sábado, 10 de novembro de 2018

O VIVENTE

O vivente não se confunde com o humano, esta abstrata fabulação de nós mesmos. Mas também não é o organismo. É o biológico em sua radicalidade nua do corpo mundo como caos de multiplicidades. 

O que vive é composição variante do inorgânico. É o que perpassa tudo sem fazer qualquer sentido.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DEFINIÇÃO DE LIBERDADE



Talvez liberdade seja somente este sentimento de permanente estado de incacabamento, de rearranjos intermináveis que articulam o eu e o mundo através do corpo.

Liberdade é poder ser ninguém. É fugir a toda identidade e determinação. Ninguém é livre quando se prende a qualquer definição de liberdade. Liberdade não se define.

Liberdade é qualquer coisa que te afeta e provoca um riso, um contentamento desmedido e sem razão.
Liberdade é riso!

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

A PALAVRA MENOR


A palavra menor dedica-se ao exercício de deriva da escrita, escapa ao livro como meio e objeto, como dispositivo de linguagem.

A palavra menor é titubeante, cheia de reticencias. Ela se perde em aforismos, em inacabamentos, descontinuidades e recomeço, sem precisar seu objeto. Ela é jogo. Nada representa. Diz a si mesma. Persegue a nudez do pensamento que já não expressa.
A palavra menor escreve-se na pele.


O SER VIVENTE


O ser vivente definido pela biologia,
Pela mente que se faz mundo,
Que se dilui em palavra
E desaparece nas coisas
Através da experiência,
É um comporto entre um dentro e um fora.
É um apêndice da existência onde somos todas as coisas.
O que vive persiste em indeterminado  movimento.

AS MARGENS DO ÚLTIMO HOMEM

A nudez do vivente como experiência limite, como transbordamento do imediato,  como necessidade ferida, afeto distópico.

A existência transcende o tempo  e traça a geografia de nossa cotidiana fragilidade como novo paradigma ontológico.

Existimos em estado de necessidade, em deriva biológica. O orgânico transcende a forma homem.

O corpo é tudo que nos resta do mundo em tempos em a mente  experimenta vertigens históricas.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A RECUSA DO TEMPO PRESENTE

No combate ao tempo presente, ensaiamos devires, potencializando à vida em cada ensaio de imaginação.

Abandonarmos arquivos, já não queremos saber. Nosso rosto  não passa de um retrato antigo. Buscamos silêncios diante de um mundo mudo. Perseguimos à nudez das coisas.

O intempestivo nos ensina o futuro e aprendemos a  realidade como um relâmpago.

Reduzidos à condição de viventes, reinventado nossos corpos nômades em meio a desertos de existências tomadas.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

PENSAR E EXISTIR



De algum modo, desejo que essa escrita, que transborda para fragmentos de outras materialidades, descreve o próprio movimento de uma procura, procura que liga pensamento e existência em uma experiência fundamental, sendo essa procura a de uma andança.

Maurice Blanchot

Escrever é sentir, tocar, aprender, explorar, expressar... mas nunca é palavra morta jogada na folha.  Nunca é o sentido, o proposito, o arquivo, que de antemão determina o que pode ser dito. O caminho só existe através dos passos. Afinal, o que faz de andar algo mais do que um ato é o  encontro entre o chão e o corpo. Existir é isso: compor e costurar existires, existências. O mundo é uma serie ilimitada de combinações possíveis de arranjos.

Escrever liga pensar e existir na experiência de um movimento que não se move.

Tenha sempre letras dentro da pele!


FORMA E CONTEÚDO


Tudo que existe possui uma aparência e, portanto, uma fisionomia. Podemos conceituar fisionomia como aparência externa ou superfície epidérmica.

Contrariando o convencional, entendo a silhueta física e não apenas o rosto como fisionomia. A impressão física que comunica a presença de uma pessoa é o que aqui entendo como fisionomia.  Pressuponho que o rosto não gera uma impressão dissociada dos demais sinais corporais. Um rosto bonito não define atração física.  Não é preciso argumentar muito sobre isso.

Estamos aqui falando exclusivamente sobre forma e não sobre conteúdo. Principalmente porque a forma nos define mais do que o conteúdo. Através deste ultimo podemos ser reduzidos a equivalências e mimetismos socioculturais que nos afastam de qualquer experiência de singularidade. O mesmo não acontece com a forma que, não é exagerado dizer, nos apresenta uns aos outros como um ente especifico.

Nossa configuração física já é em si uma forma de relação e expressão.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

INFLAÇÃO E SEDUÇÃO

Que sedução ainda pode encantar um texto diante do ilegível que define a mais bruta existência cotidiana? A vida nua é impenetrável para qualquer discurso. Ela resiste e se debate em apetites e afetos selvagens como um animal que explora uma paisagem virgem. A vida foge o tempo todo a domesticação da linguagem afirmando o corpo, a sinfonia de justos através da qual nos apropriados do mundo. 

O texto apela a consciência, ao artifício da cultura. Mas o que nos inspira é a exterior idade da imagem que alimenta a fantasia, o jogo, que aponta sempre para o indizível que transborda em nós como experiência.

O mundo vívido só é pleno quando é impreciso, quando nos arranca a identidade.

Que sedução ainda pode encantar um texto quando estamos saturados de signos ?

As palavras ardem agora em vertigem queimando dentro de algum livro fechado que nos contempla na mudez da estante.
Onde, ainda, afinal, o pensamento respira?

sábado, 3 de novembro de 2018

A PALAVRA NÃO DIZ O QUE É.

Tento me encolher dentro de uma palavra até que sua sonoridade se torne quase musical. Até que eu possa sentir seu gosto, despi-la da coisa que ela tenta dizer e transcender o falso jogo da representação. 

Há uma abissal profundidade na abstrata superfície de uma palavra. Algo que nada comunica. A palavra é um fato em si mesma. Ela é simulacro da própria realidade que inventa ao impor um significado ao caos da percepção e da consciência. Nunca subestime uma palavra.