segunda-feira, 19 de junho de 2023

AN-ARQUIA ( UMA QUASE DEFINIÇÃO)

A an-arquia é antes de tudo um afeto, uma vontade de dessubjetivação, de tornar-se outro através dos outros na reinvenção de si mesmo como devir e potência, como realização da liberdade de imaginação a margem de toda forma de contigência.
A an-arquia é fazer-se espanto diante do inteligível, é estar em movimento além de todas as formas e conteúdos possíveis à percepção.
Antes de tudo,  an-arquia é natureza, imanência e matéria em permanece metamorfose.

domingo, 18 de junho de 2023

AS ÁGUAS DO SER

O rio que passa  aqui
deságua mudo no mar
que busca o oceano e o infinito
sem saber o indizível do meu  sonhar.

Sou um ninguém,
sou muitos caminhos.
Tudo em mim é
imaginação, movimento
e destino.

Sou uma interminável partida,
como o rio, o mar e o oceano,
que dentro de mim transbordam
nas urgências dos meus abismos.

.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

DISTOPIA COGNITIVA

Quando tudo for informação,
toda significação será banal,
performática e pragmática.

Seremos veículos de dados
em um mundo pacífico e  amoral
reduzido a cálculos e simulacros.

A vida será um efêmero e replicável intercâmbio comercial;
infinita circulação de cópias imperfeitas
 de falsos conteúdos originais.

Quando tudo for informação,
todo conhecimento será inútil
e toda subjetividade será reduzida a objetividade de  uma simples equação.

Seremos coisas através das coisas,
dados em um infinito fluxo e circulação
entre o esquecimento e a memória
do atemporal.

Toda consciência será reduzida
 a relativa experiência 
 de absoluto  vazio comunicacional.




quarta-feira, 14 de junho de 2023

CONDENAÇÃO

Estou condenado a esta época,
a minha cidade e ao meu tempo.

Sigo preso ao meu sangue, 
a vida e a morte,
despido de nome e sorte.

Mas sou único,
como qualquer outro
no mundo.
Um corpo banal,
efêmero e inútil,
que dúvida do quanto
é insignificante.

Estamos todos condenado a existência,
ao acaso, ocaso,
e ao nada,
através de todos os nossos movimentos, sentimentos,
reivindicações e silêncios.

Entre os outros,
inventei inutilmente a mim mesmo
ao longo dos anos,
condenando a uma breve existência
imerso na angústia da finitude,
em um rosto sem realidade.







quinta-feira, 1 de junho de 2023

VISLUMBRES DO SÉCULO VINDOURO

O século XXII não será assombrado por nós.

 Com um pouco de sorte, 
 ele será o século da pós história, 
do pós Estado e da pós razão,
consumado o colapso da nossa triste civilização.
 
 Será o tempo dos corpos, da natureza, do caos, 
no devir das metamorfoses e transições infinitas.

 Este século que nos procederá,
que hoje ainda  transcende 
todo poder de nossa imaginação,
não será governado pela razão,
seja ela humana, divina ou natural.
Será uma época livre do peso dos tempos idos,
Será um reinício,
um novo e pós humano  princípio do mundo.

CONTRA O ARDIL DE NOSSAS CONVICÇÕES

Seja inspirada pela vaidade,
 pelo amor divino,
 pelo bem comum,
 ou, ainda, 
 pela sedução ardilosa de qualquer ideal de verdade, 
é sempre indigna a  pretensão a colonização imaterial do outro,
 a intenção de conformar consciências e sensibilidades 
 á imperativa vontade que nos escraviza através do desejo de eternidade.

 Recusar sempre a intenção de rebanho,
a pretensão a monumento,
 é cultivar a liberdade como modo de vida,
a margem de todas as idolatrias modernas,
de todas as prisões que nos definem,
é ousar principiar um mundo novo.

A VONTADE DESCRENTE

Falta em nosso estreito horizonte de ação  
a inspiração de uma grande descrença.

Falo daquela coragem inconsequente que move os niilistas
que sem ter nada a ganhar ou perder
renunciam a nossa anêmica e humana existência.

Como selvagens
eles investem contra a realidade,
valores e formas de vida 
hoje dominantes
certos de que tudo morre,
tudo cai,
frente uma vontade insurgente
que antecipa o nada que move o amanhã .

Não somos senhores de nosso tempo, 
Verdades e vidas.
Somos algo que passa e morre,
como tudo que porta vida.

Não há esperança no cemitério de crenças dos dias atuais.
Há apenas uma vontade de nada 
que cresce em todas as direções da existência
dando forma a uma intensa e libertária rebeldia.










sábado, 27 de maio de 2023

TEMPO, MEMÓRIA E SUBJETIVIDADE

Somos inventados
pelas lembranças que carregamos
desvelando a metafísica dos acontecimentos
que nos transformam.

O tempo, a vida e os outros,
 afinal,
apenas existem
como um exercício de imaginação e linguagem.

A realidade só  possível
 através de um jogo injusto 
entre esquecimento e memória
que nos acorda qualquer sentimento de verdade.

Existimos como passados que se alimentam do próprio futuro.
Para nós o amanhã não existe.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

EM NOME DA LIBERDADE

Faz parte da luta pela liberdade perceber as grades
 que nos limitam os atos,
 sacudir as correntes que nos prendem, 
e as opressões que cotidianamente sustentam
 a miséria da ordem vigente.

 Faz parte da nossa revolta compartilhar a angustia,
 desconstruir verdades,
 destruir ídolos e autoridades,
reinventando a vida
todos os dias.

Faz parte da luta pela liberdade
questionar a si mesmo,
reconhecer a fragilidade
de toda subjetividade.

domingo, 21 de maio de 2023

TEMPO ENIGMA

O tempo é a grande angústia dos viventes
e o pesadelo de quem ama.

É o mais franco inimigo 
dos valores, dos amores
e de todas as realizações humanas.

Pois o tempo se faz  no avesso do ser,
Coincide  com a virtualidade da vida e da morte do corpo
em um mundo que sempre continua a ser.

O tempo, de tão concreto, corrosivo
e abstrato,
paradoxalmente, não existe.
 É puro não ser em seu fudio modo de acontecer.

Ele é a mais radical das ausências.
Não é  uma condição, lugar
ou presença.

O tempo é aquilo que a tudo escapa
como experiência e conceito.
Ele tem sempre o nome do que nos mata.
O tempo é a contra face do esquecimento.
É como um sonho desfeito  no próprio ato de ser sonhado.