segunda-feira, 18 de abril de 2022

UM MUNDO ALÉM DO SER

Busco um mundo sem substância,
além da essência
e da aparência.

 Um mundo
que me embriague
através da experiência
de não ser mundo,
 escapando as armadilhas
de uma boa consciência. 

Um mundo onde eu aprenda
a sonhar o oco das coisas
provando a vertigem dos anos
na casca quebrada de um instante desfeito em palavras. 

Um mundo sem explicações,
problemas e soluções
no jogo do eu e dos outros.

Um mundo feito de tantos mundos
que não possa ser chamado de mundo
no paradoxo de um finito infinito
além da verdade e da ilusão.

Um mundo que não seja simplesmente um lugar,
mas um modo da vida nos acontecer,
muda e profundamente,
no mais intenso da pele
e além do Ser.


 









quarta-feira, 6 de abril de 2022

ANONIMATO

O anonimato nos lança ao invisível,
ao incomunicável e ilegível 
do lado de dentro da vida.

Ele não define apenas o status de desconhecido
que exibimos na multidão,
ou o nomadismo
que nos torna intimos da solidão.

O anonimato é a inconsciência de si e dos outros,
é estar fora das identidades,
é aquilo que nos torna estranhos, inumanos,
e livres do próprio nome.

É ser muitos e ninguém 
em um profundo desraizamento de si;
É um embriagar-se de sensivel, 
de corpo,
no avesso do mundo possível.



A VIDA É RISCO

A VIDA É RISCO

É perigoso viver.
Não importa quantas verdades se leva no bolso,
Há sempre riscos e incertezas
espreitando no caminho de casa.

Nada é seguro
ou está sobre controle.

Estamos sempre em perigo
e a mercê do inesperado.
Por isso é preciso aprender o cultivo de alguma forma de coragem.

A CONDIÇÃO NIILISTA

A condição niilista é a libertação de qualquer confissão de verdade, de qualquer agenciamento que nos reduz a situação de uma maquina semiotica, é  a recusa de tudo aquilo que nos conforma a  capturas e assujeitamentos que pacificam consciências. 

O niilista é aquele que ri de si mesmo,
que desaprende o mundo,
que não se importa,
e segue indiferente,
ciente que tudo nos leva a nada.




terça-feira, 5 de abril de 2022

O FUTURO DO PASSADO

O futuro muda o passado
através das lembranças
que sonham o presente.

Nunca somos os mesmos,
pois a vida é sempre outra
enquanto esvaímos no tempo.

Nada nos obriga ao Ser.
Tudo é impermanência
e desaparecimento.
Tudo é devir e imanência
no futuro do passado
que funda a arte
como um exercício de morte.




domingo, 3 de abril de 2022

O ENÍGMA DO ROSTO

O rosto é uma fabulação inerente a sensibilidade moderna que inventa o indivíduo entre o biológico e o político. Nele se inscrevem valores, signos, poderes. 
Através dele, a alma se desenha claramente como prisão do corpo, pois a expressão facial  foi convertida em uma metafísica da interioridade e da identidade. Mas o que é esta interioridade e identidade além de simulacro, um silêncio que nos veste a pele e transveste a consciência através dos signos?
Neste sentido, longe de individualidade, o rosto expressa a multiplicidade, a diversidade do único, o ilegível da experiência humana, a banalidade e nulidade de sua própria expressão. 
 O rosto é o outro do olhar normativo que nega em nós o animal e impõe o impessoal da civilidade ao corpo. Corpo que deve ser sempre escondido ou representado pelo rosto, sempre previsível e sociável, ou, simplesmente, classificável.

Carlos Pereira Júnior 
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"A expressão é um elemento crucial no desenvolvimento do indivíduo ocidental. Está aí, toda importância do rosto, que constitui o traço sensível desse processo. O rosto é ao mesmo tempo o lugar mais intimo e mais exterior do sujeito, aquele que traduz mais diretamente e da maneira mais complexa a interioridade psicológica e também aquele sobre o qual recaem as mais pesadas restrições públicas. São os rostos que se perscruta antes de tudo, são os olhares que se procura captar para decifrar o individuo. Isso explica o paradoxo central que percorre este livro e que é constitutivo do indivíduo  moderno: esse processo, que é ao mesmo tempo, indissoluvelmente, o de uma individualização e de uma socialização pela expressão,  incita à expressão da interioridade, a manifestação dos sentimentos, ao mesmo tempo em que impõe ao rosto o silêncio,  relativo ou profundo, da inexpressividade."
Jean-Jacques Courtine, Claudine Haroche. História do rosto. Exprimir e calar as emoções ( do século 16 ao começo do século 19). Petrópolis: Vozes, 2016, p.244-245.

domingo, 27 de março de 2022

O INFINITO DA FLOR

Há mais vida
no corpo de uma flor
do que realidade
em uma forma humana.

A verdade da vida
é que não existe verdade.
Todos os valores
podam a experiência
do plural e da imanência 
que devem natureza.

O infinito da flor
é menor do que um dia de jardim.

terça-feira, 22 de março de 2022

INTUIÇÃO DE VIDA

Sei dentro de mim
uma estranha melodia
que inventa palavras,
uma percepção que devêm
em consciência,
 que foge,
que busca,
qualquer coisa inominável
que define a existência 
como natureza 
além do humano
entre a percepção e a necessidade de criar.

domingo, 20 de março de 2022

ESCRITA NIILISTA

Escrevo a vida
para inventar distâncias 
entre o eu e o mundo,
entre o passado e o futuro.

Minha consciência desrazoável 
duvida de tudo,
desacredita radicalmente da existência,
da experiência das coisas,
do significado do fluxo de momentos incertos
que me torna um ser único
em movimento
entre o dentro e o fora
da percepção.

sábado, 19 de março de 2022

PENSAMENTO DIONISÍACO

Dance o pensamento
até  o limite do tempo,
até a vertigem da reflexão. 

Faça do corpo uma idéia em movimento
através das afecções, 
das imagens consteladas
na imaginação. 

Que não haja fronteira
entre a vida e o mundo,
o eu e o outro,
entre a razão e o absurdo.

Dance o pensamento
e descubra o canto
de uma nova terra
na intensidade do chão,
na destruição do Uno e do absoluto.

Embriague-se de matéria,
em um fluxo de vida, morte, 
e ilusão.