A palavra que nos acontece
não se deixa prender pela escrita.
É transmitida pela memória coletiva,
passando de uma boca a outra,
através dos anos que nos devoram,
como qualquer coisa viva .
Ela circula por todos os ouvidos,
por gerações, imaginações e vidas
que a morte não cala,
pois sempre são revividas,
re-acontecidas como lembrança
e, assim, jamais esquecidas ou perdidas
entre as sempre renovadas ruínas
do aqui e agora.
É uma palavra que não tem dono,
autoridade ou hierarquia,
que corre entre todos,
contando e encantando coisas
que nunca foram notícias.
Tal palavra não cabe na brevidade do século,
na vaidade do livro.
É uma palavra viva
na respiração e na língua.
É uma palavra corpo
que nunca termina de acontecer,
de dizer e ser, além de toda comunicação.