segunda-feira, 18 de março de 2024

O PARADOXO DO ESPAÇO TEMPO

O tempo muda as coisas
que morrem ao sabor dos anos
enquanto as coisas mudam o tempo
e inventam os anos.

Nunca há acordo entre os anos e o tempo.
Há apenas movimento,
depois inércia e silêncio,
a indeterminação e incerteza de cada momento.

O tempo  é sempre um mesmo
e diferente instante
que jamais se repete.

Ele é o que passa
e não aquilo que  inventa
a memória.
Pois tudo nele se perde.

INCERTEZAS

Viver é estar a espera,
ser em espectativas.

É inventar o previsível,
o estável e o regular
na necessidade do possível.

Assim, ignoramos o inesperado,
o imprevisível,
fazendo de conta
que há segurança
onde nada é estável ou definitivo.

Viver é estar sujeito a mudanças
que ninguém controla.
É perder-se sempre de novo
diante do desconhecido.


domingo, 17 de março de 2024

DEFINIÇÃO DE LIBERDADE



Liberdade é uma palavra para o que não tem e nunca terá um nome.
É o sem tempo de uma  infância
sorrindo sempre dentro da gente,
é uma existência potente,
um viver contra o Estado
e ser além de toda  opressão.


Liberdade é  coisa que não se aprende,
que ninguém ensina.
É algo que todo mundo cria,
 inventa.
É um existir sem deuses, senhores ou reis.
É o jeito que a vida dá para acontecer.

quinta-feira, 14 de março de 2024

O MUNDO SEGUE EM DESASTRE

O mundo segue em desastre
por toda parte
 enquanto o tempo passa e a gente envelhece.

 Amanhã será o mesmo dia 
que me viu acordar para suportar silêncios 
 conformado a rotinas
 e acumulando arrependimentos.

 O mundo segue em desastre
 e cada um de nós é parte ativa
 desta triste fatalidade.

 Nas horas tardias 
insônias ensinam
a suportar a realidade. 

 É tarde demais para viver de verdade,
 é cedo demais para morrer.

 O mundo segue em desastre...

domingo, 10 de março de 2024

CRISE EXISTENCIAL

Estou cansado de sobreviver
neste tempo, nesta vida,
neste lugar  e momento,
acumulando passados,
saudades e silêncios.

Estou cansado de uma existência rasa,
Farto de simulacros,
de existir como uma consciência
quase indiferenciada
deteriorando lentamente
ao sabor dos anos.

Estou cansado do progresso da civilização,
do desenvolvimento nacional,
da tutela do Estado e de todas as mentiras da religião.

Estou cansado ...



domingo, 3 de março de 2024

A MORTE DA LITERATURA E O SUMULACRO DA REALIDADE

Nasce morta hoje em dia
toda forma de escrita,
de criação de sentido
ou invenção semiótica.

Toda literatura está morta,
confinada a prisão do comércio de livros,
ao capricho dos críticos,
a vaidade dos autores
e a indiferença de alguns poucos leitores
prisioneiros de bibliografias.

Hoje nasce longe da vida
toda forma de escrita
ou coleção de palavras.
Não há mais  virtude entre os bem letrados
que redescobriram a realidade
como um modo de ficção
ou sofisticada forma de simulacro
e ilusão
mas intensa do que a própria existência.




terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

NASCIDO CATIVO

Não foi para mim suficiente
o evento do meu  nascimento.
Não ouso dizer 
que me tornei homem feito.
Apenas sobrevivi a mim mesmo.

Afinal, não me foi possível
o prazer de viver
fora da prisão de ser.

Não me foi permitido
ser livre e autônomo,
criar e pensar sem o interdito
de cartilhas, decretos e leis.

Me foi proibido existir contra o Estado.
Romper a grade das regras e princípios,
Rasgar tradições e tratados a beira dos meus mais íntimos precipícios.

Logo, não me bastará sucumbir mansamente ao mundo,
morrer qualquer dia como quem nunca viveu.

Quero provar, mesmo que tarde,
o lado de fora do cativeiro.
Me tornar, finalmente,
homem feito,
despido de tudo que me foi imposto,
ensinado e determinado.

Quero ser único,
absurdo e incompreensível,
além da ilusão de livre arbítrio.





segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

MARGINÁLIA

É preciso desistir de si e do mundo,
resistir a tradição e ao contemporâneo,
recusar tudo que nos tornamos,
o que demasiadamente somos
como ato e memória.
Renunciar a tudo que nos foi ensinado.

É preciso declinar, fracassar.
Morrer mil vezes por dia,
se necessário,
para renascer vagabundo.

Somos os desajustados e marginalizados
que fugiram da escola.
Os improdutivos, os perigosos
e evadidos da realidade.

Somos os que não param de sonhar,
delirar, de correr riscos,
e reivindicar outros valores,
outros mundos e formas de vida.

Somos a marginaria, a boêmia.
Os niilistas que desacreditaram de tudo
e nada esperam de nada.

Somos a aventura de nossa renuncia.
Somos a ausência de futuro.





sábado, 24 de fevereiro de 2024

ENTRE O CHÃO E O SILÊNCIO

Nada que possa ser dito
 ressuscitará meus ouvidos.
Não estamos mais dispostos a acreditar,
a buscar verdades ou discursos para nos conformar ao mundo.


Nenhum poder, moral ou divindade nos imporá limites,
assim como nenhum humanismo nos definirá
Não colonizaremos o outro.
Viveremos nos limites de nós mesmos
como toda planta e animal
que por pura necessidade
inventa seu mundo.

Não queremos ser eternos.
Abominamos a ideia de uma alma imortal,
toda bobagem sobre salvação
ou terra natal.

Nos importa apenas o efêmero,
o desimportante e banal instante
no qual se esgota nossa eternidade.


Tudo que nos importa não tem relevância.
Renunciamos a tradição e a memória,
a qualquer vestígio de nossos pés no mundo.
Nossa vida não cabe nas palavras de um livro.

Viveremos indiferentes a verdade e a razão,
entre dias e noites,
 chão e  silêncio.

Nada que possa ser dito
Ressuscitará meus ouvidos.
Joguem flores ao sol.



FILOSOFIA DA COMUNICAÇÃO

Ninguém mais escuta o que disse
ou sabe o que ouviu.
Há apenas informação circulando
acima dos fatos e opiniões
na racionalidade burra dos algoritmos.

Em breve seremos todos devorados
pelo entusiasmo das convicções.
Pois os fatos não ultrapassam
a banalidade dos enunciados
no fundo do poço de tanta retórica.

 já superamos toda teoria da representação
e sabemos que as palavras não correspondem as coisas
nem dão conta da imaginação.

Há discursos demais,
informações demais.
Palavras demais.
Muita tagarelice.

Ninguém mais escuta o que disse
ou sabe o que ouviu.
Todos falam demais
se fazendo de sábios
 ou sabichões.
 cada um segue preso
a sua pequena bolha de  razão.