, por sua protetora Maria de Champagne.
Conveniente lembrar nesse ponto, as Lais Bretãs compiladas por Maria de Franca por volta de 1175, pequenos contos de amor e de mistério inspirados na tradição oral do folclore bretão. Embora nestes a figura masculina do cavaleiro permaneça como o centro da narrativa as figuras femininas desempenham papel quase sempre decisivo.
No imaginário medieval predomina a dualidade entre Eva e Ave: a mulher como pecadora natural e inspiradora espiritual. No plano social e aristocrático as mulheres, embora marginalizadas, destacam-se no campo das letras, seja como patronas de literatos, como religiosas ou escritoras. No primeiro caso cabe lembrar o exemplo de Eleonor da Aquitânea ( rainha da França e posteriormente da Inglaterra) e sua filha Maria de Champagne, no segundo caso o da mística alemã Hildegard de Bingen, “a sibila do Reno”, no terceiro destaca-se Maria de França....
Muito ainda resta a dizer sobre a dualidade entre cristianismo e paganismo que define a sociedade medieval e, de outras maneiras, ainda define o nosso presente em um claro indício de que o cristianismo nunca foi absoluto ou vencedor na afirmação de uma imagem peculiar de mundo fundada no logos e dado projeto de racionalidade...

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