Que sedução ainda pode encantar um texto diante do ilegível que define a mais bruta existência cotidiana? A vida nua é impenetrável para qualquer discurso. Ela resiste e se debate em apetites e afetos selvagens como um animal que explora uma paisagem virgem. A vida foge o tempo todo a domesticação da linguagem afirmando o corpo, a sinfonia de justos através da qual nos apropriados do mundo.
O texto apela a consciência, ao artifício da cultura. Mas o que nos inspira é a exterior idade da imagem que alimenta a fantasia, o jogo, que aponta sempre para o indizível que transborda em nós como experiência.
O mundo vívido só é pleno quando é impreciso, quando nos arranca a identidade.
Que sedução ainda pode encantar um texto quando estamos saturados de signos ?
As palavras ardem agora em vertigem queimando dentro de algum livro fechado que nos contempla na mudez da estante.
Onde, ainda, afinal, o pensamento respira?
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